} Crítica Retrô: Alegria e sensualidade: Douglas Fairbanks interpreta Zorro

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Saturday, October 11, 2014

Alegria e sensualidade: Douglas Fairbanks interpreta Zorro

“Zorro”, em espanhol, significa “raposa”. O autor nova-iorquino Johnston McCulley sabia bem o que estava fazendo quando escolheu o nome de sua criação: o personagem, um quase Robin-Hood hispânico, é de fato esperto como uma raposa. No ano seguinte Douglas Fairbanks mostrou que também era esperto e estrelou o primeiro filme de Zorro, que, além de revolucionar a carreira do ator, ainda gerou uma herança nem sempre agradável para diversos personagens latinos no cinema.
Don Diego Vega (Douglas Fairbanks) acabou de voltar de uma temporada na Espanha. Ele encontra sua Califórnia natal cheia de problemas e, com as ideias modernas adquiridas no Velho Continente, decide fazer justiça com as próprias mãos. Capa, espada, chapéu, máscara, bigode: está pronto o disfarce de Zorro, o defensor dos fracos e oprimidos! O terror dos poderosos! A esperança do povo! O sonho das donzelas! Bem, Zorro pode ser o sonho de qualquer donzela, ao contrário de Don Diego: quando enviado para fazer a corte a Lolita Pulidos (Marguerite de La Motte), ele faz de tudo para parecer um homem bobo e pouco interessante. Ao mesmo tempo, ele prega uma peça em Lolita aparecendo para ela como Zorro, e fazendo-a se apaixonar pelo personagem. Ninguém desconfiaria que o jovem tolo era na verdade o herói corajoso.
Esse é o ingrediente principal de “A Marca do Zorro / The Mark of Zorro” (1920): humor. Outros temperos do filme são a ação e a aventura. Em menos de quinze minutos de projeção, já temos uma luta de espadas de tirar o fôlego entre Zorro e o sargento Gonzales (Noah Beery). A dupla identidade de Don Diego / Zorro não poderia ser explorada de forma mais cômica. O fidalgo preguiçoso tem como única diversão fazer truques com um lenço, mas sua identidade secreta é zombeteira e audaciosa. Zorro provoca os corruptos, tem os mais divertidos meios de sair de uma situação de perigo e termina seus duelos deixando sua marca no oponente. Aos 37 anos, o habilidoso Douglas Fairbanks dispensa dublês para escalar muros e saltar do alto de janelas.
Em “O Filho do Zorro / Don Q Son of Zorro” (1925), Fairbanks faz papel duplo (ou triplo?): Don Diego / Zorro, e o filho de Don Diego, Don Cesar. Este filme, mais longo e com mais aventura, tem um pouco menos de humor e uma dose extra de romance. Isto é facilitado pelo fato de estrelar Mary Astor, então uma adorável starlet de 19 anos. Cesar Vega tem todas as habilidades para conquistar Dolores de Muro (Astor): sabe fazer truques com chicote, luta com espada, toca violão e é toureiro quando necessário. Herdou o charme, a boa aparência e a coragem do pai.
Para impedir que este ótimo cavalheiro conquiste a nobre Dolores, entra em cena o guarda Sebastian (Donald Crisp, também diretor do filme). Acrescente a isso a presença de Jean Hersholt como o calculista Don Fabrique e está feita uma sequência que, se não melhor que a original, mais envolvente. Ambientada na Espanha e baseada no romance “A história de amor de Don Q” (que NADA tinha a ver com Zorro), a história não poderia ser transportada para as telas de um jeito melhor.
Zorro ousado
Quem poderia interpretar o “amante latino” na época do cinema mudo? Somente Douglas Fairbanks. Ele possuía um ótimo físico e grande carisma, e podia muito bem interpretar um latino sem passar vergonha (ou exagerar na maquiagem). Sua imagem aqui é a que cria o estereótipo ao qual os latinos ficariam presos durante décadas: o “Latin lover”. Para o cinema, o sangue latino representa luxúria e espontaneidade. Alegria e sensualidade. Assim, muitos atores que nem eram latinos, por sua pele morena e porte diferenciado, acabaram personificando o “Latin lover” (Rudolf Valentino, por exemplo, era italiano).
E assim Zorro se tornou para sempre sexy. Depois de Fairbanks, Tyrone Power interpretou o personagem no filme de 1940, e Guy Williams o levou para as telas da televisão – isso para citar só os casos mais notáveis. Em “O Pirata” (1948), Gene Kelly toma emprestada a agilidade atlética de Fairbanks e nos faz imaginar: não seria ótimo se Gene tivesse tido a chance de interpretar Zorro? Ele poderia não ser original, mas seria uma bela volta às origens. O primeiro Zorro 100% latino foi Antonio Banderas, em 1998. Novamente, o estereótipo se repetia: irreverente, sensual e corajoso.
Assim como os negros e asiáticos, os latinos são muito mal representados no cinema. Quando não são coadjuvantes de westerns e usam sombreros enormes, são garotas de sotaque engraçado (Carmen Miranda em alguns filmes e Sofía Vergara na série “Modern Family”), são vilões de bigode (“greaser bandit”) ou são as “dark ladies”, moças morenas muito sensuais (Rita Hayworth em “Sangue e Areia”, 1941). Os espanhóis e latinos não são todos assim. Somos uma colcha de retalhos do ponto de vista cultural e de personalidade.
Se não bastassem todas essas influências do Zorro de Fairbanks, ele também tem papel importante na trajetória de outro herói: Batman. Nos quadrinhos, os pais do menino Bruce Wayne foram assassinados depois de uma sessão de “A Marca do Zorro”, de 1920, e o pequeno Bruce presenciou o crime (a primeira história em quadrinhos de Batman saiu em 1939, de modo que o Zorro que o influenciou só pode ser Fairbanks). O próprio disfarce do homem-morcego lembra bastante o justiceiro hispânico.
Quem mais lucrou com “A Marca do Zorro” foi, claro, Douglas Fairbanks. Este primeiríssimo longa-metragem distribuído pela United Artists deu uma nova carreira a Fairbanks, que passou a ser o grande herói e conquistador dos anos 20, interpretando cavaleiros, piratas e até Robin Hood. A influência do personagem foi tamanha que uma cena de “A Marca do Zorro” aparece no filme “O Artista” (2011). Mas, alegrias à parte, é a herança de “Latin lover” de Zorro que ficou com mais força – e menos honradez. 
This is my contribution for the Hollywood’s Hispanic Heritage blogathon, hosted by the muchachas Aurora at Citizen Screen and Kay at Movie Star Makeover. ¡Olé!

7 comments:

  1. OLE! Indeed! Terrific commentary on Fairbanks and his representation of one of filmdom's great characters! I can't get enough of Zorro and it's thanks to this wonderful actor that the character has remained in our consciousness through the years, the standard by which all subsequent representations have been based. I've a soft spot for Ty Power's portrayal, but Fairbanks' version is unforgettable. Great entry and addition to the blogathon, Le!!

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  2. ah, esse zorro, bacana. beijos, pedrita

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  3. You make a very good point about Latino stereotyping. Hollywood seems to portray all Latinos as hot-blooded and impulsive, people who want nothing more than passion. It's not very often you see Latino characters as philosophers, math teachers or engineers in Hollywood.

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  4. I'd never made the Zorro - Batman connection before, great shout. I know he's stereotyped, but Zorro has always been one of my favourite 'Latino' characters, although whether that's truly down to the character or my love of Fairbanks' portrayal of the character is impossible to say!

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  5. I would've loved to see Gene play Zorro too—I guess we'll just have to settle for The Pirate, as you say :)

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  6. I very much enjoyed your thoughtful article. The dashing Zorro is an unforgettable character. Fairbanks has such fun in the role that it has resonated with generations and all future portrayals.

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  7. A great post! Tyrone Power is my favourite Zorro, but Douglas Fairbanks's portrayal would shape the character as we know him today. Mr. Fairbanks certainly did a great job!

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