} Crítica Retrô: September 2015

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Wednesday, September 23, 2015

Abbott e Costello às voltas com fantasmas / Bud Abbott and Lou Costello Meet Frankenstein (1948)

Os tempos mudam, as décadas passam, o cinema se modifica, mas há algo que nunca para de provocar riso: a comédia física. Desde os primórdios do cinema, ela estava lá. Max Linder, Mabel Normand, Roscoe ‘Fatty’ Arbuckle, Chaplin, Keaton, Harold Lloyd fizeram maravilhas com a comédia física, e ainda encantam as plateias com filmes centenários.
O som chegou ao cinema, mas a comédia física continuou firme e forte. Vindos do vaudeville, os irmãos Marx misturavam bem as frases inteligentes, os trocadilhos, as canções e a comédia física, personificada no sempre incrível Harpo Marx. Vindos de curtas-metragens mudos, Stan Laurel e Oliver Hardy mantiveram um pouco das gags tão características desta era do cinema. E, um pouco parecidos com Laurel e Hardy, seguiram Abbott e Costello a partir dos anos 40.
Bud Abbott era alto, magro, prático e racional. Lou Costello era baixo, gordo, medroso e rico em expressões faciais impagáveis. Naquele que é considerado o melhor filme da dupla, Abbott e Costello interpretam respectivamente Chick e Wilbur, dois (i)responsáveis por uma companhia de seguros que devem levar uma carga preciosa até o show de horrores de MacDougal (Frank Ferguson). Nos caixotes muito bem vedados estão os corpos de Drácula e do monstro de Frankenstein, mas eles não estão nem um pouco mortos.
Drácula (Bela Lugosi) é o primeiro a acordar e assombrar Wilbur, em uma sequência divertida, mas que poderia ser mais curta. Em seguida, o vampiro acorda a criatura do doutor Frankenstein (Glenn Strange), e coloca seu plano maligno em prática: com a ajuda da doutora Sandra Mornay (Lenore Aubert), Drácula quer dar um novo cérebro, completamente obediente, para a criatura. Quem tenta impedir o plano maligno é ninguém mais ninguém menos que o Lobisomem (Lon Chaney Jr).
Costello é o rei da comédia física. Desde o começo ele está derrubando coisas e promovendo o caos. Seus gestos após a fuga dos monstros são descontrolados e hilários. Seu encontro com duas garotas em uma festa a fantasia causa inveja em Abbott e é fonte de boas surpresas. A cena em que ele senta no colo de Frankenstein é carregada de sustos e improvisos. Quando fica tenso, as palavras desaparecem, e resta a Lou Costello tentar se comunicar com gestos. Mas o mais impressionante não é o que Costello faz, mas sim o fato de que ele quase não fez este filme: se recusou a trabalhar com um roteiro que considerou fraquíssimo (ele teria dito que a filha pequena era capaz de escrever algo melhor que “aquilo”). Mas uma conversa amigável (e 50 mil dólares) o convenceram a fazer o filme, para nossa alegria.
O terror é um gênero que, assim como a comédia, depende muito dos efeitos visuais. No castelo de Drácula, as passagens secretas e cenários assombrados criam a mistura perfeita de comédia e suspense. Tanto o horror quanto a comédia dependem de histórias simples que geralmente dão origem a filmes de menos de 90 minutos, com muitas imagens poderosas. Alguns efeitos especiais também estão presentes, como a transformação de Drácula em mamífero voador. E a transformação de Chaney Jr em Lobisomem é um espetáculo à parte. E, curiosidade: na cena em que a criatura de Frankenstein pega Sandra no colo, é Chaney que está por baixo da máscara, pois Glenn Strange estava com o tornozelo machucado.
O cenário do filme é dos mais belos já feitos pela Universal, e lembra muito “O Gato e o Canário / The Cat and the Canary” (1927) e “A Mansão de Frankenstein / House of Frankenstein” (1944), ambos filmes também produzidos pela Universal, de modo que não seria de se espantar se os cenários fossem reutilizados.
O último grande filme dos monstros da Universal foi um dos mais baratos do estúdio, e também um dos maiores sucessos. Mais de 65 anos após sua estreia, o filme mantém o frescor original. Para apreciar o filme, não é preciso conhecer a história por trás de Drácula, Frankenstein e Lobisomem. Não temos piadas perdidas na tradução, não temos nada que passou da validade. Em tempos de American Pies e outras apelações cômicas, a boa e velha comédia física se mostra mais duradoura, atual e importante do que nunca. E viva Abbott e Costello!
This is my contribution to the See You in the 'Fall' Blogathon, hosted by Steve at Movie Movie Blog Blog.

Friday, September 18, 2015

O Dragão Relutante (1941) / The Reluctant Dragon (1941)

Eu tinha seis anos de idade, talvez um pouco mais, e adorava as fitas de vídeo (sim, do tempo do VHS) da Disney. Cada fita vinha com algumas propagandas de outras fitas, verdadeiros trailers feitos especialmente para aqueles lançamentos em vídeo. E um destes trailers era de “O Dragão Relutante” (ou “O Dragão Dengoso”, como também ficou conhecido aqui no Brasil). Desde o primeiro momento do trailer adorei aquele dragão fofo, que preferia escrever poemas a fazer coisas assustadoras de dragão.

I was six years old, maybe a little older, and I loved the Disney home video tapes (yes, I’m from the VCR era). Each tape came with ads from other tapes, true trailers exclusively made for those home video releases. And one of these trailers advertised “The Reluctant Dragon”. Since the first minute I loved that cute dragon, who’d rather write poems than do frightening dragon stuff.


Mas foram necessários muitos anos para que eu finalmente assistisse a “O Dragão Relutante”. As fitas de vídeo viraram objetos de museu, o DVD assumiu o posto, e até o Blu-Ray apareceu, e eu ainda não havia visto “O Dragão Relutante”. Foi quando, em dezembro de 2014, o canal americano TCM (o canal mais abençoado de todos os tempos, e também o paraíso dos fãs de cinema clássico) exibiu o filme como parte de sua série Treasures from the Disney Vault. Foi então que eu relembrei aquele trailer que tinha me marcado tanto na infância, e adicionei “O Dragão Relutante” às minhas resoluções cinematográficas de 2015. O resultado? Foi muito bom ter esperado tanto para ver o filme.

But it took me many years to finally watch “Th Reluctant Dragon”. The VCR tapes became museum artifacts, the DVD became popular, and even the Blu-Ray appeared, and I haven’t watched “The Relucatant Dragon”. In December, 2014 the American TCM (the most blessed channel of all times, and also paradise for classic film fans) exhibited the film as part of Treasures of the Disney Vault series. Then I was reminded of that trailer that had stuck with me since childhood, and I added “The Reluctant Dragon” to my 2015 film resolutions. The result? It was very good to have waited so long to watch the movie.


As crianças com certeza gostariam de “O Dragão Relutante”, mas são os adultos que conhecem um pouco sobre a história do cinema em geral e da Disney em particular que apreciarão mais ainda. Porque o filme é muito mais que um dragão bonzinho. É uma visita aos bastidores dos Walt Disney Studios, uma rara visão do processo criativo das imagens e sons que encantam as plateias, e uma fonte inesgotável de sorrisos.

The kids would certainly enjoy “The Reluctant Dragon”, but adults - who know a little about film history in general and Disney history in particular - are the ones who will appreciate it even more. Because the film is much more than a nice dragon. It’s a visit to the Walt Disney Studios, a rare vision of the creative process that makes images and sounds that enchant the audiences, and an infinite source of smiles.


Robert Benchley é convencido pela esposa a tentar vender uma história para Walt Disney. Aí já começa a diversão: fica claro que a esposa (Nana Bryant) é quem manda, e talvez este detalhe do relacionamento não seja tão divertido para as crianças quanto o é para os adultos. Robert é levado em um tour pelos Estúdios Disney por um jovem e sem graça guia turístico, Humphrey (Buddy Pepper), e logo Robert consegue escapar dele. Ele então passa pela sala dos desenhistas (onde claramente “Dumbo” está sendo gerado), pela sala de dublagem (onde somos apresentados a Clarence Nash, que dubla o Pato Donald), pela sala de efeitos especiais e chega, magicamente, à sala do Technicolor.

Robert Benchley is advised by his wife to try to sell a story to Walt Disney. Fun starts here: it’s clear that the wife (Nana Bryant) is the boss, and maybe this relationship detail isn’t as for for children as it is for adults. Robert is taken for a tour through the Walt Disney Studios by a young and funnyless guide, Humphrey (Budy Pepper), and soon Robert can escape the tour. He then goes through the drawing room (where “Dumbo” is being made), by the dubbing room (where we’re introduced to Clarence Nash, who dubs Donald Duck), by the special effects room and he finally arrives, magically, to the Technicolor room.


Aqui temos uma mudança digna de Dorothy na Terra de Oz: ao fechar a porta Robert entra em um mundo de cores, e ele próprio reconhece que está agora sendo visto em Technicolor. Lá ele conhece o processo de animação do famoso desenho em que Donald tem problemas ao ordenhar uma vaca (aposto que este desenho fez parte de sua infância!). Depois ainda passamos pela “sala do arco-íris” (onde os desenhos recebem cores, e onde vemos Bambi pela primeiríssima vez!), a sala das esculturas (olhe lá Chernabog, que foi motivo de pesadelos para todos que viram “Fantasia”), a sala dos animadores (Pateta!) e finalmente nos encontramos com Walt Disney e com o próprio dragão relutante.

Here we have a change similar to Dorothy’s in the Land of Oz: when he closes the door Robert enters a world of colors, and he even know he’s now being seen in Technicolor. There he gets to know the animation process behind the cartoon in which Donald has trouble trying to milk a cow (I bet this cartoon was part of your childhood!). Then we go through the “Rainbow Room” (wher drawings receive colors, and we see Bambi for the very first time!), the “Sculptures Room” (take a look at Chernabog, who was the source of nightmares for everybody who has seen “Fantasia”) and the “Animators Room” (Goofy!) and we finally meet Walt Disney and the reluctant dragon himself.


Além de Clarence Nash, que dificilmente seria reconhecido pelas crianças, há ainda outras pequenas pérolas que só adultos e cinéfilos notariam: a trilha sonora reproduz as músicas do maior êxito de Disney até então, “Branca de Neve e os Sete Anões” (1937), o lendário animador Ward Kimball apresenta o primeiro desenho da série “Goffy How To”, Einstein, Freud e Dalí viram personagens animados. E quem é aquele desenhista segurando o modelo do bebê Weems? Ninguém mais ninguém menos que Alan Ladd, mais bonito que nunca!

Besides Clarence Nash, who wouldn’t be recognized by the kids, there are other little treasures that only older cinephiles would notice: the soundtrack brings songs from the most successful Disney movie until then, “Snow White and the Seven Dwarves” (1937), the legendary animator Ward Kimball presents the first cartoon from the series “Goody How To”, Einstein, Freud and Dalí become animated characters. And who is that animator holding the baby Weems model? It’s Alan Ladd, more handsome than ever!

Alan Ladd, Robert Benchley
O Dragão Relutante” estreou durante uma greve dos animadores dos Estúdios Disney, que se mobilizaram para boicotar o filme. Houve um problema envolvendo o Código Hays e o umbigo do dragão (!!) que quase impediu a estreia. Mas o prejuízo foi principalmente resultado da decepção do público, que esperava um filme completamente animado, e não uma mistura de animação e live-action. Este aviso no começo do filme não adiantou:

“The Reluctat Dragon” premiered during an animator’s strike, when Disney Studios animators organized to boycott the film. There was a problem involving the Hays Office and the dragon’s belly button (!!) that almost cancelled the premiered. But the box-office failure came because the public was disappointed – they were waiting for a completely animated film, and not a mix of animation and live-action. This warning in the beginning of the film didn’t work: 

Cartaz criado pelos animadores em greve
Os Estúdios Disney talvez não fossem um lugar maravilhoso como o filme tenta mostrar (a música que acompanha a entrada de Robert nos estúdios é “Whistle While You Work”), mas sem dúvida são um lugar onde sonhos são criados. Se não fosse o TCM, talvez eu não me lembrasse do desejo de ver este filme. E, se não fosse “O Dragão Relutante”, eu talvez não estaria pensando em como eu amo os clássicos Disney.

Disney Studios maybe weren’t the mrvelous place the film tries to show (the song that accompanies Robert’s entrance at the studios is “Whistle While You Work”), but without a doubt it’s the place where dreams are mde. If it wasn’t for TCM, maybe I wouldn’t remember my childish desire to wacth this film. And, if it wasn’t for “The Reluctant Dragon”, maybe I wouldn’t be thinking about how much I love Disney classics.  

This is my contribution to the TCM Discoveries Blogathon, hosted by the knowledgeable Nora at her blog The Nitrate Diva. #LetsMovie

Monday, September 14, 2015

Médica, Bonita e Solteira / Sex and the Single Girl (1964)

Comédia psicodélica dos anos 60 à vista! Começam os créditos e já somos surpreendidos pelo tipo de animação que ficou famosa naquela década com os filmes da Pantera Cor-de-rosa. Uma caricatura de Tony Curtis persegue uma caricatura de Natalie Wood. Símbolos masculinos e femininos nos apresentam também Henry Fonda, Lauren Bacall e Mel Ferrer. Vem coisa boa por aí? Hum, não exatamente.
A psicóloga PhD Helen Brown (Natalie Wood) acaba de escrever um best-seller intitulado “Sex and the S1ngle Girl”, o que rendeu muita notoriedade para ela e para o instituto onde ela trabalha. Mas a revista sensacionalista STOP publicou uma matéria desacreditando a autora, pois a “acusavam” de ser virgem, e, portanto, não ter nenhuma experiência para escrever tal livro. Por trás deste plano maligno está o repórter Bob Weston (Tony Curtis), ele próprio com muita experiência prática sobre o assunto.
Como a médica se recusa a dar uma entrevista para a revista STOP, Bob tira proveito do drama conjugal de seu amigo e vizinho Frank (Henry Fonda), um vendedor de meias que sofre com o ciúme da mulher, Sylvia (Lauren Bacall). Bob finge que é Frank para se consultar com a doutora Helen. Você já imagina o que vai acontecer, não é? Amor à primeira consulta.
Tony Curtis e Natalie Wood têm mais tempo em cena. Em seguida vem Henry Fonda, com uma boa sequência na excêntrica fábrica de meias, cena que poderia ter sido até mais longa. Do quinteto principal (Mel Ferrer interpreta o psiquiatra Rudy), quem tem menos destaque é Lauren Bacall. A moça já havia provado que sabia fazer comédia em “Como Agarrar um Milionário / How to Marry a Millionaire” (1953). Talvez fosse toda a aura séria e sedutora que Lauren tinha desde sua estreia no cinema, aos 20 anos. Talvez seja um problema mais grave: em 1964 Lauren Bacall completou 40 anos, e são poucas as oportunidades para mulheres desta idade em uma indústria sexista como Hollywood quase sempre foi. Mesmo com Fonda admitindo que este era o filme que ele menos gostou de fazer, ele brilha e diverte, mesmo sub-aproveitado. Mas a verdade é que Lauren desempenha bem seu papel. Ela tem química com Henry Fonda, e dá vontade de ver os dois juntos em mais filmes (e dançando o twist, se possível - veja o vídeo:).
Falando em sub-aproveitado, temos também Edward Everett Horton, coadjuvante sempre delicioso de se ver, como o chefe de Bob na revista STOP. Edward, já no final da carreira, tem apenas duas cenas. Outro importante comediante que faz uma breve participação como um policial é Larry Storch.
O passeio no zoológico de Helen e Bob é uma metáfora dos instintos primitivos aflorando, o que fica ainda mais evidente com os gestos de mímica de Tony Curtis em frente à jaula dos macacos. E é assim que o sexo é tratado no filme todo: podíamos estar às vésperas da grande revolução sexual, mas Hollywood ainda não estava totalmente preparada para lidar com o assunto abertamente. Tony Curtis usa o termo “inadequado” para dizer que não conseguia satisfazer a esposa fictícia. Ao final, o filme não é responsável por nenhum grande avanço no tratamento do sexo no cinema, e é provável que desagrade às feministas. Pensando bem, o filme funcionaria perfeitamente se fosse protagonizado por Rock Hudson e Doris Day!
“Sex and the Single Girl” é o título de um best-seller verdadeiro, escrito por, sim, Helen Gurley Brown. Helen foi editora da revista Cosmopolitan, e vendeu os direitos de seu livro e de seu nome por 200 mil dólares para a Warner Bros. O filme nada tem a ver com o livro, apenas utiliza seu título, mas qualquer um ficaria feliz em receber 200 mil para ser interpretado pela linda Natalie Wood nas telas, não?
Os últimos quinze minutos são dignos de uma screwball comedy, com uma divertida perseguição e várias infrações de trânsito. Este é sem dúvida o ponto alto do filme, embora uma sequência anterior também arranque muitas risadas: vestindo um roupão florido, Tony Curtis é comparado, mais de uma vez, “àquele ator, Jack Lemmon” (Lemmon e Curtis se vestiram de mulher no clássico “Quanto Mais Quente Melhor / Some Like It Hot”, de 1959).
O sensacionalismo do título, a crítica inteligente à imprensa dentro da revista STOP, a comédia leve e maluca, o grande elenco: tudo isso rendeu 4 milhões de dólares nas bilheterias. Foi um sucesso, mas visto em 2015 pode ser considerado muito conservador. É um filme bom, mas poderia ser muito melhor.

This is my contribution to the Lauren Bacall Blogathon, hosted by Crystal at In the Good Old Days of Classic Hollywood.

Monday, September 7, 2015

Nada é Sagrado / Nothing Sacred (1937)

Em 1927, William A. Wellman dirigiu “Asas”, famoso por ter sido o primeiro ganhador da história do Oscar de Melhor Filme. Dez anos depois, Wellman trabalhava para David O. Selznick, que tinha ambições multicoloridas naquele ano de 1937. Foi o ano em que a parceria Wellman/Selznick rendeu dois filmes: “Nasce uma Estrela / A Star is Born” (meu filme favorito de todos os tempos) e “Nada é Sagrado / Nothing Sacred”. Enquanto o primeiro é um drama, o segundo é uma das melhores screwball comedies de todos os tempos. E, bônus: em glorioso Technicolor!

In 1927, William A. Wellman directed “Wings”, a film famous because it was the frist ever to win the Best Picture award at the Oscars. Ten years later, Wellman worked for David O. Selznick, who had colorful ambitions for the year of 1937. It was the year in which the Wellman/Selznick partnership originated two movies: “A Star is Born” (my favorite film of all time) and “Nothing Sacred”. While the first one is a drama, the later one is one of the best screwball comedies ever made. And with a bonus: it is in glorious Technicolor!
Wally Cook (Fredric March) é um jornalista que não averiguou bem suas fontes e acabou levando um falso sultão a um grande jantar. Como punição, ele passa a trabalhar na sessão de obituários, mas não por muito tempo: Wally sabe fazer boas reportagens, de “interesse humano”, e convence seu chefe a deixá-lo voltar à ativa para cobrir um caso de contaminação por rádio.

Wally Cook (Fredric March) is a journalist who hasn’t checked his sources and took a fake sultan to a dinner party. As a reprimand, he is sent to the obituaries section, but not for long: Wally knows how to identifies good news and top report things of “human interest”, and that’s how he convinces his boss to send him to cover a case of radium contamination.
Apesar da pouca simpatia dos habitantes da pequena cidade de Warsaw, Wally por fim encontra Hazel Flagg (Carole Lombard), a moça que tem pouco tempo de vida por causa da contaminação. Ele a convence a ir para Nova York, mas há segundas intenções: enquanto Hazel quer se divertir, Wally e a equipe do jornal pensam em explorar o drama dela a qualquer custo. Entretanto, a própria Hazel e o médico excêntrico que a acompanha, o doutor Enoch Downer (Charles Winninger), guardam um segredo.

Although he is not met with niceness by the population of the little town of Warsaw, he eventually finds Hazel Flagg (Carole Lombard), the lady who has little time to live because she was contaminated. He convinces her to go to New York, but with second intentions: while Hazel wants to have fun, Wally and the newspaper team want to explore her drama to the most. However, Hazel and the doctor who is travelling with her, doctor Enoch Downer (Charles Winninger), are keeping a secret.
Carole Lombard está, como sempre, ótima. Como Hazel, ela fala rápido, age despretensiosamente e tem expressões faciais impagáveis, melhor ainda captadas em Technicolor. Seu papel havia sido pensado para Janet Gaynor, que contracenara com March em “Nasce uma Estrela / A Star is Born”, obtendo muito sucesso. Apesar do grande talento de Janet, é inegável que não havia melhor escolha que Carole. “Nada é Sagrado / Nothing Sacred” pode não chegar ao nível de maestria de outros filmes da atriz, como “Irene, a Teimosa / My Man Godfrey” (1936), mas está quase lá.

Carole Lombard is great, as always. As Hazel, she is a fast talker who acts carelessly and has amazing facil expressions – that look even better in Technicolor. Her role was intended to be played by Janet Gaynor, who acted alongside Fredric Marc in “A Star is Born” with great success. Even though Janet was talented, we can’t deny that Carole was the best choice. “Nothing Sacred” may not be as good as her other films, like “My Man Godfrey” (1936), but it is in her TOP 5.
Talvez se William Powell interpretasse o jornalista Wally Cook (e eu consigo visualizá-lo perfeitamente no papel) o filme seria ainda melhor. Mas ele não deixa de ser bom, e deve isso a Carole e ao roteirista Ben Hecht. Hecht recebeu das mãos de Val Lewton, então um jovem subordinado de Selznick, um conto de James H. Street e decidiu adaptá-lo para o cinema. Hecht criou um personagem para John Barrymore, seu grande amigo, mas Selznick se recusou a trabalhar com o ator, então nos últimos anos de sua carreira e de sua batalha com o alcoolismo. Hecht abandonou o projeto (embora ainda receba crédito), Selznick fez algumas mudanças no roteiro, os dois fizeram as pazes e trabalharam em mais filmes juntos.

Maybe, if William Powell had played Wally Cook (and I can perfectly envision him in the role), the film would have been even better. But it is a nice movie, thanks to Carole and screenwriter Ben Hecht. Hecht received from Val Lewton, then a Selznick subordinate, a short story written by James H. Street and decided to adapt it to the screen. Hecht wrote the character to John Barrymore, his good friend, but Selznick refused to work with the actor, who was then in the last years of his career and figtning alcoholism. Hecht abandoned the projet (even though he received credit in the movie), Selznick made some changes in the script, the two became friends again and worked togheter in many other films.
É impossível agradar a todos / You can't please them all
Mas precisamos falar sobre o subestimado diretor William A. Wellman. Em minha opinião, Wellman merece um lugar entre os melhores diretores de todos os tempos, junto com Hitchcock, Fellini, Truffaut, Leo McCarey e W.S. Van Dyke. Mas, assim como os dois últimos, Wellman não se tornou um auteur. Wellman não tinha uma marca registrada, não trabalhava com um só gênero ou só um grupo de atores, mas dominava as técnicas de sua arte. Basta uma cena do filme para percebermos isso: quando Wally e Hazel estão andando pelas ruas de Warsaw, eles ficam um longo momento com os rostos encobertos por um tronco de árvore. Como todas as tomadas dos filmes são planejadas, não se trata de um erro, mas sim de um truque de Wellman: filmar uma cena com bom enquadramento é fácil, difícil é filmar uma cena que esconda o rosto dos protagonistas – que estão eles mesmos escondendo suas verdadeiras intenções – de um jeito tão íntimo e revelador.

But we really need to talk about underrated director William A. Wellman. In my opinion, Wellman deserves to be cited among the best directors of all times, next to Hitchcock, Fellini, Truffaut, Leo McCary and W.S. Van Dyke. But, just like the two last ones, Wellman didn’t become an auteur. Wellman didn’t have a registered mark, didn’t work in only one genre or with a small group of actors, but he knew all about the film techniques. In one scene we can realize his status as a master: when Wally and Hazel are walking by the streets of Warsaw, they stay a long while with their faces covered by a tree trunk. Since all the film shots are planned, it is not a mistake, but a trick by Wellman: to shoot a scene with a good framing is easy, but it is difficult to shoot a scene in which the leads’ faces are hidden – because the leads are, themselves, hiding their true intentions – in such an intimate and revealing way.

Em Technicolor, Carole Lombard nunca esteve tão bonita – nem tão frágil. É doloroso pensar que a comédia trata de uma moça destinada a morrer jovem, quando sabemos que o destino de Carole foi a morte em um acidente aéreo em 1942, quando ela tinha apenas 33 anos. Mas esqueçamos por um momento a vida e vamos nos concentrar na arte: porque só Carole Lombard (com uma ajudinha de Wellman, que foi inclusive colocado em uma camisa-de-força em uma brincadeira da atriz) poderia fazer um filme tão delicioso quanto este.

In Technicolor, Carole Lombard never looked so beautiful – or so fragile. It’s painful to think that the comedy is about a woman who is going to die young, when we know that Carole died in a plane crash in 1942, when she was only 33. But let’s forget real life for a moment and pay attention to fiction: because only Carole Lombard (with a little help from William Wellman, who was even put in a straightjacket by Carole in a prank) could make such a delightful film. 
Carole está DESMAIADA / Carole has FAINTED

Nada é Sagrado / Nothing Sacred” (1937) está disponível no YouTube e no Internet Archive. Aproveite!

“Nothing Sacred” (1937) is available on YouTube and Internet Archive. Enjoy!

This is my contribution to the William Wellman Blogathon, hosted by Liz at Now Voyaging.


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