Todos nós
desejamos felicidade e tranquilidade na vida – mas não no cinema. Aqueles de
nós que querem se casar desejam poucas brigas e nenhum ciúme – mas quem quer
ver um filme sobre um casal que não tem absolutamente nenhum problema? No
cinema, quanto mais problemático for um casamento, melhor, seja o filme uma
comédia ou um drama. Na comédia pre-Code de 1933 “Pleasure Cruise”, um marido
ciumento segue a esposa em um cruzeiro – e planeja ensinar-lhe uma lição da maneira
mais nojenta possível.
We all long
for happiness and calm in life – but not on screen. Those of us who want to get
married wish few fights and no jealousy – but who wants to watch a movie about
a couple that has absolutely no problems? On film, the most troubled a marriage
is, the better, no matter if the movie is a comedy or a drama. In the 1933
pre-Code comedy “Pleasure Cruise”, a jealous husband follows his wife in a
cruise trip – and plans to teach her a lesson in the vilest way.
Da
primeira vez que vemos Andrew Poole (Roland Young), ele está leiloando todos os
seus pertences e dando uma festa para os amigos enquanto suas coisas estão
sendo levadas embora. Ele pretende desmanchar o noivado com Shirley (Genevieve
Tobin), agora que está pobre, mas ela não aceita. Ele tem uma carreira
promissora como escritor pela frente e ele tem um emprego, o que significa que
eles podem se casar e ela pode sustentar a casa enquanto o livro dele não é
publicado.
The first
time we see Andrew Poole (Roland Young), he's auctioning all his belongings and
throwing a party for his friends while his things are being taken away. He
intends to break the engagement with his fiancée, Shirley (Genevieve Tobin),
now that he is poor, but she doesn't want it. He has a promising career ahead
as a writer and she has a job, which means that they can get married and she can
be the breadwinner of the household while his book is not published.
Da próxima
vez que vemos Andrew, ele é um homem casado usando um avental – que, no cinema,
é um sinal de castração – e organizando as compras na cozinha. É seu
aniversário de um ano de casamento, mas ele se esqueceu. Sua amiga Judy (Minna
Gombell) o visita e traz flores para ele presentear Shirley. Enquanto cozinha,
ele confessa para Judy que tem ciúmes dos colegas de trabalho de Shirley – em uma
vinheta criativa e divertida, vemos que estes colegas não são nada do que ele
imagina.
The next time
we see Andrew, he is a married man wearing an apron – which, in a movie, is a
sign of emasculation – and organizing the things he bought in the kitchen. It's
his one-year wedding anniversary, but he has forgotten it. His friend Judy
(Minna Gombell) visits him and brings flowers for him to give Shirley. While
cooking, he confesses to Judy that he's jealous of Shirley's male coworkers –
in a creative and fun vignette, we see that they're nothing like he imagines.
Naquela
tarde, Andrew e Shirley saem para dar uma volta, e começam a discutir porque
ela diz que não sairia do emprego se ele conseguisse um trabalho. Ela então
sugere que ele vá pescar para descansar. Ironicamente, ele sugere que ela faça
uma viagem num cruzeiro sozinha, e fica chocado quando ela aceita a ideia e
imediatamente compra a viagem. Mas ele não pode ir pescar em paz, por isso ele
consegue um emprego no mesmo cruzeiro em que ela viaja para ficar de olho nela –
sem ser visto, obviamente.
Andrew and
Shirley go out for a stroll in the rain that evening, and start arguing because
she says she wouldn’t give her job up if he found a job. She then suggests for
him to go on a fishing trip to rest. He ironically suggests for her to go solo
on a pleasure cruise, and is shocked when she accepts the idea and immediately
books the trip. But he can't go fishing in peace, so he gets a job in the same
cruise she's travelling to watch her – without being seen, of course.
Fingindo
ser barbeiro, Andrew tenta manter todos os homens longe de Shirley, contando
mentiras sobre ela. Ao mesmo tempo, ele precisa escapar das investidas da Sra. Signus
(Uma O’Connor), uma senhora que adora flertar. Para tornar as coisas mais
complicadas, a cabine de Shirley é do lado da cabine da Sra. Signus, e Andrew
frequentemente entra na cabine da Sra. Signus para espiar Shirley pelo buraco
da fechadura.
Posing as a
barber, Andrew tries to keep all men far from Shirley, telling lies about her.
At the same time, he needs to escape Mrs Signus (Una O'Connor), a very flirty
older lady. To make things more complicated, Shirley's cabin is next to Mrs
Signus, and Andrew frequently enters Mrs Signus' cabin only to spy on Shirley
through the keyhole.
Assim como
muitos outros filmes do começo da era falada, “Pleasure Cruise” teve uma versão
em língua estrangeira gravada ao mesmo tempo e enviada para países que não
falavam inglês. A versão em espanhol, “No Dejes La Puerta Abierta”, era
estrelada pelo brasileiro Raul Roulien e pela espanhola Rosita Moreno. Raul e
Rosita fizeram muitas versões em espanhol de filmes em inglês nos estúdios Fox.
Like many
other early talkies, “Pleasure Cruise” had a foreign language version shot at
the same time for non-English speaking markets. The Spanish version, “No Dejes
la Puerta Abierta” (Don't Leave the Door Open), starred Brazilian import Raul
Roulien and Spanish actress Rosita Moreno. Roulien and Moreno did a lot of
Spanish versions of English-speaking films at Fox studios.
Podemos perceber
que este filme foi feito antes do Código Hays pelo primeiro frame. Quando o
filme começa, vemos as costas de uma mulher nua e alguém ordena “vire-se”. Para
nosso alívio, vemos que se trata de uma pintura, não de uma mulher nua – e os
cineastas sorriem porque acabaram de nos enganar. Além disso, há muitas – e eu
quero dizer MUITAS – insinuações sexuais no filme.
We can see
this a pre-Code by the very first frame. When the film begins, we see a naked
woman's back and someone orders “turn around”. To our relief, we realize it's a
painting, not a naked woman – and the filmmakers smile as they see they fooled
us. Besides that, there is a lot – and I mean a LOT – of sexual innuendo in
this film.
Algumas
transições chamaram minha atenção por causa da criatividade envolvida. Quando
Andrew e Shirley saem da casa deles, a câmera foca nos pés do casal. No momento
seguinte, eles estão saindo da igreja, casados. No próximo momento, ainda com a
Marcha Nupcial tocando, Andrew está caminhando sozinho, depois de fazer compras
para casa. Em outra sequência, um chuveiro aberto se transforma em chuva caindo
do lado de fora de uma janela e, mas tarde, a passagem do tempo é simbolizada
pela chuva que para de cair em uma poça. Um balão estoura e uma grande festa no
cruzeiro acaba. São todos pequenos truques, muito bem executados, que tornam o
filme visualmente bonito.
Some scene
transitions really caught my attention because of the creative way they were
done. As Andrew and Shirley leave his house, the camera focuses on their feet.
The next moment, they are walking down the aisle, married. The next one, still
with the Wedding March playing, Andrew is walking alone, after buying groceries
for his home. In another sequence, an open shower transforms into rain falling
outside of a window and, later, the passing of time is symbolized by the rain
that stops falling in a puddle. A balloon pops and a huge party at the cruise
is over. These are little tricks that, well done, make the film visually
pleasing.
Genevieve
Tobin está ótima nos momentos cômicos de “Pleasure Cruise”. Nascida em Nova
York em 1899, Genevieve fez seu primeiro filme aos 10 anos. Sua irmã Vivian e
seu irmão George também eram atores. Ao contrário de sua personagem em “Pleasure
Cruise”, Genevieve deixou Hollywood em 1940 após se casar. Ela faleceu em 21 de
julho de 1995 – meu segundo aniversário.
Genevieve
Tobin is great at comical moments in “Pleasure Cruise”. Born in New York in
1899, Genevieve made her first film at age 10. Her sister Vivian and her
brother George were also actors. Unlike her character from “Pleasure Cruise”,
Genevieve left Hollywood in 1940 after getting married. She passed away on July
21st, 1995 – which was my second birthday.
Aqui,
Roland Young me lembrou de Bruce Willis, mas com um bigode. O ator inglês fez
sua estreia no cinema como Watson no “Sherlock Holmes” de 1922, com John Barrymore
como Sherlock. No começo da década de 1930 ele passou a trabalhar como
freelancer – sem ter contrato com um único estúdio – e fez sucesso em muitos
papéis coadjuvantes, incluindo “A Dupla do Outro Mundo” (1937), pelo qual ele
recebeu uma indicação ao Oscar.
Roland Young here
reminded me of Bruce Willis, but with a mustache. The English actor made his
film debut as Watson in 1922’s “Sherlock Holmes”, with John Barrymore as
Sherlock. In the early 1930s he started working as a freelancer – not having a
contract with a single studio – and found success in many supporting roles,
including “Topper” (1937), for which he was nominated for an Oscar.
Com apenas
72 minutos, “Pleasure Cruise” é um filme prazeroso até os minutos finais. Uma
escolha de mau gosto – e é de MUITO mau gosto – é feita quando Andrew vai longe
demais para ensinar uma lição para a esposa. Não darei spoilers, mas Danny do
site pre-code.com discute esta questão na crítica dele AQUI (em inglês). Por
causa deste detalhe não tão pequeno, “Pleasure Cruise” é um filme que podemos
dizer que envelheceu mal, e nos faz agradecer pelas constantes mudanças na
sociedade.
Clocking at
72 minutes, “Pleasure Cruise” is a delightful pre-Code movie up until the final
minutes. A twist of bad taste – and I mean VERY bad taste – happens when Andrew
goes too far to teach his wife a lesson. I won’t give spoilers, but Danny from
pre-code.com discusses this plot point in his review of the film HERE. Because of
this not so small detail, “Pleasure Cruise” is a film we can say aged badly,
and it makes us be thankful that times are constantly changing.
This is my contribution
to the Out to Sea blogathon, hosted by Debra at Moon in Gemini.
I'm curious to check this out after reading your review. I'm quite fond of Genevieve Tobin and Roland Young, and one of the writers was P.G. Wodehouse's playwriting partner Guy Bolton. The creative transitions are something I look forward to, and I'm getting used to movies that start out well but end on a sour note. I can take it!
ReplyDeleteThank you so much for bringing this interesting pre-Code film to the blogathon. The warning about the ending will likely make it more watchable. I'll be on the lookout for it!
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