} Crítica Retrô: February 2014

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Friday, February 28, 2014

Bolão do Oscar 2014

Chegou o fim de semana mais esperado do ano (para os cinéfilos, é claro)! O Oscar está aí e os nervos estão à flor da pele, não apenas para os indicados, mas também para pessoas que, assim como eu, topam participar de apostas. Seja com firmeza ou jogando um dado para decidir, aí vão minhas apostas para 2014:

MELHOR FILME: 12 Anos de Escravidão

MELHOR ATOR: Matthew McConaughey, por Clube de Compras Dallas

MELHOR ATRIZ: Cate Blanchett, por Blue Jasmine

MELHOR ATOR COADJUVANTE: Jared Leto, por Clube de Compras Dallas

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Lupita Nyong'o, por 12 Anos de Escravidão

MELHOR DIRETOR: Alfonso Cuarón, por Gravidade

MELHOR ANIMAÇÃO: Frozen: Uma Aventura Congelante

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Ela, escrito por Spike Jonze

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: 12 Anos de Escravidão

EFEITOS VISUAIS: Gravidade

TRILHA SONORA: Steven Price, por Gravidade

FOTOGRAFIA: Gravidade

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL: Let it Go, de Frozen - Música e letra de Kristen Anderson-Lopez e Robert Lopez

FIGURINO: 12 Anos de Escravidão

CABELO E MAQUIAGEM: Clube de Compras Dallas

MELHOR EDIÇÃO: Gravidade

EDIÇÃO DE SOM: Gravidade

MIXAGEM DE SOM: Gravidade

MELHOR FILME ESTRANGEIRO: A Grande Beleza (Itália)

MELHOR DOCUMENTÁRIO: O Ato de Matar

DOCUMENTÁRIO DE CURTA-METRAGEM: The Lady in Number 6: Music Saved My Life

MELHOR CURTA: Avant Que De Tout Perdre (em inglês, Just Before Losing Everything)

MELHOR CURTA DE ANIMAÇÃO: Get a Horse!


Este post faz parte do Bolão do Oscar do blog DVD, Sofá e Pipoca.



Saturday, February 22, 2014

“Opostos que se atraem: as vidas de Erich Maria Remarque e Paulette Goddard”, de Julie Gilbert

Quando comecei a ler o livro “Opostos que se atraem: as vidas de Erich Maria Remarque e Paulette Goddard”, de Julie Gilbert, confesso que estava mais interessada na estrela de cinema que no escritor. Com o passar das páginas, esta opinião mudou completamente, e fiquei surpresa com o quanto me identifiquei com Remarque, e não apenas por termos o mesmo signo e escrevermos.  Já com Paulette, minha experiência foi diferente, mas também terminei o livro com uma impressão nova sobre ela.
Erich Paul Remark nasceu em Osnabrück, Alemanha, em 22 de junho de 1898. Serviu na Primeira Guerra Mundial, indo para o front durante um mês em 1917. Sofreu ferimentos sem grandes consequências e passou o resto da guerra se recuperando. Alcançou fama mundial com “Nada de Novo no Front”, seu terceiro romance, publicado em 1928. Marion Goddard Levy nasceu em 3 de junho de 1910, em Nova York, foi dançarina do Ziegfeld Follies ainda adolescente, fez pontas no cinema e conquistou a fama em “Tempos Modernos”, de 1936. Embora seus caminhos tenham se cruzado diversas vezes, eles só começaram a se relacionar em 1950, casando-se em 1958.
Remarque sempre teve uma vida muito atrelada ao cinema. Seu best-seller virou filme em 1930 e ganhou dois Oscars. Remarque havia sido, inclusive, convidado a estrelar o filme, mas recusou o convite e o papel principal ficou para Lew Ayres. O autor só viraria ator em outra adaptação de um de seus livros: “Amar e Morrer”, de 1957. Entretanto, em suas várias temporadas nos Estados Unidos, ele se envolveu com Marlene Dietrich, que conheceu ainda na Alemanha, e teve uma espécie de amizade colorida com Greta Garbo.  
Paulette foi moldada por Chaplin, e é imortal graças às suas duas participações em filmes dele (sendo a outra em “O Grande Ditador”, de 1940). Assim como as outras companheiras de cena de Chaplin (Edna Purviance, Lita Grey, Virginia Cherrill...), ela não teve grandes sucessos longe dele, mas conseguiu se manter em Hollywood graças à sua beleza e um jeitinho especial. Foi casada quatro vezes. Seu segundo marido foi Chaplin e o terceiro, o ator Burgess Meredith.
Paulette sabia falar sobre qualquer assunto e parecia esbanjar cultura, mas o tempo todo fiquei com uma sensação de que Paulette era fútil. Caprichosa e apaixonada por joias, ela tratava bem a quem poderia lhe dar algum benefício, e era só. Remarque era um homem, no geral, sério, mas dado ao abuso do álcool. Os trechos do diário de Remarque, nunca antes publicados, são o grande trunfo do livro e trazem muitos esclarecimentos sobre a vida amorosa do autor. Em geral, ele se relacionou com mulheres que prezavam mais sua independência do que o companheirismo com o parceiro, e não digo que isto é de tudo ruim. Mas creio que não gostaria de passar um tempo com Paulette.  
Remarque foi um excelente escritor, e o tema que definiu todas as suas obras tem um quê de autobiográfico: a guerra. Seja nas trincheiras, na volta para casa e readaptação ou no ato de fugir da guerra, os livros do autor sempre estão envoltos no conflito que marcou o século XX para a pátria alemã. Tendo se refugiado na Suíça pouco depois de o partido nazista chegar ao poder, Remarque tinha uma relação estranha com seu país de origem e, mesmo com todas as homenagens, a Alemanha nunca o perdoou totalmente pelo pacifista “Nada de Novo no Front”.
Paulette foi construída por Chaplin, e, no resto da carreira, esperava que houvesse um diretor de mão firme para guiá-la sempre. Assim se deu bem com Cecil B. DeMille, com quem fez três filmes a cores nos anos 40. Um deles, “Vendaval de Paixões / Reap the wild Wind” (1942), foi seu prêmio de consolação por ter perdido o papel de Scarlett O’Hara. Uma das justificativas era que Paulette e Chaplin viviam juntos em 1939, mas não eram casados, e era inaceitável que uma grande estrela vivesse nesta situação “ilegal”. Ela perdeu o papel que 10 entre 10 moças de Hollywood queriam, mas isso não a impediu de se tornar uma diva do cinema, rica e linda (em especial em seus filmes em Technicolor). 
A autora Julie Gilbert, da Universidade de Nova York, foi estimulada a escrever o livro após ler o obituário de Paulette, em 1990. Como ela já tinha desejo de escrever sobre Remarque, morto em 1970, foi aconselhada por Harriet Pilpel, antiga advogada e confidente de Remarque, a unir os temas e escrever um livro sobre os dois. Os capítulos alternam o ponto de referência, e de fato funcionam bem separados: você pode ler só sobre quem lhe interessa. Mas estará perdendo muito: Julie foi indicada ao Prêmio Pulitzer, o que mostra a qualidade do livro.

As fotos bem no meio do livro são espetaculares. Conhecemos a família e os cães de Remarque, a mulher com quem ele se casou duas vezes, Jutta, e temos a rara oportunidade de ver Paulette loira, no começo da carreira, no Ziegfeld Follies e como figurante no cinema. As entrevistas com personalidades de Hollywood, de Luise Rainer a Ruth Albu (companheira de Marlene Dietrich nos palcos alemães), de Douglas Fairbanks Jr a Billy Wilder. Fiquei um pouco chateada apenas com o fato de haver spoilers da maioria dos livros de Remarque. Bem, tirando isso, esta é uma biografia nota dez, que merece ser lida por todos que querem entender melhor a cultura literária e cinematográfica do século XX. 

Saturday, February 15, 2014

Com a palavra, os vencedores

A noite da entrega do Oscar cria novas estrelas, alavanca a carreira de outras e sempre acaba cheia de momentos memoráveis. Quando o vencedor é anunciado, ele geralmente corre emocionado até o palco, segura as lágrimas e agradece a todos, desde à mãe até o maquiador do filme. Alguns discursos, entretanto, fogem à regra e se tornam memoráveis, por serem importantes, emocionantes, ou simplesmente engraçados. Estes são alguns deles:

Hattie McDaniel, Melhor Atriz Coadjuvante por “E o Vento Levou”, 1940: A primeira negra a ganhar o Oscar sequer pôde ir à estreia de seu filme em Atlanta devido às leis segregacionistas. Seu discurso no Oscar, em contrapartida, foi uma bonita premonição:
Humphrey Bogart, Melhor Ator por “Uma Aventura na África”, 1953: Bogie é simples ao agradecer o diretor John Huston e Katharine Hepburn, mas o destaque é o que acontece ao redor: quando seu nome é anunciado, o público vibra e a apresentadora Greer Garson fica muito feliz, tocando no ombro do astro ao lhe dar o Oscar.

Rex Harrison, Melhor Ator por “Minha Bela Dama”, 1965: Sua colega de cena, Audrey Hepburn, ficou em êxtase ao anunciar Rex como vencedor. Ele fez o discurso abraçado a ela, e no final agradeceu às duas “belas damas” (two fair ladies), referindo-se a Audrey e a Julie Andrews, que contracenou com Rex na Broadway e que ganharia o prêmio de Melhor Atriz naquela mesma noite por Mary Poppins.

Ruth Gordon, Melhor Atriz Coadjuvante por “O Bebê de Rosemary”, 1969: Como ela mesma fez questão de citar, ela começou a trabalhar em 1915 como extra. Depois de trabalhar no teatro e escrever roteiros inspirados com o marido, ela se tornou uma velhinha Cult e fez filmes inesquecíveis.

Ingrid Bergman, Melhor Atriz Coadjuvante por “Assassinato no Expresso do Oriente”, 1975: Surpresa por ter vencido mais uma vez, a bela e modesta Ingrid elogiou outra indicada ao prêmio que também estava ótima: Valentina Cortese.

Louise Fletcher, Melhor Atriz por “Um estranho no Ninho”, 1976: Quase todo mundo sabe que Louise fez parte do discurso em língua de sinais para que seus pais deficientes entendessem a emoção do momento. Mas antes ela foi muito sincera e surpreendentemente divertida.

Barbara Stanwyck, Oscar Honorário, 1982: Depois de seguir o protocolo e agradecer a todos que trabalhavam atrás das câmeras, Missy fala com emoção de William Holden, morto no ano anterior, que sempre quis que ela ganhasse o Oscar (seu “Golden Boy”, que é o filme que eles estrelaram em 1939).

Shirley MacLaine, Melhor Atriz por “Laços de Ternura”, 1984: Shirley não economizou nas palavras. Falante e muito divertida, ela elogiou seus companheiros de cena e fez todos rirem muito.

Kate Winslet, Melhor Atriz por “O Leitor”, 2009: Depois de dizer que treinava o discurso desde criança em um pote de xampu, Kate pediu que seu pai assobiasse, agradeceu aos produtores mortos do filme e terminou com uma piada amigável com a sempre indicada Meryl Streep.

Christopher Plummer, Melhor Ator Coadjuvante por “Toda Forma de Amor”,2012: Plummer é o mais velho ganhador do Oscar. Ele decidiu fazer piada sobre isso perguntando à estatueta: “você só é dois anos mais velha que eu. Onde você esteve toda minha vida?”.  

Jean Dujardin, Melhor Ator por “O Artista”, 2012: Na chance que aparece uma vez só na vida, Jean se tornou o primeiro francês a ganhar um Oscar de Melhor Ator. Ele agradeceu à sua inspiração e fundador da Academia, Douglas Fairbanks, e depois extravasou a emoção gritando: merci!

Daniel Day-Lewis, Melhor Ator por “Lincoln”, 2013: O Oscar é o momento em que podemos ver um pouco como os astros são na vida real. Julgando pelo discurso, deve ser ótimo ter Day-Lewis como companhia. Engraçado e adorável, ele arrancou risos da plateia e da apresentadora, Meryl Streep.

P.S. 1: Apenas os que foram receber o Oscar pessoalmente estão nesta lista. Por mais que tenha sido lindo Cary Grant aceitar por Ingrid Bergman em 1957, ele não pôde entrar na lista. E isso também exclui o episódio bizarro de Marlon Brando e sua falsa índia em 1973.

P.S. 2: Apenas atores ganhadores do Oscar entraram na lista. Outros tantos discursos foram lindos e emocionantes, mas o melhor de todos é ESTE.


This is my contribution to the 31 Days of Oscar Blogathon, hosted by Wonder girls Kellee, Aurora and Paula at Outspoken & Freckled, Once Upon a Screen and Paula’s Cinema Club.

Já que estamos falando de vencedores, que tal demonstrarem que gostaram do blog me ajudando em uma premiação? O Crítica Retrô está no TOP 100 de blogs de Arte e Cultura. Para votar no blog, vá no link abaixo ou no símbolo dourado na barra lateral :)

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Friday, February 7, 2014

10 motivos para gostar de cinema clássico

1- A beleza era... diferente: Não era necessariamente natural. Garbo e Rita Hayworth, por exemplo, tiveram de se submeter a várias transformações para se tornarem as divas que conhecemos. Eram cirurgias plásticas primitivas, muitas vezes dolorosas, mas que moldaram os rostos e as carreiras de muitas estrelas. E se há uma coisa que não podemos negar, é que a Golden Age está cheia de belas mulheres (e homens!).
2- A importância dos detalhes: Cada pessoa gosta de prestar atenção em uma coisa enquanto vê um filme. Eu noto o fluir da história, e outros notam os detalhes: os figurinos, os cenários, os penteados. Homens e mulheres se vestiam melhor naquela época, e a moda de décadas atrás ainda pode ser encontrada desfilando nas ruas. E o que falar dos cenários nos épicos e musicais? Cada detalhe era pensado milimetricamente no cinema clássico.
3- Uma nova percepção da história: Quem gosta de filmes antigos normalmente gosta de história. Ou seja, não é uma daquelas pessoas que pensa que a avó vivia nos tempos dos dinossauros. Aos olhos da história, filmes feitos 80 anos atrás são bastante recentes. E com eles você aprende que o mundo não era tão primitivo no início do século passado. É só observar o grau de técnica das filmagens e efeitos especiais em filmes de 1920 ou 1930.
4- Você fica mais esperto: Bons diretores e roteiristas vivem fazendo referências aos clássicos. Conhecê-los faz você entender a piada em Os Simpsons e Modern Family. Mostra que Brian De Palma retirou a sequência do tiroteio na escadaria em “Os Intocáveis / The Untouchables” (1987) de um filme soviético de 1925. E não te deixa pensar que “Shrek Para Sempre” foi super criativo ao mostrar como seria o mundo sem Shrek: a ideia é do clássico mais amado, “A Felicidade não se Compra / It’s a Wonderful Life” (1946).
5- As músicas, ah, as músicas!: Esqueça os refrões idiotas de hoje: músicas com conteúdo podem ser encontradas nos musicais de antigamente. As valsas, operetas, melodias de jazz e fox trot eram cantadas por artistas de verdade, às vezes sem treinamento formal algum, mas com vozes extraordinárias. Ainda há gente boa cantando hoje? Sim, mas as canções do Great American Songbook estão lá no passado, prontas para dialogar com nossas almas.
6- Nada se cria, tudo se copia: Não há novos gêneros no cinema. Tudo o que nós vemos hoje foi criado há mais de 80 anos. Dramas, comédias, musicais, sci-fi, terror, biografia. A gênese de todos os tipos de filmes, de clichês e de técnicas pode ser encontrada na Golden Age. Com a onda dos remakes, então, a originalidade caiu a quase zero. Sabe “A Guerra dos Mundos”, com Tom Cruise? É remake de um filme de 1953, que, por sinal, é bem melhor.
7- Sutileza é tudo: Devo dizer que a sociedade de 50 anos atrás era um pouco retrógrada (assim como, espero, nossa sociedade atual será considerada ultrapassada daqui a 50 anos), e a censura dominou Hollywood de 1934 a 1965, aproximadamente. Com certeza alguns bons filmes deixaram de ser feitos, mas vários assuntos conseguiram ser abordados graças à perspicácia e insistência de roteiristas e diretores, que mascaravam os diálogos e as cenas, passando, assim, com folga pelos idiotas censores.
8- Like fine wine...: Some films just get better with time. É difícil para uma crítica de cinema falar isso, mas os críticos muitas vezes são bestas sem visão. Um espectador de 1938 poderia ler uma crítica negativa de “Levada da Breca / Bringin’ Up Baby” e não iria ver o filme. Assim, perderia uma comédia deliciosa. Algumas produções são à frente de seu tempo, e são necessárias décadas para que alguém aponte a genialidade delas. Vê-las é olhar para o passado sabendo mais que todos que viram o filme na estreia, podendo, assim, apreciá-las melhor. 
9- Ars gratia artis: O lema da MGM, em latim, significa “a arte saúda os artistas”. Nada mais correto que isso, porque os filmes não seriam nada sem atores inigualáveis (que deveriam servir de exemplo para qualquer aspirante), diretores, roteiristas, figurinistas, compositores... Todas essas funções eram diferentes décadas atrás. Havia gente ruim na indústria? Com certeza! Mas, para que tantas obras-primas tenham sido realizadas, tenha a certeza de que equipes talentosíssimas estavam trabalhando nos bastidores.

10- Você estará na companhia de pessoas incríveis: Como eu. Brincadeirinha! Mas é grande a chance de conhecer gente bacana nessa fandom. Na escola, eu nunca conseguia falar sobre os meus filmes favoritos com a galera fútil. Quando eu descobri, na internet, que há pessoas com as mesmas preferências, foi um momento lindo. Porque não são pessoas que se preocupam com futilidades, com popularidade, com pegação. Tirando um ou outro chato saudosista ou um pseudo-cinéfilo, o resto da comunidade é só alegria. Prepare-se para fazer novos melhores amigos!
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