Os
tempos mudam, as décadas passam, o cinema se modifica, mas há algo
que nunca para de provocar riso: a comédia física. Desde os
primórdios do cinema, ela estava lá. Max Linder, Mabel Normand,
Roscoe ‘Fatty’ Arbuckle, Chaplin, Keaton, Harold Lloyd fizeram
maravilhas com a comédia física, e ainda encantam as plateias com
filmes centenários.
O
som chegou ao cinema, mas a comédia física continuou firme e forte.
Vindos do vaudeville, os irmãos Marx misturavam bem as frases
inteligentes, os trocadilhos, as canções e a comédia física,
personificada no sempre incrível Harpo Marx. Vindos de
curtas-metragens mudos, Stan Laurel e Oliver Hardy mantiveram um
pouco das gags
tão características
desta era do cinema. E, um pouco
parecidos com Laurel e Hardy, seguiram
Abbott e Costello a partir dos
anos 40.
Bud
Abbott era alto, magro, prático e racional. Lou Costello era baixo,
gordo, medroso e rico em expressões faciais impagáveis. Naquele que
é considerado o melhor filme da dupla, Abbott e Costello interpretam
respectivamente Chick e Wilbur, dois (i)responsáveis por uma
companhia de seguros
que devem levar uma carga preciosa até o show de horrores de
MacDougal (Frank
Ferguson). Nos caixotes muito bem vedados estão os corpos de Drácula
e do monstro de Frankenstein, mas eles não estão nem um pouco
mortos.
Drácula
(Bela Lugosi) é o primeiro a acordar e assombrar Wilbur, em uma
sequência divertida, mas que poderia ser mais curta. Em seguida, o
vampiro acorda a criatura do
doutor Frankenstein (Glenn Strange), e coloca seu plano maligno em
prática: com a ajuda da doutora Sandra Mornay (Lenore Aubert),
Drácula
quer dar um novo cérebro, completamente obediente, para a criatura.
Quem tenta impedir o plano maligno é ninguém mais ninguém menos
que o Lobisomem (Lon Chaney Jr).
Costello
é o rei da comédia física. Desde o começo ele está derrubando
coisas e promovendo o caos. Seus gestos após a fuga dos monstros são
descontrolados e hilários. Seu encontro com duas garotas em
uma festa a fantasia causa inveja
em Abbott e é fonte de boas surpresas. A
cena em que ele senta no colo de Frankenstein é carregada de sustos
e improvisos. Quando fica tenso,
as palavras desaparecem, e resta a Lou Costello tentar se comunicar
com gestos. Mas o mais impressionante não é o que Costello faz, mas
sim o fato de que ele quase não fez este filme: se
recusou a trabalhar com um roteiro
que considerou fraquíssimo (ele teria dito que a filha pequena era
capaz de escrever algo melhor que “aquilo”). Mas uma conversa
amigável (e 50 mil dólares) o convenceram a fazer o filme, para
nossa alegria.
O
terror é um gênero que, assim como a comédia, depende muito dos
efeitos visuais. No castelo de Drácula, as passagens secretas e
cenários assombrados criam a mistura perfeita de comédia e
suspense. Tanto o horror quanto a comédia dependem de histórias
simples que geralmente dão origem a filmes de menos de 90 minutos,
com muitas imagens poderosas. Alguns
efeitos especiais também estão presentes, como a transformação de
Drácula em mamífero voador. E a transformação de Chaney Jr em
Lobisomem é um espetáculo à parte. E, curiosidade: na cena em que
a criatura de Frankenstein pega Sandra no colo, é Chaney que está
por baixo da máscara, pois Glenn Strange estava com o tornozelo
machucado.
O
cenário do filme é dos mais belos já feitos pela Universal, e
lembra muito “O Gato e o Canário / The Cat and the Canary”
(1927)
e “A Mansão
de Frankenstein / House of Frankenstein” (1944), ambos
filmes também produzidos pela Universal, de modo que não seria de
se espantar se os cenários fossem reutilizados.
O
último grande filme dos monstros da Universal foi um dos mais
baratos do estúdio, e também um dos maiores sucessos. Mais de 65
anos após sua estreia, o filme mantém o frescor original. Para
apreciar o filme, não é preciso conhecer a história por trás de
Drácula, Frankenstein e Lobisomem. Não temos piadas perdidas na
tradução, não temos nada que passou da validade. Em
tempos de American Pies e outras apelações cômicas, a boa e velha
comédia física se mostra mais duradoura, atual e importante do que
nunca. E viva Abbott e Costello!
This
is my contribution to the See You in the 'Fall' Blogathon, hosted by
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