O
cineasta mais criativo do cinema mudo, a quem devemos toda a estética
inventiva dos filmes, foi Georges Méliès. Ele foi o pai da arte
cinematográfica como um todo e da ficção científica em
particular, com sua “Viagem à Lua” em 1902. O outro pai da
ficção científica durante a era muda foi Fritz Lang. Depois da
saga dos Nibelungos, ele presenteou o mundo com os dois mais
influentes filmes de ficção científica da história.
“Metropolis”
poderia ser uma história de amor, mas não é. Poderia ser sobre um
conflito de gerações, mas não é. Poderia ser apenas mais uma
distopia. Mas não é. “Metropolis” é uma mistura de todos estes
temas com a maior beleza possível. Em um futuro distante para Lang,
mas não tão distante para nós, Freder Fredersen (Gustav Fröhlich),
o filho do chefe de Metropolis, vive com todos os privilégios que
sua classe de garotos mimados tem. O lugar de diversão de Freder
lembra muito a imagem que sempre foi pintada do Monte Olimpo, com a
adição dos moços / heróis / atletas praticando esportes vestindo
roupas incrivelmente brancas. Freder toma contato com a realidade dos
trabalhadores de Metropolis quando Maria (Brigitte Helm) invade o tal
clube de recreação e mostra para as crianças pobres que os ricos
são seus irmãos.
Freder
vai atrás de Maria, e vê a moça pregar para os pobres e cansados
trabalhadores sobre a vinda de um mediador que resolverá os
problemas entre os pensadores e os operários. Ao mesmo tempo, o pai
de Freder, Joh “Alfred Abel), está possesso com a influência de
Maria, e persuade o cientista Rotwang (Rudolf Klein-Rogge) a modelar
seu robô para que ele fique parecido com Maria e possa ser usado
para causar discórdia na Metropolis. É uma mistura inebriante de
ficção científica e épico bíblico.
“Metropolis”
nos arrebata em menos de dez minutos. Em um piscar de olhos já
estamos hipnotizados pelos cenários suntuosos, criados com muita
ilusão de óptica (alguns cenários eram apenas miniaturas, e
espelhos eram usados para dar a impressão de que eram prédios
enormes com pessoas ao redor, através do inovador “processo
Schüfftan”) e técnicas de stop
motion.
Este link traz mais informações sobre os bastidores |
“A
Mulher na Lua” conta a história de (adivinha?) uma viagem à Lua
em que uma mulher é uma das tripulantes da missão. Esta mulher é a
bela Friede (Gerda Maurus), que acaba de ficar noiva de Windegger
(Gustav von Wangenhein), mas por quem Wolf Helius (Willy Fritsch),
melhor amigo de Windegger, também era apaixonado. Quem propôs a
expedição foi o maluco professor Manfeldt (Klaus Pohl), que
acredita que o subsolo da Lua contém ouro – muito ouro. Manfeldt
foi humilhado por seus colegas da universidade, mas Helius acredita
nele.
“A
Mulher na Lua” acerta em algumas previsões, como os foguetes que
têm de abandonar partes de sua estrutura após a decolagem, e a
imensa pressão que os tripulantes do foguete teriam de aguentar ao
sair da Terra (nada de traje de astronauta! Mas eles compensam a
gravidade zero de uma maneira bem criativa). E há inclusive uma
imagem sensacional da Terra vista do espaço (Yuri Gagarin ainda não
tinha falado que a Terra era azul, mas isso não foi problema porque
o filme era em preto e branco).
O
grande problema de “A Mulher na Lua” é que o prólogo, que reúne
todos os personagens que partem rumo à Lua e explica suas relações,
poderia durar quinze minutos, mas se estende por uma hora e vinte
minutos! Mas, a partir daí, é mágica pura, com cenas que até hoje
nunca foram superadas em grandeza nos filmes de ficção científica.
Durante
décadas o público só teve acesso a uma versão truncada de
“Metropolis”, com 90 minutos de duração (que H.G. Wells disse
ser “o filme mais bobo que já vi”). Em 2008 tudo mudou: a versão
(quase) original do filme foi encontrada na cinemateca de Buenos
Aires e restaurada. Hoje podemos ver toda a glória dos 150 minutos
de projeção, em que nada é simplista, em que a história de amor
fica em segundo plano, em
que há profunda ligação entre os temas diametralmente opostos.
“Metropolis”
é um filme mais poderoso, mais incrível do que se imaginava. É
uma obra-prima completa, parida pelo casal Thea von Harbou e Fritz
Lang.
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6 comments:
Um gênio do expressionismo alemão
adoro. é absolutamente genial. incríveis as imagens, adorei o texto. beijos, pedrita
Hi Lê. That was a good essay. We are lucky to be able see the longer version of Metropolis. I have never gotten to see The Woman in the Moon. Your essay makes me want to see it even more.
Oi Lê! Eu não sou a maior fã do surrealismo, mas adoro ver as produções de ficção científicas antigas. Eles se puxavam muito! Não vi nada ainda do Fritz Lang mas morro de curiosidade, uma vez na Livraria Cultura, quase levei pra casa um box de filmes dele, mas achei melhor assistir algo primeiro. E quanto aquela lua clássica do Méliès, tirei uma foto com uma versão gigante dela no museu de Cinema de Lisboa. Acho ela incrível! Apesar também de não ter visto Viagem a Lua ainda. Preciso colocar meus filminhos antigos em dia!! Beijo!!
I still haven't seen Frau i Mond! Really need to. As for Metropolis, I have a bit mixed feelings on it, but I agree that the Argentinian footage clarifies the story. Nice post :)
Eu ainda não consegui assistir Metrópolis inteiro, sabe? hahaha vergonha, né? Mas não sabia desse Mulher na Lua! Acho que é bem pouco comentado. As pessoas sempre lembram dele por causa do Metrópolis...
Mas enfim, durante meu intercâmbio na Argentina, assisti ao documentário Metrópolis Refundada num festival. Ele tinha acabdo de ser lançado e contava exatamente sobre a descoberta do filme original, o processo de restauração e as diferenças entre as duas versões. Vale a pena procurar pra assistir!
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