Um dos grandes desafios dos atores mirins de sucesso é continuar em
destaque ao passarem para papéis adultos. Às vezes a idade adulta chega e leva
embora a fofura da infância. Às vezes o ator é estereotipado e não tem papéis
que o desafiem. Às vezes eles cansam do show business e simplesmente se
aposentam. Nada disso aconteceu com Mickey Rooney. Ele conseguiu ficar em
evidência durante oito décadas, nos mais diversos papéis, na comédia e no
drama, porque desde criança mostrou sua versatilidade em frente às câmeras.
Em meados dos anos 20, quando o futuro de Jackie Coogan era incerto e
Shirley Temple ainda nem tinha nascido, surgiu Mickey Rooney, protagonizando
vários curtas-metragens como Mickey McGuire por sete anos, e, com a chegada do
som, dublando alguns episódios do desenho “Oswald, the lucky rabbit” (Oswald é
o antecessor de Mickey Mouse no universo Disney). Mas o grande momento do
pequeno Mickey chegou em 1937, quando ele protagonizou o primeiro dos 19 filmes
de Andy Hardy.
Andrew ‘Andy’ Hardy é um garoto simpático que se apaixona facilmente. Ele
é filho do juiz James Hardy (Lewis Stone) e de Emily Hardy (Fay Holden). Em “A
Paixão de Andy Hardy / Love Laughs at Andy Hardy” (1946), o penúltimo filme da
série, Andy volta do exército muito ansioso, pois retornar à faculdade significa
rever seu grande amor, Kay Wilson (Bonita Granville), e tem mais: Andy quer
pedi-la em casamento! O plano de Andy não dá muito certo, e tudo caminha para o
clímax: o grande baile da faculdade, em que o pequeno Mickey Rooney (1,57m)
dança com Dorothy Ford (1,88m):
Andy Hardy personificava a juventude americana dos anos 30 e 40:
romântico, divertido, patriota e comportado. A ideia perfeita para um encontro
romântico era tomar milk-shake na lanchonete mais próxima. A cada filme Andy
tinha uma nova conquista (e que lista!): Ann Rutherford, Judy Garland, Lana
Turner, Esther Williams, Donna Reed, Bonita Granville. Os flertes e as relações
familiares eram cercados de inocência e respeito. Bons tempos aqueles!
Mickey estava acostumado a alternar trabalhos dramáticos e cômicos, por
isso não foi problema se inserir no gênero noir. “Areia Movediça / Quicksand”
(1950) é um noir estranho: Rooney é o protagonista masculino, vitimado pela
femme fatale Vera (Jeanne Cagney). Mickey em nada tinha a ver com os atores que
melhor personificaram o protagonista do filme noir, como Humphrey Bogart,
Edward G. Robinson e Victor Mature. Podemos nos perguntar se ele foi escolhido
apenas por ter o mesmo tamanho do antagonista, Peter Lorre, com quem tem uma
boa cena de briga.
Em “Quicksand”, Dan (Rooney) rouba 20 dólares da oficina mecânica em que
trabalha. Ele usa o dinheiro para sair com Vera, uma moça perigosa e
caprichosa. Devolver o dinheiro ao caixa não será nada fácil, pois a situação
de Dan vira uma bola de neve: ele tem se comprometer cada vez mais para agradar
Vera e fugir das chantagens de Nick (Lorre).
Sem dúvida “Quicksand” foi o ápice da carreira de Mickey nos anos 50. Sua
baixa estatura, ao mesmo tempo em que permitiu que ele interpretasse
adolescentes por muitos anos, poderia ser um empecilho quando ele chegou aos
30. Mas seu talento lhe garantiu bons papéis em westerns, dramas e comédias.
Nenhum desses filmes tem o mesmo status de seus musicais com Judy Garland ou de
clássicos absolutos como “Com os Braços Abertos / Boys Town” (1938) e “Marujo
Intrépido / Captains Courageous” (1937).
O próprio Mickey prefere discordar de mim, pois em sua autobiografia “Life
is too short”, ele “prefere não comentar” o filme “Quicksand”. Um fracasso de
bilheteria na época e uma ovelha negra no gênero noir, o filme ficou melhor com
o passar do tempo, e comprova o que nomes como Robert Osborne, Cary Grant,
Lucille Ball, Robert Mitchum e Anthony Quinn disseram: o ator mais versátil e
talentoso de Hollywood foi Mickey Rooney.
Para saber mais sobre a carreira de Rooney nos anos 50, leia ESTE
excelente artigo.
This post is part of
The getTV Mickey Rooney Blogathon hosted by Once Upon a Screen, Outspoken & Freckled and Paula’s Cinema Club taking place throughout the month of
September. Please visit the getTV schedule for details on Rooney screenings
throughout the month and any of the host sites for a complete list of entries.
tem toda razão. nem todo ator mirim fica um grande ator. acho uma surpresa o selton mello que se tornou um grande diretor. beijos, pedrita
ReplyDeleteRooney certainly made the transition from adult to child actor successfully and seemingly with the least degree of controversy. Maybe it's because I saw some of his 'older' films first, but he always seemed really adult - or perhaps it's just that he was a very well-behaved as Andy Hardy!
ReplyDeleteNo one can dispute Rooney's longevity and the fact he really tried everything conceivable in show biz - from extreme to extreme. Great write-up as usual, Le.
ReplyDeleteI've yet to see QUCKSAND can you believe it?
Aurora
What an impressive career on film! Rooney truly spent a lifetime performing. Great post- thanks for joining us, Le!!
ReplyDeleteMickey Rooney era fofinho.
ReplyDeleteAdorei o post...muito vintage! <3
Beijão <3
Ola ,como sempre uma excelente postagem.meu grande abraço.SU
ReplyDeleteEssa coisa do ator mirim é muito verdade mesmo! Fiquei lembrando que li em algum lugar que o menino que fez O Iluminado - esqueci o nome agora - só fez aquele papel e não gosta que perguntem sobre o filme ou falem que ele atuou nele e tal... Acontece isso também, né?
ReplyDeleteE acho que rola uma deprê quando a gente vê atores que cresceram junto com a gente hahahaha Me sinto velha! hahaha
:*
Bom final de semana, Lê!
ReplyDeletexoxo
Iza