} Crítica Retrô: May 2015

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Sunday, May 31, 2015

Estudando cinema (escandinavo) sem sair de casa

Eu uso qualquer desculpa para ver mais filmes. Se for possível ver muitos filmes, aprender um bocado e ainda conseguir um certificado (com honras!!!) de uma universidade internacional, pode ter certeza de que eu aproveitarei a chance. E de fato fiz isso, através do curso Scandinavian Film & TV, oferecido pela Universidade de Copenhagen no portal Coursera. E eu não poderia ter ficado mais feliz com o resultado.

Logo no começo pude aprender mais sobre meu período favorito: o cinema mudo dos países escandinavos (Suécia, Noruega, Finlândia e Dinamarca). Os primeiros filmes foram apresentados nestes países em 1896 e o cinema mudo dinamarquês e sueco tinham grande destaque na década de 1910... até a UFA, produtora e distribuidora alemã, monopolizar o mercado europeu.
Os grandes mestres escandinavos mereciam um tópico só deles, e por isso estudamos Carl Theodor Dreyer (cujo nome aprendi a pronunciar com um sotaque autêntico) e Ingmar Bergman separadamente. Na vez de Dreyer, pude me encantar com seu primeiro longa-metragem, o fantástico “O Presidente” de 1919. Bergman e eu somos velhos conhecidos! Tanto Dreyer quanto Bergman filmavam as chamadas “chamber plays”: histórias que se passavam em cenários restritos (muitas vezes até desérticos) e com poucos personagens. É o drama psicológico à moda sueca.
Você tem medo de filmes antigos? Quer saber mais sobre Lars Von Trier e sua “Ninfomaníaca”? Não se preocupe: boa parte do curso é dedicada à nova onda de bons filmes dinamarqueses, incluindo ganhadores do Oscar, mulheres diretoras e o homem que hoje é Hannibal Lecter na TV. Há também tópicos como a “New Wave escandinava” e o polêmico e curioso Dogma 95 (manual de regras para ser levado a sério ou apenas uma jogada de marketing para atrair atenção para o cinema escandinavo?).
Algo muito interessante e curioso neste curso é que cada tópico tem um professor diferente (quando eu fiz o curso, em 2014, eram 10 temas em 10 semanas. Em 2015 o curso foi oferecido novamente com os mesmos 10 temas, mas condensados em cinco semanas). É como assistir semanalmente a pequenas lições com palestrantes distintos. Essa foi a primeira e única vez que isso aconteceu em um curso online que eu fiz até agora.
O curso acabou e eu consegui um certificado (com honras!!!) e ainda aumentei minha lista de filmes que quero ver (Asta Nielsen dos anos 1910, você é a próxima). Para conseguir o certificado, foi necessário fazer alguns teste fáceis de múltipla escolha e dois textos, um sobre o filme “A Palavra / Ordet”, de Dreyer, e outro sobre as causas do recente sucesso de séries de TV escandinavas em outros países.
Claro que nem todo mundo queria receber um certificado. É também possível se matricular e ver as lições apenas de um tema que mais lhe interesse.  E é esse caráter democrático que mais me fascina nos cursos online de cinema.

Por falar nisso, em 1º de junho começa o cursoInto the Darkness: Investigating Film Noir”. O canal TCM apoia o curso e, além de mim, dezenas de amigos meus da internet vão fazer o curso. E aí, nos encontramos na sala de aula?

Friday, May 15, 2015

O Grande Desfile / The Big Parade (1925)

 O ano era 2011. O oitavo episódio da quarta temporada de The Big Bang Theory, “The 21-Second Excitation”, trazia nossos nerds favoritos, encabeçados pelo grande, poderoso e incrível Sheldon, em uma ida ao cinema para ver a versão restaurada de “Os Caçadores da Arca Perdida / Raiders of the Lost Ark”, com incríveis 21 segundos de filmagem nunca vistos. Este era um dos poucos episódios de The Big Bang Theory com o qual eu não havia me identificado. Até agora.

The year was 2011. The eighth episode of season four of The Big Bang Theory,”The 21-Second Excitation”, brought our favorite nerds, including the mighty Sheldon, in a trip to the movies to see the restored version of “Raiders of the Lost Ark”, with amazing 21 seconds of never-before-seen footage. This was one of the few The Big Bang Theory episodes with which I had not feel an identification. Until now.


É muito difícil escolher meu filme mudo favorito, mas com certeza “O Grande Desfile / The Big Parade” (1925) está entre os cinco primeiros. Fiquei loucamente emocionada quando o vi pela primeira vez, em janeiro de 2014. Logo depois o escolhi para alguns prêmios importantes em meu Oscar pessoal de 1925. E, quando descobri que a versão restaurada do filme, com trinta minutos a mais de projeção, seria lançada em DVD no Brasil, não tive dúvidas: comprei o box (que veio com outros cinco filmes, mas o mais importante é “O Grande Desfile”).


It’s very hard for me to choose my favorite silent movie, but for sure “The Big Parade” (1925) is among the TOP 5. I was crazily moved the first time I saw it, on January 2014. Right after this, I chose it to receive some important prizes on my personal 1925 Oscars. And, when I discovered that the restored version of the film, with extra 30 minutes of footage, was going to be on DVD in Brazil, I had no doubts: I bought the box (that came with five other films, but the most important is “The Big Parade”).


O ano é 1917 e os Estados Unidos acabam de entrar na Grande Guerra! O jovem herdeiro Jim (John Gilbert) se alista no exército em um momento de loucura juvenil, e sua partida para lutar na França coloca a mãe em desespero, deixa o pai muito orgulhoso e satisfaz a vaidade da namorada de Jim, Justyn (Claire Adams). Ah, o que a música “Over There” é capaz de fazer! George M. Cohan sabia das coisas! Mas a vida no exército não é fácil! Apesar das dificuldades, Jim está feliz ao lado dos novos amigos, Slim (Karl Dane), um operário, e Bull (Tom O'Brien), um barman. Só a guerra poderia unir três pessoas tão diferentes.

The year is 1917 and the USA just entered the Great War! Young heir Jim (John Gilbert) joins the army in a moment of youthful craze, and his departure to fight in France leaves his mother desperated, his father proud and fullfils his girlfriend Justyn's (Claire Adams) vain wish. Oh, what can the song “Over There” do! George M. Cohan knew a thing or two! But life at the army isn't easy! Even though he faces difficulties, Jim is happy with his new friends, Slim (Karl Dane), a construction worker, and Bull (Tom O'Brien), a barman. Only the war could unite those three very different people.


E só a guerra faria Jim conhecer uma linda garota francesa, Melisande (Renée Adorée), que vive em uma aldeia perto do campo de treinamento de Jim. Apesar de não falarem a mesma língua, eles se entendem com gestos singelos, como quando Jim ensina Melisande a mascar chiclete. A cena é mais divertida que a dança de Gene Kelly quando ele percebe estar apaixonado em “Cantando na Chuva / Singin' in the Rain” (1952) e ao mesmo tempo com mais sensualidade e romance que a troca de cigarros acesos por Paul Henreid em “A Estranha Passageira / Now, Voyager” (1942).

And only the war would make Jim meet an adorable French girl, Melisande (Renée Adorée), who lives in a village near Jim's training camp. Even though they don't speak the same language, they understand each other with sweet gestures, like when Jim teaches Melisande how to chew gum. The scene is more fun than the scene with Gene Kelly dancing when he realizes he's in love in “Singin' in the Rain” (1952) and at the same time is sexier and more romantic than the exchange of cigarettes in “Now, Voyager” (1942).


Quais as diferenças entre a versão já conhecida e a restaurada, que estreou no TCM Film Festival de 2013? Poucas. Poucas mesmo. Primeiro, a versão restaurada tem as cenas noturnas em tons de azul ou bege, enquanto na versão normal está tudo em preto e branco. As imagens também são mais nítidas, perfeitas e praticamente em alta definição.

What are the differences between the known version and the restored one, presented at the 2013 TCM  Film Festival? A few. Very few. First, the restored version has night scenes with tinting and toning, while in the normal version everything is in black and white. The images are also clearer, perfect, almost in high definition.


E é isso que ganhamos com os trinta minutos extras de filme: mais imagens, e imagens mais nítidas. A versão normal teve origem em uma cópia do filme com som sincronizado, feita em 1931, enquanto a restaurada veio da versão original. Vale dizer que o filme é projetado a uma velocidade menor, as imagens da versão restaurada passam mais vagarosamente por nós que as da versão normal, talvez para que seja possível prestarmos atenção em todos os detalhes. Há cenas inéditas reveladoras, como na restauração de “Metropolis”? Não. Vivi milhões de dèja vú vendo a versão restaurada, e a única cena da qual não me lembrava muito bem era da reunião / sarau na casa de Melisande.

And this is what we get with the extra thirty minutes: more images, and clearer images. The normal version was originated in a copy with synchronized sound, made in 1931, while the restored one came from the original version. We must say that the film is projected at a slower speed, the images of the restored version go through us slower than in the normal version, maybe so that we can pay attention to all details. Are there new, vital scenes, like in the “Metropolis” restoration? No. I lived millions of déja vú watching the restored version, and the only scene I didn't remember was the one with the reunion at Melisande's house.



Por que este é um dos meus filmes mudos prediletos? Junto com os outros filmes silenciosos que eu amo loucamente (“A Caixa de Pandora”, “A Última Ordem / The Last Command”, “Ben-Hur”, “Metropolis”...), “O Grande Desfile” é arrebatador. Foi arrebatador em 1925, chegando a ficar dois anos em cartaz em um cinema, e permanece arrebatador em 2015. Foi inovador ao não glorificar a guerra de modo algum, e continua poderoso em suas cenas mais emocionantes (o autor da história foi co-autor de “What Price Glory?” e, claro, veterano de guerra). John Gilbert, Renée Adorée e Karl Dane não viveriam para ver a Segunda Guerra. John Gilbert amou fazer este filme. Eu preciso concordar: ele nunca esteve mais belo, mais tocante ou mais à vontade nas telas.


Why is this one of my favorite silent films? With other silents that I love a lot (“Pandora's Box”, “The Last Command”, “Ben-Hur”, “Metropolis”...), “The Big Parade” is ravishing. It was ravishing in 1925, when it spent two whole years being shown in a movie theater, and it is ravishing in 2015. It was innovative as it never glorified the war, and it's still powerful in its most moving scenes (the author of the story was the co-author of “What Price Glory?” and, of course, a war veteran). John Gilbert, Renée Adorée and Karl Dane wouldn't live to the World War II. John Gilbert loved doing this film. I have to agree: he never was so handsome, touching or at ease in a film.



Há algo de belo na destruição que a guerra traz e o filme mostra. Há algo de muito belo na trilha sonora composta por Carl Davis em 1988. É um daqueles filmes que, quando acaba, eu levanto e aplaudo, sem ter vergonha de ser vista, sem me importar com o fato de que todos os envolvidos com a filmagem já estão mortos. É o tipo de filme que, assim que acaba, quero voltar ao começo e ver de novo, e de novo, e de novo. É o tipo de filme que eu compro em DVD com prazer, seja pelo realismo de suas imagens, por 21 segundos ou por 30 minutos a mais da indelével magia do cinema.

There is something beautiful in the destruction war brings and the film shows. There is something very beautiful in the soundtrackcomposed by Carl Davis in 1988. This is one of those films that, when it ends, I stand up and cheer, not ashamed of being seen, not caring if all the ones involved in making the film are already dead. It's the kind of film that, as soon as it ends, I want to go back to the beginning and watch again, and again, and again. It's the kind of film whose DVD I buy with pleasure, no matter if it is for the realism of its images, for 21 seconds or for 30 extra minutes of the amazing film magic.

This post is part of the My Favorite Classic Movie blogathon, in honor of the first National Classic Movie Day (May 16th). The blogathon is hosted by Rick at Classic Film an TV Cafe.



Um livreto sobre o filme pode ser encontrado AQUI.

A booklet about the film can be found HERE.

Tuesday, May 12, 2015

Fritz Lang e a ficção científica

O cineasta mais criativo do cinema mudo, a quem devemos toda a estética inventiva dos filmes, foi Georges Méliès. Ele foi o pai da arte cinematográfica como um todo e da ficção científica em particular, com sua “Viagem à Lua” em 1902. O outro pai da ficção científica durante a era muda foi Fritz Lang. Depois da saga dos Nibelungos, ele presenteou o mundo com os dois mais influentes filmes de ficção científica da história.
Metropolis” poderia ser uma história de amor, mas não é. Poderia ser sobre um conflito de gerações, mas não é. Poderia ser apenas mais uma distopia. Mas não é. “Metropolis” é uma mistura de todos estes temas com a maior beleza possível. Em um futuro distante para Lang, mas não tão distante para nós, Freder Fredersen (Gustav Fröhlich), o filho do chefe de Metropolis, vive com todos os privilégios que sua classe de garotos mimados tem. O lugar de diversão de Freder lembra muito a imagem que sempre foi pintada do Monte Olimpo, com a adição dos moços / heróis / atletas praticando esportes vestindo roupas incrivelmente brancas. Freder toma contato com a realidade dos trabalhadores de Metropolis quando Maria (Brigitte Helm) invade o tal clube de recreação e mostra para as crianças pobres que os ricos são seus irmãos.


Freder vai atrás de Maria, e vê a moça pregar para os pobres e cansados trabalhadores sobre a vinda de um mediador que resolverá os problemas entre os pensadores e os operários. Ao mesmo tempo, o pai de Freder, Joh “Alfred Abel), está possesso com a influência de Maria, e persuade o cientista Rotwang (Rudolf Klein-Rogge) a modelar seu robô para que ele fique parecido com Maria e possa ser usado para causar discórdia na Metropolis. É uma mistura inebriante de ficção científica e épico bíblico.
Metropolis” nos arrebata em menos de dez minutos. Em um piscar de olhos já estamos hipnotizados pelos cenários suntuosos, criados com muita ilusão de óptica (alguns cenários eram apenas miniaturas, e espelhos eram usados para dar a impressão de que eram prédios enormes com pessoas ao redor, através do inovador “processo Schüfftan”) e técnicas de stop motion.
Este link traz mais informações sobre os bastidores

A Mulher na Lua” conta a história de (adivinha?) uma viagem à Lua em que uma mulher é uma das tripulantes da missão. Esta mulher é a bela Friede (Gerda Maurus), que acaba de ficar noiva de Windegger (Gustav von Wangenhein), mas por quem Wolf Helius (Willy Fritsch), melhor amigo de Windegger, também era apaixonado. Quem propôs a expedição foi o maluco professor Manfeldt (Klaus Pohl), que acredita que o subsolo da Lua contém ouro – muito ouro. Manfeldt foi humilhado por seus colegas da universidade, mas Helius acredita nele.

A Mulher na Lua” acerta em algumas previsões, como os foguetes que têm de abandonar partes de sua estrutura após a decolagem, e a imensa pressão que os tripulantes do foguete teriam de aguentar ao sair da Terra (nada de traje de astronauta! Mas eles compensam a gravidade zero de uma maneira bem criativa). E há inclusive uma imagem sensacional da Terra vista do espaço (Yuri Gagarin ainda não tinha falado que a Terra era azul, mas isso não foi problema porque o filme era em preto e branco).


O grande problema de “A Mulher na Lua” é que o prólogo, que reúne todos os personagens que partem rumo à Lua e explica suas relações, poderia durar quinze minutos, mas se estende por uma hora e vinte minutos! Mas, a partir daí, é mágica pura, com cenas que até hoje nunca foram superadas em grandeza nos filmes de ficção científica.


Durante décadas o público só teve acesso a uma versão truncada de “Metropolis”, com 90 minutos de duração (que H.G. Wells disse ser “o filme mais bobo que já vi”). Em 2008 tudo mudou: a versão (quase) original do filme foi encontrada na cinemateca de Buenos Aires e restaurada. Hoje podemos ver toda a glória dos 150 minutos de projeção, em que nada é simplista, em que a história de amor fica em segundo plano, em que há profunda ligação entre os temas diametralmente opostos. “Metropolis” é um filme mais poderoso, mais incrível do que se imaginava. É uma obra-prima completa, parida pelo casal Thea von Harbou e Fritz Lang.
Você gostaria que outros filmes mudos fossem redescobertos, restaurados e devolvidos à sua glória original, assim como “Metropolis”? Pois você pode ajudar! Clique no link abaixo para doar para o National Film Preservation Association e garantir a restauração de “Cupid in Quarantine” (1918), que depois de restaurado será disponibilizado para ser visto online!

Clique aqui! Doe!

This is my contribution to the For the Love of Film: The Film Preservation blogathon, hosted by Ferdy on Films, This Island Rod and Wonders in the Dark. Join us if you love film!

Friday, May 8, 2015

Sem Amor / Without Love (1945)

Um amor nerd na vida é tudo que queremos? Talvez hoje, para algumas pessoas, sim. Mas ver um amor nerd em um filme de 1945 é meio estranho, não acham? Mas é uma comédia, e o jeito nerd e peculiar do casal é perdoado quando descobrimos que as estrelas deste filme delicioso são Spencer Tracy e Katharine Hepburn, talentosos, apaixonantes e apaixonados.
O cientista Pat Jamieson (Tracy) chega à casa de Jamie Rowan (Hepburn) por acaso. Ele é levado até lá pelo primo bêbado da moça, Quentin (Keenan Wynn) e no dia seguinte se apresenta a Jamie como candidato a novo caseiro. Ela logo descobre a farsa, mas aceita que Pat cuide da casa porque ele é filho de um velho amigo do pai dela, já falecido. Pat usa o porão para uma experiência do exército, e em pouco tempo ele recebe ajuda de Jamie, uma entusiasta da ciência.
A ajuda, entretanto, é muito mais do que se esperava. Pat não ganha uma assistente, mas sim uma esposa. O jeito de Jamie propor casamento é dos mais originais da história. É algo simples, é uma parceria, e há uma única condição: será um casamento sem amor. Pat foi iludido pela única mulher por quem se apaixonou, Lila, e Jamie foi muito feliz com o marido, mas uma tragédia a deixou viúva. O casamento de Pat e Jamie é um negócio, é pelo bem da ciência, é fundamental para a criação de uma máscara de oxigênio para o exército!
Talvez este próximo parágrafo pareça um sacrilégio para os fãs de cinema clássico, mas vou arriscar. O relacionamento sem amor entre dois cientistas me lembrou instantaneamente do relacionamento peculiar entre Sheldon e Amy na série The Big Bang Theory. O humor, o contrato de relacionamento, os passos lentos até o primeiro beijo, a colaboração científica: são muitas as coisas em comum com os casais “Shamy” e “Patie”!
Talvez o nome do roteirista lhe seja familiar. Donald Ogden Stewart foi o responsável pela volta triunfal de Katharine Hepburn ao cinema, três anos após ela ser chamada de “veneno de bilheteria”. Donald adaptou a peça “Núpcias de Escândalo / The Philadelphia Story”, e o roteiro deu origem ao filme protagonizado por Hepburn, James Stewart e Cary Grant em 1941. Philip Barry, autor da peça “The Philadelphia Story”, também escreveu a peça “Without Love”, e Hepburn também a representou nos palcos em 1942.
Esta é uma comédia com bons momentos. E, quando se fala em comédia americana, não se pode esquecer Lucille Ball, que tem aqui um papel de coadjuvante: a irônica corretora de Jamie, Kitty Tremble. Linda, chique e muito bem-sucedida, Kitty tem frases de efeito, bom-humor, independência e um jogo de gato e rato com Quentin.
Aos 38 anos, Katharine Hepburn apresenta um brilho no olhar nunca visto em toda sua carreira. Repare em quando ela fala do marido morto e nos momentos de testar a invenção genial. Repare no instante em que ela fica com lágrimas nos olhos, usando um vestido maravilhoso com listras brilhantes. Pense no contexto do filme: tudo ali agradava Hepburn. O fato de interpretar uma mulher forte, porém com sentimentos, uma cientista inteligente e determinada, o fato de trabalhar com Donald Ogden Stewart e, claro, seu amado Spencer Tracy. Tudo apontava para um filme inesquecível, embora este não seja o mais memorável dos nove protagonizados pela dupla Hepburn-Tracy.
Arte de Jacques Kapralik para o filme
Em 1942 Spencer Tracy e Katharine Hepburn fizeram seu primeiro filmes juntos, “A Mulher do Dia / Woman of the Year”, e se apaixonaram. Em 1967, pouco antes de Tracy falecer, eles estrelaram no último filme juntos, “Adivinhe quem vem para jantar? / Guess who’s coming to dinner”. Foram 25 anos de um relacionamento bonito, difícil e inspirador. Kate e Spence passaram um quarto de século em uma relação que pode ser definida com muitos adjetivos – mas nunca com “sem amor”.


This is my contribution to the Second Annual Great Katharine Hepburn Blogathon, hosted by Kate expert Margaret Perry.


And everybody won a prize in the end!

Sunday, May 3, 2015

12 curtas-metragens mudos para alegrar seu dia

12 silent shorts to brighten your day

Você acordou atrasado para o trabalho? Tirou uma nota ruim naquela prova da faculdade? Seu cachorro comeu um pé do seu chinelo favorito? Você acabou de comprar um sorvete e o derrubou inteiro no chão? Em suma, você teve um dia ruim? Não se preocupe, porque eu tenho o remédio: você estará alegre novamente em menos de 30 minutos com estas pequenas e infalíveis comédias feitas há mais de 90 anos.

Did you wake up and discovered you were late for work? Did you get a bad grade at a college test? Did your dog eat your favorite slipper? Did you drop the ice cream you had just bought? Did you have a bad day? Don't worry, because I have the solution: you'll be happy again in less than 30 minutes with these short and infalible comedies made more than 90 years ago.

Os primeiros filmes da história do cinema (e, via de regra, os primeiros filmes das carreiras de grandes diretores) são curtas-metragens. Se as primeiríssimas projeções, ainda do século XIX, tinham apenas alguns segundos, nas primeiras décadas do século XX elas ficaram cada vez mais longas, elaboradas e divertidas. Comédias mudas de curta-metragem são doses de humor na medida certa para qualquer espectador.

The first films in move history (and, more often than not, the first film in the director's careers) are short films. If the very first exhibitions, still in the 19th century, lasted only a few seconds, in the first decades of the 20th century they became longer, more ellaborated and funnier. Short silent comedies are dosis of doozy perfect for any audience.

Aperte o play, você não vai se arrepender!

Press play and you won't regret it!

The Drunken Mattress (1906): Começamos com um filme dirigido por uma mulher, a pioneira Alice Guy-Blaché. Um homem bêbado (já aviso que mais filmes da lista incluem bêbados) entra em um colchão que está sendo fabricado. Depois de costurado, o colchão apresenta um comportamento estranho (eu não acredito que eu escrevi isto).

The Drunken Mattress (1906): we start with a film direct by a woman, the pioneer Alice Guy-Blaché. A drunken man (I'll already tell you that more films in this list involve drunken men) enters a mattress about to be sewn. After being sewn, the mattress has a weird behavior (I can't believe I wrote that).


The ? Motorist (1906): Ele não arranca muitas risadas, mas impressiona pelos efeitos especiais. Se Méliès havia ido à Lua em 1902, quatro anos depois W.R. Booth leva seus personagens não apenas para a Lua (que, novamente, tem um rosto animado), mas também pelos anéis de Saturno! Se piscar você perde um detalhe delicioso desta comédia primitiva.

The ? Motorist (1906): it may not be so funny, but it is a film with impressive special effects. If Méliès had traveled to the moon in 1902, four years later W.R. Booth takes his characters not only to the moon (who has an animated face once again), but also to the Saturn's rings! If you blink I'll miss a delightful detail in this early comedy.


Max takes tonics (1911): O ator francês Max Linder foi o primeiro grande astro internacional da comédia cinematográfica. A persona criada por ele é um homem muito elegante e louco por mulheres, que tem problemas por seus excessos. Em seu melhor filme, Max precisa tomar vinho como remédio, mas exagera na dose e acaba bêbado – e confuso.

Max takes tonics (1911): French actor Max Linder was the first big international comedy film star. His persona was of a very fancy man, a womanizer always in trouble for his excesses. In his best film, Max has to take wine as a medicine, but he exaggerates and ends up drunk – and confused.


An Interrupted Elopement (1912): Mabel Normand quer se casar com seu namorado, mas o pai dela não quer ver a filha casada com um “chorão”. Os amigos do pobre moço apaixonado sugerem que o casal fuja e oficialize a união com um padre. Mas o pai da moça vai atrás deles.

An Interrupted Elopement (1912): Mabel Normand wants to marry her boyfriend, but her father doesn't want to see his daughter married to a “cry-baby”. His friends suggest an elopement, but Mabel's father goes after the couple.


Pool Sharks (1915): O tema principal de muitas comédias (e outras obras de arte em geral) é o amor. E, em seu primeiro filme, W.C. Fields disputa o amor de uma mulher através de um jogo de sinuca. Apesar de ter um final abrupto, as sequências da sinuca fazem o filme valer a pena – mesmo que você não goste de jogar sinuca.

Pool Sharks (1915): The main theme of many comedies (and other art works in general) is love. And, in his film debut, W.C. Fields fights for the love of a woman through a pool game. Even though the film has an abrupt ending, the pool sequences make it worth watching – even if you don't enjoy playing pool.

One AM (1916): Esqueça o personagem vagabundo. Aqui Charles Chaplin chega tarde (e bêbado) à sua luxuosa casa. Poucos cenários, muitos obstáculos e apenas Chaplin em cena: os ingredientes para o melhor curta-metragem do ator (na minha humilde opinião).

One AM (1916): Forget the Tramp character. Here Charles Chaplin arrives late (and drunk) to his mansion. Few sets, a lot of obstacles and only Chaplin on the screen: the ingredients for the best short film in his career (in my humble opinion).


Coney Island (1917): Este é um filme de Fatty Arbuckle, mas sabe o que realmente importa? É que aqui Buster Keaton, o homem da cara de pedra, não apenas ri, mas gargalha... duas vezes!

Coney Island (1917): This is a Fatty Arbuckle vehicle, but do you know what really matters? It's that in this film Buster Keaton, the great stone face, not only smiles, but laughs... twice!

Ask Father (1919): Harold Lloyd quer apenas perguntar ao pai da mulher que ama se ela pode se casar com ele. Mas o homem é muito ocupado e trabalha em um escritório difícil de se infiltrar, cheio de funcionários e até armadilhas. E prova que Harold gostava de escalar prédios bem antes de “O Homem-Mosca”.

Ask Father (1919): Harold Lloyd only wants to ask for his girlfriend's hand for her father. But the old man is very busy and works in an office hard to get in, full of employees and traps. This film proves that Harold enjoyed climbing buildings way before “Safety Last!”.


The Electric House (1922): Esta lista poderia conter apenas filmes do genial Buster Keaton, mas preferi escolher apenas uma pequena e deliciosa comédia. O que acontece aqui é que Keaton, recém-formado, é contratado para projetar uma casa extremamente moderna. O problema é que ele não é engenheiro, houve uma confusão em uma troca de diplomas, mas ele aceita o desafio assim mesmo.

The Electric House (1922): this list could only have films from genius Buster Keaton, but I decided to choose only one little and delightful comedy. What happens here is that Keaton, recently graduated from college, is hired to build a very modern house. The trouble is that he is not an engineer, there was a mistake involving his diploma, but he decides to get the job.


Felix in Hollywood (1923): Este filme é o máximo. O gato Félix (ele mesmo que você está pensando) vai a Hollywood com seu dono, um aspirante a ator, e lá conhece as versões animadas de Charles Chaplin, Ben Turpin, Gloria Swanson, Douglas Fairbanks e William S. Hart.

Felix in Hollywood (1923): This film is wonderful. Felix the cat (yes, THAT Felix the cat) goes to Hollywood with his owner, an aspiring actor, and there he meets animated versions of Charles Chaplin, Ben Turpin, Gloria Swanson, Douglas Fairbanks and William S. Hart.


It’s a Gift (1923): Conheci este curta divertido através de um trabalho detetivesco que me foi dado pelo leitor Martin Carone dos Santos. Ele queria saber qual comediante do cinema mudo era chamado de “cara linda” no Brasil. Depois de uma pequena descrição de um filme com ele, descobri a identidade do “cara linda”: é Snub Pollard, que aqui interpreta o excêntrico cientista que inventa um carro movido a ímã.

It's a Gift (1923): I got to know this fun short through an investigative work that a reader gave me. He wanted to know which silent comedian was nicknamed “pretty face” in Brazil. After a small description of a film starring him, I discovered the true identity of “pretty face”: he is Snub Pollard, who plays in this film the ecentric scientist who invents a car powered by a magnet.


Leave 'Em Laughing (1928): um humor simples, que agrada a todas as pessoas, de todas as idades. Com Leo McCarey como assistente de direção, o curta-metragem apresenta Stan Laurel com dor de dente (esta é a origem da bela foto que enfeitava o apartamento de Joey e Chandler em FRIENDS) e os efeitos que o gás hilariante do dentista causam na dupla de amigos. Mas fica a dúvida: por que Laurel e Hardy dormem na mesma cama?

Leave 'Em Laughing (1928): a simple humor that pleases people of any age, from any place. With Leo McCarey as assistant director, the short film has Stan Laurel with a toothache (this is the origin of the big photo hanging in Joey and Chandler's apartment in FRIENDS) and the effects that the laughing gas used by the dentist cause in the duo. But there is still a doubt: why do Laurel and Hardy sleep in the same bed?



This is my contribution to Shorts! A Tiny Blogathon, hosted by blogathon Jedi Fritzi at Moveis, Silently.
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