Quando
eu estava me preparando para assistir a “Tributo de Sangue”
(1952) no Internet Archive, percebi que ele estava categorizado como
“filme noir tardio”. É uma categoria estranha, e mais estranha
ainda se considerarmos que muitos filmes noir foram feitos em meados
e até finais da década de 1950. Seja ele um “filme noir tardio”
ou não, o que importa é que “Tributo de Sangue” tem o
ingrediente principal do filme noir: crime.
As
I was getting ready to watch “The Turning Point” (1952) at the
Internet Archive, I noticed that it was labeled “late film noir”.
It was an odd label, even odder considering that there were several
films noir made way into the 1950s. Whether it’s a “late film
noir” or not, what is important is that “The Turning Point”
exudes the stuff film noir is made of: crime.
Johnny
Conroy (Edmond O’Brien) é um promotor de sucesso que está
investigando um novo caso. Ele pede ajuda a seu pai, um policial, mas
recebe um não como resposta. Surpreso pela recusa, o amigo de
Johnny, Jerry (William Holden), que é repórter, decide seguir o pai
de Johnny, Matt (Tom Tully), pela cidade.
Johnny
Conroy (Edmond O’Brien) is a successful special prosecutor
investigating a new case. He asks his father, a cop, for help, and
his father refuses. Startled by the father’s refusal, Johnny’s
friend Jerry (William Holden), a reporter, decides to follow Johnny’s
father, Matt (Tom Tully), through the city.
Acontece
que Matt está colaborando com os caras malvados, entregando para
eles informações secretas da polícia. Também envolvida com o
caso, mas do lado dos bonzinhos, está a namorada e assistente de
Johnny, Amanda (Alexis Smith). Conforme vai escrevendo sobre a
investigação, Jerry se envolve cada vez mais com o caso – e
também se envolve com Amanda.
It
turns out that Matt is collaborating with the bad guys, sending them
classified information from the police. Also involved in the case,
but at the good guy’s side, is Johnny’s girlfriend and work
assistant Amanda (Alexis Smith). As he writes about the ongoing
investigation, Jerry becomes more and more involved with the case –
and he also becomes involved with Amanda.
Em
vez do detetive durão que costumamos encontrar no filme noir, em
“Tributo de Sangue” temos um repórter durão, Jerry, que é
constantemente mais inteligente que Johnny, o promotor e protagonista
do filme. Quando Johnny fica inseguro frente a uma decisão de
autossacrifício – que é denunciar seu pai – pelo bem do caso, é
Jerry que o convence a seguir em frente. Um ano antes de sua
performance ganhadora do Oscar em “Inferno Nº 17” (1953),
William Holden é o protagonista de fato em “Tributo de Sangue”.
Instead
of the hard-boiled detective we often find in film noir, in “The
Turning Point” we have a hard-boiled reporter, Jerry, who is
usually more intelligent than Johnny,
the prosecutor and lead of the movie. When Johnny feels unsure about
sacrificing himself – that is, denouncing his father – for the
sake of the case, it’s Jerry who convinces him to do so. One year
before his Oscar-winning performance in “Stalag 17” (1953),
William Holden is the de facto lead of “The Turning Point”.
Não
era raro ter repórteres nos filmes noir ou com toques de noir.
Podemos mencionar “A Montanha dos 7 Abutres” (1951), um filme com
toques de noir no qual um repórter faz de tudo para explorar uma boa
história após encontrá-la. O noir argentino “Los Tallos Amargos”
(1957) é sobre um esquema mortal envolvendo um curso de jornalismo
por correspondência. Não devemos nos esquecer de que o cinema noir
por vezes encontrou inspiração em jornais, fosse em casos reais –
como aconteceu em “Tributo de Sangue” – ou no estilo cru das
fotos tiradas por grandes fotojornalistas dos anos 1930 e 1940, a
exemplo de Weegee.
It
wasn’t so rare to have reporters in film noir or in “noirish”
films. We can mention “Ace in the Hole” (1951), a noirish film in
which a reporter does anything for a good story once he finds it. The
Argentinian noir “Los Tallos Amargos” (“Bitter Stems”, 1957)
is about a deadly scheme involving a journalism correspondence
course. We must not forget that film noir often found inspiration in
newspapers, be it in real-life cases – which happened in “The
Turning Point” – or in the raw looks of the photos taken by lead
photojournalists of the 1930s and 1940s, such as Weegee.
Os
figurinos de “Tributo de Sangue” foram feitos por Edith Head. Não
há roupas extravagantes, pois a maioria dos personagens são homens
de terno. Os vestidos usados por Alexis Smith são bonitos, mas não
figuram entre as melhores criações de Edith Head. Na história do
cinema noir, Edith fez figurinos de filmes notáveis como “Pacto de
Sangue” (1944), “Crepúsculo dos Deuses” (1950) e o subestimado
“O Relógio Verde” (1948).
The
costumes for “The Turning Point” were made by Edith Head. There
are no flashy costumes, as most characters are men in suits. The
dresses worn by Alexis Smith are pretty, but are not among Edith
Head’s best creations. In film noir history, Head also created
costumes for the very famous “Double Indemnity” (1944), “Sunset
Boulevard” (1950) and the underrated “The Big Clock” (1948).
“Tributo
de Sangue” foi dirigido por William Dieterle. O diretor de origem
alemã teve uma carreira bem longa, começando como ator em 1913 –
seu papel mais famoso é como o coadjuvante Valentin em “Fausto”,
de 1926. Ele começou a dirigir filmes na Alemanha em 1923 e em 1931
foi para Hollywood. Com 91 créditos como diretor, de acordo com o
IMDb, Dieterle foi prolífico em sua carreira atrás das câmeras,
dirigindo vários gêneros durante mais de 40 anos.
“The
Turning Point” was directed by William Dieterle. The German-born
director had a very long career, starting as an actor in 1913 – his
most famous role being the supporting role of Valentin in 1926’s
“Faust”. He started directing in Germany in 1923 and in 1931 went
to Hollywood. With 91 directing credits to his name, according to
IMDb, Dieterle was a prolific director, working in several genres for
over four decades.
Com
um clímax tenso num ringue de boxe – mas não tão tenso quanto o
clímax no carrossel em “Pacto de Sangue” (1951) – “Tributo
de Sangue” termina de um jeito amargo, como tantos filmes noir. É
um filme pouco visto, considerando a carreira de William Holden,
apesar de sua ótima performance, e é outro noir subestimado que eu
tive a sorte de encontrar no Internet Archive.
With
a tense climax in a boxing arena – but not as tense as the climax
in the merry-go-round in “Strangers on a Train” (1951) – “The
Turning Point” ends on a bitter note, like so many noirs. It’s an
underseen movie in William Holden’s career, despite his very good
performance, and it’s another underrated noir I was lucky
to find at the Internet Archive.
This
is my contribution to the 5th Golden Boy blogathon: A
William Holden Celebration, hosted by Virginie at The Wonderful World
of Cinema, Michaela at Love Letters to Old Hollywood and Emily at The
Flapper Dame.