Eu uso qualquer
desculpa para ver mais filmes. Se for possível ver muitos filmes, aprender um
bocado e ainda conseguir um certificado (com honras!!!) de uma universidade
internacional, pode ter certeza de que eu aproveitarei a chance. E de fato fiz
isso, através do curso Scandinavian Film & TV, oferecido pela Universidade
de Copenhagen no portal Coursera. E eu não poderia ter ficado mais feliz com o
resultado.
Logo no começo pude
aprender mais sobre meu período favorito: o cinema mudo dos países escandinavos
(Suécia, Noruega, Finlândia e Dinamarca). Os primeiros filmes foram
apresentados nestes países em 1896 e o cinema mudo dinamarquês e sueco tinham
grande destaque na década de 1910... até a UFA, produtora e distribuidora
alemã, monopolizar o mercado europeu.
Os grandes mestres
escandinavos mereciam um tópico só deles, e por isso estudamos Carl Theodor
Dreyer (cujo nome aprendi a pronunciar com um sotaque autêntico) e Ingmar
Bergman separadamente. Na vez de Dreyer, pude me encantar com seu primeiro
longa-metragem, o fantástico “O Presidente” de 1919. Bergman e eu somos velhos
conhecidos! Tanto Dreyer quanto Bergman filmavam as chamadas “chamber plays”: histórias que se
passavam em cenários restritos (muitas vezes até desérticos) e com poucos
personagens. É o drama psicológico à moda sueca.
Você tem medo de
filmes antigos? Quer saber mais sobre Lars Von Trier e sua “Ninfomaníaca”? Não
se preocupe: boa parte do curso é dedicada à nova onda de bons filmes
dinamarqueses, incluindo ganhadores do Oscar, mulheres diretoras e o homem que
hoje é Hannibal Lecter na TV. Há também tópicos como a “New Wave escandinava” e
o polêmico e curioso Dogma 95 (manual de regras para ser levado a sério ou
apenas uma jogada de marketing para atrair atenção para o cinema escandinavo?).
Algo muito
interessante e curioso neste curso é que cada tópico tem um professor diferente
(quando eu fiz o curso, em 2014, eram 10 temas em 10 semanas. Em 2015 o curso
foi oferecido novamente com os mesmos 10 temas, mas condensados em cinco
semanas). É como assistir semanalmente a pequenas lições com palestrantes
distintos. Essa foi a primeira e única vez que isso aconteceu em um curso
online que eu fiz até agora.
O curso acabou e eu
consegui um certificado (com honras!!!) e ainda aumentei minha lista de filmes
que quero ver (Asta Nielsen dos anos 1910, você é a próxima). Para conseguir o
certificado, foi necessário fazer alguns teste fáceis de múltipla escolha e
dois textos, um sobre o filme “A Palavra / Ordet”, de Dreyer, e outro sobre as
causas do recente sucesso de séries de TV escandinavas em outros países.
Claro que nem todo
mundo queria receber um certificado. É também possível se matricular e ver as
lições apenas de um tema que mais lhe interesse. E é esse caráter democrático que mais me
fascina nos cursos online de cinema.
Por falar nisso, em 1º
de junho começa o curso “Into the Darkness: Investigating Film Noir”. O canal
TCM apoia o curso e, além de mim, dezenas de amigos meus da internet vão fazer
o curso. E aí, nos encontramos na sala de aula?
O ano era 2011. O oitavo
episódio da quarta temporada de The Big Bang Theory, “The 21-Second
Excitation”, trazia nossos nerds favoritos, encabeçados pelo grande, poderoso e
incrível Sheldon, em uma ida ao cinema para ver a versão restaurada de “Os
Caçadores da Arca Perdida / Raiders of the Lost Ark”, com incríveis 21 segundos
de filmagem nunca vistos. Este era um dos poucos episódios de The Big Bang
Theory com o qual eu não havia me identificado. Até agora.
The year was 2011. The eighth episode of season four
of The Big Bang Theory,”The 21-Second Excitation”, brought our favorite nerds,
including the mighty Sheldon, in a trip to the movies to see the restored
version of “Raiders of the Lost Ark”, with amazing 21 seconds of
never-before-seen footage. This was one of the few The Big Bang Theory episodes
with which I had not feel an identification. Until
now.
É muito difícil escolher meu
filme mudo favorito, mas com certeza “O Grande Desfile / The Big Parade” (1925)
está entre os cinco primeiros. Fiquei loucamente emocionada quando o vi pela
primeira vez, em janeiro de 2014. Logo depois o escolhi para alguns prêmios
importantes em meu Oscar pessoal de 1925. E, quando descobri que a versão
restaurada do filme, com trinta minutos a mais de projeção, seria lançada em
DVD no Brasil, não tive dúvidas: comprei o box (que veio com outros cinco
filmes, mas o mais importante é “O Grande Desfile”).
It’s very hard for me to choose my favorite silent
movie, but for sure “The Big Parade” (1925) is among the TOP 5. I was crazily
moved the first time I saw it, on January 2014. Right after this, I chose it to
receive some important prizes on my personal 1925 Oscars. And, when I
discovered that the restored version of the film, with extra 30 minutes of
footage, was going to be on DVD in Brazil, I had no doubts: I bought the box
(that came with five other films, but the most important is “The Big Parade”).
O ano é 1917 e os Estados Unidos
acabam de entrar na Grande Guerra! O jovem herdeiro Jim (John Gilbert) se
alista no exército em um momento de loucura juvenil, e sua partida para lutar
na França coloca a mãe em desespero, deixa o pai muito orgulhoso e satisfaz a
vaidade da namorada de Jim, Justyn (Claire Adams). Ah, o que a música “Over
There” é capaz de fazer! George M. Cohan sabia das coisas! Mas a vida no
exército não é fácil! Apesar das dificuldades, Jim está feliz ao lado dos novos
amigos, Slim (Karl Dane), um operário, e Bull (Tom O'Brien), um barman.
Só a guerra poderia unir três pessoas tão diferentes.
The year is 1917 and the USA
just entered the Great War! Young
heir Jim (John Gilbert) joins the army in a moment of youthful craze, and his
departure to fight in France leaves his mother desperated, his father proud and
fullfils his girlfriend Justyn's (Claire Adams) vain wish. Oh, what can the
song “Over There” do! George M. Cohan knew a thing or two! But life at the army
isn't easy! Even though he faces difficulties, Jim is happy with his new
friends, Slim (Karl Dane), a construction worker, and Bull (Tom O'Brien), a
barman. Only the war could unite those three very different people.
E só a guerra faria Jim conhecer
uma linda garota francesa, Melisande (Renée Adorée), que vive em uma aldeia
perto do campo de treinamento de Jim. Apesar de não falarem a mesma língua,
eles se entendem com gestos singelos, como quando Jim ensina Melisande a mascar
chiclete. A cena é mais divertida que a dança de Gene Kelly quando ele percebe
estar apaixonado em “Cantando na Chuva / Singin' in the Rain” (1952) e ao mesmo
tempo com mais sensualidade e romance que a troca de cigarros acesos por Paul
Henreid em “A Estranha Passageira / Now, Voyager” (1942).
And only the war would make Jim
meet an adorable French girl, Melisande (Renée Adorée), who lives in a village
near Jim's training camp. Even though they don't speak the same language, they
understand each other with sweet gestures, like when Jim teaches Melisande how
to chew gum. The scene is more fun than the scene with Gene Kelly dancing when
he realizes he's in love in “Singin' in the Rain” (1952) and at the same time
is sexier and more romantic than the exchange of cigarettes in “Now, Voyager”
(1942).
Quais as diferenças entre a
versão já conhecida e a restaurada, que estreou no TCM Film Festival de 2013?
Poucas. Poucas mesmo. Primeiro, a versão restaurada tem as cenas noturnas em
tons de azul ou bege, enquanto na versão normal está tudo em preto e branco. As
imagens também são mais nítidas, perfeitas e praticamente em alta definição.
What are the differences between
the known version and the restored one, presented at the 2013 TCM Film Festival? A few. Very few. First, the
restored version has night scenes with tinting and toning, while in the normal
version everything is in black and white. The images are also clearer, perfect,
almost in high definition.
E é isso que ganhamos com os
trinta minutos extras de filme: mais imagens, e imagens mais nítidas. A versão
normal teve origem em uma cópia do filme com som sincronizado, feita em 1931,
enquanto a restaurada veio da versão original. Vale dizer que o filme é
projetado a uma velocidade menor, as imagens da versão restaurada passam mais
vagarosamente por nós que as da versão normal, talvez para que seja possível
prestarmos atenção em todos os detalhes. Há cenas inéditas reveladoras, como na
restauração de “Metropolis”? Não. Vivi milhões de dèja vú vendo a versão
restaurada, e a única cena da qual não me lembrava muito bem era da reunião /
sarau na casa de Melisande.
And this is what we get with the
extra thirty minutes: more images, and clearer images. The normal version was
originated in a copy with synchronized sound, made in 1931, while the restored
one came from the original version. We must say that the film is projected at a
slower speed, the images of the restored version go through us slower than in
the normal version, maybe so that we can pay attention to all details. Are
there new, vital scenes, like in the “Metropolis” restoration? No. I lived
millions of déja vú watching the restored version, and the only scene I didn't
remember was the one with the reunion at Melisande's house.
Por que este é um dos meus
filmes mudos prediletos? Junto com os outros filmes silenciosos que eu amo
loucamente (“A Caixa de Pandora”, “A Última Ordem / The Last Command”,
“Ben-Hur”, “Metropolis”...), “O Grande Desfile” é arrebatador. Foi arrebatador
em 1925, chegando a ficar dois anos em cartaz em um cinema, e permanece
arrebatador em 2015. Foi inovador ao não glorificar a guerra de modo algum, e
continua poderoso em suas cenas mais emocionantes (o autor da história foi
co-autor de “What Price Glory?” e, claro, veterano de guerra). John Gilbert,
Renée Adorée e Karl Dane não viveriam para ver a Segunda Guerra. John Gilbert
amou fazer este filme. Eu preciso concordar: ele nunca esteve mais belo, mais
tocante ou mais à vontade nas telas.
Why is this one of my favorite
silent films? With other silents that I love a lot (“Pandora's Box”, “The Last
Command”, “Ben-Hur”, “Metropolis”...), “The Big Parade” is ravishing. It was
ravishing in 1925, when it spent two whole years being shown in a movie
theater, and it is ravishing in 2015. It was innovative as it never glorified
the war, and it's still powerful in its most moving scenes (the author of the
story was the co-author of “What Price Glory?” and, of course, a war veteran).
John Gilbert, Renée Adorée and Karl Dane wouldn't live to the World War II.
John Gilbert loved doing this film. I have to agree: he never was so handsome,
touching or at ease in a film.
Há algo de belo na destruição
que a guerra traz e o filme mostra. Há algo de muito belo na trilha sonora
composta por Carl Davis em 1988. É um daqueles filmes que, quando acaba, eu
levanto e aplaudo, sem ter vergonha de ser vista, sem me importar com o fato de
que todos os envolvidos com a filmagem já estão mortos. É o tipo de filme que,
assim que acaba, quero voltar ao começo e ver de novo, e de novo, e de novo. É
o tipo de filme que eu compro em DVD com prazer, seja pelo realismo de suas
imagens, por 21 segundos ou por 30 minutos a mais da indelével magia do cinema.
There is something beautiful in
the destruction war brings and the film shows. There is something very beautiful
in the soundtrackcomposed by Carl Davis in 1988. This is one of those films
that, when it ends, I stand up and cheer, not ashamed of being seen, not caring
if all the ones involved in making the film are already dead. It's the kind of
film that, as soon as it ends, I want to go back to the beginning and watch
again, and again, and again. It's the kind of film whose DVD I buy with
pleasure, no matter if it is for the realism of its images, for 21 seconds or
for 30 extra minutes of the amazing film magic.
This post is part of the My Favorite Classic Movie
blogathon, in honor of the first National Classic Movie Day (May 16th). The
blogathon is hosted by Rick at Classic Film an TV Cafe.
Um livreto sobre o filme pode ser encontrado AQUI.
O
cineasta mais criativo do cinema mudo, a quem devemos toda a estética
inventiva dos filmes, foi Georges Méliès. Ele foi o pai da arte
cinematográfica como um todo e da ficção científica em
particular, com sua “Viagem à Lua” em 1902. O outro pai da
ficção científica durante a era muda foi Fritz Lang. Depois da
saga dos Nibelungos, ele presenteou o mundo com os dois mais
influentes filmes de ficção científica da história.
“Metropolis”
poderia ser uma história de amor, mas não é. Poderia ser sobre um
conflito de gerações, mas não é. Poderia ser apenas mais uma
distopia. Mas não é. “Metropolis” é uma mistura de todos estes
temas com a maior beleza possível. Em um futuro distante para Lang,
mas não tão distante para nós, Freder Fredersen (Gustav Fröhlich),
o filho do chefe de Metropolis, vive com todos os privilégios que
sua classe de garotos mimados tem. O lugar de diversão de Freder
lembra muito a imagem que sempre foi pintada do Monte Olimpo, com a
adição dos moços / heróis / atletas praticando esportes vestindo
roupas incrivelmente brancas. Freder toma contato com a realidade dos
trabalhadores de Metropolis quando Maria (Brigitte Helm) invade o tal
clube de recreação e mostra para as crianças pobres que os ricos
são seus irmãos.
Freder
vai atrás de Maria, e vê a moça pregar para os pobres e cansados
trabalhadores sobre a vinda de um mediador que resolverá os
problemas entre os pensadores e os operários. Ao mesmo tempo, o pai
de Freder, Joh “Alfred Abel), está possesso com a influência de
Maria, e persuade o cientista Rotwang (Rudolf Klein-Rogge) a modelar
seu robô para que ele fique parecido com Maria e possa ser usado
para causar discórdia na Metropolis. É uma mistura inebriante de
ficção científica e épico bíblico.
“Metropolis”
nos arrebata em menos de dez minutos. Em um piscar de olhos já
estamos hipnotizados pelos cenários suntuosos, criados com muita
ilusão de óptica (alguns cenários eram apenas miniaturas, e
espelhos eram usados para dar a impressão de que eram prédios
enormes com pessoas ao redor, através do inovador “processo
Schüfftan”) e técnicas de stop
motion.
“A
Mulher na Lua” conta a história de (adivinha?) uma viagem à Lua
em que uma mulher é uma das tripulantes da missão. Esta mulher é a
bela Friede (Gerda Maurus), que acaba de ficar noiva de Windegger
(Gustav von Wangenhein), mas por quem Wolf Helius (Willy Fritsch),
melhor amigo de Windegger, também era apaixonado. Quem propôs a
expedição foi o maluco professor Manfeldt (Klaus Pohl), que
acredita que o subsolo da Lua contém ouro – muito ouro. Manfeldt
foi humilhado por seus colegas da universidade, mas Helius acredita
nele.
“A
Mulher na Lua” acerta em algumas previsões, como os foguetes que
têm de abandonar partes de sua estrutura após a decolagem, e a
imensa pressão que os tripulantes do foguete teriam de aguentar ao
sair da Terra (nada de traje de astronauta! Mas eles compensam a
gravidade zero de uma maneira bem criativa). E há inclusive uma
imagem sensacional da Terra vista do espaço (Yuri Gagarin ainda não
tinha falado que a Terra era azul, mas isso não foi problema porque
o filme era em preto e branco).
O
grande problema de “A Mulher na Lua” é que o prólogo, que reúne
todos os personagens que partem rumo à Lua e explica suas relações,
poderia durar quinze minutos, mas se estende por uma hora e vinte
minutos! Mas, a partir daí, é mágica pura, com cenas que até hoje
nunca foram superadas em grandeza nos filmes de ficção científica.
Durante
décadas o público só teve acesso a uma versão truncada de
“Metropolis”, com 90 minutos de duração (que H.G. Wells disse
ser “o filme mais bobo que já vi”). Em 2008 tudo mudou: a versão
(quase) original do filme foi encontrada na cinemateca de Buenos
Aires e restaurada. Hoje podemos ver toda a glória dos 150 minutos
de projeção, em que nada é simplista, em que a história de amor
fica em segundo plano, em
que há profunda ligação entre os temas diametralmente opostos.
“Metropolis”
é um filme mais poderoso, mais incrível do que se imaginava. É
uma obra-prima completa, parida pelo casal Thea von Harbou e Fritz
Lang.
Você
gostaria que outros filmes mudos fossem redescobertos, restaurados e
devolvidos à sua glória original, assim como “Metropolis”? Pois
você pode ajudar! Clique no link abaixo para doar para o National
Film Preservation Association e garantir a restauração de “Cupid in Quarantine” (1918), que depois de restaurado será
disponibilizado para ser visto online!
Um amor nerd na vida é tudo que
queremos? Talvez hoje, para algumas pessoas, sim. Mas ver um amor nerd em um
filme de 1945 é meio estranho, não acham? Mas é uma comédia, e o jeito nerd e
peculiar do casal é perdoado quando descobrimos que as estrelas deste filme
delicioso são Spencer Tracy e Katharine Hepburn, talentosos, apaixonantes e
apaixonados.
O
cientista Pat Jamieson (Tracy) chega à casa de Jamie Rowan (Hepburn) por acaso.
Ele é levado até lá pelo
primo bêbado da moça, Quentin (Keenan Wynn) e no dia seguinte se apresenta a
Jamie como candidato a novo caseiro. Ela logo descobre a farsa, mas aceita que
Pat cuide da casa porque ele é filho de um velho amigo do pai dela, já
falecido. Pat usa o porão para uma experiência do exército, e em pouco tempo
ele recebe ajuda de Jamie, uma entusiasta da ciência.
A ajuda, entretanto, é muito
mais do que se esperava. Pat não ganha uma assistente, mas sim uma esposa. O
jeito de Jamie propor casamento é dos mais originais da história. É algo
simples, é uma parceria, e há uma única condição: será um casamento sem amor.
Pat foi iludido pela única mulher por quem se apaixonou, Lila, e Jamie foi
muito feliz com o marido, mas uma tragédia a deixou viúva. O casamento de Pat e
Jamie é um negócio, é pelo bem da ciência, é fundamental para a criação de uma
máscara de oxigênio para o exército!
Talvez este próximo parágrafo
pareça um sacrilégio para os fãs de cinema clássico, mas vou arriscar. O
relacionamento sem amor entre dois cientistas me lembrou instantaneamente do
relacionamento peculiar entre Sheldon e Amy na série The Big Bang Theory. O
humor, o contrato de relacionamento, os passos lentos até o primeiro beijo, a
colaboração científica: são muitas as coisas em comum com os casais “Shamy” e
“Patie”!
Talvez o nome do roteirista lhe
seja familiar. Donald Ogden Stewart foi o responsável pela volta triunfal de
Katharine Hepburn ao cinema, três anos após ela ser chamada de “veneno de
bilheteria”. Donald adaptou a peça “Núpcias de Escândalo / The Philadelphia
Story”, e o roteiro deu origem ao filme protagonizado por Hepburn, James
Stewart e Cary Grant em 1941. Philip Barry, autor da peça “The Philadelphia
Story”, também escreveu a peça “Without Love”, e Hepburn também a representou
nos palcos em 1942.
Esta é uma comédia com bons
momentos. E, quando se fala em comédia americana, não se pode esquecer Lucille
Ball, que tem aqui um papel de coadjuvante: a irônica corretora de Jamie, Kitty
Tremble. Linda, chique e muito bem-sucedida, Kitty tem frases de efeito,
bom-humor, independência e um jogo de gato e rato com Quentin.
Aos 38 anos, Katharine Hepburn
apresenta um brilho no olhar nunca visto em toda sua carreira. Repare em quando
ela fala do marido morto e nos momentos de testar a invenção genial. Repare no
instante em que ela fica com lágrimas nos olhos, usando um vestido maravilhoso
com listras brilhantes. Pense no contexto do filme: tudo ali agradava Hepburn.
O fato de interpretar uma mulher forte, porém com sentimentos, uma cientista
inteligente e determinada, o fato de trabalhar com Donald Ogden Stewart e,
claro, seu amado Spencer Tracy. Tudo apontava para um filme inesquecível,
embora este não seja o mais memorável dos nove protagonizados pela dupla
Hepburn-Tracy.
Arte de Jacques Kapralik para o filme
Em 1942 Spencer Tracy e
Katharine Hepburn fizeram seu primeiro filmes juntos, “A Mulher do Dia / Woman
of the Year”, e se apaixonaram. Em 1967, pouco antes de Tracy falecer, eles
estrelaram no último filme juntos, “Adivinhe quem vem para jantar? / Guess who’s
coming to dinner”. Foram 25 anos de um relacionamento bonito, difícil e
inspirador. Kate e Spence passaram um quarto de século em uma relação que pode
ser definida com muitos adjetivos – mas nunca com “sem amor”.
Você acordou atrasado para o
trabalho? Tirou uma nota ruim naquela prova da faculdade? Seu cachorro comeu um
pé do seu chinelo favorito? Você acabou de comprar um sorvete e o derrubou
inteiro no chão? Em suma, você teve um dia ruim? Não se preocupe, porque eu
tenho o remédio: você estará alegre novamente em menos de 30 minutos com estas
pequenas e infalíveis comédias feitas há mais de 90 anos.
Did you wake up and discovered you were late for work?
Did you get a bad grade at a college test? Did your dog eat your favorite
slipper? Did you drop the ice cream you had just bought? Did you have a bad
day? Don't worry, because I have the solution: you'll be happy again in less
than 30 minutes with these short and infalible comedies made more than 90 years
ago.
Os primeiros filmes da história
do cinema (e, via de regra, os primeiros filmes das carreiras de grandes
diretores) são curtas-metragens. Se as primeiríssimas projeções, ainda do
século XIX, tinham apenas alguns segundos, nas primeiras décadas do século XX
elas ficaram cada vez mais longas, elaboradas e divertidas. Comédias mudas de
curta-metragem são doses de humor na medida certa para qualquer espectador.
The first films in move history (and, more often than
not, the first film in the director's careers) are short films. If the very
first exhibitions, still in the 19th century, lasted only a few seconds, in the
first decades of the 20th century they became longer, more ellaborated and
funnier. Short silent comedies are dosis of doozy perfect for any audience.
Aperte o play, você não vai se
arrepender!
Press play and you won't regret it!
The Drunken Mattress (1906):
Começamos com um filme dirigido por uma mulher, a pioneira Alice Guy-Blaché. Um
homem bêbado (já aviso que mais filmes da lista incluem bêbados) entra em um
colchão que está sendo fabricado. Depois de costurado, o colchão apresenta um
comportamento estranho (eu não acredito que eu escrevi isto).
The Drunken Mattress (1906): we start with a film direct by a woman, the pioneer
Alice Guy-Blaché. A drunken man (I'll already tell you that more films in this
list involve drunken men) enters a mattress about to be sewn. After being sewn,
the mattress has a weird behavior (I can't believe I wrote that).
The ? Motorist (1906):
Ele não arranca muitas risadas, mas impressiona pelos efeitos especiais. Se
Méliès havia ido à Lua em 1902, quatro anos depois W.R. Booth leva seus
personagens não apenas para a Lua (que, novamente, tem um rosto animado), mas
também pelos anéis de Saturno! Se piscar você perde um detalhe delicioso desta
comédia primitiva.
The ? Motorist (1906): it may not be so funny, but it is a film with
impressive special effects. If Méliès had traveled to the moon in 1902, four
years later W.R. Booth takes his characters not only to the moon (who has an
animated face once again), but also to the Saturn's rings! If you blink I'll
miss a delightful detail in this early comedy.
Max takes tonics (1911):
O ator francês Max Linder foi o primeiro grande astro internacional da comédia
cinematográfica. A persona criada por ele é um homem muito elegante e
louco por mulheres, que tem problemas por seus excessos. Em seu melhor filme,
Max precisa tomar vinho como remédio, mas exagera na dose e acaba bêbado – e
confuso.
Max takes tonics (1911): French actor Max Linder was the first big
international comedy film star. His persona was of a very fancy man, a
womanizer always in trouble for his excesses. In his best film, Max has to take
wine as a medicine, but he exaggerates and ends up drunk – and confused.
An Interrupted Elopement (1912):
Mabel Normand quer se casar com seu namorado, mas o pai dela não quer ver a
filha casada com um “chorão”. Os amigos do pobre moço apaixonado sugerem que o
casal fuja e oficialize a união com um padre. Mas o pai da moça vai atrás deles.
An Interrupted Elopement (1912): Mabel Normand wants to marry her boyfriend, but her
father doesn't want to see his daughter married to a “cry-baby”. His friends
suggest an elopement, but Mabel's father goes after the couple.
Pool Sharks (1915):
O tema principal de muitas comédias (e outras obras de arte em geral) é o amor.
E, em seu primeiro filme, W.C. Fields disputa o amor de uma mulher através de
um jogo de sinuca. Apesar de ter um final abrupto, as sequências da sinuca
fazem o filme valer a pena – mesmo que você não goste de jogar sinuca.
Pool Sharks (1915): The main theme of many comedies (and other art works
in general) is love. And, in his film debut, W.C. Fields fights for the love of
a woman through a pool game. Even though the film has an abrupt ending, the
pool sequences make it worth watching – even if you don't enjoy playing pool.
One AM (1916):
Esqueça o personagem vagabundo. Aqui Charles Chaplin chega tarde (e bêbado) à
sua luxuosa casa. Poucos cenários, muitos obstáculos e apenas Chaplin em cena:
os ingredientes para o melhor curta-metragem do ator (na minha humilde
opinião).
One AM (1916): Forget the Tramp character. Here Charles Chaplin
arrives late (and drunk) to his mansion. Few sets, a lot of obstacles and only
Chaplin on the screen: the ingredients for the best short film in his career
(in my humble opinion).
Coney Island (1917):
Este é um filme de Fatty Arbuckle, mas sabe o que realmente importa? É que aqui
Buster Keaton, o homem da cara de pedra, não apenas ri, mas gargalha... duas
vezes!
Coney Island (1917): This is a Fatty Arbuckle vehicle, but do you know
what really matters? It's that in this film Buster Keaton, the great stone
face, not only smiles, but laughs... twice!
Ask Father (1919):
Harold Lloyd quer apenas perguntar ao pai da mulher que ama se ela pode se
casar com ele. Mas o homem é muito ocupado e trabalha em um escritório difícil
de se infiltrar, cheio de funcionários e até armadilhas. E prova que Harold
gostava de escalar prédios bem antes de “O Homem-Mosca”.
Ask Father (1919): Harold Lloyd only wants to ask for his girlfriend's
hand for her father. But the old man is very busy and works in an office hard
to get in, full of employees and traps. This film proves that Harold enjoyed
climbing buildings way before “Safety Last!”.
The Electric House (1922):
Esta lista poderia conter apenas filmes do genial Buster Keaton, mas preferi
escolher apenas uma pequena e deliciosa comédia. O que acontece aqui é que
Keaton, recém-formado, é contratado para projetar uma casa extremamente
moderna. O problema é que ele não é engenheiro, houve uma confusão em uma troca
de diplomas, mas ele aceita o desafio assim mesmo.
The Electric House (1922): this list could only have films from genius Buster
Keaton, but I decided to choose only one little and delightful comedy. What
happens here is that Keaton, recently graduated from college, is hired to build
a very modern house. The trouble is that he is not an engineer, there was a
mistake involving his diploma, but he decides to get the job.
Felix in Hollywood (1923):
Este filme é o máximo. O gato Félix (ele mesmo que você está pensando) vai a
Hollywood com seu dono, um aspirante a ator, e lá conhece as versões animadas
de Charles Chaplin, Ben Turpin, Gloria Swanson, Douglas Fairbanks e William S.
Hart.
Felix in Hollywood (1923): This film is wonderful. Felix the cat (yes, THAT
Felix the cat) goes to Hollywood with his owner, an aspiring actor, and there
he meets animated versions of Charles Chaplin, Ben Turpin, Gloria Swanson,
Douglas Fairbanks and William S. Hart.
It’s a Gift (1923):
Conheci este curta divertido através de um trabalho detetivesco que me foi dado
pelo leitor Martin Carone dos Santos. Ele queria saber qual comediante do
cinema mudo era chamado de “cara linda” no Brasil. Depois de uma pequena
descrição de um filme com ele, descobri a identidade do “cara linda”: é Snub
Pollard, que aqui interpreta o excêntrico cientista que inventa um carro movido
a ímã.
It's a Gift (1923): I got to know this fun short through an investigative
work that a reader gave me. He wanted to know which silent comedian was
nicknamed “pretty face” in Brazil. After a small description of a film starring
him, I discovered the true identity of “pretty face”: he is Snub Pollard, who
plays in this film the ecentric scientist who invents a car powered by a
magnet.
Leave 'Em Laughing (1928):
um humor simples, que agrada a todas as pessoas, de todas as idades. Com Leo
McCarey como assistente de direção, o curta-metragem apresenta Stan Laurel com
dor de dente (esta é a origem da bela foto que enfeitava o apartamento de Joey
e Chandler em FRIENDS) e os efeitos que o gás hilariante do dentista causam na dupla
de amigos. Mas fica a dúvida: por que Laurel e Hardy dormem na mesma cama?
Leave 'Em Laughing
(1928): a simple humor that pleases people of any age, from any place. With Leo
McCarey as assistant director, the short film has Stan Laurel with a toothache
(this is the origin of the big photo hanging in Joey and Chandler's apartment
in FRIENDS) and the effects that the laughing gas used by the dentist cause in
the duo. But there is still a doubt: why do Laurel and Hardy sleep in the same
bed?
This
is my contribution to Shorts! A Tiny Blogathon,
hosted by blogathon Jedi Fritzi at Moveis, Silently.