Muito,
mas não tudo. Eu adoro filmes de gângster. E torço para que eles sobrevivam ao
final. O que isso pode significar sobre minha personalidade?
Bem, isso
não vem ao caso aqui ou agora. Não sou atriz clássica para ser analisada, nem
sequer investigadora da mente humana. Mas hoje resolvi analisar a intrigante
personalidade de meu diretor predileto, de quem não falava já há algum tempo: o
magnânimo Orson Welles. E tudo isso baseado em uma simples lista: a de seus 10
filmes preferidos.
1. Luzes da Cidade / City Lights (1931, Charles
Chaplin)
2.Ouro e Maldição / Greed (1924, Erich von Stroheim)
3. Intolerância / Intolerance (1916, D.W. Griffith)
4.Nanook, o Esquimó / Nanook of the North (1922, Robert J. Flaherty)
5. Shoeshine (1946, Vittorio De Sica)
6.O Encouraçado Potemkin / Battleship Potemkin (1925, Sergei Eisenstein)
7. The Baker's Wife (1938, Marcel Pagnol)
8. Grand Illusion (1937, Jean Renoir)
9. No Tempo das Diligências / Stagecoach (1939, John Ford)
10. Ninotchka (1939, Ernst Lubitsch)
2.Ouro e Maldição / Greed (1924, Erich von Stroheim)
3. Intolerância / Intolerance (1916, D.W. Griffith)
4.Nanook, o Esquimó / Nanook of the North (1922, Robert J. Flaherty)
5. Shoeshine (1946, Vittorio De Sica)
6.O Encouraçado Potemkin / Battleship Potemkin (1925, Sergei Eisenstein)
7. The Baker's Wife (1938, Marcel Pagnol)
8. Grand Illusion (1937, Jean Renoir)
9. No Tempo das Diligências / Stagecoach (1939, John Ford)
10. Ninotchka (1939, Ernst Lubitsch)
Welles, Welles… Quanto de você pode ser desvendado por
sua lista! Algo que a maioria dos cinéfilos sabe é que Orson fez “Cidadão Kane”
(1941) tendo total liberdade criativa. Depois disso, muitos de seus filmes
acabaram re-editados pelos estúdios, que cortaram cenas que consideraram
supérfluas para diminuir a duração dos filmes, normalmente bem longos após
Welles colocar o ponto final. Já analisei este verdadeiro pecado
cinematográfico no post “Orson Welles e sua megalomania”, porque para mim não
existe adjetivo melhor para esse diretor que megalomaníaco (no bom sentido).
Pois bem: algumas de suas produções preferidas eram também
grandes e grandiosas e até mesmo sofreram severos cortes. Segundo Lillian Gish,
“Intolerância” também sofreu um imenso corte, indo de oito horas para quase
três. Já“Ouro e Maldição” tinha quatro horas na versão final do diretor Erich
von Stroheim, mas contava com nove horas no original. Stroheim, aliás, esteve
também em “A Grande Ilusão”, desta vez como ator, pois era esta outra
característica que ele compartilhava com Welles: ambos eram excelentes em
frente e atrás das câmeras.
Welles gostava de contar histórias como todo diretor, mas
modificava as suas (lembre-se de seu documentário-mentira de dar um nó na
cabeça: “Verdades e Mentiras / F for Fake”, de 1973). Assim também fizeram
Robert J. Flaherty com Nanook e Eisenstein com Potemkin. Se o russo
verdadeiramente recriou fatos de 1905, Flaherty por sua vez fez uma família de
esquimós atuarem no intento de reconstruir as cenas que ele havia perdido ao
derrubar cinzas de cigarro em rolos de filme. Orson teve uma tentativa de fazer
documentários aqui no Brasil, mas seu “Ė tudo verdade” fracassou.
Um pouco de simplicidade não faz mal a ninguém e Welles
gostava de ver filmes com gente simples, como os dois meninos engraxates de
“Shoeshine” ou o padeiro que, ao ser abandonado pela mulher, deixa de fazer pão
e provoca o caos em uma cidadezinha em “The Baker’s Wife”. Seu raciocínio com
certeza ficou ainda mais afiado com “Ninotchcka”, a charmosa e divertida sátira
ao comunismo protagonizada por Garbo. E, como bom americano que também sabia
inserir ação em seus filmes, Welles adorava aquela que é considerada a
obra-prima do western, “No tempo das diligências”.
Por fim, uma pérola que é também uma surpresa: a comédia
social “Luzes da Cidade”, tão terna e tão simples, embora ela própria estivesse
quebrando regras: era um filme mudo quando o gênero já parecia descansar em
paz. Orson e Charlie têm um laço importante e pouco conhecido: foi o criativo
obeso que vendeu a história de “Monsieur Verdoux” (1947) a Chaplin, que mais
tarde considerou esse seu melhor filme.
Welles inovou, brigou, teve sucessos e muitos fracassos.
Apesar disso, entrou para a história do cinema como um dos melhores. Suas
preferências mostram um pouco de seu gênio e de sua personalidade. O que seus
filmes favoritos dizem sobre você?