A primeira coisa que
aparece no Google quando digitamos “worst 1950” é “worst 1950s sci fi movies”.
E isso faz sentido. A década de 50 viu o boom dos filmes de ficção científica, muitos
deles ótimos e inesquecíveis. Mas também foram produzidos filmes sofríveis,
horrorosos e sem sentido, que são um verdadeiro atentado à inteligência humana.
É sobre estes filmes que falarei.
Os filmes ruins de ficção
científica têm características em comum: pouco mais de uma hora de duração,
baixo orçamento, efeitos especiais estranhos, atores desconhecidos e um
problema que demora 50 minutos para se desenrolar, mas é resolvida em cinco
minutos. Eles também geralmente são escritos e dirigidos pela mesma pessoa: Cy
Roth, Dwain Esper (mestre dos filmes estranhos dos anos 30) e, óbvio, Ed Wood.
Os anos 50 foram povoados
por grandes filmes como “O dia em que a Terra parou / The Day Earth stood still”
(1951), “Guerra dos Mundos / War of the Worlds” (1953), “Vampiros de Almas / Invasion
of the Body Snatchers” (1956) e “O incrível homem que encolheu / The incredible
shrinking man” (1957). Mas na mesma década surgiram também coisas estranhas
como “O robô alienígena / Robot Monster” (1953, o filme mais bizarro que eu já
vi) e... “Plano 9 do Espaço Sideral / Plan 9 from Outer Space” (1959). Mas
vamos falar de uma produção que, perto desses, é um poço de bom gosto: “Fire
Maidens from Outer Space” (1956), que, traduzido para o português, seria algo
como “Solteiras Fogosas do Espaço Sideral”.
Uma tripulação totalmente
masculina parte rumo à 13ª lua de Júpiter. Eles têm a previsão de chegar lá em
três semanas, mas após uma chuva de meteoros são puxados pela força
gravitacional de um corpo celeste que mais tarde descobrimos ser Nova Atlantis,
lugar que conta com um único homem, Prasus (Owen Berry), o governante e também
único sobrevivente do sexo masculino da velha Atlantis. Como em toda sociedade
estranha do cinema, aqui a tradição também é oferecer uma virgem aos
visitantes, e a escolhida é Hestia (Susan Shaw), a filha de Prasus, que é
oferecida ao astronauta Luther Blair (Anthony Dexter), o homem do nome
ridículo. Luther completa: “If she is his daughter, I’m Genghis Khan!” Mas
Prasus não tem como filha apenas Hestia, mas sim um pequeno exército de
mulheres vestidas como sacerdotisas safadas.
Como um usuário do
YouTube comentou, este filme apresenta “uma fantasia sexual imatura dos anos
50”. As mulheres de Nova Atlantis são ingênuas e submissas. Assim que o
conhece, Hestia já quer largar tudo para fugir com Luther. E, é claro, a ordem
é quebrada por uma rebelião de mulheres ciumentas. A visão machista é algo que
os filmes de ficção científica, bons ou ruins, compartilham. Não é raro que
corpos celestes sejam habitados por mulheres malucas, como acontece em “Cat-Women
of the Moon” (1953), em que se descobre que um grupo de mulheres sedutoras e
perigosas habita uma cratera da lua.
É normal que os filmes de
ficção científica apresentem roupas e ferramentas tecnológicas que viram sonho
de consumo dos espectadores. Eu, por exemplo, adoraria ter Robby, o robô, ou as
joias e roupas de Anne Francis em “Planeta Proibido” (1956). Bem, as roupas das
habitantes de Nova Atlantis não deixam de ser adoráveis, e lembram bastante as
sacerdotisas gregas e romanas (as saias são mais curtas, é verdade). Outra boa
surpresa, além do figurino, é trilha sonora de “Fire Maidens from Outer Space”:
os créditos aparecem conforme toca uma bela música instrumental, e a única
melodia conhecida em Nova Atlantis é “Strangers in Paradise”, uma de minhas favoritas.
Mas... por que esse tipo
de filme era feito, em primeiro lugar? Bem, muitos deles apareceram como
novidades do cinema 3D, como “Robot Monster” e “Cat-Women from the Moon” (ambos
os filmes têm a trilha sonora assinada por Elmer Bernstein, no começo da
carreira). E outro fator entra em cena: quem não quer fazer parte do
maravilhoso mundo do cinema?
Em 1950 as pessoas
perceberam que o cinema não era mais um lugar de intocáveis. Todos podiam fazer
filmes. Tudo bem que a maioria não chegaria aos pés de uma superprodução da
MGM, mas não custava sonhar. Bastava um pouco de dinheiro, pessoas dispostas a aparecerem
(quem não queria ser estrela de cinema, mesmo que por um dia?) e algum jeito de
distribuir o filme, ainda que isso demorasse algum tempo (“Plano 9” ficou
pronto em 1957, mas só conseguiu estrear dois anos depois). Todos eram um pouco
Ed Wood: apaixonados pelo meio cinematográfico e dispostos a fazerem parte
dele, mesmo que lhes faltasse talento. E é isso que vemos hoje de novo: através
da internet, todos podem lançar livros, filmes e músicas, mas os resultados não
serão sempre bons. Mas pelo menos garantirão boas risadas.
Em tempo: em “Firen
Maidens from Outer Space”, os astronautas viajam para a 13ª lua de Júpiter. O
filme é de 1956. A 13ª lua de Júpiter só foi descoberta em 1974. Quem disse que
o cinema não pode prever o futuro?
This is my contribution to the Accidentally Hilarious Blogathon, hosted by the amazing Fritzi at Movies, Silently.
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