A censura foi usada, desde a Antiguidade, como instrumento de coerção e manipulação intelectual por uma classe de indivíduos ou mesmo por governos autoritários. Na história do Brasil, ela sempre esteve presente, fosse como forma de controle da Coroa Portuguesa nos tempos de Colônia e Império, fosse como limitação da liberdade de imprensa durante o Estado Novo e a Ditadura Militar. Estes dois períodos existiram quando já havia cinema e controlaram ou proibiram a exibição de diversos filmes em território nacional.
Na ditadura militar, muitas produções nacionais tiveram sua exibição vetada ou proibida para menores de 18 anos. Os censores, de maneira um bocado paranoica, retiravam de circulação qualquer filme que pudesse fazer menção negativa aos militares. Foi isso que aconteceu com “A Falecida” (1965), baseado em um texto de Nelson Rodrigues, “O Justiceiro” (1967), filme de Nelson Pereira dos Santos que teve até mesmo seus negativos destruídos e “Terra em Transe” (1967), de Glauber Rocha. De maneira curiosa, muitos censores, em seu relatório, escreveram verdadeiras críticas cinematográficas dos filmes censurados, analisando, por exemplo, a atuação do elenco. Mais estranho ainda foi o fato de que, a partir da década de 1970, embora os filmes com temática política fossem proibidos, os que tratavam de sexo passavam tranquilamente pela censura. Esta foi a época de ouro das chamadas pornochanchadas e das produções da “Boca do Lixo”, que afastaram uma parte do público dos cinemas.
Durante a ditadura franquista na Espanha, foram banidos filmes de cunho revolucionário, como “O Encouraçado Potemkin” (1925) e “O Grande Ditador / The Great Dictator” (1941), também proibidos na Itália fascista e na Alemanha nazista. Outros filmes, que satirizavam a guerra e o Exército, também sofreram censura, a exemplo de “Ardil 22 / Catch 22” (1970). Durante a Guerra eram proibidos filmes como “A Rosa de Esperança / Mrs Miniver” (1942), “Sem novidades no front / All Quiet on the Western Front (1930) e outras propagandas antiguerra ou e outras propagandas de apoio aos Aliados.
A censura no Brasil não se limitou a filmes nacionais. Exemplos célebres foram “Laranja Mecânica / A Clockwork Orange” (1971) e “O massacre da serra elétrica / The Texas Chainsaw Massacre” (1974), filmes que foram censurados em diversos países. Curiosamente, na Inglaterra, foi o próprio diretor Stanley Kubrick que tirou “Laranja Mecânica” dos cinemas, devido às ameaças que sua família vinha recebendo de espectadores. E este fenômeno não se restringe ao passado, haja vista a polêmica proibição da exibição, em 2011, de “A Serbian Film”.
E engana-se quem pensa que a censura é privilégio dos governos totalitários e ditatoriais. Embora seja mais frequente nestes casos, a proibição de filmes acontece em diversos países e em diferentes épocas.
Entre os países mais rígidos estão o Kuwait e a Malásia. Neste último, muitas cenas de beijo são cortadas (pena que não são re-exibidas depois, ao estilo “Cinema Paradiso”) e filmes com temática tocante são proibidos. Alguns casos bizarros de censura são “À Beira do Abismo / The Big Sleep” (1946), “Embalos de Sábado à Noite / Saturday Night Fever” (1977) e “Babe: o porquinho atrapalhado / Babe” (1995).
Às vezes, a temática religiosa se mostra um empecilho para a exibição de algumas produções. Foi o que aconteceu com “Os Dez Mandamentos / The Tem Commandments” (1956), “Ben-Hur” (1959) e “A Paixão de Cristo / The Passion of Christ” (2004) em países de religião não-católica. Até “O Código Da Vinci / The Da Vinci Code” (2006) entrou na dança, sendo proibido nas Ilhas Salomão, em Samoa e no Sri Lanka, além de algumas províncias indianas. Alguns povos também ficaram furiosos com a maneira como foram retratados na tela, causando, para citar um caso, a censura de “Anna e o Rei / Anna and the King” (1999) na Tailândia
Alguns títulos são unanimidade no assunto “barrados no cinema”, como “Nosferatu” (1922), “Pink Flamingos” e “Último Tango em Paris”, ambos de 1972, “O exorcista / The exorcist” (1973), “Salò ou os 120 dias de Sodoma” (1976), “Calígula” e “Monty Python´s Life of Brian”, os dois de 1979, “Holocausto Canibal / Cannibal Holocaust” (1980), “A última tentação de Cristo / The last temptation of Christ” (1988) e os trabalhos recentes de Sacha Baron-Cohen, como “Borat” (2006) e “Brüno” (2009).
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O estado da Geórgia acabou banindo o filme |
Nos Estados Unidos, país que em 1934 estabeleceu o Código Hays para a censura prévia das produções cinematográficas, cada estado tem sua jurisdição para banir certos filmes. O mesmo ocorre no Canadá. Por conta disso, algumas cidades se sentiram ofendidas e proibiram “O Nascimento de uma Nação / The Birth of a Nation” (1915), “Monstros / Freaks”, “Scarface” e O Fugitivo / I´m a Fugitive from a Chain Gang”, ambos de 1932. Isso também aconteceu no Reino Unido, onde, surpreendentemente, ficaram engavetados por muitos anos os filmes “Encouraçado Potemkin”, “Monstros”, “O Proscrito / The Outlaw” (1945), “Alma em Suplício / Mildred Pierce” (1945), também banido na Irlanda, e “O Selvagem / The Wild One” (1954).
A censura pode variar de lugar para lugar e conforme a época, mas é certo que os filmes censurados atraem maior atenção do que atrairiam se fossem exibidos sem problema, ou seja, acabam se beneficiando com a condição de censurados. Hoje, nos cinemas e redes de televisão, há apenas a classificação indicativa, às vezes também questionável, mas muito mais democrática.
Não acredito que toda censura seja burra, pois é necessária muita reflexão para realizar uma autocensura. Censurar é um ato que sempre existirá na sociedade, em maior ou menor escala, dentro de casa ou no governo. Cabe a cada um conhecer suas limitações e saber o que consegue aguentar ver nas telas.