Às vezes, você está
tão entretido com o enredo de um filme que acaba nem prestando muita atenção à
trilha sonora. Se não for um musical, é provável que suas lembranças depois de
acabada a sessão se refiram apenas à trama cinematográfica e não à percepção da
música de fundo.
Essa foi uma breve
descrição do que normalmente acontece quando eu assisto a algum filme. Devo
confessar que perco um bocado ao não prestar muita atenção à trilha sonora. Uma
das coisas que perco é sem dúvida a apreciação do talento de vários
compositores, entre eles o brilhante Bernard Herrmann.
Herrmann, descendente
de russos, nasceu em Nova York em 1911. Aos treze anos ganhou um concurso de
composição e aos 20 formou sua própria orquestra. Em 1934 passou a trabalhar na
rádio CBS, onde pôde levar ao público composições quase desconhecidas de
grandes músicos e também obras curiosas de personalidades como os reis Henrique
VIII e Luis XIII. Foi também na CBS que conheceu Orson Welles e compôs para o
Mercury Theatre, inclusive sendo de sua autoria a trilha sonora da avassaladora
transmissão de “A Guerra dos Mundos”, feita em 1938 por Welles.
Se o programa de
rádio levou Welles para o cinema, ele levou junto Bernard Herrmann, que estreou
com chave de ouro, compondo para “Cidadão Kane / Citizen Kane” (1941) e
“Soberba / The Magnificent Ambersons” (1942), trabalho pelo qual não foi
creditado. Logo em seu primeiro ano no cinema ganhou o Oscar por “The Devil and
Daniel Webster”.
A parcela mais famosa
de seu trabalho surgiu através da parceria com o diretor Alfred Hitchcock, que
utilizava o talento musical de Bernard mesmo quando havia apenas silêncio: em
“Os Pássaros / The Birds” (1963), filme sem trilha sonora, Herrmann foi
consultor de efeitos sonoros. O compositor até deu uma de Hitch e fez uma breve
aparição em “O homem que sabia demais / The man who knew too much” (1956), como
o regente da orquestra. No entanto, nesse filme duas melodias importantes não
foram compostas por Herrmann: a gahadora do Oscar “Que sera, sera“ e “Storm
Clouds Cantata”, tocada pela orquestra, que foi composta para a primeira versão
do filme, em 1934.
A colaboração com
Hitch começou em 1955, com “O Terceiro Tiro / The Trouble with Harry” e se
estendeu por oito produções, sendo as mais lembradas “Psicose / Psycho” (1960),
em que ele inovou ao usar como base os instrumentos de corda, e “Um corpo que cai / Vertigo” (1958), uma obra-prima que voltou às manchetes este ano ao ser
incluída na trilha sonora de “O Artista”. A parceria terminou quando Hitchcock
se desentendeu com Herrmann ao não aceitar a música dele para “Cortina Rasgada /
Torn Curtain”, pedindo “algo com mais ritmo de jazz”. Apesar de nunca mais
terem trabalhado juntos, continuaram amistosos.
Consagrado como
compositor de filmes de suspense, Hermann foi chamado por François Truffaut,
admirador de Hitchcock, para compor para “Fahrenheit 451” (1966) e “A noiva estava de preto / The Bride Wore Black” (1968). Para Brian de Palma, trabalhou
em “Sisters” (1973) e “Obssession” (1974) e teria trabalhado em “Carrie, a
estranha” se não tivesse falecido. Foi Brian que indicou Bernard para Martin
Scorsese, que o contratou para “Taxi Driver” (1976), o último filme de
Herrmann.
Ele gostava de ter
liberdade criativa para compor, algo raro entre os de sua classe, e assim
influenciou gerações. A música que fez para Truffaut, por exemplo, serviu de
base para os arranjos da canção “Eleanor Rigby”, dos Beatles. Vez ou outra
surge uma homenagem na mídia, a exemplo da discografia lançada em 1996 que
acabou ganhando um prêmio no Festival de Cannes. Talentoso e versátil, Herrmann
também compôs para uma série de filmes de aventura e ficção, como “O dia em que a Terra parou / The Day the Earth Stood Still” (1951), e para a primeira
temporada da série “The Twilight Zone”. Além disso, fez uma ópera baseada em “O
morro dos ventos uivantes” em 1951. Surpreeendentemente, a composição de que
mais gostava era a de um romance: “O Fantasma Apaixonado / The Ghost and Mrs.Muir” (1947).
Clique nos títulos dos filmes para carregar a trilha sonora no YouTube e leia mais sobre "O Fantasma Apaixonado" aqui.
Eu também não presto muita atenção em trilha sonora, mas devo dizer que quando assisti Taxi Driver (o único que prestei atenção na trilha)fui imediatamente cativada pela música. É incrível como ajudou a construir a tensão do filme. Primeiramente 'entendiada' até atingir o clímax no final do filme.
ReplyDeleteExcelente texto. Bernard Herrmann é, realmente, um dos grandes. Conhecê-lo,aqui, está sendo um deleite. Parabéns. Um abraço...
ReplyDeleteSinto muita saudade das trilhas sonoras bacanas dos filmes antigos. Elas davam todo um efeito melodramático nas cenas e ajudavam o público a sentir o clima do filme. Sou uma das poucas que presta atenção nas músicas, a ponto de prestar mais atenção na música que no filme em si (me disperso muito fácil).
ReplyDeleteParabéns pelo texto. Os compositores acabam sendo muito negligenciados em comparação com os atores e essa foi uma rara chance de saber mais sobre um dos melhores compositores clássicos dos EUA.
Olá Lê, confesso que até então o nome de Bernard Herrmann me remetia tão somente à parceria dele com o Hitchcock e a assinatura da trilha de alguns outros filmes como "Cidadão Kane" e "Taxi Driver", eu não tinha noção do quanto a carreira dele tinha ido além destes pontos que eu já conhecia... Parabéns minha cara amiga, excelente post! Abração!
ReplyDeleteÓtimo post, não conhecia nada sobre ele e muito pouco sobre o trabalho. Adorei.
ReplyDeleteBjus
Um ótimo início de semana!
Rafaelando
Nunca assisti a nenhum desses filmes, mas já ouvi falar bastante em Bernard Hermann. Preciso assistir Taxi Driver!
ReplyDeleteÉ verdade, Lê. As vezes ficamos tão envolvidos com o enredo do filme que não prestamos muita atenção à trilha sonora, nem conferimos nos créditos quem é seu autor, mas Bernard Hermann é maravilhoso e deve ser ouvido.
ReplyDeleteRealmente um baita compositor. Não sabia que era ele que havia feito a perfeita trilha sonora de Psicose. E melhor, umas das minhas músicas prediletas dos Beatles: Eleanor Rigby. Beijos <3
ReplyDeleteLe, querida, o trabalho dele é mais do que magnífico... eu SEMPRE fico admirado com a música de vertigo (apesar de muito gostar de todos seus trabalhos!) pois para mim, nao existe NADA melhor em termos de trilha-sonora na hitória do cinema... lembra da música quando Novak finalmente se tranforma na mulher com que ele sonhava???? IT IS LARGER THAN LIFE!!!!!!!! Belíssima e justíssima homenagem!!!!! Voce, como sempre, uma "danadinha!" Beijos Ricardo
ReplyDeleteQue grande músico, hein? Só compondo para filmões! Legal conhece-lo.
ReplyDeletehttp://monteolimpoblog.blogspot.com.br/
Ola minha querida Le,teu texto hoje[e aliás como sempre]está bom demais.Eu já conhecia Bernard Hermann,pois como deves imaginar estou sempre ligada nas trilhas de qualquer tipo de filmes,e Ele considero fabuloso por seus trabalhos.Que bom ser lembrado aqui em teu excelente blog.Katryn Grayson,nossa,conheço demais,quantas canções belíssimas cantadas em antigos filmes musicais com sua magnífica voz.E como eu a achava linda....Adorei tua visitinha.Grande braço.
ReplyDeleteFalar de qualquer parceria dele com o Hitch parece-me "lugar comum". Por isso, gosto de lembrar aquela bela trilha para Táxi Driver, que traz a exata atmosfera do filme. Grande lembrança. Abraços. cinemavelho.com
ReplyDeleteNo suelo prestar mucha atención a la banda sonora, no es mi prioridad y es que soy medio sordo pero hay momentos y algunas muestras ineludibles, que aportan mucho y hasta se destacan casi independientemente. Hermman era uno de eso grandes nombres. Buen repaso por sus creaciones. Psyco es una muestra de su genio, un sonido estridente y que engrandece el pánico. Besos.
ReplyDeleteMagnífico sempre!
ReplyDeleteO Falcão Maltês
Olá Lê, obrigado por parar pelo meu blog e para o seu lindo comentario. Quem me dera Português meu foraminifères tão bons quanto o seu Inglés. You have written an excellent tribute to one of my favorite composers for film and television. You might be interested to know that Herrmann also composed the music that Laird Cregar plays in "Hanover Square". He also created a rather creepy but catchy tune for "Twisted Nerve", which is whistled by the lead character. The tune can also be heard in "Kill Bill" by Quentin Tarantino.
ReplyDeleteEu confesso que reparo bastante na trilha sonora, no entanto são raras as vezes que eu procuro saber quem esteve por trás deste trabalho. Já vi inúmeros filmes citados e jamais poderia imaginar que Bernard Herrmann estivesse envolvido. Excelente post!
ReplyDeleteUm verdadeiro mestre das trilhas sonoras. Foi um dos responsáveis pelo brilhantismo de Psicose, por exemplo. Talvez sua trilha que mais me agrade é a arrebatadora de Taxi Driver - sua última, por sinal. Há uma história engraçada: o Scorsese ligou pra ele e disse que o título do filme era "Taxi Driver", ele retrucou que não fazia trilhas de filmes sobre táxi, o Scorsese teve que explicar que não era exatamente um filme de táxi. hahaha
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