} Crítica Retrô: August 2023

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Monday, August 28, 2023

Viagem à Itália (1954) / Journey to Italy (1954)

 

Quando Ingrid Bergman deixou Hollywood e um casamento sólido e escolheu a Itália e um romance com o diretor Roberto Rossellini, foi um escândalo. Este episódio é tão conhecido dentro da biografia de Bergman que às vezes os filmes que ela fez com Rossellini são ofuscados pelo escândalo. Este pequeno conjunto de seis filmes inclui “Stromboli” (1950), a obra-prima “Europa ‘51” (1952), uma recontagem da história de Joana D’Arc e esta curiosa “Viagem à Itália”.

 

When Ingrid Bergman left Hollywood and a solid marriage and chose Italy and a romance with director Roberto Rossellini, it was a scandal. This episode is so well-known inside Bergman’s biography that sometimes the movies she did with Rossellini are obfuscated by the scandal. This little oeuvre of six films includes “Stromboli” (1950), the masterpiece “Europa ‘51” (1952), a re-telling of Joan of Arc’s story and this curious “Journey to Italy”.

Esta é a história da primeira vez em que o casal Katherine (Ingrid Bergman) e Alex (George Sanders) fica sozinho de verdade desde que se casaram. Eles estão na Itália por causa de uma herança, mas não ficarão sozinhos por muito tempo, pois encontram velhos conhecidos e fazem novas amizades em jantares nos quais ambos desaprovam que o outro se divirta com outras pessoas. Entre as ruínas eles discutem e parecem chegar a um ponto de virada no relacionamento.


This is the story of the first time the couple Katherine (Ingrid Bergman) and Alex (George Sanders) is truly alone ever since they got married. They are in Italy because of an inheritance, but they won’t stay alone for long, as they meet old acquaintances and make new friends in dinners where both dislike that the other has fun with other people. Among the ruins, they have their arguments and seem to arrive at a crossroads in their relationship.

Quando Katherine visita um museu na primeira metade do filme, as peças em exibição são oriundas de Pompeia. A tragédia da cidade tomada pelo vulcão séculos atrás assombra o casal, pois a vila que herdaram tem como vista o Vesúvio. Ao voltar do museu, ela conta sua experiência, dizendo que foi como se ela pudesse sentir como estas pessoas, imortalizadas em estátuas, eram e o que elas queriam.


When Katherine visits a museum in the first half of the film, the pieces there are remains from Pompeii. The tragedy of the city engulfed by the volcano centuries ago lingers on the couple, as the villa they inherited has the Vesuvius as a view. After coming back from the museum, she chronicles her experiences, saying that it was as if she could sense how those people immortalized in statues were like and what they wanted.

Embora não creditada, a fonte para o filme foi uma novela chamada “Duo”, da escritora Colette. Rossellini, junto com Vitaliano Brancati, escreveu o roteiro. George Sanders escreveu em sua autobiografia que rodar o filme foi uma experiência desesperadora, que ele realmente detestou. Talvez tenha sido porque este é um filme feito por um Rossellini em mutação: o diretor / roteirista / produtor estava abandonado o Neorrealismo e se comprometendo com um novo tipo de Realismo. O método de trabalho de Rossellini – especialmente o fato de ele trabalhar sem um roteiro – também desagradaram a Sanders.


Although uncredited, the source of the film was a novel called “Duo” by writer Colette. Rossellini, together with Vitaliano Brancati, wrote the screenplay. George Sanders wrote in his autobiography that shooting the film was an exasperating experience, one he truly disliked. Maybe it was because this is a movie made by a changing Rossellini: the director / writer / producer was abandoning the Neo-Realism and committing to a new kind of Realism. Rossellini’s work methods – especially working without a script – also displeased Sanders.

Em 1953, quando o filme começou a ser rodado, Bergman e Rossellini, como um casal, estavam em crise. O diretor também atravessava uma crise financeira – ele só conseguiu financiamento para o filme através de um industrial milanês que era seu fã. Quando as filmagens terminaram, Rossellini demorou mais um ano e meio para conseguir um distribuidor para o filme, que foi um fracasso de bilheteria e só agradou aos críticos da Cahiers du Cinéma – aqueles jovens que revolucionariam o cinema com a Nouvelle Vague alguns anos mais tarde.


In 1953, when the movie started shooting, Bergman and Rossellini, as a couple, were struggling. The director was also struggling financially – he could only get financing for the movie through a Milanese industrialist who was his fan. When filming ended, it took Rossellini a year and a half to find a distributor, but the film performed poorly at the box office and pleased only the critics from the Cahiers du Cinèma – those young men who would revolutionize cinema with the Nouvelle Vague a few years later.

Ocupando a posição 72 na lista de Melhores Filmes de Todos os Tempos da Sight and Sound de 2022, “Viagem à Itália” merece o reconhecimento. Um melodrama sem vilão – ou um em que a vida e suas atribulações são o vilão – o filme pode não ter me impressionado tanto quanto “Europa ‘51”, mas foi ótimo fazer esta viagem junto a Sanders e Bergman – e ao maestro Rossellini, obviamente.


Ranked 72 in the 2022 Sight and Sound Best Movies of All Time poll, “Journey to Italy” deserves the recognition. A melodrama without a villain – or one where life and its tribulations is the villain – the film may have not left an impression on me as big as “Europa ‘51”, but it was great to take this journey alongside Sanders and Bergman – and maestro Rossellini, of course.

 

This is my contribution to the 6th Wonderful Ingrid Bergman blogathon, hosted by Virginie at The Wonderful World of Cinema.

Tuesday, August 22, 2023

Uma Aventura em Paris (1942) / Reunion in France (1942)

 

Durante alguns anos, nas décadas de 1930 e 1940, Joan Crawford foi uma das atrizes mais bem-pagas de Hollywood. Nos anos 1950, John Wayne foi um dos atores mais bem-pagos de Hollywood. E um dia os dois se encontraram, mas muitas pessoas desconhecem este filme que juntou as duas superestrelas: “Uma Aventura em Paris”, uma propaganda anti-nazista de 1942 dirigida por Jules Dassin - um filme não muito inspirado.

 

For a while, in the 1930s and 1940s, Joan Crawford was one of the highest-paid actresses in Hollywood. In the 1950s, John Wayne was one of the highest-paid actors in Hollywood. And one day the two of them met, but many people aren’t aware of this film that brings the two superstars together: “Reunion in France”, a 1942 anti-Nazi propaganda directed by Jules Dassin - and lacking inspiration.

“Em tempos de guerra, o amor é uma ofensa digna de punição”, diz Michele de la Becque (Joan Crawford) para seu namorado, Robert Cortot (Philip Dorn), quando ele recusa o convite dela para uma escapada. Eles não têm com o que se preocupar, porque Hitler não pode invadir a França, disse um general num evento em que estava o casal. A Linha Maginot parecia intransponível, até que se provou o contrário, e numa questão de semanas a França se rendeu aos nazistas.  

 

“In times of war, love is a punishable offense”, says Michele de la Becque (Joan Crawford) to her boyfriend, Robert Cortot (Philip Dorn), when he refuses her invitation for an escapade. They have nothing to worry about, because Hitler can’t invade France, a general said in an event both were attending. The Maginot Line seemed insurmountable, until it wasn’t, and in a matter of weeks Paris fell under the Nazis.

Michele volta de sua escapada e encontra sua mansão “tomada de empréstimo” pelos nazistas e transformada em posto de distribuição de carvão. Ela se horroriza com o pensamento de que Robert estaria colaborando com os nazistas. Sem dinheiro, ela aceita um emprego numa loja de roupas e é saindo do trabalho que ela conhece o tenente da aeronáutica Pat Talbot (John Wayne), com quem ela se compromete: ela vai ajudá-lo a escapar da França.

 

Michele comes back from her escapade only to find her mansion “borrowed” by Nazis as an outpost to distribute coal. She’s truly horrified when she starts thinking that Robert is collaborating with the Nazis. Penniless, she accepts a job at a clothes store and it’s leaving her job that she meets flight lieutenant Pat Talbot (John Wayne), who she vows to help leave France.

Joan Crawford e John Wayne tinham praticamente a mesma idade - dependendo da fonte que você usa para o ano de nascimento de Joan. Entretanto, no filme a história é construída como se Michele fosse uma mulher mais velha e com mais experiência, e Pat fosse um garoto que acabou de se alistar. Já se passaram alguns anos desde a performance que transformou Wayne em estrela, em “No Tempo das Diligências” (1939), mas seu papel é de coadjuvante - “Uma Aventura em Paris” pertence a Joan Crawford, e só a ela.

 

Joan Crawford and John Wayne were practically the same age - depending on the source you follow for Joan’s birth date. However, in the film the story is built as if Michele was an older, experienced woman and Pat was a boy who just enlisted. It was already past Wayne’s star-making performance in “Stagecoach” (1939), but his is a supporting role - “Reunion in France” belongs to Crawford, and Crawford only.

Numa entrevista para o programa The Merv Griffin Show em 1963, Joan Crawford contou que já queria contracenar com John Wayne algum tempo antes de “Uma Aventura em Paris”, entretanto, nas próprias palavras dela: “quando nós de fato contracenamos, foi com o pior roteiro que eu já vi ou li na minha vida”. Em outra entrevista, ela foi mais além: “Oh, Deus. Se houver vida após a morte e eu tiver de ser punida por meus pecados, este é um dos filmes que eles me farão ver de novo e de novo. John Wayne e eu sofremos, não apenas por causa do roteiro bobo, mas porque éramos uma dupla sem harmonia. Tire John do cavalo, e você terá problemas”. Profundamente criticado por sua própria estrela, não é de se espantar que “Uma Aventura em Paris” seja tão pouco conhecido.

 

In an interview given a The Merv Griffin Show in 1963, Joan Crawford said that she had wanted to play opposite John Wayne for some time before “Reunion in France”, however, in her words, “when we really worked together it was the lousiest script I have ever seen or read in my life.” In another interview, she went further: “Oh God. If there is an afterlife and I am to be punished for my sins, this is one of the pictures they'll make me see over and over again. John Wayne and I both went down for the count, not just because of a silly script but because we were so mismatched. Get John out of the saddle, and you've got trouble." Deeply disliked by its star, there is no wonder “Reunion in France” isn’t a more well-known film.

Philip Dorn tem um papel de responsa como um dos protagonistas, Robert Cortot, namorado de Michele. Nascido na Holanda, ele começou a carreira sob o nome artístico de Frits van Dongen e deixou seu país natal, indo para a Alemanha, em 1938. Em 1939, semanas antes de a Segunda Guerra Mundial começar, ele se mudou para Hollywood e mudou o nome artístico para Philip Dorn. Lá, ele interpretou diversos patriotas anti-nazistas e teve relativo sucesso, o que não o impediu de voltar para a Alemanha nos anos 50.

 

Philip Dorn has a juicy role as one of the leads, Robert Cortot, Michele’s boyfriend. Born in the Netherlands, he started his career under the name Frits van Dongen and left his home country for Germany in 1938. In 1939, just weeks before the beginning of World War II, he moved to Hollywood and changed his stage name to Philip Dorn. There, he played several anti-Nazis patriots and had relative success, which didn’t prevent him from going back to Germany in the 1950s.

“Uma Aventura em Paris” foi dirigido por Jules Dassin, que dirigiu, de acordo com o IMDb, 25 filmes em sua carreira, em diversos idiomas.Dassin estava tendo sucesso moderado quando, em 1952, ele foi acusado de ser comunista - na verdade, ele havia abandonado o partido em 1939 - e teve de se mudar para a França, onde fez muito sucesso.

 

“Reunion in France” is directed by Jules Dassin, who directed, according to IMDb, 25 films in his career, in several languages. Dassin was enjoying moderate success when, in 1952, he was accused of being a communist - he had actually left the party in 1939 - and had to move to France, where he found bigger success.   

Quando ela fala sobre como alguns franceses traíram seus conterrâneos, Michele pergunta “o que será da França?” Nós vimos, nos últimos anos, algo impensável: populações sendo divididas por política, especialmente por partidos, candidatos e governos da extrema direita. Se você, como eu, vive em um país que ainda se sente dividido, você conhece a sensação quando ela diz essa frase: é de desolação e perda da esperança.  

 

 When talking about how some French people betrayed their fellow countrymen, Michele asks “what’s become of France?” We’ve seen, in the past few years, something unthinkable: populations being divided by politics, especially by far-right parties, candidates and governments. If you, like me, live in a country that still feels divided, you know the sensation when she utters the line: it’s of desolation and loss of hope.

“Uma Aventura em Paris” não é uma joia escondida. Pode ser curioso, interessante e agradável, mas não é um filme obrigatório nas filmografias de suas estrelas. É providencial, porque a Resistência não foi embora junto com a primeira derrota da extrema direita. É mais um melodrama que um filme de guerra, mas é, acima de tudo, um veículo para o talento de Joan Crawford.

 

“Reunion in France” isn’t a hidden gem. It may be curious, interesting and enjoyable, but not mandatory viewing in any of its stars’ filmography. It’s timely, as the Resistance didn’t go away in the first defeat of the far-right. It’s more of a melodrama than a war movie, but it is, above all, a Joan Crawford vehicle.


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