} Crítica Retrô: Levada à Força / The Story of Temple Drake (1933)

Tradutor / Translator / Traductor / Übersetzer / Traduttore / Traducteur / 翻訳者 / переводчик

Páginas

Wednesday, April 1, 2015

Levada à Força / The Story of Temple Drake (1933)

Esta crítica contém spoilers.

Pre-Code é o termo usado para descrever os filmes falados feitos entre 1929 e 1934, quando o Código Hays de “decência” entrou em vigor. Estes filmes apresentavam insinuações sexuais, silhuetas sugestivas, comportamento considerado reprovável, crimes sem punição e promiscuidade. Mas não fique animado: tais filmes não são nada pornográficos e, vistos hoje, são quase todos simples. Quase todos: “The Story of Temple Drake” continua longe de ser simples e inofensivo.
Um dia, Danny, o mago do pre-Code (e responsável pelo excelente site pre-code.com) convidou os bravos blogueiros para escreverem sobre estes filmes travessos e fascinantes. E foi assim que eu me lembrei de uma frase que Danny soltou no Twitter:


Então aqui está, Danny. Um artigo sobre “The Story of Temple Drake”, escrito por uma mulher – e uma mulher feminista.


Ela é uma boa garota, Stephen”: é assim que o avô se refere a Temple Drake (Miriam Hopkins). Na cena seguinte, quando somos apresentados a ela, Temple está chegando tarde em casa e tentando se livrar do homem que a acompanhava naquela noite – e que queria mais alguns beijos. Temple é assunto da fofoca de todos na cidade.
Depois que o bom advogado Stephen Benbow (William Gargan) a pede em casamento mais uma vez, Temple foge com seu acompanhante Toddy (William Collier Jr) e, indo em alta velocidade, o carro deles capota. Quem os encontra é o sinistro Trigger (Jack La Rue), que os leva a uma casinha quase destruída. Depois de se mandar seus capangas levarem Toddy embora, Trigger mata o bobo Tommy (James Eagles) e violenta Temple.
O dono da casa em que tudo aconteceu, Lee Goodwin (Irving Pichel) é acusado pelo assassinato de Tommy e, sem dinheiro para contratar um advogado, lhe é indicado Stephen. E é seguindo o rastro de Trigger, o verdadeiro assassino, que Stephen reencontra Temple, e a moça inicia uma jornada de mentiras, sacrifício e dúvidas morais.


Filmes não são fábulas. Não é preciso procurar uma “moral da história” ao fim de cada um deles. Se procurássemos uma lição neste filme, alguns pensariam no velho, ultrapassado conselho: se Temple fosse uma moça “correta” e tivesse aceitado se casar com Stephen, nada de ruim teria lhe acontecido. O comportamento dos personagens no pre-Code é sempre muito liberal, e quase sempre eles aprendem que o crime e a promiscuidade não compensam. Há pessoas que ainda pensam assim, mas a visão de quem conhece o filme mais de 80 anos depois de sua estreia pode (e deve) ser muito diferente da opinião de quem viu o filme originalmente nos cinemas.
Há alguns momentos bem pre-Code: o close nas pernas de Temple, a moça só de lingerie depois de uma tempestade. Miriam Hopkins é a alma do filme, e as expressões de seu rosto (em especial dos olhos) falam mais que qualquer diálogo. O filme poderia ter sido até mais pre-Code, se não fosse por uma troca de papéis: George Raft não aceitou o papel de Trigger, e Jack La Rue, um ano antes, havia perdido o papel de Rinaldo em “Scarface” (1932) justamente para Raft (o TCM diz que Jack perdeu, na verdade, o papel principal para Paul Muni).

Por que “The Story of Temple Drake” escandalizou Hollywood? Primeiro, porque é uma adaptação do livro “Sanctuary”, de William Faulkner, considerado impossível de ser transportado para as telas. Segundo, porque a polêmica ficou nas entrelinhas, e a mente mais ou menos poluída de cada espectador se encarregou de imaginar barbáries. Por quanto tempo ela ficou com Trigger? Por que ela ficou esse tempo com Trigger? Temple estava assustada demais para fugir? Ela sabia que sua vida não seria mais a mesma se voltasse para sua cidade (estaria “desgraçada”)? Ou... será que ela gostou de ser escrava sexual de Trigger? Por que Temple só resolve tomar uma atitude ao reencontrar e mentir para Stephen?


Esses temas e debates, sobre comportamento feminino considerado “adequado”, violência sexual, vingança e autodefesa são, surpreendentemente, todos abordados no meu novo livro. Escolhi “The Story of Temple Drake” por causa do tweet no topo do post, mas os temas me tocaram profundamente pela coincidência (sério, quais as chances de ver um filme que tem tudo a ver com seu livro... por acaso?). São produtos de épocas diferentes, e vão encontrar recepções e interpretações diferentes. “The Story of Temple Drake” deixa muitas questões em aberto, e isto é uma das características que fazem um bom filme – pre-Code ou não.

This is my contribution to the Pre-Code Blogathon, hosted by the naughties Danny at pre-code.com and Karen at Shadows and Satin. Sin on celulloid!



11 comments:

  1. não conhecia. beijos, pedrita

    ReplyDelete
  2. I can't think of more perfect casting than Miriam Hopkins in this role. She always gave one hundred percent and her versatility is outstanding.

    ReplyDelete
  3. I've read nothing but rave reviews of Miriam Hopkins' performance in this film. It's one I really need to see!

    Le, I am really glad you accepted Danny's Pre-Code challenge!

    ReplyDelete
  4. I'm glad you picked this film, Le -- the blogathon wouldn't have been complete without a write-up on The Story of Temple Drake. It's a rather distasteful film that I can't bring myself to watch again and again like I do some, but it's definitely a must-see at least once! Thanks so much for your contribution to the blogathon!

    ReplyDelete
  5. Miriam Hopkins is fantastic in this - I was lucky and saw it at the pre-Code festival at the BFI in London on the big screen. Enjoyed your write-up, Le.

    ReplyDelete
  6. Oi Letícia! Nunca tinha ouvido falar desse filme, mas fiquei muuuuito inclinada a vê-lo. A história me deixou muito instigada, sobretudo depois que tu contou que foi baseada num livro do Faulkner. Acho ele incrível. Tu tens como me informar por onde que tu assistiu? Se poderia passar o link...? Beijão!

    ReplyDelete
  7. This was a film I was not familiar with but have enjoyed learning more about Hopkins films since I became a blogger and really enjoying her early efforts. Nice.

    ReplyDelete
  8. Dá pra acreditar nesse código em filmes que nada vemos de censurável? Mas essas cenas insinuantes era o que de mais sexy das belas divas diante do desejo frementes dos mocinhos era bem aguçador. eu não conhecia esse filme ainda.

    ReplyDelete
  9. Awesome choice. I never liked this film - the story is so disturbing to me and so unsavory. The book even more so! But, a great write up, Le and what's all this about a book?

    ReplyDelete
  10. Ola querida Lê,depois desta ausência prolongada,é com grande prazer que volto a fazer-te uma visitinha e me inteirar de filmes desconhecidos para mim.Tuas pesquisas brilhantes sempre nos trazem grandes e excelentes conhecimentos sobre o cinema antigo.Adorei esta postagem.Grande abraço.SU

    ReplyDelete
  11. Thanks for the great review! I really want to see more Miriam Hopkins' films, so this one should go on my list!

    ReplyDelete