Depois de “Star Wars: O
Despertar da Força / Star Wars: The Force Awakens” (2015) e do teaser de “Rogue
One” (2016), ficamos nos perguntando: precisamos de mais heroínas no cinema?
Sim, claro! Mas colocar mulheres no comando não é novidade no cinema, mas sim a
retomada de uma realidade da era do cinema mudo e, claro, de algumas obras
inesquecíveis da literatura mundial.
Jerusha 'Judy' Abbott (Mary Pickford / Janet
Gaynor) é uma garota esperta e decidida que vive em um orfanato (na versão de
Leslie Caron, o nome da personagem é Julie). Ela defende seus amigos mais novos
e os anima. A inteligência de Julie chama a atenção do milionário Jervis (ou
Jarvis, dependendo da versão) Pendetlon (Mahlon Hamilton / Warner Baxter / Fred
Astaire), que decide apadrinhá-la, pagando os estudos dela na faculdade. A
única coisa que Jervis pede em troca é que Judy lhe escreva contando como vão
os estudos. A menina cumpre com o combinado, endereçando as cartas ao “Papai
Pernilongo” (Daddy-Long-Legs), pois a característica mais marcante do tutor são
suas longas pernas. Perto de terminar a faculdade, Judy conhece Jervis e se
encanta com ele, mas tem de lidar também com seu pretendente, Jimmy McBride
(Marshall Neillan / John Arledge / Kelly Brown).
Um pernilongo à esquerda e uma aranha Daddy-Long-Legs à direita |
“Daddy-Long-Legs” é leitura obrigatória em muitas
escolas norte-americanas. Para os jovens de hoje que tomam contato com a obra a
principal dúvida é: a relação entre Judy e Jervis é ou não pedofilia? No começo
do livro, Judy tem 17 anos. Em 1919, Mary Pickford tinha 27 anos; em 1931,
Janet Gaynor tinha 25 e em 1955, Leslie Caron tinha 24 anos. Jervis Pendetlon
teria 20 anos a mais que Judy, portanto, sua idade seria 37. Em 1919, Mahlon
Hamilton tinha 39 anos; em 1931, Warner Baxter tinha 42 anos e em 1955 Fred
Astaire tinha 56 anos.
A diferença de idade pode ou não ser um tabu.
Sempre foi comum que os homens mais velhos se casassem com mulheres mais novas
(e no caso de Judy uma abordagem psicológica poderia até argumentar que ela
procura em Jervis a figura paterna que nunca teve). Apenas nas últimas décadas
foi possível ver casais formados por mulheres mais velhas e homens mais jovens.
E o cinema imitava esta realidade.
No cinema, infelizmente até hoje, as mulheres
começam a carreira com vinte anos ou menos, atingem o auge por volta dos trinta
e aos quarenta já não são mais consideradas para papéis de destaque. Os homens
começam a ter sucesso aos 30 e atingem o auge aos 40 ou 50 – e a morte é o
limite. As atrizes parecem ter um “prazo de validade”, o que é ridículo,
enquanto para os atores, uma vez galãs, sempre galãs.
Assim como sua estrela, o filme de 1919 é
adorável. As travessuras da jovem Judy são mostradas com ótimos truques de
câmera (incluindo aí a intrincada “visão dupla”) e também um perfeito uso de
cartas manuscritas mostradas de vez em quando na tela. Há elegância nos
intertítulos e composições, além de muitas metáforas. Mary Pickford foi também
roteirista e produtora desta versão.
O Jervis de Fred Astaire é um homem muito moderno
em uma família conservadora (no livro, Jervis é mostrado como a ovelha negra da
família porque era socialista. OMG!). Ele vê a jovem órfã francesa Julie e,
encantado com ela, decide adotá-la. Como isso não é possível, ele se contenta
em enviá-la para fazer faculdade nos Estados Unidos. Anos depois, e muitas
cartas depois, ele a reencontra e eles, obviamente, dançam até um final feliz,
começando com o “Sluefoot”, passando por “Something’s Gotta Give” e terminando
em um longuíssimo balé de celebração de Carnaval.
Há ainda mais versões da história para o cinema.
Em 1935, muitas liberdades foram tomadas em “A Pequena Órfã / Curly Top”, filme
estrelando Shirley Temple. Mas Shirley não interpreta o papel equivalente a
Judy: este cabe a Rochelle Hudson. As personagens de Shirley e Rochelle são
irmãs órfãs que são adotadas por um tutor misterioso, interpretado por John
Boles. Além desta, há adaptações feitas na Holanda e na Coreia, além de um anime.
Mary, Janet e Leslie foram escolhidas para protagonizar
a história por serem angelicais, mas também capazes de demonstrar força e
coragem. Em 1955 o foco da história passou de Judy para Jervis, com
modificações importantes. As versões de 1919 e 1931 são muito semelhantes e
graciosas, mas a versão muda tem mais sucesso em transportar o romance
epistolar para as telas, sem retirar a inteligência e determinação de Judy
Abbott.
O Veredicto: As três versões são muito boas. Mas, se você precisar escolher apenas
uma, veja o filme de 1919 com Mary Pickford.
This is my contribution
to the Beyond the Cover Blogathon, hosted by Beth at Now Voyaging and Kristina
at Speakeasy. Happy reading!
6 comments:
It is certainly interesting how this story inspired so many different screen versions. I will certainly follow your advice and check out the Pickford film. Excellent article.
Thanks for a marvelous review of these three movie adaptations of the book! I really enjoy the versions with Mary Pickford and Leslie Caron, but I did not know Janet Gaynor made one, too.
Le, I enjoyed this book when I was younger and I've seen all 3 versions that you discuss here. I really enjoyed the silent version with Mary Pickford and the Astaire/Caron musical. Even though I like Janet Gaynor and Warner Baxter a lot, I didn't think that version was quite as good as the other two. I'd be interested to see the Shirley Temple version too! Thanks for a great posting.
I read this book when I as a teenager, and found it thoroughly charming. It may be time to read it again!
I've only ever tried to watch the Leslie Caron film, and I couldn't get into it. I think the casting didn't match the characters I imagined when I read the book. However, I am keen to see the Mary Pickford version, thanks to your post. :)
Great post as always! Mucho gracias for joining us!
Amei
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