} Crítica Retrô: A Princesa e o Plebeu / Roman Holiday (1953)

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Saturday, December 5, 2015

A Princesa e o Plebeu / Roman Holiday (1953)

Se você gosta de filmes antigos, já deve ter passado por esta situação: na ânsia de compartilhar sua paixão com as pessoas ao seu redor, recebeu como resposta uma careta e a recusa veemente de parar para ver um filme “velho”, em preto e branco. Este preconceito com o cinema clássico é infundado e frustrante, porque quem não dá uma chance para um filme “pré-histórico” está dando as costas para um mundo maravilhoso. Então, como você, evangelizador do cinema clássico, poderia trazer mais adeptos para o modo de vida Old Hollywood? Por onde começar?

Deixe-me contar um segredo: o amor pelo cinema não é genético. Embora meu bisavô tenha sido gerente de cinema, meu avô não perca um filme de John Wayne e minha avó seja fissurada por Bruce Willis e CinemaScope (não nesta ordem), o gene cinéfilo pulou uma geração. Minha mãe é uma pessoa totalmente normal, que não gosta de filmes em preto e branco. Mas ela é uma boa mãe, e por isso foi com um misto de surpresa e alegria que eu reagi quando ela aceitou assistir a “A Princesa e o Plebeu / Roman Holiday” comigo. 
A princesa Ann (Audrey Hepburn) está entediada com os muitos compromissos oficiais e burocráticos de sua visita a Roma. Ela quer mesmo é se divertir, e para isso foge no meio da noite, logo encontrando o repórter Joe Bradley (Gregory Peck). A princípio, Joe não a reconhece, até que seu colega fotógrafo Irving (Eddie Albert) mostra uma foto da princesa, e é aí que começa a aventura, e também o dilema moral: Joe deve aproveitar a companhia da princesa disfarçada para conseguir um grande furo de reportagem? 


A princesa Ann se assemelha muito mais à Audrey da vida real do que a mais famosa personagem da atriz, a acompanhante de luxo Holly Golightly de “Bonequinha de Luxo / Breakfast at Tiffany’s”, de 1961. Ann é doce e aventureira, cheia de classe e divertida, bondosa e determinada, delicada e moleca. E é com adjetivos tão diferentes que podemos descrever Audrey Kathleen Ruston, a menina que nasceu na Bélgica, passou fome durante a Segunda Guerra Mundial, virou bailarina e atriz de teatro, brilhou em Hollywood e tornou-se embaixatriz da UNICEF.

 
Há muito mais no filme do que suspeita nossa vã filosofia: encapsulado no roteiro está uma das histórias mais importantes e indignantes de Hollywood: a do roteirista Dalton Trumbo. Em 1947, Trumbo foi acusado de ser comunista e, apesar de continuar contribuindo com bons roteiros para o cinema, não podia ser creditado. Ele então usava pseudônimos ou deixava que algum de seus amigos recebesse crédito pelo seu trabalho. O roteiro de “A Princesa e o Plebeu / Roman Holiday” foi assinado por Ian MacLellan Hunter, e recebeu o Oscar de Melhor Roteiro Original (veja no vídeo abaixo). Em 1993, a viúva de Trumbo finalmente recebeu a estatueta que lhe era devida. Dez anos depois o nome de Trumbo foi adicionado aos créditos. E apenas em 2011 o Sindicato dos Roteiristas devolveu o crédito a Trumbo, após um apelo que o filho dele, o também roteirista Christopher Trumbo, fez antes de morrer.

Filmado totalmente em locação, “A Princesa e o Plebeu / Roman Holiday” se torna um perfeito roteiro para férias em Roma, com destaque para todos os pontos turísticos importantes. Afinal, quem, depois de ver todas as maravilhas na tela, não quis ir ver pessoalmente os cafés italianos, as escadarias, as fontes e a carranca esculpida na pedra? Até a Via Margutta 51, endereço de Joe Bradley, realmente existe em Roma. Curiosamente, o filme foi feito em preto e branco não apenas para diminuir os custos, mas também para impedir que a bela paisagem italiana chamasse mais atenção que a história em si. Esta foi a primeira produção de Hollywood filmada totalmente em Roma.

Confissão: já imitei esta cena com o canudo
 
Como é possível apreciar um filme em preto e branco? Acredito que o grande trunfo do bom cinema é contar uma história tão boa que você esquece que está vendo um filme em preto e branco – a fotografia “bicromática” se torna apenas um detalhe de algo muito maior e mais significativo. Filme algum deve ter sua qualidade julgada pela presença ou ausência de cores. “Casablanca” e “Cidadão Kane” não seriam melhores se fossem coloridos, e “E o Vento Levou... / Gone With the Wind” não seria pior se fosse filmado em preto e branco.


E quanto à minha mãe, você se perguntam? Ela gostou do filme! Depois da sessão, ela destacou a beleza de Gregory e Audrey (sem contar que as roupas e o penteado da princesa são moderníssimos) e a despretensão do filme. Sem querer passar uma mensagem, o filme conquista o espectador. Sem ter de apelar para vulgaridades ou humor baixo, “A Princesa e o Plebeu / Roman Holiday” dá a quem não está acostumado com os clássicos uma introdução sobre tempos mais simples – quando era possível sair do cinema com um sorriso no rosto e a alma mais leve.

This is my contribution to the “Try It, You'll Like It!” Blogathon, hosted by classic film ambassadors Fritzi at Movies, Silently and Janet at Sister Celluloid. Alert: classic film viewing may cause addiction.

9 comments:

Pedrita said...

a princesa e o plebeu é maravilhoso. beijos, pedrita

Caftan Woman said...

A charming film to share with your mother. An excellent choice for the blogathon for I am sure it would work its magic on many.

Silver Screenings said...

I'm glad to hear your mother went with you to see this...and I'm also a little jealous that you were able to watch this on the big screen. (That would be so great!!)

I didn't realize this was the first Hollywood production to be filmed entirely in Rome. I will keep that in mind the next time I watch it. :)

Fritzi Kramer said...

Thanks so much for joining in and congratulations on your success with showing your mother this film. Sometimes a good romance is just the thing. :-)

Virginie Pronovost said...

Love love this film. In my top 10. I really enjoyed your review and glad you chose this film for the blogathon! It's also how I introduced my mother to Audrey Hepburn. I'd love to be able to read Portuguese, because the translation... well... :P

Phyl said...

I LOVE LOVE LOVE "Roman Holiday"!!! I had a chance to watch this on the big screen a couple weeks ago but sadly I wasn't able to go (the theater was over an hour away and none of our cars could make the drive). Great choice for the Blogathon!!!

Joe Thompson said...

Hi Lê. It sure is frustrating when people tell me they don't want to see old movies. It is worse when I learn that they think of movies from the 1980s as old movies. "sweet and adventurous, full of class and fun, kind and determined, delicate and tomboyish" -- a great description of Audrey Hepburn and the princess she played. When I went to Rome, I visited most of the locations. I'm glad your mother enjoyed the movie. It is one of my daughter's favorites.

carygrantwonteatyou.com said...

I didn't realize the writer had been blacklisted. What a shame it took so long to honor such a wonderful script properly! A perfect choice for the blogathon. This is my favorite Hepburn film. I agree--it just seems more like her than anything else I've seen her in...

Carol said...

Olha, acho que só assisti um filme preto e branco, e foi do Chaplin, mas já tem TANTO tempo rsrs vou colocar esse filme na lista
e parar de ler esse blog porque tô querendo ver tudo ç.ç haha bjs!
Meu brógui <3

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