Quando Gaston Leroux publicou o livro “O Fantasma da Ópera” entre 1909
e 1910, ele jamais pensou no impacto que a obra causaria: ela deu origem a um
dos filmes mudos mais importantes da história, foi o ponto alto da carreira de
um camaleão das telas e gerou um dos musicais mais amados de todos os tempos.
Foram ao todo 32 adaptações para o cinema, segundo o IMDb, e você já deve
imaginar qual a mais famosa: a de Lon Chaney, de 1925. Dezoito anos depois,
outra versão chegou às telas e, apesar de pouco lembrada, é também digna de ser
vista.
Em 1925, Mary Philbin é a cantora Christine Daaé, da Ópera de Paris.
Ele é namorada de Raoul, visconde de Chagny (Norman Kerry). Corre o boato de
que há uma perigosa criatura vivendo no subsolo da ópera, e estranhos acidentes
acontecem, um deles envolvendo a prima donna, Carlota. Logo Carlota
recebe um bilhete ameaçando-a: se ele não ceder seu lugar para Christine, outro
acidente acontecerá.
Embora Gaston Leroux ainda estivesse vivo em 1925, não se sabe qual a
opinião dele sobre a adaptação, nem sequer se ele chegou a vê-la. Entretanto,
foi o próprio autor que apresentou sua obra a Carl Laemmle em Paris, e Laemmle
logo comprou os direitos de adaptação já com Lon Chaney em mente para ser o
protagonista. Foram necessários dois anos para que os cenários ficassem prontos
e o filme começasse a ser rodado, mas a espera – e as três subsequentes
re-edições das cenas – valeram a pena.
Em 1943, Lon Chaney já estava morto. A cor era cada vez mais presente
nos filmes. Muitos estrangeiros circulavam por Hollywood, e um deles foi
escolhido para ser o novo fantasma: o maravilhoso Claude Rains. A grande
diferença é que vemos Erik, o violinista, como um homem normal no começo,
nutrindo uma paixão secreta por Christine Dubois (Susanna Foster) e sofrendo ao
perder o movimento dos dedos, o que o impossibilita de continuar na orquestra.
Vemos seu terrível acidente com ácido, sua mudança para o subsolo e seus
esforços para fazer de Christine uma estrela.
Os dois filmes utilizam os mesmos cenários, e a mais impressionante
cena reproduzida em 1925 e 1943 envolve a queda de um enorme candelabro na
plateia. Em ambas as produções, o espetáculo que está sendo apresentada para o
público pouco importa: a ação principal se desenrola nos bastidores, no subsolo
ou na parte superior do teatro, onde também encontramos Hume Cronyn na versão
de 1943. A morada subterrânea do fantasma jamais é claustrofóbica, apenas
labiríntica e entristecida (aliás, a cama do fantasma de 1925 foi depois usada
por Norma Desmond em “Crepúsculo dos Deuses / Sunset Boulevard”).
“O Fantasma da Ópera” é dominado pelo seu protagonista. Chaney e Rains
são a alma de seus respectivos filmes. O fantasma é o anti-herói mais amado das
telas, porque o herói não importa. Sabemos que o fantasma não pode vencer e ser
feliz para sempre com Christine, mas torcemos por ele. Ele é deformado, um pária
da sociedade, mas é mais interessante que o corajoso Raoul.
Em ambos os filmes Raoul é interpretado por um ator pouco conhecido.
Norman Kerry, antes mesmo de trabalhar no cinema, já era amigo de Rodolfo
Valentino. Em Hollywood, trabalhou com Mary Pickford, Lillian Gish e em três
oportunidades contracenou com Lon Chaney. Hoje ele é pouquíssimo lembrado.
Em 1943, Raoul não era nem o primeiro, nem sequer o segundo personagem
masculino mais importante. Nelson Eddy é o barítono Anatole Garron, criado
apenas para esta versão e para exibir os dotes musicais de Eddy. Raoul, de
conde em 1925, virou inspetor em 1943, e foi interpretado por Edgar Barrier
que, apesar do nome francês, era americano e fez pequenos papéis no cinema,
incluindo no primeiro filme de Orson Welles, “Too Much Johnson” (1938).
O poder da maquiagem |
O fantasma de Claude Rains é uma figura simpática e trágica. O
fantasma de Chaney é trágico e aterrorizante. No teatro de Chaney, bailarinas
saltitantes se perguntam sobre a criatura que assombra o lugar. No teatro de
Rains, a ópera é atração principal, e a trilha sonora ganhou até o Oscar. Em
ambos os casos, ter o fantasma da ópera como tutor e admirador foi a melhor
coisa que poderia ter acontecido a uma jovem cantora no começo da carreira. Mas
a sorte maior é nossa: podemos ver dois grandes talentos da sétima arte em
interpretações distintas e arrepiantes do fantasma mais solitário que já
existiu.
This is my contribution to the Backstage blogathon, hosted by Fritzi at
Movies, Silently and Janet at Sister Celluloid.
The sound film was the first adaption I saw and the beautiful colours and music made quite an impression. I still get goosebumps thinking about the first time I saw the Chaney version of the story. These movies are a strong case for the well-made, respectful remake. Excellent selection for the blogathon.
ReplyDeleteI loved the silent film version and Chaney makes the film. I saw the Rains version and by then changes came about to make him a more sympathetic character. This just shows how great Chaney's acting is because he created sympathy from a very scary person. Great review on both films
ReplyDeletenunca vi nenhuma versão desse musical. beijos, pedrita
ReplyDeleteWho knew there had been so many adaptations?!
ReplyDeleteIt makes sense because it's a great story but that IMDB figure surprised me. I'm glad you selected these two versions - the silent version is wonderful but the Lubin version is my favourite.
Thanks so much for joining in! It's so much fun to compare these very different takes on the same story.
ReplyDeleteWhat a great idea to compare these two versions. I am ashamed to say I have not yet seen the Lon Chaney version, and I'd better rectify that ASAP. Great choice for the blogathon!
ReplyDeleteGosto da versão também da Hammer
ReplyDeleteThis film is such a classic with a story that has endeared audiences even in modern times. Chaney's revolutionary make-up was such a game changer in the theatrical world. Scary and absolutely amazing.
ReplyDeleteArlee Bird
Tossing It Out
&
Wrote By Rote
I just recently recorded the Chaney version and have only seen bits of it, and have never seen the '43 which is strange because I adore Claude Rains, he's one of my very favorite actors. Looking forward to both even more after reading your piece!
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