Não existe
pecado do lado de baixo do Equador. Esta é a visão que Hollywood sempre teve do
país em que eu vivo: o Brasil. Um lugar muito sensual, com praias, mulheres
lindas, muita música, festas religiosas e alguns animais exóticos. Trinta anos
atrás, quando Michael Caine visitou o Rio de Janeiro, a ideia era a mesma. Mas
as roupas eram mais bregas.
Matthew
(Caine) está em São Paulo (repare no sotaque fofo com que eles falam “São
Paolo”) com sua família. A esposa dele, Karen (Valerie Harper), vai passar as
férias na Bahia, enquanto Matthew, a filha Nikki (Demy Moore), o melhor amigo
Victor (Joseph Bologna) e a filha do amigo, Jennifer (Michelle Johnson) vão
todos para uma casa no Rio de Janeiro. Victor está no meio do processo de
divórcio, Jennifer é uma aspirante a Lolita e Matthew está sem a esposa.
Preciso falar o que acontece a seguir?
Bem, em
pouco tempo Victor descobre que sua “garotinha” está apaixonada, e fica maluco,
agredindo todos os homens que parecem demonstrar interesse por Jennifer. Ele
mal imagina o que seu melhor amigo está escondendo...
O filme está
cheio dos clichês sul-americanos, apresentando coisas que você NUNCA verá nas
cidades brasileiras: casas com flores em todas as paredes, mulheres sem roupa
na praia de Ipanema, aves exóticas na sala de estar e um lagarto do tamanho de
um jacaré. Outro ponto muito explorado do Brasil, a mistura de religiões,
também está presente. Há mães-de-santo que falam inglês perfeitamente e são
responsáveis tanto por um casamento na praia quanto por um ritual para atrair a
pessoa amada. E não, definitivamente não são todas as festas de casamento no
Brasil que terminam com todo mundo correndo nu para o mar.
O Brasil
pode parecer o paraíso dos sonhos de qualquer estrangeiro, mas se mostrou um
pequeno inferno para as equipes de filmagem. “Blame it on Rio” foi o primeiro
filme rodado sob as novas regras do cinema brasileiro, e o diretor Stanley
Donen ficou decepcionado com o excesso de burocracia (e, Stanley querido, 30
anos depois nada mudou). Para piorar, a chuva atrapalhou as filmagens (ainda
chove muito no verão) e houve atraso na chegada de vários produtos comprados
(pontualidade nunca foi nossa maior característica).
"Fruta do conde afrodisíaca" |
Michael Caine
está muito diferente no filme, desconfortável até. Seus momentos de breve
monólogo são muito diferentes do revolucionário “Alfie” (1966) “breaking the fourth wall”. Muitas
vezes, suas neuroses (e sua aparência) o aproximam de um personagem de Woody
Allen. Pensando bem, este seria um filme que bem poderia ter sido feito por
Woody, em um caso irônico de vida (quase) imitando a arte.
Michelle
Johnson tinha 17 anos quando fez o filme, o que tornou necessária uma
autorização por escrito de seus pais para que ela pudesse mostrar seu (belo)
corpo nas telas. Como muitas das atrizes que começam como sex-symbol absoluto (Sue Lyon em “Lolita”, 1962, e Mena Suvari em “Beleza
Americana”, 1999), Michelle não teve muitos papéis de destaque, e não aparece
em um filme desde 2004. Vendo “Blame it on Rio”, poderíamos pensar que ela
teria uma carreira brilhante pela frente, mas foi a outra adolescente, Demi
Moore, que conseguiu uma carreira mais sólida e duradoura.
Michelle em foto recente |
Este foi o
último filme dirigido por Stanley Donen (provando que quem começou com “Um dia
em Nova York / On the Town” em 1949 pode muito bem terminar a carreira com um
fiasco), e em 1985 Donen se divorciou da quarta esposa, Yvette Mimieux, que o
incentivou a fazer o filme como um remake da produção francesa “One Wild Moment”
(1977). Ah, e para provar que Donen perdeu o talento que tinha com musicais,
basta prestar atenção na música-tema, uma pseudo-lambada horrorosa. Mas há um
momento musical que faz tudo valer a pena: a inserção de um trecho do filme “Voando
para o Rio / Flying Down to Rio” (1933)... Valeu a pena ver um filme tão brega!
This is my contribution
for the 1984-a-thon, hosted by Todd at Forgotten Films. Big Brother is watching,
and so should you!