Era uma entediante tarde
de domingo, há MUITOS anos (se é que se pode dizer “há MUITOS anos” quando se
tem apenas 18 de idade) e eu decidi assistir a um filme que estava começando. O
artista era Mazzaropi, sobre quem eu já havia lido em um almanaque. Não lembro
o nome do filme, sequer o enredo, mas a lembrança do riso ficou. Riso
compartilhado com milhares de outras pessoas que tiveram a sorte de vê-lo na
tela grande e que também não esqueceram a comicidade deste artista cujo
centenário será comemorado em breve.
Amácio Mazzaropi nasceu em São Paulo em 9 de abril
de 1912, filho de um italiano com uma descendente de portugueses, e recebeu o
mesmo nome do avô, Amazzio. Mas seria o outro avô sua maior inspiração, pois
era tocador de viola e dançarino. Os pais passaram a trabalhar em uma companhia
de tecelagem em Taubaté, onde ele mais tarde também trabalharia. Era bom aluno,
sempre declamava poemas em festas escolares e foi aos 10 anos, num monólogo,
que pela primeira vez interpretou um caipira.
Assim como outros astros
do cinema brasileiro, Mazzaropi começou no circo, juntando-se a uma trupe aos
14 anos e contando piadas entre as apresentações de um faquir. Três anos
depois, ele se viu obrigado a voltar para casa sem emprego, mas a efervescência
trazida pela Revolução de 32 reacendeu sua vontade de atuar. Não demoraria para
que ele transformasse o mais famoso grupo itinerante do interior de São Paulo,
a Troupe Olga Crutt, na Troupe Mazzaropi, inclusive levando seus pais para
trabalharem com ele.
Quase dez anos depois,
Mazzaropi recebeu boas críticas por sua peça “Filho de sapateiro, sapateiro
deve ser”. Com o sucesso veio em 1946 o convite para o programa Rancho Alegre,
da Rádio Tupi, em que ele contava piadas e cantava ao som de uma sanfona. Só na
primeira semana, ele recebeu 2000 cartas de fãs, que lotavam os espetáculos que
ele fazia pelo país.
Mazzaropi teve o
privilégo de se apresentar na estreia da TV Tupi tanto em São Paulo quanto no Rio
de Janeiro, respectivamente em 1950 e 1951. Seu programa Rancho Alegre seria a
primeira atração da televisão brasileira a contar com um patrocinador.
Ao contrário de tantos
outros artistas, o cinema foi o último território a ser desbravado por
Mazzaropi. Em 1951 ele assinou contrato com a Companhia Cinematográfica Vera
Cruz, onde faria seus três primeiros filmes, passando por diversas outras
produtoras até fundar a sua própria em 1958: Produções Amácio Mazzaropi, a PAM
Filmes. Para produzir as primeiras películas, ele vendeu tudo o que tinha.
Valeu a pena: fez mais sucesso, ganhou seu próprio programa de variedades e
comprou uma fazenda para construir seu estúdio.
Em 1960 ele fez o filme
Jeca Tatu, repetindo o papel de caipira em mais nove produções. No mesmo ano
estreia na direção, com “As aventuras de Pedro Malasartes”. E o pioneirismo não
parou por aí: “Tristeza do Jeca”, do mesmo ano, seria o primeiro filme nacional
colorido em Eastmancolor, tendo sido editado no México. E, por fim, em 1973
sairia o primeiro de seus dois filmes rodados no exterior: “Um caipira em
Bariloche”.
Mazzaropi ganhou
diversos prêmios durante sua carreira. Seu filme “No paraíso das solteironas”
rendeu, em um ano, 2 bilhões e 650 milhões de cruzeiros. Rodou um filme
autobiográfico, “Betão ronca ferro”, em 1970, e dois anos depois se encontrou
com o presidente Emílio Garrastazu Médici, pedindo maiores verbas para o cinema
brasileiro. Ele se encontraria com mais dois presidentes, sempre falando sobre
a sétima arte.
Sucesso garantido |
O artista nunca se
casou, mas, segundo alguns depoimentos, criou ao longo de sua vida cinco
meninos, embora em algumas biografias conste que ele teve apenas um filho
adotivo, de nome Péricles. Mazzaropi faleceu em 13 de junho de 1981, aos 69
anos, de septicemia (infecção generalizada), dois anos antes da morte da mãe.
Fez ao todo 32 filmes e contracenou com grandes nomes, como Hebe Camargo, Odete
Lara, Luís Gustavo e Tarcísio Meira, tendo estes últimos estreado sob a tutela
do mestre. Ensinou gerações a rirem com sua personagem caipira, mas na vida
real era ambicioso, perspicaz e gostava de se vestir com elegância. Caipira
esperto, uai!
Os filmes de Mazzaropi, foram os primeiros filmes que eu assisti em 1995, quando meu pai comprou o primeiro VHS.
ReplyDeleteNunca me esquecerei das sessões.
Conheci o Mazzaropi na tevê. Fiquei impressionado. Um humor ingênuo e hilário.
ReplyDeleteO Falcão Maltês
Aaaaaaa
ReplyDeleteAdorei!!!
Excelente lembrança!
Beijos =)
Adorei seu blog, voltarei muiiiiitas vezes em busca de bons filmes! Bacana lembrar-se do Mazzaropi, grande artista, assiti muitos filmes dele por influência de meu vô. Parabéns!!!
ReplyDeleteGrande beijo,
Carmen
Muito me admira esses 18 aninhos,
ReplyDeleteseu bom gosto é surpreendente!
Sempre ótimas dicas por aqui Lê!!!
Bjos
Amanda Fernandes
www.redapplepinups.blogspot.com
Oi Lê!
ReplyDeleteQue bom que gostou do meu blog. Eu também confesso que tenho uma queda pelos vilões. Ganhar eu sei que é difícil, mas eu adoro essas batalhas infindáveis. Obrigada pela visita e espero que volte mais vezes.
E põe caipira esperto, heim? Quando a pessoa faz o que quer e gosta, dá nisso. Não sabia que ele que havia feito a música "Tristeza do Jeca" (eu a toco bastante ^^), na verdade, não conhecia nada a respeito dele. Depois de ler seu texto, me interessei muito. Ele conquistou muita coisa, e aposto que não vai nos decepcionar com todo seu trabalho e esforço. Pena que já partiu.
Abraços
http://suinguken.blogspot.com.br/
Lê parabéns por se lembrar e por prestar esse maravilhoso tributo a nosso Chaplin do Brasil. Gosto muito de Mazzaropi, como todo mundo também conheci seus filmes muuuuuito antes de sonhar em ser fã do cinema clássico. Lembro-me que em 1991 eu com pouco mais de sete anos fui ao cinema com meus pais, (um extinto cinema de minha cidade, enorme e que foi demolido anos depois)eles foram ver UM CAIPIRA EM BARILOCHE, na ocasião se comemorava aniversário da morte do ator. Eu claro dormi o filme todo, sei que era esse pois anos mais tarde minha mãe me lembrou.
ReplyDeleteÉ Lamentável porém que no Brasil não existam empresas ou empresários dispostos a remasterizar esses filmes tão importantes da nossa cultura, não irá muito tempo e eles acabaram desaparecendo, feliz de quem tem suas cópias originais em casa, bem guardadas...
Parabéns pelo post,ótimo como sempre..
Grande abraço
Olá! Obrigado pela visita :D
ReplyDeleteGostei muito do conteúdo do seu blog, vou seguir e passar aqui de vez em quando.
Eu lembro de ter visto vários filmes do mazzaropi quando era criança, pois meu pai assistia. A algum tempo atras eu ja tinha lido um pouco sobre a história dele, mas nos ultimos tempos acabei não assistindo nenhum dos seus filmes. Preciso pegar alguns pra ver. A lembrança que eu tenho dele é de ser realmente um cara muito engraçado.
Até mais, beijO
Lê, mas que post fantástico!
ReplyDeleteEu sempre gostei muito do Mazzaropi, e fui influenciada por meu bisavô, que vez ou outra me contava sobre os filmes e cantarolava as suas canções. O primeiro filme que vi foi Sai da Frente, mas de todos, Tristeza do Jeca é o meu Preferido.
Parabéns pelo post!
Ta aí uma falha no meu currículo cinematográfico... preciso ir atrás.
ReplyDeleteBelo texto!
Tinha um canal que passava os filmes do Mazzaropi, não lembro, era criança, mas eram, divertidos! Acho que deveria ser mais lembrado.
ReplyDeleteNão o conhecia porque não sou dessa época, nasci em 1996! Mas adorei conhece-lo em seu post.
ReplyDeleteolá amiga letícia, adorei sua visita em meu blog, não podia deixar de retribuir e vir conferir teu blog tb.. adorei tudo, tb adoro filmes, assisto de tudo, mas confesso que os filmes mais atuais não costumam ser meus prediletos, os melhores filmes pra mim, pararam na década de 90, hehehe.. alguns amigos reclamam do meu gosto, mas não consigo mudar..
ReplyDeletenão cheguei a assistir nenhum filme completo do Mazzaropi, mas minha mãe sim, vários e vira e mexe conta alguma história que viu em algum filme.. lendo teu post agora me deu a maior vontade de procurar alguns filmes pra assistir, farei isso essa semana.. a história de Mazzaropi é mesmo bastante interessante..
bjos mil e ótima semana..
Adoro filmes clássicos e tb fico bastante feliz em encontrar mais uma fã. Meu foco no blog é mais os filmes mudos, mas tb adoro os clássicos em geral. Esses filmes ajudam muito a entender a cultura de massas de hoje em dia. Certos personagens, como Betty Boop e o Gato Félix ainda estão em nosso imaginário. E não dá para deixar de notar a influência da grande Clara Bow sobre Betty.
ReplyDeleteMUito legal! Mazzaropi deixou um legado para o cinema nacional. Como ele, só ele mesmo.
ReplyDeleteOlá Lê!
ReplyDeleteQue bom que gostou do poema. Ah, e vc tem meu total apoio e insentivo para escrever. É um caminho muito bom a ser seguido. Quanto ao sentido do livro, não se preocupe, pelo que penso, acho que os livros ficam felizes ao serem lidos ao menos uma vez. No caso do poema, eu quis transpassar que ninguém ainda se interessou em ler minha história, como se eu fosse o livro, isso num âmbito romântico. Se vc já leu seus livros, com certeza eles não se sentirão só.
Abraços
http://suinguken.blogspot.com.br/
Adorava o Mazaroppi. Vi quase todos os seus filmes. Ele era o mais autêntico de nossos caipiras e até hoje não encontrou um substituo à altura.
ReplyDeleteParabéns pelo blog!
ReplyDeleteGostaria de recomendar entre os filmes do Mazzaropi que assistam "As Aventuras de Pedro Malasartes". É maravilhoso, considerado por muitos sua obra prima. Nele ele funde as tradições folclóricas europeias e brasileira mesclando a problemas que o Brasil atravessava *e ainda atravessa*, como a relação desigual entre as classes sociais e a falta de acesso da juventude a educação pública de qualidade. Um clássico, dos melhores do cinema nacional. Ele está completo neste link http://www.youtube.com/watch?v=2TLUgKg78Q0