O título da blogathon é “William Castle – Scaring the pants off America”,
mas em nada o terror tem a ver com esse filme do começo da carreira do diretor,
que então tinha apenas 34 anos. A comédia leve e simpática conta com
protagonistas pouco conhecidos, mas é um entretenimento charmoso e muito
superior ao que encontramos atualmente.
Eddie Tayloe (Guy Madison) trabalha em um jornal no Texas e não tem
muitas perspectivas. Ele fica sabendo que seu avô faleceu e lhe deixou seis mil
dólares, o que pode não parecer muito, mas que na época foi suficiente para o
personagem sair do emprego e ir para Nova York, atrás de seu sonho de escrever
uma peça. Na estrada seu carro enguiça, e quem surge pedindo carona é Perry
(Diana Lynn). No início eles se desentendem, mas a moça volta e conserta o
carro dele, e ambos seguem para Nova York.
Eddie vai morar em um pequeno hotel para escrever sua peça, enquanto
Perry ajuda uma velha ladra dizendo aos policiais que ela é sua mãe. Perry e a
falsa mãe vão morarem uma pensão comandada por três irmãs solteiras e
ranzinzas, sendo que uma delas é interpretada pela inconfundível Margaret
Hamilton, a Bruxa Má do Oeste de “O Mágico de Oz” (1939).
Viver na Big Apple não fácil para um aspirante a dramaturgo nem mesmo
para uma jovem que tem um diploma de secretária conseguido em um curso por
correspondência. Perry vai trabalhar em um arque de diversões, onde um
espectador passa dos limites, despertando o ciúme de Eddie. E é através de
Eddie, ou melhor, do narrador da história, o proprietário de um bar, que Perry
consegue um novo emprego.
Assim que a peça de Eddie é rejeitada, o dono do bar o leva para uma
inusitada academia, pertencente ao excêntrico Gaboolian (Michael Chekhov). No
local, pessoas estressadas, como um ex-capitão e um farmacêutico, podem
experimentar realidades alternativas ou a volta a um ambiente agradável como
forma de esquecer os problemas. Assim o farmacêutico se torna por alguns
minutos um explorador andando de camelo pelo deserto, o ex-capitão volta a
navegar e Eddie acaba com as saudades do Texas andando em um cavalo mecânico.
Um lugar maluco, mas para onde eu adoraria ir quando me faltasse inspiração.
Além da já citada Margaret Hamilton, o elenco de coadjuvantes inclui o
simpático Lionel Stander, mais conhecido como o mordomo Max da série “Casal 20
/ Hart to Hart”, e Florence Bates como a hilária velha ladra. O charmoso Guy
Madison, nesse que é apenas seu terceiro filme, faz um protagonista cheio de
boas intenções. Pouco lembrado, o ator praticamente se especializou em
interpretar militares. Já Diana Lynn, que em sua primeira cena à noite parece que
inspirou suas sobrancelhas nas de Carmen Miranda, foi uma criança prodígio que
estreou no cinema aos 13 anos, quando já era pianista. Participou de “Papai por
Acaso / The Miracle of Morgan’s Creek” (1944), mas seus papéis quando adulta
foram piorando. Trabalhou numa agência de viagens em Nova York e se preparava
para voltar ao cinema quando sofreu um derrame fatal aos 45 anos, em 1972.
William Castle estava em seu 15º filme. Sua produção incluiu vários
filmes de terror de baixo orçamento, mas não por isso ruins. Ele muitas vezes
imitava Hitchcock, fazendo aparições em seus filmes. Sua maior contribuição
para o cinema foi comprar os direitos do livro de Ira Levin “O bebê de Rosemary”. No entanto, a Paramount exigiu que William não dirigisse o filme.
Assim, Roman Polanski entrou como diretor e Castle permaneceu como produtor, mas
apareceu brevemente na tela fora da cabine telefônica em que Mia Farrow se
desespera.
Este homem curioso que trabalhou com Orson Welles no rádio e foi
co-produtor de “A dama de Xangai” (1947) ficou mais conhecido por seus filmes
de terror, mas tem em “Texas, Brooklyn and Heaven” uma simpática amostra de sua
versatilidade.
‘Texas, Brooklyn and Heaven” está disponível no YouTube e no InternetArchive.
This is my contribution for the William Castle Blogathon, hosted by The Last DriveIn and Goregirl’s Dungeon.