} Crítica Retrô: 2023

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Saturday, December 30, 2023

O Prêmio de Beleza (1926) / Ella Cinders (1926)

Uma história tão velha quanto o tempo, mas não é A Bela e a Fera. Hoje nosso assunto é Cinderela e todos os elementos familiares que vêm com o conto de fadas: a Fada Madrinha, a abóbora que se transforma em carruagem, o encantamento que acaba à meia-noite, o sapatinho de cristal que é deixado para trás e que o Príncipe experimenta nas mulheres. Todos estes elementos estavam lá quando Georges Méliès fez a primeira Cinderela do cinema, em 1899. Eles estavam todos lá em 1914, quando Mary Pickford estrelou sua própria versão adorável do conto. Mas a era do cinema mudo nem havia chegado ao fim quando a história foi modernizada e subvertida no hilário filme “O Prêmio de Beleza” (1926).


A tale as old as time, but not Beauty and the Beast. Today we talk about Cinderella and all the familiar bits that come in the story: the Fairy Godmother, the pumpkin that becomes a carriage, the enchantment that ends at midnight, the glass slipper lost and left for the Prince to try on the women. They were all there, when Georges Méliès did the first Cinderella in film history, in 1899. They were all there in 1914, when Mary Pickford starred in her own adorable version of the tale. But the silent film era wasn’t over yet when the story was modernized and subverted in the hilarious "Ella Cinders" (1926).

Na cidade de Roseville mora a família Cinder, cuja filha adotiva Ella (Colleen Moore) faz todas as tarefas em casa. Quando chega a notícia de que um concurso de beleza será feito na cidade, com o prêmio sendo uma quantia em dinheiro e uma passagem para Hollywood, todas as garotas ficam animadas, incluindo Ella. Ela economiza dinheiro para tirar uma foto para o concurso, mas não tem roupa para ir ao baile onde a vencedora será anunciada.


In the city of Roseville live the Cinders, whose stepdaughter Ella (Colleen Moore) does all the chores in her house. When news come that a beauty contest is about to take place in town, with the prize being a sum of money and a ticket to Hollywood, all girls get excited, including Ella. She saves money to take a picture for the contest, but has no clothes to go to the ball where the winner will be announced.

Ella só vai ao baile por insistência de seu amigo Waite (Lloyd Hughes), vendedor de gelo. Lá ela é humilhada e deixa seu sapatinho para trás. No dia seguinte, os jurados do concurso chegam à casa dos Cinder procurando pela filha deles. Ella ganhara o concurso e o resto do filme conta suas aventuras em Hollywood.

 

Ella only goes to the ball because of the insistence of her friend Waite (Lloyd Hughes), the iceman. There she is humiliated and leaves her shoe behind. The next day, the jurors of the contest arrive at the Cinders’ house in search for their daughter. Ella has won the contest and the remainder of the movie chronicles her misadventures in Hollywood.

A cena mais icônica do filme chega na marca de 10 minutos: Ella Cinders vesga lendo um livro que ela roubara da meio-irmã Lotta (Doris Baker). De acordo com o IMDb, o truque foi feito de maneira até fácil: um pedaço de papel preto foi colocado num lado da câmera e os movimentos de olho foram filmados, depois o pedaço de papel passava para a outra metade da câmera e o movimento do outro olho era filmado. Quando juntadas as partes, a mágica acontecia.  

 

The most iconic scene from the movie comes at the 10 minute mark: Ella Cinders cross-eyed over a book she had stolen from her stepsister Lotta (Doris Baker). According to IMDb, the trick was achieved in a rather easy way: a black piece of paper taped half of the camera and the eye movement was recorded, then the piece of paper was moved to the other half of the camera and the other eye movement was then filmed. When the scene played combining the parts, the magic happened.

O conto da Cinderela vem de um livro de 1697 publicado por Charles Perrault, mas a história não surgiu da cabeça dele. O conto em si é muito antigo e passava de geração em geração, mas Perrault foi o primeiro a compilar contos como este e também o pi0neiro em duas outras coisas: chamar a personagem de Cinderela – no francês original, “Cendrillon” – e a mencionar que ela estava usando um sapatinho de cristal – um calçado bem desconfortável. Mas o filme não derivou diretamente do conto de fadas.

 

The tale of Cinderella came from a 1697 book released by Charles Perrault, but it didn’t come from his mind. The tale itself was very old and passed through several generations, but Perrault was the first to compile tales such as this one and also the first one to both name the character Cinderella – in the original French, “Cendrillon” – and to mention that she was wearing a glass slipper – a rather uncomfortable kind of footwear. But the movie didn’t come directly from the fairy tale.

“O Prêmio de Beleza” foi adaptado de uma tirinha de jornal! A tirinha foi publicada entre 1925 e 1961 e foi criada por Charles Plumb e William M. Conselman do departamento de arte do Los Angeles Times. Um dos roteiristas responsáveis pela adaptação foi Mervin LeRoy, um ex-ator de vaudeville que se tornaria um prolífico diretor em Hollywood. A principal diferença das tirinhas para o filme é que nas tirinhas Ella tem um irmão mais novo chamado Blackie, que não aparece no filme.

 

“Ella Cinders” was adapted from a comic strip! The strip was published from 1925 to 1961 in American newspapers and was created by Charles Plumb and William M. Conselman from the Los Angeles Times art department. One of the screenwriters responsible for the adaptation was Mervin LeRoy, a former vaudevillian who would become a prolific director in Hollywood. The main difference from the source material is that Ella has a kid brother, Blackie, in the comic strip that is totally absent from the movie.

“O Prêmio de Beleza” foi distribuído pela First National Pictures, produtora e distribuidora que existiu em Holywood entre 1917 e 1936. O diretor é Alfred E. Green, que entrou no cinema como ator em 1912 e dirigiu seu primeiro longa em 1917. Green também aparece em “O Prêmio de Beleza”, interpretando um diretor no estúdio. Já que estamos falando de diretores, devemos mencionar que Frank Capra dirigiu a breve sequência em que Harry Langdon faz uma participação especial.

 

“Ella Cinders” was made by First National Pictures, a producing and distribution company that existed in Hollywood between 1917 and 1936. The director is Alfred E. Green, who entered films as an actor in 1912 and directed his first feature in 1917. Green also appears in “Ella Cinders”, playing a film director in the studio. Since we’re talking about directors, we should mention that Frank Capra directed the brief sequence with Harry Langdon’s cameo.

“O Prêmio de Beleza” é hoje o mais famoso filme estrelando Colleen Moore. Com apenas 26 anos quando o filme foi rodado, Moore já estava trabalhando no cinema desde os 18 e já havia influenciado milhões de “flappers” a cortarem o cabelo igual ao dela. O produtor de “O Prêmio de Beleza”, John McCormick, era marido de Moore na época, e Lloyd Hughes, que interpreta o par romântico, já havia feito outros quatro filmes com Moore entre 1923 e 1926. Depois de uma pausa na carreira quando o som chegou ao cinema, Moore fez seus últimos filmes nos anos 1930, aposentando-se em 1934.

 

“Ella Cinders” is now the most famous movie starring Colleen Moore. Only 26 when the film was shot, Moore already had been working in films since she was 18 and had influenced millions of flappers to cut their hair like hers. The producer of “Ella Cinders”, John McCormick, was Moore’s husband at the time, and Lloyd Hughes, who plays the love interest, had appeared in four other films with Moore between 1923 and 1926. After a career pause when sound came to cinema, Moore made her final films in the early 1930s, retiring in 1934.

Em 2013, “O Prêmio de Beleza” foi selecionado para ser preservado pela Biblioteca do Congresso norte-americano, em uma lista chamada National Film Registry. A versão animada de “Cinderela”, feita por Walt Disney em 1950, também foi selecionada para preservação. O conto foi adaptado dezenas de vezes, mas “O Prêmio de Beleza” traz um retrato fresco da história da moça pobre que triunfa e se mantém aprazível após quase um século de sua estreia, em parte por causa da performance jovial de Colleen Moore como a sonhadora Ella.

 

In 2013, “Ella Cinders” was selected to be preserved by the Library of Congress in their National Film Registry. The animated version of “Cinderella”, made by Walt Disney in 1950, is also in the Registry. The tale was adapted to the screen dozens of times, but “Ella Cinders” brings a fresh portrait of the rags-to-riches story and remains enjoyable after almost a century from its original release, in part because of Colleen Moore’s jovial performance as the dreamer Ella.

 

This is my contribution to the Party Like It’s 1899 Blogathon, hosted by Erica at Poppity Talks Classic Film.

Friday, December 22, 2023

A Cicatriz (1976) / The Scar (1976)

 

Alguns nomes são incontornáveis quando estudamos a História do Cinema - sim, com letras maiúsculas. Um destes nomes é difícil de escrever: Krzysztof Kieslowski. Já havia assistido à sua Trilogia das Cores - “A Liberdade é Azul” é meu favorito dos três – mas eu não havia tido acesso a seu trabalho anterior... até agora.

There are some names that you must stumble upon when studying Film History - yes, with capital letters.
One of these names is hard to spell: Krzysztof Kieslowoski. I had already watched his Three Colors trilogy - being “Blue” my favorite from the trio - but I hadn’t got access to his earlier work… until now.

Uma nova fábrica vai ser instalada na cidade de Olecko e Stefan Bednarz (Fransciszek Pieczka) será o chefe. Mas não é sua primeira vez em Olecko: ele já esteve lá vinte anos antes, quando se envolveu em um incidente com sua esposa e um homem chamado Stasiu Lech. Ele encontra Lech novamente, trabalhando na fábrica.


A new factory is going to be installed in the city of Olecko and Stefan Bednarz (Fransciszek Pieczka) will be the boss. But it’s not his first time in Olecko: he had been there twenty years earlier, when he got involved in an incident with his wife and a man named Stasiu Lech. He finds Lech again, working at the factory.

Em Olecko, sem a esposa, Stefan é visitado pela filha Eva (Joanna Ozerskkowska), uma jovem adulta de quem ele não é muito próximo. Para adicionar conflito, muitas pessoas em Olecko são contra a construção da fábrica, dizendo que as cidades e seus habitantes ficarão muito melhor sem ela.


In Olecko, without his wife, Stefan is visited by his daughter Eva (Joanna Ozerszkowska), a young adult with whom he is not very close. To add to the conflict, many people in Olecko are against the building of the factory, claiming that the city and its inhabitants are better off without it.

Este filme é baseado em um livro escrito pelo próprio Kieslowksi, junto com Romuald Karas. Kieslowski já tinha muita experiência com documentários em curta-metragem, enquanto Romuald era conhecido como escritor – na verdade, “A Cicatriz” é o principal crédito de Karas no cinema.


This movie is based on a novel written by Kieslowski himself, together with Romuald Karas. Kieslowski had already a lot of experience in documentary shorts, while Romuald was known as a writer – in fact, “The Scar” is the main film credit for Karas.

“A Cicatriz” recebeu dois prêmios no Festival de Cinema Polonês: Melhor Ator e Prêmio Especial do Júri. Tem atualmente 86% de aprovação dos críticos no Rotten Tomatoes, com 68% de aprovação dos usuários do mesmo site.

 

“The Scar” received two awards at the Polish Film Festival: Best Actor and the Special Jury Award. It holds an 86% Fresh rating from critics on Rotten Tomatoes, with a 68% audience score.

Kieslowski uma vez disse que “A Cicatriz” é um filme de contradição, comprometimento e hipocrisia, e estes podem ser algumas das várias cicatrizes às quais o título se refere. Outra possível cicatriz pode ser o conflito entre o pessoal e o profissional sentido pelo protagonista ao voltar para uma cidade onde ele viveu uma situação desagradável no passado – algo que, apesar de nunca explicado, certamente deixou nele uma cicatriz.

 

Kieslowski once said that “The Scar” is a film of contradiction, compromise and hypocrisy, and these can be some of the many of the scars that the title refers to. Another possible scar may be the conflict between personal and professional that the lead feels when he gets back to a town where he lived an unpleasant situation in the past – one that, although never explained, certainly left him “scarred”.

“A Cicatriz” é o filme mais fraco de Kieslowski que vi até agora – além da Trilogia das Cores, também assisti este ano a “Amador” (1979). Este também foi o primeiro longa do diretor a estrear nos cinemas. Bem, nem todos os diretores são como Orson Welles e podem dizer que estrearam com uma obra-prima.

 

 “The Scar” is the weakest Kieslowski film I’ve seen - besides the Three Colors trilogy, I also watched this year “Amador” (1979). It’s also his first feature to receive a theatrical release. Well, not all directors are like Orson Welles and can claim that they debuted with a masterpiece.

Saturday, December 16, 2023

Vendedor de Ilusões (1962) / The Music Man (1962)

 

Alguns musicais são tão bem sucedidos que deixam uma marca na cultura pop. Isso significa que você acaba conhecendo as músicas sem ter que assistir ao musical. Isso aconteceu comigo mais recentemente quando assisti a “Vendedor de Ilusões” pela primeira vez: percebi que já conhecia tantas das músicas de antemão. Apesar disso, ou talvez por causa disso, me diverti muito.

 

Some musicals are so enormously successful that they leave a mark in pop culture. This means you get to know the songs without having to watch the musical. This happened to me most recently when I watched “The Music Man” (1962) for the first time: I realized I already knew so many songs in it beforehand. Nevertheless, or maybe because of this, I had a great time.

O Professor Harold Hill (Robert Preston) é um caixeiro viajante que chega a River City, Iowa. Ele vende instrumentos musicais para formar bandas de jovens. Ele soluciona o problema de a cidade não ter uma banda de jovens ao encontrar um inimigo que poderia ser combatido com a música: a nova mesa de bilhar em um saloon.

 

Professor Harold Hill (Robert Preston) is a travelling salesman who arrives in River City, Iowa. He sells musical instruments to form boys’ bands. He solves the problem of the city not having a boys’ band by finding an enemy that could be fought with music: the new pool table at a saloon.

A organização de uma banda de jovens é, obviamente, uma maneira do Professor Hill ganhar dinheiro fácil e sair da cidade. Quase todos no local pareciam animados com a ideia da banda. Quase todos, menos a bibliotecária local e também professora de piano, Marian Paroo (Shirley Jones). Mas é exatamente a atenção dela que o Professor Hill quer obter. Ele conseguirá sucesso em seu esquema e também conquistar a garota?

 

The organization of the boys’ band is, of course, a way for Professor Hill to earn easy money and leave the town. Almost everybody from River City seemed to get excited about the band. Almost, except the local librarian and also piano teacher Marian Paroo (Shirley Jones). But it’s exactly her attention Professor Hill wants to win. Will he manage to be successful with his scheme and also get the girl?

Creditado como “Ronny Howard”, lá está ele: o futuro megaprodutor Ron Howard, aos oito anos de idade, como Winthrop Paroo, irmão mais novo de Marian. Ele está muito bem no papel, e até consegue, de maneira convincente, fingir falar com a língua presa. De acordo com o IMDB, seu primeiro papel como ator foi em 1956 - quando ele tinha apenas dois anos de idade - e a partir daí Ronny fez diversos filmes e séries de TV.

 

Credited as “Ronny Howard”, there he is: future mega producer Ron Howard, aged eight, as Winthrop Paroo, Marian’s younger brother. He is very good in the role, and even manages to believably fake a lisp. According to IMDb, his first acting credit comes from 1956 - when he was just two years old - and from them on Ronny appeared steadily on film and TV.

Eu gostaria de destacar Pert Kelton, wue interpreta a mãe de Marian e Winthrop. Ela também esteve na produção da Broadway de “Vendedor de Ilusões”. Apesar de este ser seu mais conhecido papel no cinema, esta filha de artistas do vaudeville apareceu em 47 filmes e programas de TV, começando em 1929. Ela perdeu o papel de Alice Kramden na popular série de TV “The Honeymooners” porque seu marido, o também ator Ralph Bell, entrou para a lista negra durante a Ameaça Vermelha.

 

I’d like to highlight Pert Kelton, who plays Marian’s and Winthrop’s mother. She was also on the Broadway production of “The Music Man”. Although this is her best known movie, this daughter of vaudevillians appeared in 47 films and TV shows, starting in 1929. She lost the role of Alice Kramden on the popular TV show “The Honeymooners” because her husband, also actor Ralph Bell, was blacklisted during the Red Scare.

Também dignos de nota são os quatro membros do Conselho Escolar que se tornam um quarteto cantor - eles são todos muito talentosos! Eles são The Buffalo Bills e também estiveram na produção da Broadway. Eles foram os Medalhistas Internacionais de 1950 da Sociedade para Preservação e Encorajamento de Quartetos Cantores de Barbearia nas Américas. Tendo começado a carreira em 1947 na cidade de Buffalo - de onde vem o nome do quarteto - o grupo se manteve ativo até 1967 e seu concerto de despedida foi no famoso Hotel Waldorf-Astoria de Nova York.

 

Also worth noticing is the four School Board members who become a singing quartet – they’re all very talented! They are The Buffalo Bills and were also on the Broadway production. They were the 1950 International Champion Medalist Quartet of the S.P.E.B.S.Q.S.A., the Society for the Preservation and Encouragement of Barber Shop Quartet Singing in America. Having started in 1947 in the city of Buffalo - from where the group’s name came - they were active until 1967 and did their farewell concert at the famous Waldorf-Astoria Hotel in New York.

O cérebro por trás de “Vendedor de Ilusões” é Meredith Wilson. Ele criou River City tendo como inspiração sua cidade natal, Mason City, Iowa. Tendo sido flautista na banda de John Philip Sousa e na Orquestra Filarmônica de Nova York, Wilson já havia composto trilhas sonoras para filmes como “O Grande Ditador” (1940) e “Pérfida” (1941). Depois de uma década de trabalho no rádio, Wilson presenteou o mundo com “Vendedor de Ilusões”, tendo trabalhado no musical por oito anos e composto 40 músicas. A peça foi um sucesso com Robert Preston como o protagonista, um papel que a Warner Bros não queria que ele repetisse por não ser um nome conhecido. Meredith Wilson ameaçou cancelar a produção por completo se Preston não ficasse com o papel protagonista, o que aconteceu depois que nomes como Frank Sinatra, Bring Crosby e Cary Grant recusaram o papel.

 

The brain behind “The Music Man” is Meredith Wilson. He based River City on his hometown, Mason City, Iowa. A former flutist at both John Philip Sousa’s band and the New York Philharmonic Orchestra, Wilson had written scores for films such as “The Great Dictator” (1940) and “The Little Foxes” (1941). After a decade’s work on radio, Wilson gifted “The Music Man” to the world, after writing 40 songs in eight years of work. The play was a hit with Robert Preston as the lead, a role that Warner Bros was not willing to let him repeat on film, because Preston wasn’t a bankable star. Meredith Wilson threatened to cancel the production completely if Preston wasn’t cast as the lead, which happened after names like Frank Sinatra, Bing Crosby and Cary Grant refused the role.

“Vendedor de Ilusões”, a peça da Broadway, ganhou o prêmio Tony de Melhor Musical em 1957, vencendo “Amor, Sublime Amor” na disputa. Quando foram feitas as adaptações para o cinema, o jogo virou: em 1962 “Amor, Sublime Amor” ganhou 11 Oscars e um ano depois “Vendedor de Ilusões” venceu apenas um Oscar, Melhor Trilha Sonora Adaptada.

 

“The Music Man”, the Broadway production, won the Best Musical Tony Award in 1957, beating “West Side Story”. When they became movies, the game changed: in 1962 “West Side Story” won 11 Oscars and one year later “The Music Man” won only one, Best Music, Scoring of Music, Adaptation or Treatment.

O intervalo entre as músicas é mínimo e isto, junto com alguns truques de iluminação, ajudaram a criar uma aura teatral no filme. Quando a música para por um período maior, sequências icônicas acontecem, como aquela em que o Professor Hill fala com Marian sobre ela colecionar “ontens vazios” (“empty yesterdays”).

 

The interval between songs is minimal and this, together with some lighting tricks, help create a stagey aura in the film. When the music stops for a little longer, iconic sequences happen, such as the one where Professor Hill talks to Marian about her collecting “empty yesterdays”.

Os 151 minutos de duração do filme fluíram muito bem. “Vendedor de Ilusões” foi o terceiro maior sucesso de bilheteria de 1962, depois de “O Mais Longo dos Dias” e “Lawrence da Arábia”. Ele merece um lugar entre os mais divertidos musicais já feitos, e também um lugar entre os melhores filmes produzidos pela agora centenária Warner Bros.

 

The 151 minutes flew by. “The Music Man” was the third highest-grossing film of 1962, behind “The Longest Day” and “Lawrence of Arabia”. It deserves a spot among the most entertaining musicals ever made, and also among the best movies released by the now centenarian Warner Bros studio.

 

This is my contribution to the 100 Years of Warner Brothers blogathon, hosted by Constance and Diana at Silver Scenes.

Saturday, December 2, 2023

The Mystery of the Mary Celeste aka Phantom Ship (1935)

 Ele pode ser mais conhecido por interpretar o papel principal de “Drácula” (1931), mas Bela Lugosi fez 113 filmes numa carreira que durou quatro décadas. Ele fez seu primeiro filme mudo na sua Hungria natal em 1917, depois de ter feito 172 peças em palcos húngaros. De seu primeiro filme até o último - “Plano 9 do Espaço Sideral” (1957) - ele criou personagens variados, muitas vezes sinistros, como o marinheiro na produção britânica de 1935 “The Mystery of the Mary Celeste”.

  

He may be better known for playing the title role in “Dracula” (1931), but Bela Lugosi appeared in 113 films in a career that spanned four decades. He made his first silent film in his native Hungary in 1917, after appearing in 172 plays on the Hungarian stages. From this first film until the very last - “Plan 9 From Outer Space” (1957) - he created varied characters, often sinister, like the sailor in the 1935 British production “The Mystery of the Mary Celeste”.

Um porto em Nova York, 1872. O capitão Bnjamin Briggs (Arthur Margetson) está prestes a zarpar com seu navio, o Mary Celeste, levando consigo sua noiva, Sarah (Shirley Grey), que será a única mulher no navio. A notícia do noivado deles incomoda o amigo de Benjamin, o também capitão Jim Morehead (Clifford McLaglen).

 

A harbor in New York, 1872. Captain Benjamin Briggs (Arthur Margetson) is ready to sail with his ship, the Mary Celeste, taking as personal cargo his fiancée, Sarah (Shirley Grey), who will be the only woman in the ship. The news about their engagement upset Benjamin’s friend, also Captain, Jim Morehead (Clifford McLaglen).

Entre os homens escolhidos para fazer parte da tripulação do Capitão Briggs temos A. Gotlieb (Bela Lugosi), um marinheiro de um braço só que havia desaparecido por um tempo mas magicamente reapareceu nas docas uma noite. Apesar de sua presença sinistra, a viagem começa como planejado, até mesmo com marinheiros cantando. Não demora para que a primeira briga a bordo aconteça, algo que horroriza Sarah. A verdade é que o Capitão Briggs não tem a melhor tripulação porque os bons marinheiros se recusaram a zarpar com o Mary Celeste.  

 
Among the men chosen to be part of Captain Briggs’ crew there is one-armed A. Gotlieb (Bela Lugosi), a mate who had disappeared for a while before magically reappearing at the docks one night. Despite his eerie presence, the voyage begins as planned, even with singing sailors. It doesn’t take long for the first on-deck fight to happen, something that horrifies Sarah. The truth is that Captain Briggs doesn’t have the best crew because the good men refused to sail in the Mary Celeste.

Quando o Mary Celeste zarpa, a morte está a bordo do navio. É isso que Gotlieb - que não é quem diz ser - diz para Sarah quando as coisas começam a ficar estranhas a bordo. E elas ficaram estranhas mesmo: o filme é baseado em um mistério real! Em cinco de dezembro de 1872, o Mary Celeste, um navio norte-americano, foi encontrado à deriva e completamente abandonado perto das ilhas Açores. Nenhum sinal dos dez passageiros a bordo - o que incluía o Capitão Briggs, sua esposa, sua filha de dois anos e sete marinheiros -, algo que levantou hipóteses sobre o destino destes desaparecidos.


When the Mary Celeste sails, death goes on board in the ship. This is what Gotlieb - who isn’t who he says he is - says to Sarah when things start to get weird on board. And they sure did: the film is based on a real mystery! On December 5th, 1872, the Mary Celeste, an American ship, was found drifting and derelict near the Azores islands. No sign of the ten passengers inside - including Captain Briggs, his wife, two-year old daughter and seven crew members -, something that arose hypothesis about the fate of those people.

O mistério logo serviu de inspiração para obras de ficção. Em 1884, um aspirante a escritor de 25 anos de idade chamado Arthur Conan Doyle escreveu um conto sobre o navio Marie Celeste e o intrigante desaparecimento da sua tripulação no meio do oceano. A história fez sucesso e ajudou a espalhar mitos sobre o navio, incluindo a maneira como seu nome era grafado.

 

The mystery soon became inspiration for fictional works. In 1884, a 25-year old aspiring writer named Arthur Conan Doyle wrote a short story about the ship Marie Celeste and the intriguing disappearance of its crew mid-ocean. The story was a success and helped spread myths about the ship, including about the spelling of its name.

A história inspirou duas peças para o rádio nos anos 1930, e uma peça de teatro inspirada numa dessas peças de rádio em 1949. Foi também contada no curta-metragem de 1938 “The Snip That Died” e até mesmo num episódio do Doctor Who de 1965.

 

The story inspired two radio plays in the 1930s, and a theater play based on one of those radio plays in 1949. It was also chronicled in the 1938 short film “The Snip That Died” and even featured in a Doctor Who episode in 1965.

E foi, obviamente, a inspiração para o filme “The Mystery of the Mary Celeste”. Com apenas 62 minutos de duração, não é uma obra-prima, mas diverte. Foi um dos primeiríssimos filmes lançados pela recém-nascida - fundada em 1934 - Hammer Productions Ltd. Por causa disso, o filme gera curiosidade e interessa a quem quer completar a filmografia de Lugosi e da Hammer, e também quem se intriga com o desaparecimento do Mary Celeste há mais de 150 anos - um mistério ainda não solucionado.

 

And it was, of course, the inspiration for the film “The Mystery of the Mary Celeste”. At only 62 minutes long, it’s not a masterpiece, but it can be enjoyed. It was one of the very first films issued by the newborn - founded in 1934 - Hammer Productions Ltd. Because of this, the movie is a curious piece, one that interests Lugosi and Hammer completists, as well as those intrigued by the disappearance of the Mary Celeste over 150 years ago - a mystery not yet solved.

 

“The Mystery of the Mary  Celeste” can be watched on YouTube.

 

This is my contribution to the Fourth Hammer and Amicus blogathon, hosted by Gill and Barry at Realweegiemidget Reviews and Cinematic Catharsis


Friday, November 24, 2023

Por Que Deu a Louca no Sr R? (1970) / Why Does Herr R. Run Amok (1970) / Warum läuft Herr R. Amok (1970)?

 

ESTA CRÍTICA TEM SPOILERS

THIS REVIEW HAS SPOILERS

 

Meu primeiro contato com a obra do diretor alemão Rainer Werner Fassbinder se deu há mais ou menos dez anos, quando alguns de seus filmes foram exibidos no Cine Conhecimento do Canal Futura. Da seleção, meu favorito foi seu último filme, “O Desespero de Veronika Voss” (1982). Eu teria outro encontro com Fassbinder quando cursei uma disciplina de mestrado e lemos um texto bem-humorado assinado por ele, e também assistimos à sua obra-prima “Ali: o Medo Devora a Alma” (1974). Foi uma surpresa que um de seus filmes tenha sido exibido na TV recentemente, por isso eu o gravei e aqui ei-lo: um dos oito (!) filmes que ele dirigiu no ano de 1970, “Por Que Deu a Louca no Sr. R?”


My first contact with the works of German director Rainer Werner Fassbinder was about ten years ago, when some of his films were shown on a TV program called Cine Conhecimento (Kino Knowledge, in a free but accurate translation) at the channel Futura. Of the bunch, my favorite was his very last film, “Veronika Voss” (1982). I would encounter Fassbinder again when I took a class at a master’s degree program and we read a very humorous text written by him and later watched his masterpiece “Ali: Fear Eats the Soul” (1974). It was a surprise that one of his films was shown on TV recently, so I recorded it and here it is: one of eight (!) films he directed in the year of 1970, “Why Does Herr R. Run Amok?”

O filme começa com um grupo de quatro amigos contando piadas. Algumas são engraçadas, outras nem tanto. Um dos amigos, o único que não contou nenhuma piada, se separa do grupo, virando à esquerda enquanto os outros seguem à direita. O homem é Herr (Sr.) R. (Kurt Raab), um desenhista técnico que espera por um novo posto de trabalho. Ele vive em Munique com sua esposa, Frau (Sra.) R. (Lilith Ungerer), e filho, Amadeus (Amadeus Fengler).


The film begins with a group of four friends telling jokes. Some are funny, others not so much. One of the friends, the only who didn’t tell a single joke, parts from the group, going left while the others go right. The man is Herr (Mr) R. (Kurt Raab), a draughtsman waiting for a new job position. He lives in Munich with his wife Frau (Mrs) R. (Lilith Ungerer) and son, Amadeus (Amadeus Fengler).

Quando estão caminhando pelas ruas, indo a uma reunião na escola do filho, Frau R. fala sobre uma conhecida que surtou depois de uma explosão de gás: foi a gota d’água para ela. Durante a reunião, quem fala é só Frau R., enquanto a câmera foca em Herr R. e podemos vê-lo dissociando da conversa. Sua gota d’água está próxima.


While they are strolling in the streets, going to a meeting at their son’s school, Frau R. talks about an acquaintance who freaked out after a gas explosion: it was her last straw. During the meeting, only Frau R. speaks, while the camera focuses on Herr R. and we can sense him dissociating. His last straw is near.

Eu pensei que iria dar a louca em Herr R. durante um almoço no seu trabalho. Ele fica bêbado e fala sem parar sobre seus colegas, enfurecendo sua esposa. Então eu percebi: este filme é POR QUE deu a louca no Sr. R. Vê-lo louco seria a última coisa que veríamos: o filme todo serviria para nos mostrar as razões.


I first thought that Herr R. would run amok during a get-together from his work. He gets drunk and talks aimlessly about his co-workers, making his wife mad. Then I realized: this movie is WHY Herr R. ran amok. Seeing him running amok would be the last thing we see: the whole movie would first show us the reasons.

Há alguns momentos muito datados, que são entretanto divertidos por serem o retrato de uma época. Por exemplo: quando nosso herói entra numa loja e pergunta sobre uma música que ele ouvira no domingo passado no rádio. Ele descreve a canção em detalhes, causando riso numa das vendedoras. Hoje, com aplicativos como Shazam e Spotify, os problemas dele diminuiriam bastante.


There are very dated moments, that are funny nonetheless for being the portrait of a time. For instance: when our hero enters a store and asks about a song he heard that past Sunday in the radio. He describes the song extensively, causing one of the clerks to laugh. Today, with apps like Shazam and Spotify, his trouble would diminish a lot.

Outros momentos datados não são tão divertidos. Quando Amadeus fica brevemente perdido na floresta, a avó do menino culpa a mãe, Frau R., dizendo que a única missão dela era ficar de olho no garoto. Esta é a única sequência com a mãe de Herr R., e por isso ela nos parece egoísta e muito crítica com sua nora.


Other dated moments are not so amusing. When Amadeus gets briefly lost in the woods, his grandmother blames his mother,  Frau R., saying that it was her only duty to keep an eye on the boy. This is the only bit with Herr R.’s mother, and because of that she passes to us as being selfish and overly critical of her daughter-in-law.

Outros momentos são tão frescos que poderiam ter sido filmados hoje. Um exemplo: uma das amigas de Frau R. conta-lhe que ela está indo esquiar e alugou uma casinha porque é mais barato que ficar num hotel – exatamente o tipo de coisa que seria dita pelos defensores do Airbnb! Não é à toa que é aí que dá a louca no Sr. R!


Other moments are fresh as new. One example: one of Frau R.’s friends tells her that she is going skiing and rented a little house because it’s cheaper than staying in a hotel- exactly the kind of thing the defenders of Airbnb would say! It’s not by chance that it is there that Herr R. runs amok!

Este filme é assinado por Fassbinder e Michael Fengler. Entretanto, a atriz Hanna Schygulla, que interpreta rapidamente a personagem Hanna, declarou que Fassbinder teve pouco a ver com o filme, sendo este feito quase totalmente por Michael Fengler, uma declaração mais tarde confirmada por Fengler. Este foi o primeiro filme de Fengler, que mais tarde se dedicou aos trabalhos como roteirista e produtor.


The film is signed by Fassbinder and Michael Fengler. However, actress Hanna Schygulla, who plays the character Hanna in a brief performance, claimed that Fassbinder had little to do with the shooting of the film, and it was made almost solely by Michael Fengler, a claim later confirmed by Fengler. This was Fengler’s first film and he later served more as screenwriter and producer.

Esta não é uma comédia, como o título poderia nos levar a crer. É um drama, mas não um drama intenso, e muitos podem até chama-lo de um filme chato. No final das contas, “Por Que Deu a Louca no Sr. R.?” é sobre os perigos da rotina, ou, como diz o velho ditado: “all work and no play make Jack a dull boy” (“só trabalho e nenhuma diversão fazem de Jack um garoto sem-graça”).


This is not a comedy, as the title could make us believe. It’s a drama, but not intense drama, and many could even call it a boring movie. In the last stance, “Why Does Herr R. Run Amok?” is about the dangers of routine, or, as the old saying goes: “all work and no play makes Jack a dull boy”.

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