Eu nunca vou me esquecer da emoção que senti quando vi “Os Sapatinhos
Vermelhos” (1948) pela primeira vez. Uma verdade pouco repetida é que a cor é
algo muito poderoso a ser usado no cinema, e com este musical os ingleses
Michael Powell e Emeric Pressburger atingiram seu auge de criação e execução
técnicas. Mas Powell e Pressburger fizeram outros belos filmes antes de contar
a jornada da bailarina em 1948. Escolhi um deles, “Neste mundo e no outro”
(1946) como um dos 12 clássicos que quero ver em 2016. E é curioso que em um
filme em que as cores são tão importantes, a primeira pergunta feita é: “seria
possível se apaixonar por uma voz?”.
I’ll
never forget the emotion I felt the first time I saw “The Red Shoes” (1948). A
truth not often told if that color is a very powerful element in the cinema,
and with this musical the English gentlemen Michael Powell and Emeric Pressburger
had their greatest technical achievement. But Powell and Pressburger made other
wonderful movies before telling the ballerina’s journey in 1948. I chose one of
them, “A Matter of Life and Death” (1946) as one of the 12 classic films I want to see in 2016. And it is curious that a movie in which colors are so important
begins with the question: “can someone fall in love with a voice”?
Logo na sequência inicial, o avião de Peter Carter (David Niven) está em
chamas, e seu rosto é iluminado apenas pelo fogo. Ele estabelece contato com a
base aérea, e dita para a controladora June (Kim Hunter) um telegrama que ela
deve enviar para a mãe dele. Ele quer tão somente que a mãe saiba que ele a
amava. E, anotando o recado, June tem seus olhos cobertos, a boca e o microfone
iluminados, e fica em choque com a tranquilidade de Peter, que está prestes a
pular do avião sem paraquedas.
In
the opening sequence, Peter Carter’s (David Niven) plane is on fire, and his
face is lightened only by fire. He is able to contact the aerial base, and
dictates to American WAC June (Kim Hunter) a telegram she is supposed to send
his mother. He only wants his mother to know how much he loved her. And, taking
the note, June has her eyes covered by darkness, the mouth and the microphone lightened,
and is disturbed by Peter’s calm, after all, he is about to jump without a
parachute.
Peter deveria chegar ao céu. Deveria. O céu é todo em preto e branco,
muito organizado, um lugar onde não há mais hierarquia militar: no céu, todos
são irmãos. Mas Peter não chega ao céu por causa de um erro do Condutor 71
(Marius Goring, com muito batom), que então precisa ir até a Terra para
corrigir seu erro.
Peter
should go to Heaven. He should. Heaven is all in black and white, a very
organized place, a place where there is no more military hierarchy: in Heaven,
all men are brothers. But Peter doesn’t go to Heaven due to a mistake made by
Condutor 71 (Marius Goring, with a lot of lipstick). The Conductor now must
visit Earth to correct his mistake.
Peter pulou do avião, mas caiu no mar e foi levado pelas ondas até à
praia. Ele estava pronto para morrer, mas vive e vai atrás de June. É amor à
primeira vista. Mas a felicidade é perturbada pelas duas visitas do Condutor, e
June decide pedir ajuda ao doutor Reeves (Roger Livesey), um neurologista, para
tratar das “alucinações” de Peter.
Peter
jumped from the airplane, but he fell at the sea and was taken by the waves to
the beach. He was ready to die, but he lives and goes after June. It is love at
first sight. But their happiness is disturbed by the Conductor, and June
decides to ask doctor Reeves (Roger Livesey), a neurologist, for help with
Peter’s “hallucinations”.
Há uma esperança: o caso de Peter será julgado no tribunal celestial, e o
doutor Reeves arranja um ótimo cirurgião para fazer uma complicada cirurgia
cerebral em Peter. O julgamento não será nada fácil com Abraham Farlan (Raymond
Massey) na promotoria, e o caso será muito mais sobre a rivalidade entre
ingleses e americanos que sobre o caráter de Peter. É muito interessante notar
isso num filme inglês, feito no último grande momento de supremacia da
Inglaterra como superpotência mundial.
But
there is hope: Peter’s case will be judged in Heavenly court, and doctor Reeves
convinces a great surgeon to operate Peter’s brain, even though it is a
complicated procedure. The judgment won’t be easy with Abraham Farlan (Raymond
Massey) as the prosecutor, and the case will be much more about the rivalry
between the English and the American than about Peter’s character. It is very
interesting to notice such a conflict in an English movie made in the last great
moment of England’s world dominance.
Em um mundo em guerra, cinzento e insuportável, esperava-se que o céu ao
menos fosse colorido e alegre. Mas não no caso de Peter: ao conhecer June ele
voltou a ver beleza neste mundo, e o outro representa apenas a separação deles.
O que a defesa de Peter precisa provar? Que ele e June se amam de verdade, e
que é o amor a única coisa que constrói no mundo: uma mensagem fundamental em
tempos tão sombrios.
In
a world that was at war and everything was gray and sad, it was expected that
at least Heaven would be colorful and bright. But not in Peter’s case: when he
met June he once again saw beauty in this world, and the other world represents
to him only a painful separation. What must Peter’s defense prove? That he and
June truly love each other, and that love is the only thing that can build in
the world: a fundamental message in somber times.
Além do uso das cores, a trilha sonora é o destaque. A música também é
diferente no céu e na terra, e cada nota traduz perfeitamente as emoções dos
personagens. Mas só cores, sons e a história juntos podem criar aquele que o
próprio Michael Powell apontou como o favorito de seus filmes. Você ainda não
viveu a magia do cinema se não viu “Neste mundo e no outro”.
Besides
the use of colors, the soundtrack is also outstanding. The music is different
for Heaven and Earth, and each not translates perfectly what the characters are
feeling. But only colors, sounds and the story put together could create the
movie appointed by Michael Powell himself as the favorite of his filmography.
You haven’t lived true cinematic magic if you haven’t watched “A matter of life
and death”.
This
is my contribution to the 3rd Annual British Invaders Blogathon,
hosted by my friend Terence at A Shroud of Thoughts.
You chose an excellent film for the blogathon. Truly one of the greatest fantasies ever made. I never get tired of watching the wonderful cast.
ReplyDeleteAwesome review! I remember, this is the first Powell and Pressburger's film I saw! It's so special, both visually and narratively. :)
ReplyDeleteso many films from Britannia! And I like David Niven- I should watch this- it sounds really sweet! Rule of thumb is British films are usually funnier, more romantic and have good plots and this fits that description!
ReplyDeleteI've always been a huge fan of the Archers. A Matter of Life and Death is my second favourite film they made (after The Red Shoes) and my second favourite Michael Powell film (after Peeping Tom and The Red Shoes). I have to also say I've always had a weakness for fantasy films of this type and the Archers did a very good job with it! Anyway, thank you so much for participating in the blogathon and for making this fine post!
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