} Crítica Retrô: The Lodger: A Story of the London Fog (1927)

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Thursday, October 31, 2013

The Lodger: A Story of the London Fog (1927)

O cinema britânico não era realmente destaque nos primórdios da sétima arte e só foi ter relevância com Powell e Pressburger e David Lean nos anos 40, uma vez que todos os atores e atrizes que alcançavam sucesso na Inglaterra mais cedo ou mais tarde iam para Hollywood. Com Hitchcock não foi diferente, e mesmo seus primeiros filmes - um vislumbre do que o mestre do suspense ainda faria com nossos nervos- têm muito pouco do cinema inglês, mas diversas influências alemãs e soviéticas. E atenção: aqui Hitchcock já usa um par de algemas para criar tensão, o que aconteceria novamente em “Os 39 Degraus”, de 1935.


British cinema wasn't really outstanding in the silent era and got worldwide attention only with Powell and Pressburger and David Lean in the 1940s. This happened because almost all performers who achieved success in England sooner or later went to Hollywood. With Hitchcock this also happened, and even his first films – the ones that show us a little of how the Master of Suspense would still play with our nerves – have little from English cinema and more influences from German and Russia. And, attention: here in “The Lodger” Hitchcock already uses a pair of handcuffs to create tension, something that would happen again in “The 39 Steps” (1935).
O filme já começa com um assassinato, enquanto as luzes neon de um cabaré piscam, anunciando o show “Golden Curls”. A pobre vítima é apenas mais uma na lista do assassino que deixa um bilhete com um triângulo e o escrito “O Vingador” (“The Avenger”). Ele mata apenas mulheres loiras, e sempre às terças-feiras. Segundo uma testemunha, seu rosto não foi visto porque ele anda com um cachecol tampando a boca e o nariz. E é exatamente assim que chega a uma casa de família um homem (Ivor Novello) que deseja alugar um quarto. Para a situação ficar ainda mais crítica, a jovem Daisy (June), filha dos donos da casa, é loira e tem um homem apaixonado atrás dela: o policial Joe Chandler (Malcolm Keen), que investiga o caso do Vingador.


The film already starts with a murder, while the neon lights of a cabare glow, announcing the show “Golden Curls”. The poor victim is only another one in the list of the murder who leaves in the crime scene a message with a triangle and the signature “The Avenger”. He only kills blonde women, and always on Tuesdays. According to a witness, his face can't be seen because he always wears a scarf around his mouth and neck. And it's exactly like this that a man (Ivor Novello) arrives at a house wanting to rent a room. To make the situation even worse, the young Daisy (June), daughter of the couple who own the house, is blonde and has a man in love with her: policeman Joe Chandler (Malcolm Keen), responsible for the Avenger case.
A primeira a desconfiar do inquilino é a dona da casa, a senhora Bunting (Marie Ault). O apogeu da excelente interpretação de Marie, com expressões faciais impagáveis, é a cena em que ela está sozinha em casa de noite e vê o hóspede sair. É terça-feira e ele leva uma maleta muito suspeita. Ela aproveita para vasculhar o quarto dele e a tensão cresce conforme vemos que ele está voltando para casa. Ela vai encontrar a senhora Bunting em seu quarto? Vai matá-la? Ou ela vai descobrir algo incriminador?


The first one to be afraid of the new lodger is the housewife, Mrs Bunting (Marie Ault). The highest poin in Marie's performance, in which she makes wonderful facial expressions, is the scene in which she is home alone at night and sees the lodger leaving. It's Tuesday and he carries a very suspicious suitcase. She decides to look for something incriminating in his bedroom and tension goes up as we see he's coming back. Will he find Mrs Bunting in his bedroom? Will he kill her? Will she find something?
Outro ponto alto da interpretação de Marie Ault é quando Daisy ganha um vestido do inquilino e a mãe, já desconfiada, estampa uma expressão de medo e preocupação no rosto.

Another point worth mentioning in Marie Ault's performance is the scene in which the lodger gives Daisy a new dress and her mother, already distrustful, shows all her fear and worries in her facial expression.

São dois os grandes impedimentos para a solução do crime: a imprensa, sensacionalista desde a primeira cena, e o povo, curioso e desordenado. Ao mesmo tempo surpresos e enojados pelo banho de sangue que o Vingador inicia, o povo se deixa levar por suas paixões e pela curiosidade mórbida, amontoando-se em cenas do crime e inclusive iniciando uma tentativa de linchamento descontrolada e feroz.


There are two things preventing the crime from being solved: the press, that shows sensacionalism since the first scene, and the people, curious and chaotic. At the same time surprised and disgusted by the blood bath that the Avenger begins, the people is taken by passion and morbid curiosity and gather around the crime scene – and even start a chaotic and wild lynching attempt.
Este é um filme de muitas “primeiras vezes” para Hitchcock. Ele próprio afirmou que considera este seu primeiro filme real de suspense. É a primeira vez que ele tem uma protagonista loira: as mocinhas de “The Pleasure Garden” (Virginia Valli e Carmelita Geraghty), “The Mountain Eagle” (Nita Naldi) e “The White Shadow” (Betty Compson) eram todas morenas. E é também o filme em que ele faz sua primeira ponta, participação, tratada no meio cinematográfico com o nome “cameo”. E aqui Hitch não tem um, mais dois cameos, aparecendo ao todo em quatro momentos! O original, que foi o começo de todos os outros, acontece bem no início do filme. Hitchcock está sentando em uma mesa de escritório, com as costas para a câmera, e toma conta da tela. Reza a lenda que o extra que deveria fazer aquela cena não apareceu, e para não ter de adiar a filmagem, Hitch o substituiu. O segundo cameo, no qual Hitchcock aparece em três breves cenas entrecortadas, é no final do filme, no clímax em meio à multidão. Hitch usa uma boina ou algo similar na cabeça.  


This film has many “first times” for Hitchcock. The director himself said that he considered “The Lodger” his first real thriller. It's the first time he has a blonde lading lady: the leads in “The Pleasure Garden” (Virginia Valli and Carmelita Geraghty), “The Mountain Eagle” (Nita Naldi) and “The White Shadow” (Betty Compson) were all brunettes.It's also the film in which he has his first cameo. Here, Hitchcock doesn't have one, but two cameos, appearing in total in four moments! The original, the cameo that started the thread, happens in the begigging of the film. Hitchcock is seating in a desk, with his back to the camera, and he is all that appears on the screen. According to the legend, the extra who would make that scene didn't show up, and in order to not delay the shooting, Hitchcock himself replaced him. The second cameo, in which Hitchcock appears in three brief edited scenes, is in the end of the film, in the climax with the crowd. Hitchcock can be recognized by the beret he wears in his head.
Os títulos muito bem desenhados e a montagem ficaram por conta de Ivor Montagu, inglês fundador da Sociedade Cinematográfica de Londres (London Film Society) e grande amigo de Eisenstein. Após o estúdio criticar o filme, Hitch levou a cópia até Ivor, que fez as modificações necessárias para criar a primeira obra-prima hitchcockiana. Foi com Ivor Montagu que Hitchcock aprendeu a importância da edição, técnica que ele usaria com maestria em seus filmes posteriores, e a parceria entre os dois continuou durante a década de 1930, com Montagu co-produzindo muitos dos filmes de Hitchcock.


The very beautiful titles and the editing were the job of Ivor Montagu, an Englishman who founded the Lodon Film Society and was good friends with Eisenstein. After the studio criticized the film, Hitch took the copy to Montagu, who made the necessary changes to make the first hitchcockian masterpiece. Hitchcock learned with Ivor Montagu the importance of editing, a technique he would use with wisdom in his other movies. The partnership between the two went on during the 1930s, and Montagu co-produced several of Hitchcock's films.
Ivor Novello era o equivalente a Rodolfo Valentino na Inglaterra. Entretanto, além de atuar, Ivor era também dramaturgo e compositor! Depois de alcançar a fama com músicas de ânimo compostas durante a Primeira Guerra, Ivor teve em “The Lodger” seu momento de maior brilho no cinema, tanto é que estrelou o remake do filme em 1932. Também em 1932 ele deu uma valiosa contribuição à selva de Hollywood escrevendo alguns diálogos para o primeiro filme de Tarzan na era sonora. Ele trabalhou novamente com Hitchcock em “Downhill”, de 1927, filme inspirado em uma peça escrita pelo próprio Ivor. Um personagem baseado no ator aparece em “Assassinato em Gosford Park / Gosford Park” (2001) e muitas músicas compostas por ele fazem parte da trilha sonora.


Ivor Novello was like the Rudolph Valentino of England. Besides acting, he was also a playwriter and songwriter! After he had success with cheer-infused songs written duting World War I, Ivor had in “The Lodger” his brightest moment on film, and he even starred in the 1932 remake. In 1932 he also contributed to the Hollywood jungle by writingsome dialogs for the first Tarzan sound film. He worked again with Hitchcock in “Downhill” (1927), a film based on a play written by Ivor himself. A character based on him appears in “Gosford Park” (2001), and several of his songs are part of the film's soundtrack.
The Lodger” pode ser encontrado no Brasil com os títulos “O Hóspede”, “O Inquilino” e “O Pensionista”. O filme foi baseado no livro da autora Marie Belloc Lowndes. O livro tem um final dúbio, e Hitchcock queria também deixar no ar a pergunta: seria o hóspede realmente o Vingador? Entretanto, os estúdios o pressionaram para que fosse dado um desfecho definitivo para a história. O filme, depois de tantas modificações, foi um sucesso na Inglaterra, mas foi atacado sumariamente pelos críticos americanos, onde o hóspede ganhou o nome de Jonathan Drew. Além da segunda versão com Novello, a história foi adaptada para o cinema novamente em 1944 (com Laird Cregar), 1953 (com Jack Palance) e 2009 (com Alfred Molina). Muitas foram também as versões da história para o rádio, que podem ser escutadas na Wikipedia.


“The Lodger” can be found under many different titles in Brazil. The film was based on a book by Marie Bellocs Lowndes. The book has a dubious ending, and Hitchcock also wanted to leave unanswered the question: was the lodger really the Avenger? However, the studios made a pressure for him to give a definitive ending to the story. The film, after so many changes, was a success in England, but was severely attacked by American critics – in the US the lodger was named Jonathan Drew. Besides the second version with Novello, the story was remade in 1944 (with Laird Cregar), 1953 (with Jack Palance) and 2009 (with Alfred Molina). There were many radio versions to the story, and they can be heard at Wikipedia
Várias versões na internet, incluindo no Internet Archive, possuem 70 minutos de projeção. No entanto, a cópia restaurada da British Film Institute tem 90 minutos e imagens de excelente qualidade. Esta versão de 90 minutos pode ser encontrada AQUI.


Several versions on the internet, including the one at Internet Archive, are 70 minutos long. However, the restored copy by the British Film Institute is 90 minutes long and a sharp image. This longer version can be found HERE.


This is my contribution to the Hitchcock Halloween, hosted by the great Lara at Backlots. Trick or treat!

12 comments:

Marcelo Castro Moraes said...

Já novinho o cineasta mostrou que se tornaria o melhor de todos os tempos

Pedrita said...

ah, acho que esse eu vi. beijos, pedrita

The Lady Eve said...

Great choice for "Hitchcock Halloween," Lê - and, it turns out, you are in tune with the San Francisco Symphony. Tonight, as part of its "Hitchcock Week" film series (films screened with the symphony providing the score), the symphony will accompany "The Lodger." I have seen the film and found it chilling. Hitchcock mastered suspense very early in his career.

DorianTB said...

Le, now I wish I could go to San Francisco to see the Hitchcock movies, too! What a lucky woman! :-) Until then, I have a copy of the silent movie version of THE LODGER! I very much enjoyed your excellent article, and I think it's a fine fit with Backlots' Hitchcock Halloween! :-)

The Metzinger Sisters said...

This is a great write-up on a truly spooky Hitchcock film. Quite frankly, I thought the silent horror/suspense films were always scarier than any of the ones Hollywood made throughout the 1940s-1970s. I remember watching this film for the first time with my sister and my "oma" on a Friday morning. Thanks for triggering fond memories!

Anonymous said...

Wonderful post as always Le, and a great choice for Halloween! I watched this for the first time just a few weeks ago, and I was really impressed by how well and indeed, how early Hitch 'mastered' suspense - not just mastered but owned it. Most of Hitch's later films are a great deal more 'polished' but I like this one all the more for its 'rough-and-readyness', and I loved looking out for all the tropes that have come to represent Hitchcock...

If you're interested in Novello and early British cinema, this is a great book: http://www.amazon.co.uk/Shepperton-Babylon-Worlds-British-Cinema/dp/0571212980

bruno knott said...

Muito bacana o texto e as fotos escolhidas. Interessante essas "primeiras vezes" dentro de The Lodger, mesmo sendo entusiasta do Hitchcock não tinha conhecimento dessas informações.

Uma curiosidade que li nesta semana, é possível que o diretor Fitz Lang tenha se inspirado em The Lodger para realizar a obra-prima M.

Holly B. Strange said...

I want to see this even more after reading your post, so thank you for linking to it!
I'd love to see the 1944 and 1953 versions too.

Holly B. Strange said...
This comment has been removed by the author.
Barry P. said...

Nice review! I didn't realize this was Hitchcock's first film with a blonde lead actress (a major plot point in The Lodger). I believe I saw the shorter version, with a battered print, but even so, it was quite atmospheric.

Anonymous said...

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Silver Screenings said...

There are a lot of firsts in this film – I hadn't thought of it that way.

I also didn't realize there was a restored 90-minute version, which sounds VERY lovely. I've already added it to my Must Watch List.

Your review did the film justice, Le. Nicely done.

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