Uma Pistola para Djeca (1969): western, Brazilian style
Era uma vez - em meados do século XX - quando um dos astros mais populares do cinema brasileiro era um caipira, Amácio Mazzaropi. Na verdade, ele nasceu em São Paulo, a maior cidade do Brasil, mas sua persona cinematográfica era a de um homem caipira, o “Jeca”. Em seus filmes, quase todos sucessos de bilheteria, Mazzaropi manteve seu coração no interior do Brasil, mas encontrou inspiração em outros lugares - incluindo no gênero faroeste.
Once upon a time - in the mid 20th century - one of the most popular stars in Brazilian cinema was a man of the countryside, Amácio Mazzaropi. He was actually born in São Paulo, Brazil’s biggest city, but his screen persona was of a man from the countryside, the “Jeca”. In his movies, almost always box-office hits, Mazzaropi kept his heart in the countryside, but found inspiration everywhere - including in the western genre.
Mazzaropi parodiou o faroeste em “Uma Pistola para Djeca” (1969). Neste filme, ele interpreta Gumercindo, um fazendeiro cheio de problemas que acredita que todos estes problemas iriam embora se ele tivesse uma pistola. Um dos problemas é grupal: muitos roubos de gado estão acontecendo na região, afetando vários dos amigos de Gumercindo.
Mazzaropi’s western spoof is “Uma Pistola para Djeca” (A Pistol for Djeca, 1969). In this movie, he plays Gumercindo, a farmer full of troubles who believes all his troubles will go away if he gets a pistol. One of the troubles is a group issue: many cattle robberies are happening in the region, affecting several of Gumercindo’s friends.
Outro problema é com a família: a única filha de Gumercindo, Eulália (Patrícia Mayo), foi estuprada pelo filho do latifundiário mais importante da região, o Coronel Arnaldo (Rogério Câmara). O homem nunca foi julgado por seu crime e agora o neto de Gumercindo, Paulinho (Milton Pereira), sofre na escola porque não tem pai.
Another problem is a family one: Gumercindo’s only daughter, Eulália (Patrícia Mayo), was raped many years ago by the son of the most important landowner of the region, Colonel Arnaldo (Rogério Câmara). The man was never judged by his crime and now Gumercindo’s grandson, Paulinho (Milton Pereira), is bullied at school because he doesn’t have a father.
O desejo de Gumercindo se torna realidade quando a viúva Eufrásia (Zaira Cavalcanti), que está apaixonada por ele, lhe dá uma velha pistola e Gumercindo se torna o “Djeca do sertão”, um verdadeiro justiceiro.
Gumercindo’s wish comes true when the widow Eufrásia (Zaira Cavalcanti), who is in love with him, gives him an old pistol and Gumercindo becomes the “Djeca do sertão” (Djeca of the countryside), a true vigilante.
As roupas usadas pelo Coronel e sua família mostram que o filme não é ambientado no tempo presente: é ambientado no Brasil Colônia (1500-1822), quando quase toda a população vivia em fazendas e sobrevivia com a agricultura. Outros filmes de Mazzaropi se passam neste mesmo período - ou mesmo no Brasil Império (1822-1889), quando a vida rural ainda predominava - e a época é perfeita para os tipos de histórias que Mazzaropi gostava de contar.
The clothes worn by the Colonel and his family point out that the film isn’t set in modern times: it’s set during the Colonial Period in Brazil (1500-1822), when almost everyone lived in farms and survived from agriculture. Some other movies by Mazzaropi are set in this period - and even during the Imperial Period (1822-1889), when the rural lifestyle was still predominant - and the time is perfect for the kind of stories Mazzaropi liked to tell.
Djeca é, obviamente, uma referência a Django, o personagem dos western spaghetti italianos que se tornou ultrapopular desde sua primeira aparição em 1966. Django carrega uma metralhadora dentro de um caixão e é um grande estrategista. Nosso Djeca é um homem dedicado à família, honesto - ao contrário do Coronel, que é um hipócrita - e bem menos violento que Django.
Djeca is, of course, a nod to Django, the character from Italian spaghetti westerns that became ultra-popular since his first film premiered in 1966. Django carries a machine gun inside a coffin and is a huge strategist. Our Djeca - being “Jeca” a not-so-sweet way to call people from the countryside in Brazil - is a family-oriented man, honest - contrary to the Colonel, who is an hypocrite - and not nearly as violent as Django.
Ao contrário da maioria dos faroestes - e pode ser meio polêmico dizer que faroestes têm tramas simples, mas muitos deles realmente têm - a trama de “Uma Pistola para Djeca” é incrivelmente complicada, podendo ser chamada inclusive de “folhetinesca”. Há muitos focos narrativos - a família de Gumercindo, os fazendeiros que foram roubados, a vida amorosa do filho do Coronel - e há também muitos plot twists, pessoas acusadas injustamente e um ajuste de contas final que não acontece num tiroteio - embora haja um tiroteio do qual até as mulheres participam.
Contrary to most westerns - and it may be quite polemic to say that westerns have simple plots, but most of them do - the plot in “Uma Pistola para Djeca” is incredibly complicated, something that can be called “feuilleton style”. There are several narrative focuses - Gumercindo’s family, the farmers who have been robbed, the Colonel’s son’s love life - and there are also many plot twists, wrongly accused people and a final settling of accounts that doesn’t happen in a shooting - even though there is a shooting, and even the women take part in it.
Mazzaropi teve uma carreira prolífica no cinema que durou quase 30 anos. Em sua primeira década nos filmes, mais ou menos entre 1952 e 1960, ele interpretou personagens vivendo no ambiente urbano e lidando com todo tipo de problema: trabalho, família, romance. Em 1959, entretanto, ele encontrou sua mina de ouro ao interpretar “Jeca Tatu” e dali em diante ele interpretaria sempre um homem simples vivendo numa fazenda e lidando, quase sempre, com a ganância de grandes latifundiários que querem prejudicar os homens simples que plantam para sua subsistência.
Mazzaropi had a prolific career in movies that lasted almost 30 years. In his first decade at the cinema, roughly from 1952 to 1960, he played characters in urban environments dealing with all kind of trouble: work, family, love. In 1959, however, he found his gold mine by playing “Jeca Tatu” and from then on focused in rural tales. In his films as Jeca, he would always play a simple man living in a farm and dealing, usually, with the greed of more powerful landowners who want to harm the little men sowing for subsistence.
Mazzaropi mais uma vez faria uma paródia do faroeste em “O Grande Xerife” (1972). Neste filme, Mazzaropi interpreta um funcionário do correio que de repente é nomeado xerife, exatamente quando acontece um crime e um bandido chamado João Bigode precisa ser preso. Em ambos os filmes, há uma mistura de paródia cômica e musical porque - algo que acontece em todos os filmes de Mazzaropi - há números musicais entrelaçados à narrativa.
Mazzaropi would once again spoof the western in “O Grande Xerife” (The Great Sheriff, 1972). In this movie, Mazzaropi plays a man who works at the post office but is suddenly made sheriff, exactly when a crime happens and a bandit named João Bigode (John Mustache) needs to be arrested. In both movies, there is a mix of comic spoof and musical, because - something that happens in all of Mazzaropi’s movies - there are musical numbers intertwined to the plot.
Quando “Uma Pistola para Djeca” foi feito, em 1969, o Brasil era ainda um país muito rural e conservador. Hoje não é mais um país tão rural, mas infelizmente ainda é bem conservador. Muitas pessoas podiam, em 1969, se identificar com o Gumercindo de Mazzaropi e sua luta do bem contra o mal - algo, aliás, bem comum no faroeste. As pessoas ainda podem se identificar com isto. O humor no filme é simples, por vezes até pueril, e esta é mais uma razão pela qual Mazzaropi se manteve tão popular - com ou sem paródia.
When “Uma Pistola para Djeca” was made, in 1969, Brazil was still a very rural, conservative country. It’s not such a rural country anymore, but it unfortunately remains conservative. Many people could, in 1969, relate to Mazzaropi’s Gumercindo and his fight of good against evil - something that is, by the way, very common in the western genre. People still can relate to it. The humor in the movie is simple, sometimes even childish, and it’s another reason why Mazzaropi has remained so popular - with or without a spoof.
This is my contribution to The Foreign Western blogathon, hosted by Debra at Moon in Gemini.
I loved reading about this actor who is so beloved in Brazil. The movie sounds great. I wish I could see it but doesn't look like there is a subtitled or dubbed version. Thanks so much for participating!
ReplyDeleteThis sounds like a film I would love. Maybe one day it will surface in Canada with English subtitles.
ReplyDeleteThanks also for the introduction to Amácio Mazzaropi. I just did a quick online search, and it looks like he was quite handsome.
This looks fun! Brazilian cinema seems to be a mostly untapped gold mine for the rest of us.
ReplyDeleteI'm amazed that there are so many foreign westerns -- I think I always assumed that they were an American genre only. This one sounds interesting -- complex, with a lot of moving parts, but interesting!
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