} Crítica Retrô: Órfãs da Tempestade / Orphans of the Storm (1921)

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Saturday, September 7, 2013

Órfãs da Tempestade / Orphans of the Storm (1921)

Dia cinco de setembro foi comemorado aqui no Brasil o Dia do Irmão. Eu não tenho irmãos, mas se tivesse gostaria que minha relação com ele / ela fosse igual a da de duas famosas irmãs do cinema mudo: Lillian e Dorothy Gish. Juntas ou separadas, elas eram imbatíveis em talento. Quando atuando num mesmo filme, Lillian e Dorothy eram normalmente irmãs também nas telas e a relação de amor e cumplicidade transparecia. Um dos exemplos mais contundentes é o último filme que as irmãs fizeram com o megalomaníaco D. W. Griffith, “Órfãs da Tempestade”,  um drama eletrizante sobre a Revolução Francesa.
Uma família nobre pode cair em desgraça quando uma moça da família tem uma filha com um homem simples. A menina, de nome Louise, é abandonada na escada da Catedral de Notre Dame. O mesmo gesto faz o pobre Girard, que se arrepende e, além de voltar para casa com a filha, leva também o outro bebê abandonado. Henriette Girard (Lillian Gish) e Louise (Dorothy Gish) crescem como irmãs de sangue que se adoram e se apoiam quando os pais morrem. Logo depois, outra tragédia: Louise fica cega e Henriette decide levá-la para Paris, onde tem esperança de que algum médico seja capaz de curá-la. As irmãs não poderiam ter escolhido época pior para a viagem: estamos em 1789, às vésperas da Revolução Francesa.
Um detestável aristocrata, o Marquês de Praille (Morgan Wallace), um homem que exagerava ao aplicar talco no rosto, se encanta por Henriette e a sequestra, levando-a até uma de suas famosas orgias, onde um bom aristocrata, Chevalier de Vaudrey (Joseph Schildkraut) se apaixona pela moça. Louise é deixada sozinha nas ruas e é resgatada por Pierre Frochard (Frank Puglia), a “ovelha branca”, o único bom elemento de uma família de mendigos. A senhora Frochard (Lucille La Verne) não demora a ameaçar Louise e a usa para pedir esmolas em Paris. E aí estoura a Revolução.   
Mais uma vez Griffith extrapola em sua megalomania, e não apenas por criar um filme de quase duas horas e meia. Ele insere muitos personagens e cria cenários suntuosos, quase à altura dos de “Intolerância” (1916), que exigem um figurino igualmente luxuoso e centenas de extras (um deles foi inclusive decapitado nas filmagens). Mas não foi nada fácil levar a história às telas. Baseando-se em uma peça francesa, Griffith escreveu o roteiro, relutando em copiar as duas versões anteriormente filmadas, em 1911 e 1915 (esta última com Theda Bara como Henriette, infelizmente, está perdida). Quem tinha os direitos sobre a peça era a atriz Kate Claxton, que se popularizou ao interpretar a protagonista no teatro, e não queria autorizar Griffith a adaptar a peça para o cinema. Depois de convencê-la, parece que Kate liberou de vez e vendeu os direitos também para o cinema alemão, que pretendia lançar sua versão no mercado junto à de Griffith. Coube ao diretor, então, comprar os direitos de distribuição da película alemã e adiar sua estreia. Ufa!
Assim como em “Intolerância”, Griffith tenta passar uma mensagem, que fica clara logo no começo: não devemos acreditar em líderes fanáticos, como os bolcheviques. Essa mensagem agradou muito ao governo, tanto é que pouco depois do lançamento o elenco foi convidado para uma visita à Casa Branca. E, tirando essa explicação do início, há relativamente poucos intertítulos, de modo que cabe ao espectador gerar a maioria dos diálogos e súplicas em sua mente.
É impossível ver esse filme sem se lembrar do livro de Charles Dickens adaptado para o cinema em 1935, “A Queda da Bastilha / A Tale of Two Cities”. De fato, Griffith pesquisou alguns detalhes nesta obra e em livros de história para dar mais veracidade ao roteiro. Ele inclusive adicionou as figuras históricas de Danton (Monte Blue, muito alto) e Robespierre (Sidney Herbert, parecido com Basil Rathbone). Muitas cenas deste e do filme de 1935 são incrivelmente parecidas e aprendemos duas coisas dessas obras: além de muitos inocentes terem sido condenados à guilhotina, as mulheres más da época sempre usavam bigode. A vilã senhora Frochard é interpretada por Lucille La Verne, ícone do teatro que emprestaria sua voz à madrasta de “A Branca de Neve e os Sete Anões / Snow White and the Seven Dwarves” (1937).   
"Órfãs da Tempestade", 1921
"A Queda da Bastilha", 1935
Embora Lillian seja a mais conhecida das irmãs (e minha atriz de cinema mudo favorita), Dorothy também sabe brilhar. Nascida Dorothy Elizabeth Gish cinco anos depois da irmã, ela cortou o cordão que a amarrava a Lillian quando Griffith começou a exagerar em seus filmes. Ambas estrearam sob as câmeras do diretor, seguindo o conselho da amiga Mary Pickford, em 1912 e, quando Lillian rodava “O Nascimento de uma Nação” (1915), Dorothy aproveitou para fazer curta-metragens, mas sua história sempre esteve ligada a Griffith. Era ele o supervisor desses filmes curtos e foi em um filme de D. W. que ela realmente se destacou: “Hearts of the World” (1918), uma propaganda de guerra da qual Griffith mais tarde se arrependeu.
Lillian sempre teve muito amor pela irmã que a acompanhou desde o início da carreira. D. W. Griffith, diz a lenda, acreditou que elas eram gêmeas na primeira película que fizeram, embora eu ache isso difícil de acreditar (Dorothy, originalmente loira, passou a usar uma peruca escura e Lillian sempre teve olhos maiores). Entretanto, com o passar do tempo ele dava menos atenção para a irmã mais nova, deixando-a chateada. Lillian tentava contornar essa frustração elogiando e mimando a irmã, e inclusive sugeriu que Griffith adaptasse “Órfãs da Tempestade” para as telas com a intenção de fazer de Dorothy a protagonista Henriette. Embora os papéis tenham sido trocados no final, a atuação de Dorothy é excelente e, sim, há quem diga que em alguns momentos ela está melhor que Lillian.    
Assisti a uma versão do YouTube sem trilha sonora e, para não ficar no completo silêncio, coloquei como trilha músicas de Ennio Morricone, o que gerou situações interessantes em momentos chave (é incrível como o tema de "Era uma vez no Oeste" combina com a Revolução Francesa). A obra-prima das irmãs Gish pode ser encontrada no YouTube ou no Internet Archive.    

This is my contribution for the Gish Sisters Blogathon, hosted by Fritzi at Movies, Silently, and Lindsey at The Motion Pictures. Silents rule!

17 comments:

  1. eu fiquei com vontade de ver esse filme. sempre é muito bonito qd irmãos são amigos, o q é raro. é muito triste qd irmãos se tornam inimigos. beijos, pedrita

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  2. I read this in two languages! :-D Or almost! Great post, Le! I've yet to see Orphans but cannot wait to. Little by little I'm becoming a huge fan of silent film.

    Aurora

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  3. Eu não sou familiarizada com os filmes da era muda, além das comédias de Chaplin e Herald Lloyd, quase nada sei sobre, na foto até achei que fosse the wind por causa da Lilian Gish, mas é legal saber através do crítica retrô sobre as irmãs Gish, e que eram amigas, ao contrários de Olivia e Joan. Bons posts e filmes interessantes pros amantes de um bom filme clássico antigo.

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  4. When I wrote a post about ORPHANS OF THE STORM last year during SUTS, this guy started commenting, correcting everything I said. I hope he doesn't do the same to you. This is a great post! One of my favorite silent films.

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  5. That was a good movie. You make an excellent observation about ladies with mustaches. It is sad that this was the sisters' last movie together. Thank you for sharing your thoughts.

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  6. Thanks so much for another great review and thank you for participating in the blogathon! I just loved Dorothy in this film. Thanks so much for your great research and pictures :)

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  7. Carácolesssssssssss...
    Muito bacana o seu post. conseguiu me despertar para o filme de mnaneira única. Fiqui curioso sobre a história do cara decaptado durante as filmagens...
    Só conheci o trabalho da Gish mais velha. Post muito nteressante menina. vc arrebenta!

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  8. I loved reading this post, thank you! Dorothy and Lilian had such a special relationship - it's such a shame this was their last film together

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  9. I haven't seen this, Le, but must do so! As a big fan of 'A Tale of Two Cities', I was fascinated by the comparisons you draw here. Wonderful posting and illustrations.

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  10. Nice post Lê! Too bad the 1915 version is lost. This blogathon has been an education for me about Lillian and Dorothy Gish. While I'm a big fan of silent films, I know I've barely scratched the surface. Looks like I need to add Orphans of the Storm to my list.

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  11. I adore the sumptuous looks of Griffith epics. I sadly didn't finish watching Orphans of the Storm but after reading how lovingly you wrote about this picture, I want to rewatch it again. Also, thank you for posting about them movie history/behind the scenes aspect of the movie -- I love reading about such things!

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  12. Ola,não assisti este filme e fiquei super curiosa,pois acho que irei gostar muito.Meus cumprimentos pela excelência da postagem.Grande abraço.SU

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  13. Oi Lê.
    Parabéns pelo ótimo texto!
    Ainda conheço muito pouco do cinema mudo, porém aqui em seu blog já peguei vários títulos que pretendo assistir. Andei pesquisando em algumas lojas e encontrei alguns filmes, logo pretendo comprá-los.
    Quanto a Orfãs da Tempestade, a temática muito me interessou. Já imagino a qualidade da obra, levando em consideração a direção e o elenco.

    Grande Abraço!

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  14. Simplesmente maravilhoso esse filme. Me encanto com Gish.Quisera eu ter a oportunidade de assistir todas as suas obras... quisera eu.


    Beijos!

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  15. Charming, as always, my friend. This is without a doubt a very impressive film, but I find I prefer Griffith's short films much more. The Gish girls are his perfect stars and - yes - it's nice to see Dorothy get a meaty role for a change.

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  16. This sounds like a fascinating movie. I'm not that familiar with either Gish sister, and it would be interesting to see them together on screen. Thanks for a wonderful review and for providing some background into to the movie, too.

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