Vamos direto ao ponto: aqui no Brasil consideramos que o Pai da Aviação – isto é, o inventor do avião – é Alberto Santos Dumont. Porque ele era brasileiro. E por outros motivos: por exemplo, o Aeroclube Francês, mais importante instituição da aviação no começo do século XX, só considerava “máquinas voadoras” as geringonças que conseguiam levantar voo sozinhas e fossem completamente controladas pelo piloto. Os irmãos Wright criaram uma máquina em 1903 que não levantava voo sozinha, por isso o Aeroclube Francês considerou que o 14-Bis de Santos Dumont foi a primeira máquina voadora mais pesada que o ar. Vale também mencionar que a máquina de Dumont voou, em 1906, uma distância maior que a dos irmãos Wright percorreu três anos antes, e também era mais rápida – tinha três vezes a velocidade da máquina dos irmãos.
First things first: here in Brazil we consider the Father of Aviation – aka the inventor of the airplane – to be Alberto Santos Dumont. Because he was Brazilian. And because of other causes: for instance, the French Aero Club, the most important flying institution in the early 20th century, only considered to be “flying machines” the objects that could take off on their own and were completely controlled by the pilot. The Wright brothers created a machine in 1903 that couldn’t take off on its own, so the French Aero Club considered Santos Dumont’s 14-Bis the first flying machine that was heavier than air. It’s worth noticing that Dumont’s machine flew, in 1906, further than the Wright brothers’ tool did three years before, and it was also quicker – three times the brothers’ speed.
Agora que esclarecemos este pequeno detalhe, posso falar mais sobre Santos Dumont. Conhecido na França como “petit Santos” (pequeno Santos), Alberto Santos Dumont era um homem pequeno com grandes sonhos. Filho de um engenheiro, desde a infância Dumont mostrou ser um carinha curioso e um leitor voraz, sendo grande fã dos livros de aventura de Júlio Verne. Em vez de cuidar os negócios da família, Dumont teve a permissão do pai para estudar mecânica em Paris.
Now that this tiny detail was clarified, I can tell more about Santos Dumont. Known in France as “petit Santos” (little Santos), Alberto Santos Dumont was a short man with big dreams. The son of an engineer, since his childhood Dumont showed that he was a curious fellow and an avid reader, being a huge fan of Jules Verne’s adventure books. Instead of taking care of the family’s business, Dumont was allowed by his father to study mechanics in Paris.
E foi em Paris que a criatividade de Dumont floresceu. Vamos nos lembrar de que aquela era a Belle Époque, época logo antes da Primeira Guerra Mundial quando Paris era o centro do mundo, cheia de artistas e inventores. Dumont era um deles. Inspirado por Thomas Edison, ele inventou várias coisas, incluindo o relógio de pulso para monitorar o tempo de voo em seus dirigíveis. Sim, é verdade: se você tem um relógio de pulso, agradeça a Santos Dumont.
And it was in Paris that Dumont’s creativity flourished. Let’s remember that this was the Belle Époque, the time right before World War I when Paris was the center of the world, full of artists and inventors. Dumont was one of the latter kind. Inspired by Thomas Edison, he invented several things, including the wrist watch to keep track of how long his flights in dirigibles lasted. Yes, that’s true: if you have a wrist watch, you can thank Santos Dumont.
Dumont nunca patenteou suas criações; ele acreditava que o conhecimento deveria ser de domínio público. Ele também mostrava suas invenções em público e as testava, e isso incluía suas várias máquinas voadoras, também em público, ao contrário dos irmãos Wright. Fracassos aconteciam com frequência, mas o sucesso veio no final.
Dumont never patented any of his creations: he believed that knowledge should be public domain. He also showed his inventions in public and tested them, including the many flying machines he created, also in public, something the Wright brothers didn’t do. Failures happened constantly, but success eventually came.
E agora encontramos a relação entre Santos Dumont e o cinema – afinal, este é um blog de cinema, certo? Dumont foi filmado em 1901 por William K-L Dickson e o filme, que durava menos de um minuto, fo exibido no Palace Theatre de Londres. O filme é intitutlado “Santos Dumont Explaining His Air Ship to the Hon. C.S. Rolls” (“Santos Dumont Explicando sua Máquina Voadora para o Honorável C.S. Rolls”). Nele, Dumont simplesmente mostra alguns papéis, notas, ferramentas e desenhos para Charles Rolls, que iria, anos mais tarde, criar a Rolls-Royce.
And now we find the relationship between Santos Dumont and cinema – after all, this is a film blog, isn’t it? Dumont was filmed in 1901 by William K-L Dickson and the movie, that lasted less than one minute, was exhibited in the Palace Theatre in London. The movie is titled “Santos Dumont Explaining His Air Ship to the Hon. C.S. Rolls”. In it, Dumont simply shows some papers, notes, tools and drawings to Charles Rolls, who would, years later, create Rolls-Royce.
Este pequeno filme foi exibido em 1901, quando Dumont estava em Londres para receber uma homenagem do Aeroclube Britânico por ter ganhado o Prêmio Deutsch – isto é, o prêmio dado a quem conseguisse circumnavegar a Torre Eiffel com uma máquina voadora. Por mais de um século, o filme de Dumont foi considerado perdido.
This little film was exhibited in 1901, when Dumont was in London to receive a homage at the British Aero Club for winning the Deutsch Award in Paris – that is, the award given to anyone who could use a flying machine to circumnavigate the Eiffel Tower. For more than one century, Dumont’s film was considered lost.
Em 2002, o pesquisador Carlos Adriano encontrou no Museu Paulista da Universidade de São Paulo um kinetoscópio contendo diversas imagens do filme. Com as imagens, foi possível basicamente restaurar o filme à sua forma original... e você pode vê-lo abaixo:
In 2002, researcher Carlos Adriano found in the Museum Paulista from the University of São Paulo a kinetoscope containing several images of the movie. From the images, the movie could basically be restored to its original form... and you can see it below:
Esta
não foi a única vez em que Santos Dumont apareceu num filme. Ele e
suas invenções foram constantemente filmados para newsreels, para a
companhia Pathé, ou para os filmes documentais dos irmãos Lumière.
O 14-Bis é comumente considerado o principal invento da carreira de
Santos Dumont, mas nestes newsreels ele é celebrado por seus muitos
dirigíveis e outras máquinas voadoras.
This wasn’t the only time Santos Dumont appeared in a film. He and his inventions were constantly filmed for newsreels, for the Pathé company, or for the documental films by the Lumière brothers. The 14-Bis is usually considered the crowning jewel in Santos Dumont’s career, but in those newsreels he is celebrated by his many dirigibles and other airships.
Infelizmente, Dumont viu com horror que sua invenção se tornou uma máquina de matar na Primeira Guerra Mundial e, algo que lhe causou ainda mais dor, na Revolução Constitucionalista de 1932 no Brasil. Desolado, Santos Dumont cometeu suicídio em 1932, poucos dias após seu 59º aniversário.
Unfortunately, Dumont saw with horror that his invention became a killing machine in World War I and, what caused him more pain, in the 1932 Constitutional revolution in Brazil. Desolated, Santos Dumont committed suicide in 1932, days after his 59th birthday.
Mas Santos Dumont nunca foi esquecido – nem mesmo pelo cinema. Ele foi assunto de diversos documentários ao longo dos anos. Em 2019, a vida de Santos Dumont foi contada na brilhante minissérie de TV “Santos Dumont: Mais Leve que o Ar”, co-produzida pela HBO. Mais que o Pai da Aviação e um inventor engenhoso, Santos Dumont, que nunca parou de sonhar, é uma inspiração.
But Santos Dumont was never forgotten – not even by cinema. He was the subject of several documentaries over the years. In 2019 Santos Dumont’s life was told in the brilliant TV minisseries “Santos Dumont: Lighter than Air”, co-produced by HBO. More than the Father of Aviation and an ingenuous inventor, Santos Dumont, who never stopped dreaming, is an inspiration.
This is my contribution to the Aviation in Film blogathon, hosted by Rebecca at Taking Up Room. Fasten your seatbelts for the landing, please.
I had heard of Dumont before, but never fully appreciated the man's humanity, his wish for the world to benefit from his inventions through the public domain, and his horror of them being used in war. We could use more like him in the 21st century!
ReplyDeleteThe discussion about who was the "first" to do something always are interesting when there was such a race like there was in aviation!
ReplyDeleteI'm embarrassed to say I hadn't heard of Santos Dumont before, but I'm glad to have learned about him now. What a remarkable man! I admire that he didn't patent his inventions for the good of his fellow man. He was a rare breed indeed.
ReplyDeleteFascinating! Dumont seems like the Tesla of aviation. I will never look at my wristwatch the same way again. Thanks so much for joining the blogathon with this terrific review.
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