Gosto de pessoas polivalentes. Que se desdobram. Multitarefa. São muitos os termos, recentes ou já empoierados pelo uso, que podem descrever algumas das grandes personalidades do cinema; personalidades que não se contentaram em causar sensação apenas à frente das câmeras, mas também demonstraram garra e talento para a direção e a criação de roteiros – e muito mais o que a imaginação deixava.
George Méliès: Não é de se espantar que no começo do cinema um homem desempenhasse tantas funções. Sem divisão de tarefas, Méliès conseguiu dirigir mais de 600 filmes, atuar, escrever, produzir, editar, fazer efeitos especiais e até mesmo compor música e ser maquiador. Prestidigitador antes de tudo isso, ele foi responsável por “Viagem à Lua / Voyage dans la Lune ” (1902), em que também atua como o professor que idealiza a aventura.
Erich Von Stroheim: O astro austríaco fez muito em terras americanas. Ainda no cinema mudo, foi ator, diretor, roteirista, produtor, editor e até figurinista. Entre seus sucessos estão “Esposas Ingênuas / Foolish Wives” (1922), “Ouro e Maldição / Greed” (1924) e “aquele papel do mordomo” em “Crepúsculo dos Deuses / Sunset Boulevard” (1951).
Charles Chaplin: Hoje Chaplin é sucesso garantido e talento indiscutível. Mas para chegar a esse patamar ele teve de suar a camisa. Diferente de seu mais famoso personagem, ele não foi nada vagabundo e deu duro como roteirista, ator, diretor e compositor. Mesmo sem saber teoria musical, acabou compondo uma das mais belas melodias do século, “Smile”, presente em “Tempos Modernos / Modern Times” (1936). Nada mal para o pobre menino inglês que passou a infância em orfanatos.
Buster Keaton: A expressão em seu rosto era imutável, mas Buster vivia mudando de função. Ele escreveu, produziu, dirigiu e protagonizou várias comédias memoráveis dos anos 1920. Entre elas podemos destacar “Sherlock Jr.” (1924), “Sete Oportunidades / Seven Chances” (1925) e “A General / The General” (1926). Ajudou a criar situações cômicas também em “Uma Noite na Ópera / A Night at the Opera” (1935) e “A Bela Ditadora / Take me out to the Ballgame” (1949). “Buster” é uma gíria para valente na língua inglesa. Keaton provou que podia ser também polivalente.
Laurence Olivier : O ator shakesperiano por excelência também se aventurou como diretor e produtor. Ganhou o Oscar como Melhor Ator e também Melhor Diretor por “Hamlet” (1948). Outros de seus sucessos incluem “Henrique V / Henry V” (1944), “O Príncipe Encantado / The Prince and the Showgirl” (1953) e várias peças de teatro. Além de fazer isso tudo, foi casado com Vivien Leigh, uma das poucas coisas em que não atingiu sucesso absoluto.
Orson Welles: Em seu primeiro filme, Welles foi indicado ao Oscar de Melhor Ator, Diretor e Roteiro. Levou o último. Mas seu trabalho não parou por aí. Ele também foi responsável pela iluminação de “Cidadão Kane / Citizen Kane” (1941) e assinou outras grandes obras como “O Estranho / The Stranger” (1946), “A Dama de Xangai / The Lady from Shangai” (1947) e “A Marca da Maldade / Touch of Evil” (1958). Foi também narrador, figurinista, editor (não em todos os filmes, infelizmente), produtor e, mesmo obeso com o passer dos anos, soube usar bem seu sobrepeso para construir personagens interessantíssimos.
Vittorio de Sica: Ele inaugurou o neorrealismo italiano com “Ladrões de Bicicleta / Ladri di Biciclette” (1948), filme que escreveu e dirigiu. E ele não parou (ou não começou) por aí. De Sica foi também produtor e ator, começando adolescente no cinema mudo. Em “Começou em Nápoles / It started in Naples” (1960), ele rouba a cena de um nédio Clark Gable.
François Truffaut: O pai da Nouvelle Vague foi ator, roteirista, produtor e diretor, mas começou como crítico na famosa revista Cahiers du Cinéma. Sua meta era dirigir 30 filmes e depois se aposentar para escrever livros. Não deu tempo: dirigiu apenas 25, entre eles as obras-primas “Os Incompreendidos / Les quatre cents coups” (1959), “Jules e Jim / Jules et Jim” (1961) e “A Noite Americana / La Nuit Américaine ” (1973) e atuou em “Contatos Imediatos do Terceiro Grau / Close Encounters of the Third Kind” (1977).
Ida Lupino: A representante dos dois cromossomos X nessa lista é mais conhecida como atriz, mas também foi produtora, roteirista e diretora. Dirigiu e estrelou o filme “O Bígamo / The Bigamist” (1953) e esteve no comando de episódios de célebres séries de TV, como “A Feiticeira”, “Alfred Hitchcock Apresenta”, “Além da Imaginação”, “A Ilha dos Birutas” e “Dr. Kildare”.
Woody Allen: Woody escreveu e dirigiu comédias que inevitavelmente são consideradas novos clássicos. Além disso, o protagonista normalmente é seu alter ego. Em alguns casos, ele mesmo se encarrega de dar vida a esse outro eu cinematográfico. Suas mais famosas produções são “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa / Annie Hall” (1977), “Manhattan” (1979), “Hannah e suas Irmãs / Hannah and her Sisters” (1986) e “Vicky Cristina Barcelona” (2005).
Clint Eastwood: Este homem durão é um bem sucedido ator, diretor, produtor e, vejam só, compositor. O ganhador de quatro Oscars pôs suas mãozinhas em sucessos como “Três Homens em Conflito / Il buono, il brutto, il cattivo” (1966), “Josey Wales, o fora da lei / Josey Wales, the outlaw” (1976), “Os Imperdoáveis / The Unforgiven” (1992) e “Menina de Ouro / Million Dollar Baby” (2004). E, para aumentar minha admiração por ele, seu ator favorito é o mesmo que o meu: James Cagney.
Warren Beatty: Além de irmão da Shirley MacLaine e intérprete de Clyde em “Bonnie & Clyde, uma rajada de balas” (1967), Warren aventura-se como produtor, diretor, roteirista e andou até escrevendo músicas. Ele mostrou sua versatilidade em filmes como “Shampoo” (1975), “O Céu pode Esperar / Heaven can Wait” (1978) e “Segredos do Coração /Love Affair” (1994).
Menção honrosa para Alfred Hitchcock, que dirigiu, produziu, escreveu muitos clássicos e, mesmo não sendo ator, rouba a atenção do público com suas aparições como extra.
Menção mais do que honrosa para Lillian Gish, que, do que eu tenho notícia, foi a primeira mulher a dirigir e escrever um filme, “Remodeling her Husband” (1920), estrelando sua irmã Dorothy Gish. Isso é que é garra e pioneirismo.
Também acho bacana, Lê, quem dirige e atua (ou vice-versa).
ReplyDeleteÓtimo post!
O Falcão Maltês
Tenho muita admiração por todos que citou, mas George Méliès é um ídolo; e Viagem à Lua é um clássico!
ReplyDeleteOlá Lê.
ReplyDeleteObrigado e parabéns também pelo seu excelente Blog!
Estou te adicionando nas nossas Recomendações!
;-)
excelente post Lê! a Ida Lupino considerada a pioneira feminina na direção hoje é injustamente esquecida e eu não sabia da Lilian Gish.
ReplyDeleteAdorei o post, Lê. Quando li sobre Eastwood, vi que vc citou Josey Wales, um filme que passou recentemente no TCM e que eu simplesmente amei: grande, grande western. Talvez um dos melhores de todos os tempos. Lillian Gish é uma mulher a qual admiro muito. Faltou lembrar de Mary Pickford, também pioneira, que fundou a United Artists junto com Chaplin e e Fairbanks. Mulheres maravilhosas, essas são as verdadeiras ladies do cinema, na minha opinião: quanta garra, como vc mesma descreveu. A visão que elas tiveram na ápoca, muito à frente do tempo em que viviam foi coisa de gênio.
ReplyDeleteUm abraço
Dani
Não há como deixar de admirar o talento desses bensucedidos multitarefeiros. A versatilidade de Chaplin em várias funções, em particular, me espanta sempre.
ReplyDeleteGostei do post. Vou procurar as produções que ainda não conheço.
ReplyDeleteGostei deste post. Informações preciosas, texto agradável.
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