Um dos atores mais bonitos e cobiçados dos anos 40 é disputado por
duas das maiores estrelas da época, igualmente lindas e desejadas. Tudo isso em
meio a intrigas, fama, sangue e areia. E em Technicolor!
Em “Sangue e Areia” (1941), Tyrone Power é Juan Gallardo, um famoso
toureiro espanhol que abraçou a profissão do pai, morto na arena dos touros.
Ele decide seguir essa carreira após ouvir o crítico Natalio Curro (Laird
Cregar) dizer que seu pai não tinha talento. Juan prova que o sangue de
toureiro corre em suas veias e alcança o sucesso em Madrid, voltando à sua
cidadezinha para casar-se com seu amor de infância, Carmen Espinosa (Linda
Darnell) e dar uma vida mais confortável para a mãe (Alla Nazimova) e a irmã
(Lynn Bari).
Toureiro em dúvida |
Se por um lado a simplicidade de sua cidade natal e de Carmen são
importantes para ele, por outro há a excitação da nova vida que abre as portas
apenas para os mais famosos toureiros, com a pompa e circunstância das festas e
das casas de arquitetura ultrapassada. Quem personifica este estilo de vida é
Doña Sol des Muires (Rita Hayworth), linda ruiva que um dia se encanta com Juan
em uma tourada e decide fazer dele seu novo “boy toy”.
O filme foi um ponto decisivo na carreira das mulheres envolvidas. Foi
a primeira vez em que Linda Darnell recebeu um número realmente expressivo de
críticas positivas, embora ela mesma acreditasse que esse era o momento em que
o público se cansava de suas heroínas sofredoras e boazinhas. “Sangue e Areia”
foi o primeiro filme em cores de Rita Hayworth, que pela primeira vez
interpreta a mulher que enlouquece (literalmente) um homem, em um prelúdio do
que ela faria mais tarde em “Gilda” (1946). Alla Nazimova, que já havia perdido
há tempos seu status de protagonista, faz uma de suas últimas participações.
E como a vida imita a arte, Tyrone Power teve seus momentos de Juan
Gallardo. Mas antes de prosseguir vamos estudar o nome do personagem criado por
Vicente Blasco Ibáñez em seu romance “Sangre y Arena”, publicado em 1909. Juan
lembra-nos imediatamente de Don Juan, o famoso conquistador. E Gallardo, apesar
de significar “valente” em espanhol, é muito próximo do português “galhardo”.
Segundo o dicionário, “galhardia” é a qualidade de quem é elegante e cortês.
Por aí já descobrimos um pouco sobre o personagem: ele é um conquistador nobre.
Voltando a Tyrone Power: ele também seguiu a carreira do pai, também
chamado Tyrone Power, que morreu enquanto trabalhava. Power Sr. teve um ataque
cardíaco no teatro em 1931 e faleceu nos braços do filho, que em cinco anos
seria uma estrela mundialmente conhecida. Ao deixar sua marca no cimento em
frente ao Grauman’s Chinese Theater em 1937, ele fez questão de escrever que
estava “seguindo os passos de meu pai”. Ty também foi um homem de muitas
mulheres. Foram três casamentos e vários affairs, nem todos comprovados, que
agitaram sua vida pessoal.
E a corrente continuou para as atrizes, que em outros filmes também
duelaram por um homem. Linda Darnell batalha com Jeanne Crain pelo amor de um
francês em “Noites de Verão / Centennial Summer” (1946), e Jeanne, por sua vez,
havia lutado com Gene Tierney em “Amar foi a minha ruína / Leave her to Heaven”
um ano antes... Mas continuemos antes que a corrente vá longe demais.
Em 1916, o próprio autor Ibáñez decidiu ser cineasta e filmar a história de seu livro. Seis anos depois, em 1922, o material foi usado por quem
realmente entendia de cinema e o filme hollywoodiano “Sangue e Areia” teve
Rudolph Valentino como Juan, Lila Lee interpretando Carmen e Nita Naldi no
papel de Doña Sol. Em 1932 houve a proposta de fazer uma nova versão com Cary
Grant e Talullah Bankhead. Uma pena que o projeto nunca se concretizou. Quem
não adoraria ver Cary Grant vestido de toureiro?
O diretor Rouben Mamoulian sempre esteve à frente de projetos ousados
e inovadores, embora hoje não esteja na lista dos grandes de Hollywood. Mais
uma vez ele dirige um filme espetacular, e muito desse espetáculo vem das
cores, inspiradas em pinturas de Goya, El Greco e Velázquez. Em muitas
ocasiões, Mamoulian andava pelo set com sprays de tinta e, ao invés de
modificar a iluminação para criar uma determinada sombra, ele mesmo pintava
parte do cenário para criar o efeito desejado.
Outra atração é um jovem Anthony Quinn no papel do “outro toureiro”.
Quinn voltaria a antagonizar com Tyrone Power no ano seguinte, em “Cisne Negro”.
E por falar em juventude, é em Technicolor que Linda Darnell surpreende: ela
tinha APENAS 18 anos quando o filme foi rodado. E, de fato, com tantas cores e,
surpreendentemente, pouco sangue nas touradas (o próprio Tyrone se sentiu mal
ao ver uma tourada de verdade), “Sangue e Areia” merece ser visto em toda sua
beleza.
This is my contribution for the 3rd Annual Dueling Divas Blogathon,
hosting by Lara, a diva herself, at Backlots. Fasten your seatbelts!