A extensa galeria de
personagens memoráveis da Universal Studios, criada e reunida em um século de
filmes, não poderia ser mais variada. Voltando para as décadas de 1920 e 1930, vemos
que o sucesso era garantido quando o estúdio fazia algum filme com montros. Na
safra de continuações de ideias que dão certo, Frankenstein ganhou, quatro anos
após o aparecimento nas telas, uma nova chance de aterrorizar as plateias e,
por que não?, uma companheira igualmente tenebrosa.
Em 1931 estrearam
dois fenômenos da Universal: Drácula e Frankenstein, que imortalizaram seus
intérpretes, respectivamente, Bela Lugosi e Boris Karloff. Quem pensava que o
monstro feito de cadáveres foi destruído ao final do filme foi surpreendido por
uma continuação feita em 1935: A Noiva de Frankenstein. Novamente aparece uma
interrogação nos créditos iniciais: quem interpreta a cadavérica pretendente.
Não é preciso ficar na dúvida como se você estivesse vendo o filme na década de
1930. A história nos legou o nome da intérprete: Elsa Lanchester.
Nascida na Inglaterra
em 1902, Elsa começou a carreira como dançarina e em 1927 conheceu o ator
Charles Laughton, com quem se casou dois anos depois, num matrimônio que durou
43 anos. Os dois trabalhariam juntos em 12 filmes. Elsa estreou no cinema em
1925 no filme “The Scarlet Woman” e em 1928 estrelou três curtas escritos
especialmente para ela, nos quais Laughton aparece como extra. Com o sucesso do
marido, em 1933 o casal vai para Hollywood e, dois anos depois, ela tem sua
grande chance: interpretar uma monstra que não fala.
O doutor Frankenstein
(Colin Clive) tem sua loucura criadora redespertada pelo igualmente maluco Dr.
Pretorius (Ernest Thesiger). Uma das cenas mais interessantes é aquela em que
Pretorius mostra a Frankenstein algumas criaturas em miniatura que ele fez e
aprisionou em vidros. Para esta cena os atores foram filmados em jarras imensas
sob fundo de veludo e depois a filmagem foi alinhada às jarras do laboratório.
Uma das criaturas, a sereia em miniatura, foi interpretada pela nadadora e
dublê de Maureen O’Sullivan nos filmes de Tarzan. Mas claro que o destaque fica
para a criação da noiva.
Elsa também vive a
escritora Mary Shelley no começo do filme e aí é possível admirarmos toda sua
beleza. Não que a monstra não tenha seu charme! O cabelo, inspirado em
Nefertiti, é preto com faixas brancas imitando trovões. Além disso, ela é muito
alta, requerindo que Elsa usasse saltos altíssimos. Os grunhidos da criatura,
tão primitiva na comunicação quanto o monstro original, foram idealizados por
Elsa, inspirando-se no barulho dos cisnes, e lhe renderam uma dor de garganta
após as filmagens. Curiosamente, uma cena de Elsa como Mary Shelley foi
censurada pelo código Hays porque o censor acreditou que seus seios estavam
muito visíveis.
Novamente os cenários
misturam a tecnologia fantástica do laboratório, o luxo da casa do doutor
Frankenstein e a simplicidade dos lugares por onde o montro passa, com destaque
para o casebre de um senhor cego que lhe oferece pão e vinho (sinal de
comunhão?).
A ideia de fazer uma
sequência para o sucesso de 1931 foi imediata, mas até surgir a história
perfeita foram necessários quatro anos. John L. Balderston lembrou-se de uma
passagem do livro em que o monstro pede por uma companheira, ao que o doutor
atende, mas destrói sua nova criação antes de dar-lhe a vida. Em uma versão
mais recente de Frankenstein, de 1994, o monstro e sua noiva surgem no mesmo
filme, e o doutor usa o corpo de sua noiva Elizabeth como base para a monstra.
Em ambas as versões ela repudia seu pretendente e prefere morrer a entregar-se
a ele.
Cabe às sessões de
curiosidades notar que a noiva de Frankenstein foi o único monstro da Universal
Studios que não matou ninguém. E aos fãs do gênero terror fica essa obra-prima
de um estúdio expert que foi capaz de fazer uma continuação ainda melhor que o
original.
This is my first entry
to the Universal Backlot Blogathon, hosted by the awesome Kristen at Journeys in Classic Films.
Embora Frankenstein seja uma produção caprichada, é salto a vista como A Noiva de Frankenstein se mostra superior em todos os quesitos.
ReplyDeleteEu não assisti ao filme original. O único contanto que eu tenho com "A Noiva de Frankenstein" (1935) é justamente a cinebiografia sobre o diretor do filme, "Deuses e Monstros" (1998), com Ian McKellen. Aí, nuns momentos de flashback, ele se recorda ou sonha com as gravações do filme que ele dirigiu, mostrando trechos de "Frankenstein" e da noiva dele.
ReplyDeletePassa no meu outro blog, confere lá: http://eooscarfoipara.blogspot.com.br/
Blog sobre o Oscar, estamos analisando em setembro a edição de 2010.
OI Lê
ReplyDeleteComo vai?
Preciso me corrigir e passar a assistir alguns (alguns não, todos os possíveis) filmes de terror dos anos 30, 40 e 50. Confesso que não sou muito fã do gênero mas ao ler sobre esses clássicos me sinto instigado a conhece-los melhor.
Ótimo post,Parabéns.
Grande abraço!
Elsa é maravilhosa. Em "A Noiva" está inesquecível, o que, por sua vez, deu luz a algumas paródias. Grande atriz. cinemavelho.com
ReplyDeleteGosto muito dos filmes de terror mais antigos. São produções simples, mas ótimas! E como não lembrar de Elsa em A Noiva de Frankenstein? Sem dúvida alguma ela foi um ícone do cinema.
ReplyDelete*Ótimo texto, desconhecia muita coisa.
Beijos!
Sabe Lê,tuas pesquisas,teus textos,teu bom gosto para escolher a matéria da postagem é fantástico.Rendo minhas homenagens á teu excelente blog.Beijo no coração minha querida.SU.
ReplyDeleteNunca assisti A Noiva do Frankenstein, mas é um filme mega famoso. Mas a atriz eu já conhecia. Vou procurar para assistir.
ReplyDeleteFalando em filmes de terror vintage, já assistiu Freaks?
I hope this translates okay - I adore early horror. It seems they had so much more talent as they had less to work with but could scare you more with what you didn;t see than what you did. Great Piece!
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