Dos
grandes comediantes do cinema mudo, Harold Lloyd pode ser aquele que
passa mais despercebido pelo público leigo – mas ele nunca, jamais
é subestimado pelos cinéfilos. Ele
estreou no cinema em 1913 (sim, ANTES de Chaplin. ANTES
de Keaton. ANTES de Laurel
& Hardy) e a maioria de seus 200
filmes foram curtas-metragens.
Sem dúvida suas melhores obras
foram realizadas nos anos 20 e, como a maioria dos ídolos da tela
silenciosa, Harold foi perdendo espaço com a chegada do som, e
trabalhou como ator até 1938.
Logo
após a Segunda Guerra Mundial, Preston Sturges tinha uma missão:
tirar Harold Lloyd da aposentadoria. Por isso ele escreveu e dirigiu
“As Trapalhadas do Haroldo / The Sin of Harold Diddlebock” como
uma continuação da ação de “O Calouro / The Freshman” (1925).
Os
primeiros nove minutos repetem o clímax de “O Calouro / The
Freshman”. Logo após seu grande jogo, Harold
recebe uma oferta de emprego e trabalha durante 22 anos em uma
agência de publicidade (a passagem do tempo é magistralmente
mostrada pela mudança das fotos dos presidentes na parede).
Finalmente, em 1945, ele é demitido por “ter apenas ideias
obsoletas”. Seu último ato antes de sair do emprego é entregar um
anel a Miss Otis (Frances
Ramsden), a jovem funcionária que
faz parte de uma família muito, muito atraente (Harold foi
apaixonado por todas as mulheres da família Otis, mas nunca chegou a
pedir nenhuma delas em casamento).
Um
velhinho pede dinheiro para Harold na rua, e leva nosso mais novo
desempregado para esquecer os problemas através do álcool. Harold
nunca havia tomado uma bebida alcoólica, e para comemorar o primeiro
drink, o barman cria um coquetel especial e fortíssimo, o
“Diddlebock” (quero a receita!). Completamente bêbado, ele faz
sons estranhos, compra roupas extravagantes, um chapéu muito louco e
aposta em corridas de cavalos.
Há
bons momentos de comédia física, todos na última meia hora do
filme, e inclusive uma sequência logicamente inspirada em “O Homem-Mosca / Safety Last!” (1923). Harold tem um bom texto (preste
atenção em suas máximas filosóficas e motivacionais), mas com
certeza essas frases deliciosas ficariam mais divertidas nos
intertítulos decorados de “O Calouro”. Sturges
fez um bom filme dentro de suas capacidades, mas a fraca bilheteria
inicial fez com que o produtor, Howard Hughes, editasse algumas cenas
e relançasse o filme com 10 minutos a menos, e desta vez com o
título “Mad Wednesday”. Nem preciso dizer que esta foi a única
parceria Sturges-Hughes, e acabou em desacordo.
Não
é uma comédia extraordinária, mas
conta com um roteiro inspirado, e feito sob medida para homenagear a
carreira de Harold Lloyd. A atriz
que faz par romântico com Harold (e que teria aqui seu único
trabalho creditado no cinema), por exemplo, poderia ter sido melhor
escolhida (e eu daria tudo por uma participação da parceira da
época muda, Jobyna Ralston). Há, entretanto, o gosto agridoce de
muitos momentos: as vezes diversas em que Harold se assemelha à
persona cinematográfica de Jerry Lewis e no fato de Harold Lloyd ter
sido indicado ao Globo de Ouro de Melhor Ator de Comédia ou Musical
em 1951, quando do relançamento como “Mad Wednesday”.
Este
foi o último filme de Lloyd como ator. Nos anos 50, ele se apaixonou
pela fotografia e nos anos 60 produziu dois filmes-antologia, “Harold
Lloyd's World of Comedy” (1962) e “O Lado Alegre da Vida / Funny
Side of Life” (1963), ambos compostos por pedacinhos de seus filmes
anteriores. Ao invés de acabar a carreira de um jeito vergonhoso,
Harold deixou em seus últimos filmes um incentivo para vê-lo jovem
e redescobrir suas áureas comédias.
"TheSin of Harold Diddlebock" está disponível no YouTube e no Internet Archive.
This is my contribution to the annual The Late Show blogathon, hosted by Shadowplay.
Lovely!
ReplyDeleteThe leading lady was Sturges' girlfriend, which explains how she got the part.
I didn't care for the skyscraper window ledge stuff because it's inferior to the classic scenes in earlier Lloyd films, but I liked the fact that poor Harold wakes up screaming in the next scene.
vi bem pouco. beijos, pedrita
ReplyDeleteRealmente sou totalmente leiga nesse assunto, não conhecia Harold Lloyd, mas adorei conhece-lo, amei o post ;)
ReplyDeletebjuxx
www.casacherry.blogspot.com.br
Nunca assisti um filme dele, mas já o conhecia.
ReplyDeleteGostei muito do seu post, sempre informativo!
Beijos <3
Ola Le,muito bom lembrar deste antigo ator que deixou suas marcas.Adoro vir aqui e encontrar relatos e informações cinéfilas do passado,vejo assim que também gostas como eu de remexer em baús salpicados de poeira.Mil abraços.SU
ReplyDeleteGente, acho que não conheço nada dele! Deve ter no youtube algum vídeo pra assistir, né? Vou procurar!
ReplyDelete:*
Ficou feliz que você tenha gostado do post! Demorei uma vida para escrevê-lo hehehehe.
ReplyDeleteBeijos e bom final de semana <3 <3
I haven't seen this in many years, but your review sounds about right. I'm a fan of both Sturges and Lloyd, but this is far from their finest hour.
ReplyDeleteBons tempos em que a Globo passa a sessão comédia e exibia filmes mudos, na maioria curtas. Foi aí que descobri Harold Lloyd, que se tornou o meu ator de cinema mudo preferido. Ninguém construia uma gag física como ele. A TVE também exibiu um mini festival Harold Lloyd, assisti The Fresman e The Fly, que tem aquela famosa cena do relógio que foi homenageada em De volta para o futuro.
ReplyDeleteGente o cara era um gênio da comédia eu quando criança eu assisti um filme mudo dele pelo qual ele escalava um prédio altíssimo . Não lembro mais o nome daquele filme muito top .
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