Quando “A ponte do rio Kwai” ganhou sete Oscars, ela estava lá. Quando
Elizabeth Taylor deixou as marcas de suas mãos no cimento, ela estava lá.
Quando Carmen Miranda, Marilyn Monroe, Clark Gable e James Dean morreram, ela
estava lá. Quando Walt Disney deu um Oscar em forma de Mickey Mouse a James
Mason, ela estava lá. E, assim como eu e muitos outros dos leitores desse blog,
ela era brasileira.
Foto de Raquel Stecher |
Quem leu minha primeira resenha de um livro sobre cinema para o blog,
Vocês ainda não ouviram nada, sabe que eu sou muito detalhista. E “Lembrança de
Hollywood” também peca nos detalhes, a começar pela própria idade da autora.
Não é falado especificamente o ano em que Dulce nasceu, mas ela se lembra de
sua primeira vez no cinema aos quatro anos, vendo “Anna Karenina” (1935), o que
mostraria que Dulce nasceu em 1931. Entretanto, as páginas sbre ela na Internet
datam seu nascimento em 1926 ou 1927, uma vez que ela faleceu aos 82 anos em
2008. Em outras ocasiões a memória traiu Dulce, mas um erro crasso esta na
página de Peter Ustinov. Logo após dizer que ele ganhou dois Oscars de Ator
Coadjuvante, o livro cita três vitórias.
Meu grande problema foi a lista interminável de personalidades
homossexuais, como se isso fosse importante para admirar o trabalho deles. Além
de haver um pequeno capítulo só sobre o tema, é quase impossível passar uma
página sem um desses boatos. E um boato quente se apresenta para nós quando
Dulce admite que teve um affair com seu ator favorito, Fredric March.
Com John Wayne e Carmen Miranda |
Insatisfações à parte, fico com inveja das oportunidades que Dulce teve
e que, como ela mesma descreve, foram deliciosas. Em uma época com menos
burocracia para se entrar no estúdio, ela conversou com pessoas que só de
pensar me emocionam, e vez ou outra ainda encontrava-as em sua vizinhança,
longe dos holofotes. Infelizmente, Dulce não conheceu todos os atores sobre os
quais eu gostaria de ter lido. Quando ela chegou a Hollywood, o cinema mudo era
passado distante e Jean Harlow, Carole Lombard e Leslie Howard já estavam
mortos. De outros eu realmente senti falta, e adoraria ler a impressão que eles
deixaram na jornalista. Mas sem precisar saber a orientação sexual deles.
Uma exposição completíssima da revista O Cruzeiro passou pelas sedes do
Instituto Moreira Salles em São Paulo, Rio de Janeiro e acabou de sair de Poços
de Caldas. As fotos abaixo mostram as capas dedicadas às estrelas de cinema.
Infelizmente, nenhuma das reportagens em exibição era de autoria de Dulce. As
que estavam lá tinham tons de fofoca e mídia sensacionalista. Meu outro contato
com o tratamento que a imprensa brasileira dava ao cinema foi quando folheei
uma revista Cinelândia e fiquei confusa. Algumas matérias e notas começavam em
uma página e terminavam espremidas dezenas de páginas depois. Outras histórias
tinham jeito de fanfic, licença poética com a vida do ator e atriz, como a que
acompanhava Greer Garson cuidando de crianças no campo e se sentindo aliviada
por estar longe de Hollywood e do fracasso de seu primeiro casamento.
O grande tesouro do livro são de fato as imagens. Além de várias fotos
de Dulce durante as entrevistas, com direitos a muitos astros com seus belos
figurinos, porém mais à vontade; há também belas imagens de arquivo. Aprendi
também muita coisa, e o que mais me impressionou foi o fato de Yul Brynner ter
gravado um comercial sobre os perigos do cigarro ao descobrir que tinha um
câncer incurável, e ter exigido que tal comercial fosse exibido logo depois do
anúncio de sua morte na televisão. Ao mesmo tempo, fiquei impressionada com a
crônica de como Joan Crawford fingiu já conhecer Dulce na primeira vez em que
foram apresentadas.
Sendo parte da Coleção Aplauso Especial, da Imprensa Oficial do Estado
de São Paulo, a impressão é de grande qualidade. O preço varia muito, e eu tive
a sorte de comprar uma edição por apenas 18 reais na Feira do Livro de 2010.
Mas, afinal de contas, um mergulho no passado não tem preço.
Tenho muita saudades de Dulce Damasceno e de suas matérias quando eram publicadas na revista SET.Quando o meu quarto ficou cheio demais de revistas SET, decidi me livrar boa parte delas, mas fiz questão de recortar e manter guardados as matérias dela.
ReplyDeletebons tempos, boas revistas, providencial esse post dois dias depois da bela revista bravo sair de circulação. beijos, pedrita
ReplyDeleteRealmente Dulce Damasceno teve a oportunidade de conhecer grandes ícones do cinema, o que não é pra qualquer um. Lembro das críticas dela que eram publicadas na Revista Set. Lia com grande prazer.
ReplyDeleteAbraços.
Dulce Damasceno viveu numa época em que os jornalistas com certeza tinha acesso muito fácil com os atores e atrizes, sem todo o aparato atual de assessores e puxa-sacos que os rodeiam.
ReplyDeleteNão tive oportunidade de ler algum exemplar destas revistas antigas como o Cruzeiro, mas sobre a confusão na edição das matérias, acredito que era uma prática comum na imprensa. Já fiz várias pesquisas em jornais antigos e percebi que notícias eram divididas em páginas distintas sem muita preocupação em fazer o leitor entender.
Sobre citar quem era homossexual em Hollywood, Dulce manteve a mesma linha nas suas matérias na revista Set. Sempre havia o comentário sobre algum astro antigo.
Abraço
Lê Parabéns pelo post.
ReplyDeleteEu já há algum tempo venho pensando em fazer no meu blog um post especial sobre DULCE DAMASCENO DE BRITO, cujo trabalho eu conheci quando a mesma ainda escrevia na extinta revista SET. Tenho dela o livro HOLLYWOOD NUA E CRUA, que consegui por míseros R$ 5,00 reais aqui em Maringá, o livro esta novinho. Repleto de fotos e detalhes saudosos da época que a correspondente vivia na Califórnia. Esse livro que você menciona em seu texto, eu não conheço, mas já me despertou interesse.
Quanto aos layouts das publicações antigas, realmente era comum as revistas e jornais apresentarem seus textos dessa forma. Tenho algumas CINELÂNDIAS em casa e também sempre visito o acervo digital de jornais dos anos 30, 40 e etc e naquela época,sabe lá Deus porque, os textos começavam em uma determinada página e terminavam em outras. Se você tiver interesse em adquirir algumas dessas revistas de cinema antigas, visite o mercado livre que lá tem diversas, até dos anos 20, como a pioneira A SCENA MUDA.
Abração
Que sortuda ela! Conhecer todos esses astros e estrelas de Hollywood, numa época gloriosa para o cinema, não tem preço. Amei o post, Lê. E adoraria ir nessa exposição - que venha à Poa.
ReplyDeleteBeijão <3
Ai gente, a Dulce viveu um tempo lindo que eu gostaria de ter vivido, principalmente fazendo o que ela fazia. É digna de inveja boa mesmo!
ReplyDeleteSou louca pra ler o livro dela, já procurei em sebos até, mas nunca achei. Tomara que eu encontre. Amei o post!
Saudades do tempo da SET, eu era assinante.
Caramba, que época boa estajornalista viveu e quantas oportunidades maravilhosas teve. Não dá pra imaginar algo assim hoje em dia, além de que a exposição é tanta, os artistas praticamente correm atrás dos holofotes, as coisas até perderam a graça.
ReplyDelete:/
Very interesting post, Le - I never heard of this lady, but it sounds like delicious reading!!
ReplyDeleteFasinating post, Le. I never knew about Dulce, and what a life! I'm like you, though -- I hate those gossipy things about who was gay and who was not, etc. And I REFUSE to believe that about Fredric March! Love that actor, and he had a lifelong marriage to Florence Eldridge that I always admired. Oh well, some people like to whisper and wonder, but not me. Good job!
ReplyDeleteNunca he oido de Dulce Damsceno. Obrigado pelo post foi muito informativo e interessante! E obigrado por usar a minha foto! Eu gostei muito de ver o marcas de maos e pes em Hollywood.
ReplyDeleteBOM DIA E SUCESSO!
ReplyDeleteINTERESSANTE É QUE NOS ANOS 50 EU OUVIA CRÔNICAS E COMENTÁRIOS DE CINEMA NA ANTIGA Rádio Globo.
confere?
gostaria,também de me indicar livros escritos por dulce.
obrigado
E-mail;
galvestoons@oi.com.br
Sempre gostei muito das colunas de Dulce Damasceno de Brito.Acompanhava na revista Contigo e na SET.Li o livro "Hollywood nua e crua", e gostei muito.Sempre lamentei que a televisão no Brasil não soube valorizar essa grande jornalista.Ela poderia ter nos brindado com um programa sobre o mundo do cinema.Inesquecível.Deixou saudades.
ReplyDelete(José - Três Barras - SC)
Muito interessante a vida dessa grande jornalista, em uma época de total glamour, me lembro dela ainda era menina, adora ler suas colunas.
ReplyDeleteGALVESTOONS. MAS, ;Á POR 1950 , EU OUVIA DULCE DAMASCENO , ACHO QUE NA RÁDIO GLOBO DE ANTANHO. FAZIA ENTREVISTAS, CONHECI O EX MARIDO DELA , ADIDO CULTURAL BR/EEUU., RAUL SMANDECK, EM 1963.
ReplyDeleteERA NA GLOBO RÁDIO OU OUTRA?