} Crítica Retrô: O que John Wayne e Louise Brooks têm em comum?

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Thursday, December 5, 2013

O que John Wayne e Louise Brooks têm em comum?

À primeira vista, nada. Mary Louise Brooks (1906-1985) foi uma diva do cinema mudo que teve sucesso fazendo filmes na Alemanha e cujo papel mais conhecido é o da femme-fatale de “A Caixa de Pandora”. Marion Robert Morrison (1907-1979), mais conhecido como John Wayne, conseguiu fama nos westerns e sua imagem estará para sempre associada à do cowboy destemido. Duas figuras mais diferentes, impossível. Entretanto, em 1938, os dois fizeram um filme juntos, “Overland Stage Raiders” (“Bandidos Encobertos” no Brasil). Este foi o último papel de Brooks no cinema. Já John Wayne teria sua grande chance no ano seguinte em “No Tempo das Diligências / Stagecoach”.
Um grupo rouba um pequeno carregamento de ouro que está sendo transportado em um caminhão por estradas áridas e desertas. Stony Brooke (John Wayne) chega de paraquedas para deter os bandidos e ajudar seus amigos a prendê-los e conseguir uma recompensa de mil dólares. Eles investem o dinheiro em gado e usam o lucro para tornarem-se sócios dos irmãos Beth Hoyt (Louise Brooks) e Ned Hoyt (Anthony Marsh) em uma empresa de transporte aéreo que promete levar o ouro da cidade com segurança a qualquer lugar.
O diretor George Sherman era uma constante nos filmes B que John Wayne fez em sua escalada para a fama nos anos 1930. Com menos de uma hora de duração, muitos destes filmes apresentavam o trio que aqui também está presente: “the three mesquiteers” (uma série de 51 filmes, sendo que Wayne participou de oito deles). Outra característica é muita ação e um bom tiroteio. Este filme de 1938 não deixa a desejar no quesito pólvora: são três tiroteios, cada um envolvendo um meio de transporte (cavalo, trem e avião).
Esqueça a linda Lulu. Neste filme Louise Brooks está bem diferente: com os cabelos negros na altura dos ombros, sem franja (surpresa! a testa dela é tão larga quanto a minha) e, infelizmente, com um papel pequeno e mal-desenvolvido. Não há sequer um ensaio de romance (apenas uma insinuação) entre os personagens de Louise e Wayne. Outra tristeza é ela não ter nenhum close expressivo: mesmo aos 32 anos, o que era considerado velhice em Hollywood, é possível ver que ela continua charmosa.
Depois no sucesso na Europa no final dos anos 20, Louise cometeu um erro fatal ao voltar para a América: recusou um papel em “Inimigo Público”, de 1931. Este papel ficou com Jean Harlow e poderia ter dado vida nova à carreira de Louise. Ao contrário de outras estrelas do cinema mudo, não havia nada de errado com a voz dela: podemos perceber que é uma voz forte que combina com sua persona. Este filme de 1938, que à época foi considerado sua volta às telas, na verdade foi uma despedida. Louise fez o filme porque precisava dos 300 dólares de cachê. Depois disso, mudou-se para Wichita, onde não foi bem recebida pela população local, e tempos depois pôde ser vista como vendedora em uma loja em Nova York. Saindo deste emprego, teve vários relacionamentos amorosos, escreveu excelentes artigos sobre cinema e foi redescoberta pelos jovens cinéfilos franceses na década de 1950.
O filme foi divulgado na época como uma maravilha, divertido, cheio de ação, com uma fotografia excelente e um dos melhores roteiros da série “the three Mesquiteers”. Hoje vemos que não é nada disso. De fato, se recebesse o tratamento de um grande estúdio e não fosse rodado em apenas nove dias, o filme até poderia ser ótimo. A ideia inicial é boa, as cenas de ação são cativantes e há bastante espaço para comicidade. John Ford poderia transformar o material em algo precioso. E se Louise Brooks tivesse mais cenas, então, o filme ficaria perfeito.

“Overland Stage Raiders” (1938) está disponível no YouTube com uma qualidade de imagem muito, muito, muito ruim. O filme também está disponível em BluRay, mas com boa qualidade de imagem.


This is my contribution to The Late Show Blogathon, hosted by Shadowplay. Swan songs were never so bittersweet.  

3 comments:

  1. eu vi alguns filmes com john wayne. meu pai sempre adorou westerns então víamos na tv juntos. beijos, pedrita

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  2. Eu sei pouco sobre o cinema mudo, acho que só as comédias mesmo! Mas sei que a advento da fala no cinema na época significou o fim pra muitos atores, um filme que retrata isso é Crepúsculo dos deuses, acho que não vi muitos filmes com Louise Brooks, já com Wayne vi muitos westerns.

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  3. Maravilha de postagem... Amei... Sempre fui um grande fa de Brooks e já conhecia este filme. Sua análise dele porém, foi tao gostosa, boa de ler... P.S. te respondi nas "As terúlias": voce deixou um presente e tanto lá... Wow!!!!!!!! Obrigado, querida!

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