} Crítica Retrô: May 2020

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Wednesday, May 20, 2020

Cinco Clássicos para Dias Difíceis

Five Classics for Comfort

Enquanto houver cinema, haverá esperança. Este é o mantra que eu adotei nos últimos anos, quando a realidade começou a parecer um filme de terror e os tempos ficaram difíceis demais para nós, sonhadores. Em certo sentido, o cinema sempre me salvou de me afogar em minhas próprias emoções e desgostos. É isso: o cinema salva. Ele pode distrair, emocionar, confortar, maravilhar, inspirar. Quando eu era uma adolescente que sofria bullying, mais de 10 anos atrás, foi o cinema que me deu força para prosseguir, então por que o cinema não poderia fazer o mesmo pelo mundo todo durante uma pandemia? Para este momento, e para qualquer outro momento difícil, eu ofereço minha lista de cinco clássicos para dias difíceis:

As long as there is cinema, there is hope. This is the mantra I have adopted in the last few years, when reality started looking like a horror movie and times became too hard for us, dreamers. In a sense, cinema has always saved me from drowning in my own emotions and sorrows. That's it: cinema saves. It can distract, move, comfort, amuse, inspire. When I was a bullied teenager, over ten years ago, it was cinema that gave me strength to carry on, so why can't cinema do the same for the whole world during a pandemic? For this time, and for any other difficult time, I offer my top five comfort films:

Uma Semana (1920): Sinceramente, eu poderia ter escolhido qualquer filme de Buster Keaton. O homem que nunca ri, ironicamente, nunca falha em colocar um sorriso no meu rosto. “Uma Semana” foi o primeiro curta-metragem solo de Keaton – sem seu mentor no cinema, Roscoe Arbuckle – e é o meu favorito de seus curtas. Os recém-casados Buster e Sybil Seely recebem como presente de casamento uma casa montável que acaba ficando... peculiar. Hilário, adorável e surpreendente, “Uma Semana” é uma pequena dose de felicidade.

One Week (1920): Sincerely, I could have chosen any Buster Keaton film. The man who never laughs, ironically, never fails to put a smile on my face. “One Week” was Keaton's first solo short – without his movie mentor Roscoe Arbuckle – and it's my favorite. Newlyweds Buster and Sybil Seely receive as a wedding gift a DIY house that ends up being very... unique. Hilarious, lovely and surprising, “One Week” is a small doses of happiness.

“Uma Semana” foi recentemente exibido no Silent Comedy Watch Party, que foi a única coisa boa que este caos trouxe. Esta iniciativa traz curtas-metragens mudos exibidos com acompanhamento ao vivo do pianista Ben Model e comentários do historiador Steve Massa. A exibição semanal tem mantido a minha sanidade – e também a de muitos cinéfilos.

“One Week” was recently featured at the Silent Comedy Watch Party aka the only good thing that this chaos brought. This initiative brings silent shorts played with live music accompaniment by pianist Ben Model and commentary by historian Steve Massa. The weekly party has kept me – and many more film fans – sane.

Cantando na Chuva (1952): Há algum filme mais feliz do que “Cantando na Chuva”? Eu acho que não. Eu imagino que as pessoas que trabalhavam no cinema se desesperaram quando os filmes falados surgiram. É assustador seguir em frente quando você não sabe o que o futuro lhe reserva, certo? Você pode estar vivendo isso agora, ou já viveu, ou ainda vai viver, por isso tenha certeza: o show precisa continuar. “Cantando na Chuva” nos ensina que devemos nos adaptar como Don Lockwood, ter um amigo leal e esforçado como Cosmo Brown e seguir nossos sonhos como Kathy Selden – e de preferência, mantendo um senso de humor que nos permita zombar de um técnico de voz de vez em quando.

Singin' in the Rain (1952): Is there a happier movie than “Singin' in the Rain”? I don't think so. I imagine people working in movies got desperate when talkies became a thing. It's scary to go on when you don't know what the future has in store to you, right? You may be living this right now, or have lived this, or will live, so be sure: the show must go on. “Singin' in the Rain” teaches us that we must adapt like Don Lockwood, have a loyal and hardworking friend like Cosmo Brown and follow our dreams like Kathy Selden – and hopefully, keeping a sense of humor that allows us to mock a voice coach sometimes. 

Meu Tio (1958): Esta belezinha francesa funciona basicamente como um filme mudo. Monsieur Hulot, o tio, interpretado pelo próprio diretor Jacques Tati, vive uma vida simples em um bairro pobre. Enquanto isso, sua irmã, cunhado e sobrinho vivem em uma casa tecnológica e os dois adultos pensam que podem ajudar Hulot a ter uma vida melhor. Isso leva ao conflito entre o velho e o novo, e a várias gags visuais deliciosas. Além disso, por causa deste filme eu sempre serei louca por uma fonte em forma de peixe.

Mon Oncle (1958): This French beauty basically works as a silent film. Monsieur Hulot, the uncle, played by director Jacques Tati himself, lives a simple life in a poor neighborhood. Meanwhile, his sister, brother-in-law and nephew live in a high-tech house and the two adults think they can help Hulot have a better life. This leads to the conflict between old and new, and a lot of delightful visual gags. Also, because of this film I'll be forever obsessed with a fish-shaped fountain.

Descalços no Parque (1967): Assim como “Cantando na Chuva”, este filme mostra que, depois que as dificuldades são superadas, vem a alegria. Corie (Jane Fonda) e Paul (Robert Redford) são recém-casados e muito diferentes: Corie é extravagante e espontânea, enquanto Paul é quieto e sério. A tentativa deles de encontrar um equilíbrio conforme começam uma nova vida juntos é uma graça, e a noite de aventuras com a mãe de Corie e com um vizinho é brilhante. Você pode ler mais sobre “Descalços no Parque” AQUI.

Barefoot in the Park (1967): Just like “Singin' in the Rain”, this film shows that, after hardships are overcome, there comes bliss. Corie (Jane Fonda) and Paul (Robert Redford) are newlyweds and very different: Corie is extravagant and spontaneous, while Paul is quiet and serious. Their attempt to find balance as they begin a new life together is heartwarming, and their night out with Corie’s mother and a neighbor is priceless. You can read all my thoughts about “Barefoot in the Park” HERE.

Era uma Vez em Hollywood, a trilogia: Sinto que estou trapaceando duas vezes aqui porque estou escolhendo uma trilogia e esta trilogia tem pedaços de muitos filmes. De qualquer forma, os musicais sempre, sempre me deixam feliz. Eles foram minha fonte de esperança nos dias tristes da minha adolescência, e eu tinha 17 anos quando vi pela primeira vez “Era uma Vez em Hollywood” (1974). Este filme, assim como “Isso Também Era Hollywood” (1976) e “Era uma Vez em Hollywood – Parte III” (1994), traz uma compilação de clipes de musicais da era de ouro e também algumas cenas descartadas e material dos bastidores. Ah, e eu mencionei que o segundo filme traz Fred Astaire e Gene Kelly dançando juntos, 30 anos depois da primeira vez que eles fizeram ISSO? Porque isso acontece e é incrível. Essa trilogia prova que o cinema é, realmente, uma fábrica de sonhos e de esperança.

That's Entertainment! Trilogy: I feel like I'm cheating twice here because I'm choosing a trilogy and this trilogy has bits of many films. Anyway, musicals always, always make me happy. They were my main source of hope in my sad teen years, and I was 17 when I first saw “That's Entertainment! - Part 1” (1974). This film, and also Part II (released in 1976) and Part 3 (released in 1994), brings a compilation of clips from Golden Age musicals and also some unused footage and behind-the-scenes material. Oh, have I said that Part II brings Fred Astaire and Gene Kelly singing and dancing together, 30 years after the first time they did THIS? Because it does and it's awesome. This trilogy show that cinema really is a dream – and hope – factory.

This is my contribution to the Classics for Comfort blogathon, hosted by the Classic Movie Blog Association.

Friday, May 15, 2020

TOP 6 – Meus filmes favoritos da década de 1960

TOP 6 – My favorite films of the 1960s

Ah, os psicodélicos anos 60! O mundo estava mudando e o cinema também se modificava. O Sistema de Estúdio estava vivendo seus últimos anos. A categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira havia sido introduzida no Oscar na década anterior, e os filmes de língua não-inglesa ficavam cada vez melhores e mais acessíveis. Novas estrelas surgiam e algumas estrelas antigas se reinventavam. Muitos filmes divertidos, inspiradores, ousados e mesmo malucos foram feitos nesta década. Por isso foi uma tarefa difícil escolher meus seis filmes favoritos dos anos 60. Curiosamente, acabei com uma lista com dois dramas e quatro comédias!

Oh, the swinging 60s! The world was changing, and the movie world was changing as well. The Studio System was living its last years. The Best Foreign Language Movie category had been created the decade before at the Oscar, and films not English were getting better and more widespread. New stars were blossoming and some old ones were reinventing themselves. Many funny, thoughtful, daring and even psychdelic movies were made during this decade. That's why it was a hard mission to choose my six favorite movies of the 1960s. Curiously, I ended up with two dramas and four comedies!

Menções honrosas: “Cupido Não Tem Bandeira” (1961), “Anjos Rebeldes” (1966) e “Descalços no Parque” (1967).

Honorable mentions: “One, Two, Three” (1961), “The Trouble with Angels” (1966) and “Barefoot in the Park”(1967).

E os filmes escolhidos, em ordem cronológica:

And the chosen movies, in chronological order:

Nunca aos Domingos (1960): Este filme é absolutamente delicioso. O diretor Jules Dassin interpreta um intelectual que quer compreender a decadência da civilização grega. Ele acredita que a Grécia não é mais o berço de artistas e filósofos como no passado porque os gregos modernos se divertem demais. Ele inicia uma cruzada para fazer a Grécia séria novamente, focando na prostituta Ilya (Melina Mercouri, esposa de Dassin), uma amante da diversão. O filme ganhou o Oscar de Melhor Canção Original, sendo a primeira vez que uma música cantada em línguadiferente do inglês levou o prêmio.

Never on Sunday (1960): This film is an absolute delight. Director Jules Dassin also stars as a scholar who wants to comprehend the downfall of Greek civilization. He thinks that Greece is no longer producing artists and philosophers like it once did because the modern Greeks have too much fun. He starts a crusade to make Greece serious again, focusing his case in the prostitute Ilya (Melina Mercouri, Dassin’s wife), a fun-loving woman. The film won the Best Original Song Oscar, and it was the first time a song not in English received the award.

O Pagador de Promessas (1962): Zé do Burro (Leonardo Villar) prometeu doar sua terra e carregar uma enorme cruz – como a cruz de Cristo – de sua casa até uma igreja caso seu melhor amigo fosse curado de uma doença grave. O amigo é curado, e Zé está a caminho da igreja... O problema é que seu melhor amigo é um burro, e isso causa frisson, especialmente, no clero: qual será o impacto para a igreja se deixarmos este homem fazer tamanho sacrifício por causa de um insignificante burro? Outras questões como intolerância a religiões de origem africana, sensacionalismo da imprensa e reforma agrária são discutidos no filme. Se este filme tivesse sido feito na Itália, seria matéria obrigatória em todos os cursos de cinema do mundo. “O Pagador de Promessas” não é uma curiosidade do cinema latino-americano. É uma obra-prima.

The Given Word aka O Pagador de Promessas (1962): Zé do Burro (Leonardo Villar) promised to give away his land and carry a huge cross – like Jesus’ cross – from his house to a church if his best friend was cured from a serious disease. His friend is cured, and Zé is en route to the church… The problem is that his best friend is a donkey, and this fact causes uproar, mainly, in the clergy: what will the impact on the church be if we let a man make such a sacrifice for an insignificant donkey? Other issues like intolerance against African religions, sensationalist press and land reform are tackled in this movie. If this film was made in Italy, it’d be mandatory viewing in all film courses in the world. “The Given Word” is not a curiosity from Latin-American cinema. It’s a masterpiece.

A Pantera Cor de Rosa (1963): Sim, o original. Com Peter Sellers e seu Stradivarius, Claudia Cardinale, Capucine, Herbert Lom, David Niven e Robert Wagner. Ah, e também uma certa pantera nos créditos iniciais. Há uma coleção de ótimas gags clássicas nesta comédia deliciosa, e o clímax da ação acontece numa festa à fantasia com uma perseguição. O que mais eu – ou qualquer pessoa – poderia desejar?

The Pink Panther (1963): Yes, the original. With Peter Sellers and his Stradivarius, Claudia Cardinale, Capucine, Herbert Lom, David Niven and Robert Wagner. And, oh, also a certain panther in the opening credits. There is a collection of great classic gags in this delightful comedy, and all the action climaxes in a costume party with a chase. What else could I – or anyone – ask for?

A Senhora e seus Maridos (1964): Louisa (Shirley MacLaine) se casou quatro vezes com caras simples que de repente se tornaram muito ricos. A riqueza trouxe infelicidade e a morte prematura para os quatro homens. Os maridos da senhora foram Dick van Dyke, Paul Newman, Dean Martin e Gene Kelly, e a vida de casada com cada um deles é mostrada como um tipo diferente de minifilme – filme mudo, filme francês sensual, musical extravagante... Um filme hilário, inventivo e visualmente incrível, “A Senhora e seus Maridos” é uma fábrica de sorrisos.

What a Way to Go! (1964): Louisa (Shirley MacLaine) got married four times to simple fellows who suddenly became very rich. Their wealth brought sadness and their premature deaths. Her husbands were Dick van Dyke, Paul Newman, Dean Martin and Gene Kelly, and each married life is seen as a different kind of mini-movie – silent movie, French sexy movie, lavish musical... A hilarious, inventive and visually stunning film, “What a Way to Go!” is a smile factory.

Robin Hood de Chicago (1964): Este filme mistura dois dos meus gêneros favoritos: musicais e filmes de gângster. Ele também traz os talentos vocais e cômicos de Frank Sinatra, Bing Crosby, Sammy Davis Jr e Dean Martin. Com uma trama um bocado complicada, envolve oficiais corruptos, guerra de gangues, casas de jogo ilegais e, no meio disso tudo, Robbo (Sinatra), um gângster que rouba dos ricos para dar aos pobres – nesse caso, ele dá dinheiro a um orfanato. Há muitas canções memoráveis neste filme pouco conhecido, e “Style” é a minha favorita entre elas.

Robin and the 7 Hoods (1964): This film mixes two of my favorite genres: musicals and gangster movies. It also brings the vocal and comic talents of Frank Sinatra, Bing Crosby, Sammy Davis Jr and Dean Martin. With a rather complicated plot, it involves corrupt officers, gang wars, illegal gambling joints and, in the middle of all this, Robbo (Sinatra), a gangster who robs from the rich and gives to the poor – in this case, he gives money to a boys' orphanage. There are many memorable songs in this little known film, and “Style” is probably my favorite among them.

Doutor Jivago (1965): A Revolução Russa sempre foi um tema de me fascinou. “Doutor Jivago” me permitiu a oportunidade de ver como as pessoas viveram e reagiram à revolução – sim, claro que eu entende que a experiência de Yuri (Omar Sharif) e de sua família foram apenas um lado da história. Como historiadora, acho interessante comparar “Doutor Jivago” com os filmes feitos na União Soviética sobre o período e a vida durante e após a revolução. A verdade sobre a vida na Revolução Russa está em algum lugar entre essas duas narrativas – ou talvez ambas sejam verdadeiras. De qualquer forma, “Doutor Jivago” é um épico com uma fotografia maravilhosa, uma história de amor inesquecível e o incomparável Omar Sharif.

Doctor Zhivago (1965):The Russian Revolution was always a theme that fascinated me. “Doctor Zhivago” provided me with the opportunity to see how people lived and reacted to the revolution – yes, of course I understand Yuri's (Omar Sharif) and his family's experiences were only one side of the story. As a historian, I find it interesting to compare “Doctor Zhivago” to the films made in the Soviet Union about the period and the life during and after the revolution. The truth about living through the Russian Revolution is somewhere between these two narratives – or maybe both are true. Anyway, “Doctor Zhivago” is a beautifully shot epic with an unforgettable love story and the incomparable Omar Sharif.

This is my contribution to the 6 from the ‘60s blogathon, hosted by Rick at Classic Film & TV Cafe for National Classic Movie Day.

Wednesday, May 13, 2020

Nita Naldi: a vamp / Nita Naldi: the vamp

Nita Naldi. Que nome perfeito para uma estrela de cinema. Se a década de 1910 teve Theda Bara, os anos 20 tiveram Nita Naldi como a vamp perfeita. Com um rosto belo e expressivo e cabelo escuro, Nita costumava interpretar mulheres exóticas. Para ela, e para muitas outras atrizes da época, tudo começou no Ziegfeld Follies.

Nita Naldi. What a perfect name for a movie star. If the 1910s had Theda Bara, the 1920s has Nita Naldi as the perfect vamp. With a beautiful, expressive face and dark hair, Nita often played exotic women. For her, and for many other actresses of her time, it all started at the Ziegfeld Follies.

Nascida em Nova York em 1894, a garota foi batizada de Mary Nonna Dooley em homenagem à sua tia-avó, que era freira. Seus pais eram irlandeses. Em 1910 o pai deixou a família e em 1915 a mãe faleceu, deixando Mary Nonna e um irmão mais novo. Ela logo se juntou ao vaudeville, e depois de fazer parte do coro no espetáculo The Passing Show of 1918, com Fred e Adele Astaire, ela se juntou ao elenco do Ziegfeld Follies em 1918. Foi nesta época que ela mudou o nome para Nita Naldi, inspirada por Maria Naldi, antiga empregada da família que Nita considerava como irmã.

Born in New York in 1894, the little girl received the name Mary Nonna Dooley as a homage to her great-aunt, who was a nun. Her parents were Irish. In 1910 her father left the family and in 1915 her mother died, leaving Mary Nonna was and a younger brother. She soon entered the vaudeville circuit, and after being a chorus girl at The Passing Show of 1918, with Fred and Adele Astaire, she became part of the Ziegfeld Follies cast in 1918. It was during this time that she changed her name to Nita Naldi, after Maria Naldi, the former maid of the family who Nita considered as a sister.

Nita Naldi não é creditada em nenhuma edição do Ziegfeld Follies do final da década de 1910 e início da década de 1920, o que nos faz acreditar que ela fazia parte do coro numeroso cuja composição sempre mudava. Ela foi apenas anunciada numa produção de Ziegfeld em 1921, quando substituiu uma atriz no espetáculo “Sally”, interpretando a Sra Ten Broek.

Nita Naldi is not credited in any of the Ziegfeld Follies revues of the late 1910s and early 1920s, which makes us believe she was part of the numerous and ever-rotating chorus. She was only advertised in a Ziegfeld production in 1921, when she appeared as a replacement in the show “Sally”, where she played Mrs Ten Broek.

Em 1919, Florenz Ziegfeld contratou o pintor Alberto Vargas para pintar retratos das Ziegfeld Girls. Nita Naldi estava entre as primeiras garotas a terem seus retratos pintados. O peruano Vargas é considerado o pai da moda pin-up, e já é possível ver a firmeza e sofisticação de seus desenhos em 1920, quanto ele tinha apenas 24 anos de idade. Ele pintou Nita nua, abraçada à estátua de um fauno.

In 1919, Florenz Ziegfeld hired painter Alberto Vargas to paint the portraits of the Ziegfeld Girls. Nita Naldi was among the first girls to be painted. Peruvian Vargas is considered the father of the pin-up fad, and you can already see how firm and sophisticated his drawings were in 1920, when he was just 24 years old. He painted Nita naked, hugging the statue of a faun.

Embora “A Divorce of Convenience” tenha sido gravado primeiro, o filme estreou apenas em 1921, por isso a estreia oficial de Nita foi em “ O Médico e o Monstro” (1920). Neste filme, ela interpreta a dançarina italiana Miss Ginna, que é vista pelo Dr Jekyll (John Barrymore) num cabaré. Mais tarde, como Hyde, ele vai atrás dela em busca de prazer carnal, e encontra algo mais no curioso anel que ela usa. Barrymore ficou amigo de Nita, e a atriz mais tarde foi como uma segunda mãe para a filha de John, Diana. Diana deixou cinco mil dólares para Nita em seu testamento.

Although “A Divorce of Convenience” was the first film she shot, it only premiered in 1921, that’s why Nita’s oficial debut was “Dr Jekyll and Mr Hyde” (1920). In this film, she plays the Italian dancer Miss Ginna, who Dr Jekyll (John Barrymore) sees in a nightclub once. Later, as Mr Hyde, he goes after her looking for carnal pleasure, and finds a little more as she carries a curious little ring. Barrymore became friends with Nita, and the actress later served as a second mother to John’s daughter Diana. Indeed, Diana left 5,000 dollars to Nita in her will.

Não há dúvidas de que o filme mais famoso de Nita é “Sangue e Areia”, de 1922, para o qual ela foi escolhida pessoalmente pelo autor Vicente Blasco Ibañez quando ela fez ele perder a dentadura durante uma festa. Neste filme ela interpreta Doña Sol, uma mulher mais velha que seduz o toureiro Juan Gallardo, interpretado por Rodolfo Valentino, que era 11 anos mais novo que ela. Para mim, Nita é o grande destaque de “Sangue e Areia”. Este foi o primeiro de três filmes que ela faria com o amigo Valentino.

There is no doubt that Naldi’s most famous film is 1922’s “Blood and Sand”, for which she was personally chosen by author Vicente Blasco Ibañez when she caused him to drop his false teeth during a party. In this film she plays Doña Sol, an older woman who seduces the young bullfighter Juan Gallardo, played by Rudolf Valentino, who was 11 years her junior. To me, Naldi is the best in scene in “Blood and Sand”. This was the first of three films she would make with her friend Valentino.

Em 1923 Nita conseguiu um papel no épico “Os Dez Mandamentos”, de Cecil B. DeMille. O filme consiste, curiosamente, de duas partes: a primeira mostra Moisés libertando seu povo do cativeiro egípcio, enquanto a segunda mostra a importância de seguir os mandamentos no mundo moderno. Nita aparece na segunda parte como Sally, uma vamp asiática que é amante do corrupto magnata da construção Dan McTavish (Rod LaRocque). Um pequeno SPOILER aqui: a cena da morte de Sally, na qual ela segura uma cortina e as argolas se soltam uma por uma, inspirou Hitchcock na composição da cena do chuveiro em “Psicose” (1926).

In 1923 Nita got a role in Cecil B. DeMille’s epic “The Ten Commandments”. The film curiously consists of two parts: the first shows Moses freeing his people from the Egyptian captivity, while the second shows the importance of following the commandments in the modern world. Nita appears in the second part as Sally, an Asian vamp who is the lover of corrupted construction mogul Dan McTavish (Rod La Rocque). A little SPOILER here: her death scene, in which she holds a curtain and it breaks little by little, inspired Hitchcock while shooting the shower scene in “Psycho” (1960).

E é aí que a vida de Nita se encontra com a de Hitchcock. Em 1926 ela foi escalada no segundo filme do diretor, “The Mountain Eagle”, como a professora Beatrice. Nita estava saindo do estereótipo da vamp pela primeira vez na vida ao interpretar esta mulher indefesa. Infelizmente, “The Mountain Eagle” foi perdido, o que não incomodou Hitchcock, que considerava o filme horrível. Nita, Hitchcock e Alma Reville se tornaram bons amigos, e o casal inclusive passou um tempo com a atriz em Paris durante a lua de mel deles.

And this is where Nita’s life intersects with Hitchcock. In 1926 she was cast in the director’s second film, “The Mountain Eagle”, as the school teacher Beatrice. Nita was playing against type for the first time in her life, as a helpless woman. Unfortunately, “The Mountain Eagle” was lost, which didn’t disappoint Hitchcock, who thought the film was awful. Nita, Hitchcock and Alma Reville became good friends, and the couple even spent time with the actress in Paris during their honeymoon.

Nita Naldi nunca fez um filme falado. Em 1929 ela se casou com J. Searle Barclay, com quem já vivia desde o começo da década. Nita então voltou ao teatro, nos anos 40 encontrou emprego principalmente em casas de show e por vezes apareceu na televisão. Sua filmografia consiste de 30 títulos, alguns deles perdidos. Ela se foi em 1961, mas não foi esquecida: os filmes e as fotos de Nita estão aí para mostrar esta mulher poderosa, sedutora e deslumbrante. Você já viu um rosto tão belo quanto o de Nita?

Nita Naldi never made a talkie. In 1929 she married J. Searle Barclay, with whom she had already been living since the beginning of the decade. Nita then went back to theater, in the 1940s found work mainly in nightclubs and sometimes appeared on TV. Her filmography consists of 30 titles, some of them lost. Gone in 1961, but never forgotten: Nita’s films and photos are there to show this powerful, seductive and breathtaking woman. Have you ever seen a face like Nita’s?

This is my contribution to The Great Ziegfeld Blogathon, hosted by Zoe at Hollywood Genes.

Tuesday, May 5, 2020

Orfeu (1950) / Orphée (1950)

O que torna uma história um clássico? Como o diretor Jean Cocteau diz no começo de “Orfeu” (1950), uma lenda é uma história que ultrapassa as barreiras de tempo e espaço. É uma história universal, que pode acontecer em qualquer lugar, em qualquer momento, com qualquer um. O mesmo acontece com um clássico: é universal. Não importa quanto tempo se passou desde que o clássico surgiu, ele ainda mexe com a gente. E um clássico não é uma obra de arte orgulhosa: ele pode ser adaptado, mudado, subvertido – e ainda haverá uma bela história para ser contada. Esta subversão acontece com a lenda de Orfeu em “Orfeu” (1950), de Jean Cocteau.

What makes a classic? As director Jean Cocteau puts in the beginning of “Orpheus” (1950), a legend is a story beyond time and space. It’s a universal tale that can happen anywhere, anytime, with anyone. The same happens with a classic: it’s universal. No matter how long it has been since the classic appeared, it still speaks with us. And a classic is not a proud work of art either: it can be adapted, changed, subverted – and there will still be a beautiful story to be told. This subversion happens to the legend of Orpheus in Jean Cocteau’s “Orphée”, from 1950.

Orfeu (Jean Marais) é um poeta famoso. Um dia, ele está com um amigo no Café dos Poetas quando conhece Jacques Cegeste (Edouard Dermithe). Cegeste é um jovem poeta brilhante. Ele publicou um livro intitulado “Nudismo”: todas as páginas estão em branco. Cegeste é bancado financeiramente por uma mulher rica, conhecida simplesmente como A Princesa (María Casares). Orfeu fica intrigado com Cegeste, mas não tem tempo de conhecê-lo.

Orphée (Jean Marais) is a famous poet. One day, he is hanging out with a friend at the Poets’ Café when he meets Jacques Cegeste (Edouard Dermithe). Cegeste is a brilliant new poet. He has published a book called “Nudism”: all pages are blank. Cegeste is supported financially by a rich woman, known simply as The Princess (María Casares). Orphée finds Cegeste intriguing, but has no time to get to know him.

Cegeste é atropelado por uma motocicleta em frente ao Café dos Poetas. A Princesa o coloca no carro dela e pede que Orfeu venha com eles para “servir de testemunha”. Orfeu os segue, e percebe que Cesgeste já está morto. A Princesa leva o corpo de Cegeste para casa, onde ela revela sua verdadeira identidade: ela é a Morte. Orfeu, chocado, observa a Morte e Cegeste cruzando o limite entre a vida e a morte e desmaia.

Cegeste is run over by a motorcycle in front of the Poets’ Café. The Princess puts him in her car and asks Orphée to come with them “to serve as a witness”. Orphée goes with them, and realizes Cegeste is already dead. The Princess takes Cegeste’s body to her house, where she reveals to be… Death. A shocked Orphée sees Death and Cegeste crossing the limit between life and death and collapses.

No dia seguinte, Orfeu é levado para casa por Heurtebise (François Périer). A esposa de Orfeu, Eurídice (Marie Déa), está preocupada com o desaparecimento do marido, e ansiosa para contar para ele que ela está grávida. Orfeu não fica nem um pouco animado. Ele está agora obcecado com uma estação de rádio peculiar que dita pequenos versos – versos melhores do que qualquer coisa que ele já escreveu. Orfeu começa a mandar os versos que ouviu no rádio para o jornal e isso chama a atenção do comissário local, porque os versos são idênticos aos escritos de Cegeste, e Orfeu se torna suspeito de matar – ou ao menos sequestrar – Cegeste

The following day, Orphée is taken home by Heurtebise (François Périer). Orphée’s wife, Eurydice (Marie Déa), is worried about her husband’s disappearance, and longing to tell him she found out she’s pregnant. Orphée couldn’t be less thrilled. He is now obsessed with a peculiar radio station that dictates little verses – verses better than everything he ever wrote. Orphée starts sending the verses he hears on radio to the newspaper and it calls the attention of the local commissar, because the verses are just like Cegeste’s work, and Orphée becomes a suspect of killing – or at least kidnapping – Cegeste.

A Morte vem para Eurídice. Orfeu se desespera com a morte de sua esposa, e Heurtebise, que havia se apaixonado por Eurídice, decide ajudar, contando um segredo de outro mundo: “Olhe para um espelho sua vida toda e você verá a Morte trabalhando” – os espelhos são o que separam os vivos dos mortos. Orfeu cruza este limite para trazer sua esposa de volta, mas descobre que a Morte está apaixonada por ele.

Death comes for Eurydice. Orphée becomes desperate with the death of his wife, and Heurtebise, who had fallen in love with Eurydice, decides to help, telling an otherworldly secret: “Look at a mirror your whole life and you’ll see Death working” – mirror are the things that separate the living from the dead. Orphée crosses this limit in order to bring his wife back, but finds out that Death is in love with him.

Foi o próprio Cocteau que escreveu o roteiro, subvertendo a antiga lenda e criando dois malfadados casais: Orfeu e a Morte e Eurídice e Heurtebise. Cocteau também foi o narrado do filme. De certa forma, Cocteau criou uma “trilogia de Orfeu”: três filmes baseados na lenda. “Orfeu” é o segundo da trilogia, sendo os outros dois “Sangue de um Poeta” (1932) e “O Testamento de Orfeu” (1960), seu último filme.

It was Cocteau himself who wrote the screenplay, subverting the old legend and creating two doomed couples: Orphée and Death and Eurydice and Heurtebise. Cocteau also provided the narration. In a certain way, Cocteau built an “Orphic Trilogy”: three films based on the legend. “Orphée” is the second of the trilogy, the other two are “Blood of a Poet” (1932) and “Testament of Orpheus” (1960), his last film.

O compositor Georges Auric fez um excelente trabalho em “Orfeu”, em especial na cena em que Orfeu procura a Morte em uma rua movimentada. Auric teve uma longa carreira no cinema, começando com meu favorito, “A Nós a Liberdade” (1931), trabalhando várias vezes com Cocteau – como na obra-prima “A Bela e a Fera” (1946) –, arrasando em “Rififi” (1955) e até compondo para filmes de Hollywood como “César e Cleópatra” (1945), “A Princesa e o Plebeu” (1953) e “Mais Uma Vez, Adeus” (1961).

Composer Georges Auric did a wonderful job in “Orphée”, in special in the scene in which Orphée looks for Death in a busy street. Auric had a long career in film, starting with my personal favorite “A Nous la Liberté” (1931), working several times with Cocteau – like in his masterpiece “La Belle et la Bête” (1946) –, doing great in “Rififi” (1955) and even composing for Hollywood films such as “Cesar and Cleopatra” (1945), “Roman Holiday” (1953) and “Goodbye Again” (1961).

Nos anos 50, outra adaptação da lenda de Orfeu apareceria e se tornaria filme em 1959: “Orfeu Negro”, com a história ambientada no Rio de Janeiro durante o Carnaval. Esta versão é tão interessante quanto a de Cocteau. Cocteau conseguiu, ao recontar a história, mostrar que o amor após a morte é complicado, e o sacrifício é necessário para atingir a felicidade em todo lugar – até mesmo no submundo. Bravo.

In the 1950s, another adaptation of the legend of Orpheus would appear and become a film in 1959: “Black Orpheus”, with the story set in Rio de Janeiro during Carnaval. This version is as interesting as Cocteau’s. Cocteau managed, with his retelling, to show that love after death is a complicated thing, and sacrifice is necessary to be happy everywhere – even in the underworld. Bravo.

This is my contribution to the Love Goes On blogathon, hosted by Steve at MovieMovieBlogBlog II.