} Crítica Retrô: Capitulou Sorrindo (1942) / The Glass Key (1942)

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Saturday, September 2, 2017

Capitulou Sorrindo (1942) / The Glass Key (1942)


Recortes da vida. Quando eu era pequena e via qualquer filme 'normal' – ou seja, qualquer um que não fosse de animação – eu ficava fascinada porque compreendia os filmes como sendo recortes da vida. Aqueles personagens estão ali, em suas próprias histórias, e nós vemos apenas um pedaço delas. Nós precisamos seguir as pistas e ligar os pontos e descobrir quais são as ligações e motivações dos personagens. Para mim, era como ser um detetive em frente a uma tela. Com o tempo eu descobri que nem todos os filmes são recortes da vida. Mas alguns deles ainda podem ser descritos desta forma, como “Capitulou Sorrindo”, péssimo título dado no Brasil para “The Glass Key” (1942).

Slices of life. When I was little and watched any 'regular' movie – aka not an animated one – I was fascinated because I understood movies as slices of life. Those characters are there, in their own story, and you only get a piece of it. You must connect the clues and the dots and find out the characters' liaisons and motivations. It was like being a detective in front of the screen. With time I learned that not all movies are slices of life. But some of them can still be described this way, like “The Glass Key” (1942).


Todos nós sabemos que há muita coisa em jogo em uma eleição – e em 1942 isso já era assim. Se tornar governador, fazer reformas, ser apoiado por um jornal e criticado por outro, até mesmo manipular a vida familiar e amorosa: tudo isso entra na disputa das eleições. É por isso que Paul Madvig (Brian Donlevy) e Ralph Henry (Moroni Olsen0) estão ligados de várias maneiras: eles são aliados nas eleições estaduais. Madvig quer se casar com a filha de Henry, Janet (Veronica Lake). A irmã de Madvig, Opal (Bonita Granville), ama o filho de Henry, Taylor (Richard Denning), e quer ajudá-lo a pagar as dívidas de jogo – algo que o irmão dela não quer. No meio de tudo isso está Ed Beaumont (Alan Ladd), sócio e melhor amigo de Madvig, e responsável por resolver todos os problemas.

We all know that there is a lot involved in an election – and it was the same way in 1942. Becoming governor, having reforms, being supported by one newspaper and criticized by the other, even playing with family life and love life: everything enters the dispute. That's why Paul Madvig (Brian Donlevy) and Ralph Henry (Moroni Olsen) are connected in more than one way: they are allies in the estate elections. Madvig wants to marry Henry's daughter, Janet (Veronica Lake). Madvig's sister, Opal (Bonita Granville), loves Henry's son, Taylor (Richard Denning), and wants to help him pay his debts – what her brother disapproves. In the middle of all this there is Ed Beaumont (Alan Ladd), Madvig's parter / best friend and the one who must solve all troubles.


Ed é um personagem criado pela mente complexa de Dashiell Hammett, e podemos ver que Ed tem alguns traços em comum com a mais famosa criação de Hammett: Sam Spade. Tanto Sam quanto Ed são homens durões vivendo em um mundo cruel, ambos são cínicos, frios e escondem bem seus sentimentos. Assim, Alan Ladd atua como Humphrey Bogart, o ator que melhor interpretou Spade, e embora suas expressões sejam estoicas, podemos ler nos olhos deles os seus sentimentos. Àquela altura, Ladd estava há quase uma década em Hollywood, como extra, e no ano anterior a “Capitulou Sorrindo” ele inclusive interpretou um técnico de animação no filme da Disney “O Dragão Relutante”.

Ed is a character created by the complicated mind of Dashiell Hammett, and we can see that Ed shares some traits with Hammett's most famous creation: Sam Spade. Both Sam and Ed are tough men living in a more-than-tough world, they're cynical, cold and disguise their feelings well. By doing this, Alan Ladd works a lot like Bogart, the actor who played Spade the best, and although his expression is kind of stoic, we can read his feelings in his eyes. By that point, Ladd had been in Hollywood for nearly a decade, playing extras, and the year before “The Glass Key” he even appeared as an animator in the Disney movie “The Reluctant Dragon”!

Alan Ladd, 1941
Alan Ladd, 1942
Vamos falar sobre Veronica Lake: a maravilhosa loira baixinha com o penteado peek-a-boo é incrível, não? Ela tinha apenas 19 anos quando “Capitulou Sorrindo” foi filmado, e já mostrava seu talento como atriz. Os momentos em que ela e o personagem de Ed flertam são muito bem feitos, porque o flerte é muito sutil, mas a química é evidente. Este é o segundo filme que eles fizeram juntos.

Let's talk about Veronica Lake: the wonderful petite blonde with the peek-a-boo hair is amazing, isn't she? She was only 19 when “The Glass Key” was made, and already showed great acting skills. The moments in which she and Ladd's character flirt are very well done, because the flirting was very subtle, but we can see that they have great chemistry. This is the second film they did together.


The Glass Key” foi adaptado pela primeira vez para os cinemas em 1935, com George Raft no papel de Ed. Como é o caso de outros trabalhos de Dashiell Hammett, a história era originalmente uma trama pesada sobre corrupção na política, mas se adaptou perfeitamente à narrativa do noir. O filme de 1935 não era noir, obviamente, mas a versão de 1942 é comumente citada em listas de filme noir. Temos nesta versão os ambientes cheios de sombra, o enquadramento em diagonal dos personagens e, acima de tudo, Ed como um protagonista moralmente ambíguo. Talvez, como em “À Beira do Abismo” (1946), “Capitulou Sorrindo” precise ser visto mais de uma vez para ser completamente apreciado. Afinal, se pudéssemos reviver um ‘recorte da vida’ várias vezes, seríamos capazes de perceber todos os detalhes e ter a experiência completa para sempre nas nossas mentes.

The Glass Key” was first adapted into a film in 1935, and George Raft played the part of Ed. As it was the case with other works by Dashiell Hammett, the story was a hard-boiled tale of political corruption, but it fits perfectly the noir narrative. The 1935 movie was not a noir one, of course, but the 1942 version is often cited in noir lists. We have here the shadowy environments, the diagonal shots and, above all, Ed as a morally ambiguous leading man. Maybe, like “The Big Sleep” (1946), “The Glass Key” needs more than one viewing to be fully enjoyed. After all, if we could live a ‘slice of life’ again and again, we would be able to see all the details and have the whole experience forever in our minds.


This is my contribution to the Alan Ladd blogathon, hosted by Hamlette’s Soliloquy.

6 comments:

  1. Thanks for contributing this to the blogathon! You're so right -- this movie is like a little peek into the lives of politicians and the things they might be tempted to do in order to win elections. And into the lives of their friends and family and how they get affected as well.

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  2. Ladd and Lake. They were a hell of a good pair onscreen.

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  3. One of my favourite of Hammett's novels and I enjoyed your interesting look at this film version. You made me want to watch it all over again.

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  4. Love this movie. Ed Beaumont is one of my favorite characters of all-time.

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  5. I was just thinking that I need to watch this film again. It's been a while and I remember finding it fascinating. I love the baby-faced Ladd as a "morally ambiguous" character.

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  6. I really do like Hammett's novels and the movies based on them, so I will definitely have to check this movie out! Nice review!!!

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