Happy Saint Patrick's
Day! O
dia de São Patrício é comemorado bebendo muita cerveja, vestindo-se de verde,
procurando trevos de quatro folhas, contando histórias sobre duendes, leprechauns
e potes de ouro no fim do arco-íris. Mas nem tudo é festa e diversão na
Irlanda: há também problemas, lutas pessoais e coletivas. Porque há um
sentimento que ultrapassa fronteiras e une todos os povos do mundo: a
liberdade.
Johnny McQueen (James Mason) é
chefe de uma organização e há alguns meses escapou da cadeia, onde deveria
ficar preso por 17 anos. Johnny está escondido na casa de Kathleen (Kathleen
Ryan), onde se encontra com seus companheiros e continua fazendo planos
audaciosos. Um desses planos é assaltar um banco e Johnny, apesar de não ver a
luz do sol há mais de um ano, faz questão de participar da ação.
Johnny é baleado no ombro e se
separa dos companheiros. Assim começa uma grande caçada: policiais e delatores
querem a recompensa por Johnny. A doce, corajosa e decidida Kathleen quer
encontrá-lo para que juntos possam fugir em um navio e ficar longe dos
problemas que têm na Irlanda. É a estreia de Kathleen Ryan no cinema, mas a
moça tem o talento de uma veterana e é muito convincente em seu papel. Kathleen
e os atores que interpretam os companheiros de Johnny faziam parte de um grupo
de teatro de Dublin, o Dublin Abbey Theatre, fundado e dirigido por W.G. Fay,
que interpreta o padre Tom.
A direção é de Carol Reed, que
dois anos depois faria seu melhor filme, “O Terceiro Homem / The Third Man”.
Veja como o filme é cheio de momentos preciosos: a maneira como o interesseiro Shell
(F.J. McCormick) se refere a Johnny através de metáforas sobre um passarinho, o
momento em que Johnny delira e vê rostos de algozes nas bolhas de uma bebida, a
briga entre Shell e o pintor Lukey (Robert Newton), que quer resgatar Johnny
apenas para realizar o sonho de pintar o retrato de um moribundo, um novo
delírio de Johnny envolvendo retratos enfileirados como pessoas em um tribunal.
O que dizer do sempre brilhante
James Mason? Ele chegou a afirmar que Johnny McQueen foi o melhor personagem de
sua longa e ilustre carreira. Mason gostou muito de trabalhar com Carol Reed,
diretor que admirava, e teve total liberdade para compor seu personagem. Embora
Reed gostasse de ter controle sobre todos os aspectos de seus filmes, deixava
seus atores livres para criarem os personagens. E sempre deu certo.
Mas... de que organização Johnny
McQueen faz parte? Por que ele é perseguido? Por qual causa seus companheiros
roubam bancos? Vamos a uma pequena e esclarecedora lição de história: embora
ninguém diga isso explicitamente, o cenário do filme é a cidade de Belfast, na
Irlanda do Norte. Isso faz com que ele seja, com certeza, membro do IRA (Irish Republican Army), um grupo fundado
em 1919 com o objetivo de separar a Irlanda do Norte do Reino Unido e anexá-la
à República da Irlanda. Já em 1926 foi feito um filme centrado na organização, “Irish
Destiny”, que termina com um close maravilhoso e em cores da bandeira
irlandesa. Em “Condenado / Odd Man Out”, desde o começo fica claro que o pano
de fundo é a luta IRA contra polícia inglesa, mas o que importa é a trajetória
dos personagens, não os desdobramentos da luta por liberdade. Em suma, a
história poderia acontecer durante qualquer conflito, e mesmo assim seria
humana e verossímil.
Irish Destiny (1926) |
“Odd Man Out” é um curioso noir
irlandês. Considerado por muito a obra-prima de Carol Reed, elogiado com
sensatez e saudosismo por seu protagonista, usado como recurso de propaganda
anti-IRA, “Odd Man Out” ainda é pouco visto, mas é imperdível.
This is my contribution to the Luck
of the Irish Blog O’thon, hosted by the mighty Metzinger sisters at Silver
Scenes.
Encontrei por acaso este filme no Youtube, mas ainda não assisti.
ReplyDeleteGostei da premissa e do estilo.
Abraço
Ler esse post me fez pensar que talvez eu nunca tenha assistido a um filme irlandês! Vou checar isso hahaha
ReplyDeleteSuas dicas são sempre ótimas!
:*
Your reviews always introduce me to films I have never heard of before! Odd Man Out sounds like a gem, and since it was directed by Carol Reed, it will definitely be on my to-see list. Thank you for participating in the blog o'thon!
ReplyDeleteUm filme extremamente diferente do estilo que estamos habituados a ver, ainda mais notório visto estarmos a falar de um filme dos anos 40. Inicialmente o filme até parece que vai ter uma narrativa e um desenvolvimento convencionais, mas não é isso que acontece. À medida que o filme vai avançando, vamos conhecendo um conjunto de personagens singulares, com as mais diferentes motivações. A trajetória do personagem de James Mason também surpreende, ele acabo por andar o filme todo em fuga, ferido, parando em vários locais, também eles singulares. O filme acaba por, pouco a pouco, entrar numa espécie de "tom" existencialista, algo que não é de esperar nos primeiros 20 minutos. Os atores tem excelentes performances, quer os principais, quer os secundários. Claro que há a destacar o James Mason e também a estreante Kathleen. Resumindo, tudo nos vai surpreendendo ao longo deste filme. Tudo, com uma exceção: todo o filme tem uma atmosfera trágica, ficando desde logo à partida o pressuposto de que o final do filme só poderá também ser trágico. Um filme pouco conhecido embora realizado pelo consagrado e famoso Carol Reed, que é uma verdadeira pérola do cinema, um filme que constitui um verdadeiro caso de estudo. Muito bom.
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