Alexander
Graham Bell foi o pai da telefonia. Santos Dumont (e não os irmãos
Wright!!!) foi o pai da aviação. Quem
teria sido, então, o pai do cinema? Georges Méliès? O esquecido
William Friese-Greene? Teria o cinema dois pais, os irmãos Lumière?
Se perguntarmos para aquela que talvez seja a mãe do cinema, Lillian
Gish, a resposta é uma só: D.W. Griffith inventou o cinema como o
conhecemos, e a ele devemos grande adoração.
Lillian
Gish estreou no cinema em um filme de Griffith, “An Unseen Enemy”,
de 1912. Junto com ela estreou a irmã Dorothy Gish. Lillian e
Dorothy entraram no mundo do cinema graças a uma amiga da época do
teatro, que já fazia filmes desde 1909 e se chamava... Mary
Pickford. Ainda em 1912 Lillian e Mary fariam um filme juntas,
o singelo “The New York Hat”, em que Mary era a protagonista. Se
em 1905, quando se conheceram, Lillian ficou com um papel na Broadway
desejado por Mary, agora era Pickford quem dominava o novo meio
cinematográfico... mas o cinema mostrou que, ao contrário do
teatro, poderia ter duas rainhas.
Lillian e Mary: BFF |
Enquanto
filmava “An Unseen Enemy”, Griffith confundia as irmãs Gish
e, segundo Lillian, colocou fitas de cores diferentes nas roupas de
cada uma para poder diferenciá-las. Nos anos seguintes, Lillian se
mostrou mais adequada ao estilo super-dramático dos filmes de
Griffith, e Dorothy se dividiu entre o drama e a comédia. Essa
versatilidade de Dorothy para atuar bem em gêneros diferentes fazia
ela ser considerada, na época, uma atriz mais completa que a irmã
Lillian.
Dorothy, DW, Lillian |
Ela
estava na maioria dos filmes mais importantes da década de 1910. “O
Nascimento de uma Nação” (1915)? Lillian era a protagonista.
“Intolerância” (1916)? Lillian era a mais importante personagem,
aquela que nunca muda com o apesar de milhares de anos: o amor de
mãe. “Lírio Partido / Broken Blossoms” (1919) não seria tão
tocante sem a pureza e a fragilidade de Lillian.
Lillian
foi estrela de cinema antes de Hollywood ser construída. Na década
de 1910, os estúdios ficavam em Nova York. Lillian seguiu Griffith
da Biograph para a Mutual, e depois esteve nos maiores sucessos
da Triangle Pictures, fundada pelo próprio Griffith e que durou
apenas três anos. Ambos foram para a Famous Players, mais tarde
renomeada como Paramount, e em
1918 surgiu a D.W. Griffith Productions.
Lillian
já sabia atuar muito bem quando conheceu Griffith, mas foi com o
diretor que ela aprendeu outras habilidades necessárias para o
cinema. Lillian aprendeu a editar filmes, acertar a iluminação do
cenário e escolher figurinos perfeitos. Para trabalhar com Griffith,
ela fez questão de nunca usar dublês. Ele instruiu Lillian a
frequentar lutas de boxe e hospícios, para “estudar melhor as
expressões humanas”. Lillian andava a cavalo, dançava, lutava
esgrima, mergulhava no gelo e atirava, fato que anos depois
surpreendeu o diretor John Huston.
Em
1921, após nove anos e quarenta filmes juntos, Lillian Gish e D.W.
Griffith terminaram a parceria. Gish deu como motivo para o término
desentendimentos sobre dinheiro, e Griffith estava incomodado por
Lillian receber todo o crédito quando seus filmes eram sucesso. De
alguma forma, a carreira de ambos nunca mais foi a mesma após a
separação.
Ainda
megalomaníaco e estacionado na Era Vitoriana, Griffith fez épicos
longos nos anos 20, época de mais liberdade
e modernidade no cinema. Gish fez dois filmes para a Inspiration
Pictures, e finalmente encontrou seu lugar ao sol (e controle
criativo sobre seus papéis) na MGM. Mas não por muito tempo: com a
chegada dos filmes sonoros, sua aura virginal (e os espetáculos
trágicos de Griffith) perdeu o interesse do público.
Lillian
seria uma grande estrela sem Griffith? Provavelmente, uma vez que
Mary Pickford conseguiu se tornar a queridinha da América sem
associar seu nome e sua persona a um só diretor. Mas D.W. Griffith
não seria o mesmo sem Lillian Gish. Em um mundo dominado por Theda
Bara, Gloria Swanson, irmãs Talmadge e Mabel Normand, o mais perto
que Griffith chegaria da pureza intocada que Gish transparece é com
Mae Marsh, adorável e
menosprezada.
D.W.
Griffth era mais que um chefe para Lillian Gish, como ela deixava
transparecer em entrevistas mais tarde na carreira. Griffith era uma
figura paterna para a menina que viu seu pai abandonar a família
muito cedo, era o mentor para a atriz de teatro sem treinamento
formal que um dia se viu em frente às câmeras. Mas
Griffith parou no tempo, tentou seguir a carreira com uma “Gish
genérica” como musa (Carol Dempster) e Lillian progrediu no
teatro, na TV e em papéis coadjuvantes. A aprendiz superou o mestre,
mas sempre se mostrou grata aos ensinamentos dele.
This
is my contribution to the Classic Symbiotic Collaborations blogathon, hosted
by Theresa at CineMaven's Essays from the Couch.
I never thought about that before – how DW Griffith wouldn't be the same without Lillian Gish. I agree that she would probably be a big star anyway.
ReplyDeleteLoved your review, Le. Lots of great info. Thanks!
Adorei a postagem!
ReplyDeleteAliás,adoro seus escritos hahaha.
Beijos <3
I love Gish's post-Griffith work in the '20s, The White Sister, The Scarlet Letter, and most of all The Wind. But of her work with Griffith, Broken Blossoms is very close to my heart. Gish and Barthelmess are both shattering.
ReplyDeleteAmei o texto, Lê! Assisti a muitos filmes da parceria entre Lillian e Griffith, mas creio que os mais marcantes para mim tenham sido Broken Blossoms, Orphans of the Storm e Way Down East. Sem dúvidas, Lillian sem Griffith continuaria sendo tudo, mas Griffith sem Lillian não seria metade do que foi no passado e do que é hoje. Poucas atrizes seriam capazes de atingir a performance melodramática exigida pelos filmes dele. Mas ambos são grandiosos e eternos!
ReplyDeleteBeijos,
Rafa
http://imperioretro.blogspot.com
For me, Gish and Griffith wrote the book on symbiotic collaborations. Perhaps Gish would've made it without Griffith, perhaps he'd have made different films without her - but together they shaped movie history. And for that... I'm thankful!
ReplyDeleteI saw BROKEN BLOSSOMS last year. Afraid we'll have to disagree on that one... but I did see ORPHANS OF THE STORM long ago, back in college, and that one left an impression on me. I thought that was very good. Maybe I'll watch it again sometime this year. I think I might've seen INTOLERANCE sometime during my video store years, but I don't recall.
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