} Crítica Retrô: October 2021

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Sunday, October 31, 2021

O Homem que Vendeu a Alma (1941) / All That Money Can Buy (1941) (aka The Devil and Daniel Webster)

 

Bernard Herrmann é considerado um dos melhores compositores da história do cinema. Tendo trabalhado como compositor em 90 filmes – alguns deles feitos após sua morte usando sua música – é surpreendente que ele tenha sido indicado ao Oscar apenas cinco vezes – nenhuma delas por trabalhos nos filmes de seus colaborador constante, Alfred Hitchcock – e tenha ganhado apenas uma estatueta, em seu primeiro ano em Hollywood. O filme que deu a Herrmann seu único Oscar é “O Homem que Vendeu a Alma”.

Bernard Herrmann is considered one of the best composers in film history. Having worked as a composer in 90 titles – some of them movies made after his death that use his music – it’s a surprise to learn that Herrmann was nominated for the Oscar only five times – none of them for movies by his constant collaborator, Alfred Hitchcock – and won only once, in his very first year in Hollywood. The movie that gave Herrmann his sole Oscar is “All That Money Can Buy”, sometimes seen under the title “The Devil and Daniel Webster”.

É uma história que aconteceu há muito tempo, mas que poderia acontecer em qualquer momento, em qualquer lugar, com qualquer um – até mesmo com você, querido espectador. O fazendeiro Jabez Stone (James Craig) vem sofrendo com uma maré de azar. Ele está se sentindo tão mal que diz em voz alta que estaria disposto a fazer um pacto com o diabo em troca de melhorias. O diabo o escuta, aparece sob a forma de Mr Scratch (Walter Huston) e Jabez vende sua alma em troca de sete anos de prosperidade. Instantaneamente, Jabez enriquece e começa a comprar roupas e chapéus para sua esposa Mary (Anne Shirley) e sua mãe (Jane Darwell). E não demora muito para que ele deixe de frequentar a igreja para jogar cartas com os novos amigos.

It’s a story that happened a long time ago, but one that could happen anytime, anywhere, to anybody – even to you, dear viewer. Farmer Jabez Stone (James Craig) has been having a lot of bad luck lately. He’s feeling so unlucky and miserable that he says out loud that he’d be willing to make a pact with the devil to see things improving. The devil hears, appears in the form of Mr Scratch (Walter Huston) and Jabez sells his soul in exchange of seven years of good luck. Instantly, Jabez becomes rich and starts buying dresses and hats for his wife Mary (Anne Shirley) and his mother (Jane Darwell). And it doesn’t take long until he starts not going to church and instead playing cards with his new friends.

Mas quem diabos é Daniel Webster? Daniel Webster (Edward Arnold) é um político de Massachusetts que leva jeito com as palavras. Um dia, logo depois de Jabez fazer o pacto com o diabo, Daniel Webster visita a cidade vizinha à fazenda dele e se torna amigo de Jabez. Mary troca cartas com Daniel Webster e até mesmo dá ao seu filho o nome de Daniel. Mary então chama Daniel Webster para ajudar quando Jabez se torna arrogante e muito ambicioso, e Daniel Webster terá de usar suas palavras contra o diabo.

But who the hell is Daniel Webster? Daniel Webster (Edward Arnold) is a politician from Massachusetts who has a talent for words. One day, right after Jabez makes the pact with the devil, Daniel Webster visits the town near his farm and befriends him. Mary corresponds with Daniel Webster frquently, and even names her son Daniel after the politician. Mary then calls Daniel Webster to interfere when Jabez becomes arrogant and overly ambitious, and Daniel Webster will have to use his words against the devil.

Uma das muitas tentações que Jabez terá de enfrentar tem um belo rosto: é Belle (Simone Simon), sua nova empregada. O papel mais lembrado de Simone é como a protagonista de “Sangue de Pantera” (1942), um filme para o qual Bernard Herrmann fez arranjos para uma música, sem receber crédito. Simone Simon foi escalada para “Sangue de Pantera” depois que o produtor Val Lewton viu sua performance como a tentadora diabólica em “O Homem que Vendeu a Alma”.

One of the many temptations that Jabez will have to face has the prettiest face: Belle (Simone Simon), his new maid. Simon’s best remembered role is as the lead of “Cat People” (1942), a film in which Bernard Herrmann worked as an arranger for one song, for which he didn’t receive credit. Simone Simon was cast in “Cat People” after producer Val Lewton saw her turn as the devil’s temptress in “The Devil and Daniel Webster”.

A trilha sonora é excelente. Em determinado momento, há melodias idílicas que fazem a vida no campo soar como um paraíso, e no minuto seguinte há notas macabras. Há também momentos tensos e fantásticos marcados pela música, e há também algumas canções folclóricas. Tudo isso levou à vitória histórica de Herrmann na categoria Melhor Trilha Sonora Original, uma vitória mais que merecida. O que pode ter ajudado é que Herrmann já estava familiarizado com a história, pois compôs a trilha sonora para a adaptação de “O Homem que Vendeu a Alma” para o rádio em 1938.

The soundtrack is amazing. At one point, there are idyllic melodies that make life in the country sound like a paradise, and in the next minute there is a macabre tune. There are also tense moments and fantastic moments marked by music, and there are some folk tunes as well. All this led to Herrmann’s historical win in the Original Music Score category, a win that was very much deserved. What might have helped was that Herrmann was no strange to the story, as he had composed the soundtrack for the radio adaptation of “The Devil and Daniel Webster” in 1938.

Assim como o primeiro filme de Herrmann – “Cidadão Kane” – “O Homem que Vendeu a Alma” foi feito pelos estúdios RKO. Foi o primeiro filme que o diretor William Dieterle fez servindo também como produtor, e era a adaptação de um conto publicado em 1936 e adaptado para os palcos em 1939. Dieterle fez muitas experiências com o filme – um filme que herdou parte da quipe que trabalhou em “Cidadão Kane” – e a produção ficou acima do orçamento, o que se mostrou um problema.

Like Herrmann’s first film – “Citizen Kane” – “The Devil and Daniel Webster” was made by RKO studios. It was the first movie director William Dieterle made also as a producer, and it was the adaptation of a short story published in 1936 and then adapted to the stage in 1939. Dieterle experimented a lot with this film – a film that inherited part of the crew that worked in “Citizen Kane” – and the production ran over budget, which became a problem.

O Homem que Vendeu a Alma” é um filme de fantasia, mas tem alguns efeitos de iluminação interessantes – muitos deles parecem não ter sido feitos de propósito – que evocam o noir. Outro filme de fantasia com iluminação noir – e também com música composta por Bernard Herrmann! - é “O Fantasma Apaixonado” (1947).

The Devil and Daniel Webster” is a fantasy movie, but it has some interesting lighting effects – many of them seem made not on purpose – that evoke a noir feeling. Another fantasy movie with noir lighting – and also with music composed by Bernard Herrmann! - is “The Ghost and Mrs Muir” (1947).

O Homem que Vendeu a Alma” não é o primeiro filme a contar a história de alguém que vendeu sua alma ao diabo. Talvez a versão mais famosa de tal história seja Fausto, filmado em 1926 na Alemanha por F.W. Murnau. Numa curiosa coincidência, William Dieterle teve um papel de destaque neste filme como Valentin, que é morto por Fausto. “O Homem que Vendeu a Alma” também não foi o último filme a ter um julgamento com criaturas do outro mundo para decidir o destino de um homem: uma trama semelhante pode ser encontrada no magnífico filme britânico “Neste Mundo e no Outro” (1946).

The Devil and Daniel Webster” is not the first movie to tell the story of someone who sold his soul to the devil. Perhaps the most famous version of such a story is Faust, filmed in 1926 in Germany by F.W. Murnau. In a curious coincidence, William Dieterle had a major role in this film as Valentin, who is killed by Faust. “The Devil and Daniel Webster” is also not the last movie to have a hearing with otherwordly creatures to decide a man’s fate: a similar plot is found in the superb British film “A Matter of Life and Death” (1946).

Você deve estar se perguntando, e aqui está a resposta: sim, existiu um político chamado Daniel Webster em Massachusetts. Ele foi um dos mais famosos advogados do século XIX e foi candidato na eleição presidencial de 1836, que ele perdeu – mas provavelmente não porque não aceitou fazer um pacto com o diabo.

You might be wondering, so here is the answer: yes, there was a real politician called Daniel Webster from Massachusetts. He was one of the most famous lawyers of the 19th century and was a candidate in the 1836 presidential election, which he lost – but probably not because he refused to make a deal with the devil.

O Homem que Vendeu a Alma” foi um sucesso de crítica mas um fracasso de bilheteria. É mais que uma curiosidade, mais que o filme que deu a Bernard Herrmann o único Oscar de uma carreira brilhante. Quase tão bom quanto “Neste Mundo e no Outro”, este filme adapta a lenda de Fausto ao folclore norte-americano e acrescenta à história mágica e, por mais estranho que pareça, patriotismo. É realmente um filme único.

The Devil and Daniel Webster” was a critical success but a box-office failure. It’s more than a curiosity as it gave Bernard Herrmann the sole Oscar in an outstanding career. Almost as good as “A Matter of Life and Death”, this film adapts the Faust legend to American folklore and infuses the story with magic and, as oddly as it may sound, patriotism. It’s truly an unique gem.

This is my contribution to the Bernard Herrmann blogathon, hosted by The Classic Movie Muse.

Monday, October 18, 2021

Sete Anos de Azar (1921) / Seven Years Bad Luck (1921)

 

Você é supersticioso? Devo confessar que sou um pouquinho supersticiosa - não gosto muito do número sete, por exemplo. Pessoas muito supersticiosas são uma inspiração para o cinema desde a era muda: o IMDb lista mais de mil filmes com a palavra-chave “superstição”. Alguns destes filmes são comédias sobre o quão absurdo é ser supersticioso, que é o caso de “Sete Anos de Azar”, de Max Linder.

Are you superstitious? I must confess that I’m a bit superstitious - I don’t really like the number seven, for instance. Very superstitious people have been a big inspiration for films since the silent era: IMDb lists over one thousand movies with the keyword “superstition”. Some of these films are comedies about the absurdity of being too superstitious, which is the case of Max Linder’s “Seven Years Bad Luck”.

Praticamente todo mundo conhece a superstição que diz respeito a quebrar um espelho e ter sete anos de azar. No filme, Max (Max Linder) é um homem que está prestes a se casar. Sua criada e mordomo quebram seu espelho e o substituem, mas Max quebra o espelho e fica apreensivo com o mau presságio.

Practically everybody knows the superstition about breaking a mirror and this bringing you seven years bad luck. In the movie, Max (Max Linder) is a man about to be married. His maid and butler break his mirror and replace it, but Max breaks it again and gets nervous because of the bad omen.

De início, a superstição mostra-se verdadeira, pois Max briga com sua noiva Betty (Alta Allen) e vai para o campo, criando uma oportunidade para que seu melhor amigo (F.B. Crayne) roube sua garota. Max é roubado antes de pegar um trem, e isso leva a várias estripulias numa estação de trem, no zoológico e na cadeia - e há até uma sequência de sonho!

Initially the superstition proves to be true, as Max has a fight with his fiancée Betty (Alta Allen) and goes to the countryside, creating an opportunity for his best friend (F.B. Crayne) to steal his fiancée. Max is robbed before he gets in the train, and this leads to various shenanigans in a train station, a zoo and a jail - and there is even a dream sequence!

Design de cartelas de títulos era uma arte, e isto pode ser visto em “Sete Anos de Azar”: sempre que um personagem fala ao telefone, a cartela de texto tem as palavras emolduradas por linhas telefônicas. É algo simples mas muito eficiente que adiciona charme ao filme.

Title card design was an art, and this can be seen in “Seven Years Bad Luck”: whenever a character was talking on the phone, the title card has the words framed by drawings of phone lines. It’s something simple yet very effective that adds charm to the movie.

No comecinho do filme há a famosa cena cômica do espelho, mais tarde feita pelos irmãos Marx e também por Lucille Ball. A origem da cena dos espelhos é a peça “My Friend from India”, de 1894. Max Linder tentou filmar esta cena já em 1911, mas a dupla alemã dos irmãos Schwartz ameaçou processá-lo por copiar o show deles. Eles de fato processaram Max quando “Sete Anos de Azar” estreou, mas o caso nunca foi julgado.

In the very beginning of the movie there is the famous mirror comedy routine, done later by the Marx brothers and also by Lucille Ball. The origin of the mirror routine is the play “My Friend from India”, first staged in 1894. Max Linder tried to add this routine to a film as early as 1911, but the German duo Schwartz Brothers threatened to sue him for copying their act. They did sue Max when “Seven Years Bad Luck” was released, but the case never made it to the court.

Max Linder pode ser considerado o primeiro astro internacional do cinema. Ele fez seu primeiro filme em 1905 e em 1912 era o atos mais bem pago do mundo, conhecido por todo o globo graças ao seu personagem Max, um homem elegante. Havia um star system rudimentar construído ao redor de Max já em 1909. Desde 1908 ele também dirigia e escrevia alguns de seus filmes. Linder teve duas fases da carreira nos EUA: da primeira vez ele fez três curtas-metragens para a Essanay entre 1916 e 1917, e nesta segunda vez ele fez três longas-metragens que foram mal recebidos na época, mas que hoje são considerados clássicos da comédia.

Max Linder can be considered the first international movie star. He made his first movie in 1905 and in 1912 was the highest paid actor in the world, recognized all over the globe thanks to his character Max, a dapper man. There was a rudimentary star system built around him as early as 1909. Since 1908 he also directed and wrote some of his movies. Linder had two phases of filmmaking in the US: the first time he did three shorts for Essanay between 1916 and 1917, and in this second time he made three features that were poorly received at the time, but are now considered comedy classics.

Outra comédia muda sobre superstição é “O Supersticioso” (1919), estrelando Douglas Fairbanks como Daniel Boone Brown, um homem muito supersticioso que se torna vítima de um psiquiatra do mal. Este filme é famoso por outra cena curiosa: a do quarto que gira, que seria repetida por Fred Astaire em 1951.

Another silent comedy about superstition is “When the Clouds Roll By” (1919), starring Douglas Fairbanks as Daniel Boone Brown, a very superstitious man who becomes the victim of an evil psychiatrist. This film is famous for another visual routine: the one of a revolving bedroom, that would be done again by Fred Astaire in 1951.

Como dito anteriormente, “Sete Anos de Azar” teve um mau desempenho nas bilheterias mas foi elogiado pelos críticos na época da estreia. Com apenas 62 minutos, tem muitos momentos cômicos, dignos de gargalhada. É também uma introdução perfeita ao gênio Max Linder, que merece mais reconhecimento - afinal, o primeiro astro internacional do cinema não pode simplesmente desaparecer. Seria muito azar se Max fosse esquecido.

As stated, “Seven Years Bad Luck” did poorly at the box-office but was praised by critics when it was released. At only 62 minutes, it packs plenty of comic, laugh-out-loud moments. It’s also a perfect introduction to the genius of Max Linder, who deserves to be more recognized - after all, the first international movie star can’t simply disappear. It’d be the worst luck if Max was forgotten.

This is my contribution to the Laughter is the Best Medicine blogathon, hosted by the Classic Movie Blog Association.

Wednesday, October 13, 2021

40ª Giornate del Cinema Muto - 40th Pordenone Silent Film Festival

 
A melhor semana do ano, na minha humilde opinião, acabou de acabar. Esta semana diz respeito ao Festival de Cinema Mudo de Pordenone, um evento que sempre agrada aos amantes de cinema mudo como esta que vos escreve. Depois de uma edição completamente online em 2020, o festival voltou a ter exibições presenciais de filmes no norte da Itália, mas manteve uma versão online para nós, pobres almas que não pudemos comparecer – eu fui mentora do Collegium este ano porque fui membro do Collegium ano passado, mas não pude ir ao evento presencial porque não tomei as duas doses da vacina. Aqui estão minhas impressões sobre a programação online.

The best week of the year, in my humble opinion, is over. This week comprises the Pordenone Silent Film Festival, an event that never fails to appeal to silent film lovers like this girl writing here. Following an all-online edition in 2020, the festival went back to in-person screenings in the Italian north but kept an online version for us poor souls who couldn’t attend the event – I was a Collegium mentor this year because I was part of the Collegium last year, but couldn’t attend the in-person event as I’m not fully vaccinated. So here you have my impressions of the online progamme.

No ano passado encontrei um tema comum a todos os filmes: contraste. Em contraste, neste ano não encontrei um tema comum, mas dois dos filmes se aproximam na maneira como lidaram com – ou melhor, zombaram da – moralidade. Tanto em “Phil-for-Short” (1919) quanto no filme alemão “Moral” (1928) há defensores da moral querendo censurar os protagonistas: no primeiro filme, o guardião de Damophilia (Evelyn Greeley) quer que ela pare de se vestir como um menino, enquanto no segundo filme a artista Ninon D’Hauteville é vítima de um grupo de censores. Ambos os filmes foram muito bons, e tornados ainda melhores pelo acompanhamento musical.

Last year I found a common theme to all screenings: contrast. In contrast, this year I couldn’t find a common theme to all movies, but a couple of them were similar in the way they talked about – or rather mocked – morality. In both “Phil-for-Short” (1919) and in the German film “Moral” (1928) there are morality defenders wanting to censor the leads: in the earlier movie, Damophilia’s (Evelyn Greeley) guardian wants her to stop dressing as a boy, while in the later movie the artist Ninon D’Hauteville is the victim of a group of censors. Both film were very good, enhanced by great musical accompaniments.

"Phil-for-Short" (1919)

"Moral" (1928)

O filme de abertura da versão online do festival foi “The Joker” (1928), uma produção pan-europeia filmada em diversos países, inclusive na França durante o Carnaval de Nice. Trata-se de uma história de chantagem e enganação. O filme de encerramento foi “Maciste no Inferno” (1926) – certa feita mencionado por Federico Fellini como sendo o filme que o fez querer ser cineasta – uma história colossal sobre amor e poder estrelando Bartolomeo Pagano. “Maciste no Inferno” foi particularmente importante porque sua restauração foi possível com o uso de material oriundo da nossa Cinemateca Brasileira, atualmente fechada e ameaçada.

The opening film of the online version of the festival was “The Joker” (1928), a pan-European production shot in several countries, including in France during the Carnaval in Nice. It’s a story about blackmail and deception. The closing movie was “Maciste in Hell” (1926) – once mentioned by Federico Fellini as the film that made him want to become a filmmaker – a colossal tale of love and power starring Bartolomeo Pagano. “Maciste in Hell” was particularly important because its restoration was made possible with material from our Brazilian Cinematheque, that is currently closed and threatened.

"The Joker" (1928)

"Maciste in Hell" (1926)

Nesta Giornate assisti ao meu primeiro filme mudo australiano: “The Man from Kangaroo” (1920). É um faroeste decente estrelado por Snowy Baker – uma mistura de Tom Mix, Douglas Fairbanks e Johnny Weissmuller. Também assisti ao meu primeiro filme mudo sul-coreano, que não era mudo: “A Public Prosecutor and a Teacher” foi feito em 1948, logo após o final da Segunda Guerra Mundial e da ocupação japonesa, quando o país sofreu uma escassez de recursos para fazer filmes sonoros. Este bom melodrama tinha um Beyoncé byeonsa, ou seja, um narrador que interpretava a ação e a maior parte dos diálogos.

In this Giornate I watched my first Australian silent film: “The Man from Kangaroo” (1920). It’s a decent western starring Snowy Baker – a mix of Tom Mix, Douglas Fairbanks and Johnny Weissmuller. I also watched my first South Korean silent film, which wasn’t silent at all: “A Public Prosecutor and a Teacher” was made in 1948, right after World War II and the Japanese occupation had ended and the country suffered from a shortage of material to make sound films. This nice melodrama had a Beyoncé byeonsa, that is, a narrator that acted out the action and most of the dialog.

"The Man from Kangaroo" (1920)

"A Public Prosecutor and a Teacher" (1948)

Meu filme favorito da Giornate online foi mais uma vez o filme da terça à noite: “Fool’s Paradise” (1921), de Cecil B. DeMille, é tudo que um fã de cinema mudo pode querer. Ele tem literalmente de tudo no enredo: um veterano da Primeira Guerra Mundial ferido, uma cidade na fronteira cheia de poços de petróleo e homens mal-encarados, um cigarro explosivo, um cego, sotaques franceses, amor verdadeiro, um incêndio, uma viagem ao Sião e um sacrifício a crocodilos num templo. Poll Patchouli, interpretada pela grande Dorothy Dalton, rapidamente se tornou uma das minhas personagens mais queridas do cinema mudo.

My favorite film from the online Giornate was once again shown in a Tuesday night: Cecil B. DeMille’s “Fool’s Paradise” (1921) is everything a silent movie fan could ask for. It has literally everything in its plot: a wounded WWI veteran, a small town in the border full of oil wells and greasers, an exploding cigar, a blind man, French accents, true love, a fire, a trip to Siam and a sacrifice to crocodiles in a temple. Poll Patchouli, played by the great Dorothy Dalton, quickly became one of the silent movie characters dearest to my heart.


Esta edição também exibiu curtas-metragens. No segundo dia, cinco deles foram exibidos, quatro italianos e um francês. Eles incluíam um vislumbre dos estúdios Ambrosio em 1913, um alerta sobre ópio, uma animação stop-motion muito criativa e uma criança que vê os sentimentos da mãe em bolhas de sabão. Mais três curtas-metragens foram exibidos no último dia, todos dos estúdios Vitagraph no Brooklyn mas com temas japoneses – e um deles provavelmente tem Florence Turner fazendo yellowface. Nestes curtas da Vitagraph, a presença de uma atriz mirim chamou a minha atenção: a de Adele De Garde. No curta italiano “Le Bolle di Sapone”, a atriz mirim Maria Bay também teve uma boa performance.

This edition also showed short movies. On the second day five of them were shown, four from Italia and one from France. These included a sneak peek at Ambrosio studios in 1913, a cautionary tale about opium, a very creative stop-motion animation and a kid envisioning his mother’s feelings in soap bubbles. Three more shorts were shown in the last day, all from Vitagraph studios in Brooklyn but all with Japanese themes – and one of them that probably has Florence Turner in yellowface. In these Vitagraph shorts, the presence of a child star called my attention: Adele De Garde. In the Italian short “Air Bubbles”, child actress Maria Bay also had a fine performance.

"Ito, the Beggar Boy" (1910)

"Le Bolle di Sapone" (1911)

Nós, que estávamos em casa, tivemos um bom vislumbre de toda a programação do festival presencial. Muitas mulheres ganharam destaque, em frente às câmeras – como Ellen Richter de “Moral” e as “Nasty Women” de tantas comédias – e por trás das câmeras – como as mulheres roteiristas. “An Old Fashioned Boy”, de 1920, estava entre os filmes exibidos na programação dedicada às mulheres roteiristas. É um filme muito divertido que inclusive zombou da necessidade de se fazer quarentena, o que é muito curioso quando levamos em consideração nossos tempos pandêmicos.

We, the people at home, could get a nice glimpse of all the programmes that the in-person festival had. Many women were highlighted, in front of the camera – like Ellen Richter from “Moral” and the “Nasty Women” of so many comedies – and behind the camera – like the female screenwriters. “An Old Fashioned Boy”, from 1920, was among the films in the female screenwriters programme and it was a very funny movie that even mocked the need to quarantine, which is quite curious considering our pandemic times.


Eu gostei demais da Giornate deste ano, mas senti muita falta das nossas sessões do Collegium no Zoom, que foram tão especiais e enriquecedoras ano passado. A cada ano aprendemos algumas coisas na Giornate e uma das coisas que aprendi este ano é que o ato de ir ao cinema, para ser totalmente apreciado, deve ser um evento social.

I enjoyed this year’s Giornate immensely, but I really missed our Collegium Zoom sessions that were so special and enriching last year. Every year we learn some things from the Giornate, and one of the things I learned this year is that cinemagoing, to be fully enjoyed, must be a social event.

Para informações mais detalhadas sobre os filmes da 40ª Giornate del Cinema Muto, leia os posts da minha amiga Danielle.

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