} Crítica Retrô: Eu Acuso! (1919) / J’Accuse! (1919)

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Sunday, November 11, 2018

Eu Acuso! (1919) / J’Accuse! (1919)


Como historiadora, eu considero a Primeira Guerra Mundial um dos assuntos mais fascinantes para estudar. O imperialismo deu origem a uma guerra que não se desenrolou apenas no front, mas também nas cidades, através de ataques e bombardeios - foi uma mistura de guerra civil e “guerra comum”. Milhões morreram durante o conflito, milhões ficaram deficientes ou desfigurados, e muitos outros milhões morreram porque, após a guerra, aqueles que voltaram para casa ajudaram a espalhar o vírus da Gripe Espanhola.

As a historian, I consider World War I to be one of the most fascinating periods to be studied. Imperialism led to a war that not only developed at the front, but also at the cities, through attack and bombings - it was a mix of civil war and “regular war”. Millions died during conflict, millions became handicapped or disfigured, and many more millions died because, after the war, those who returned home helped spread the Spanish flu virus.


No final, não valeu a pena ter lutado na guerra. Os sobreviventes formaram a Geração Perdida, viveram como boêmios na Europa ou foram recebidos como heróis nos EUA, apenas para ver o governo virar as costas para eles quando eles passaram a lutar contra o vício, o trauma ou o desemprego chegada a Grande Depressão. E o que mais fascinante é que a guerra e seus desdobramentos foram filmados.

In the end, it was not a war worth fighting. The war survivors became the Lost Generation, living like bohemians in Europe or being received like heroes in the US, only to see the government turn back on them when they suffered from addiction, PTSD or lost their jobs with the Depression. And what is more fascinating is that the war and its unfolding were caught on film.


O épico francês “Eu Acuso!” é um desses filmes. Ele tem algumas cenas gravadas na verdadeira batalha de Saint-Mihiel, gravadas com a ajuda das tropas norte-americanas. É um poderoso filme antiguerra, que estreou somente seis meses depois do fim do conflito.

The French epic “I Accuse” is one of those films. It has a few scenes from the real battle of St. Mihiel, shot with the help of the American troops. It is a powerful anti-war film, released only six months after the conflict ended.


Jean Diaz (Romuald Joubé), nosso herói e poeta, é apresentado como sendo a personificação da França, todo inteligência e melancolia. Jean ama Edith (Maryse Dauvray), que é casada com um homem bêbado e violento, François (Sevérin-Mars).

Jean Diaz (Romuald Joubé), our hero and poet, is presented as the personification of France, all intelligence and melancholy. The first time we see him, the song we hear is Clair de la Lune - as French as it comes. Jean loves Edith (Maryse Dauvray), who is married to a drunken and violent man, François (Sevérin-Mars).


A vila onde eles moram está celebrando a véspera do dia de São João - Edith não está celebrando porque o marido a deixou trancada em casa - e o mal agouro foi avistado: uma coruja apareceu, avisando que a tragédia estava prestes a atingir a todos. Nós sabemos que tal tragédia é a guerra vindoura, e a guerra de fato chega, anunciada por uma criança que ouviu a palavra e a repetiu sem conhecer seu significado.

Their village is celebrating the Eve of St. John’s at the village - Edith is not celebrating because her husband kept her locked in the house - and bad omen was in sight: an owl appeared, announcing that tragedy was about to strike on them. We know the tragedy is the upcoming war, and the war indeed arrives, announced by a child that heard the word and repeated it without knowing the meaning.


François fica maravilhado com a notícia. Jean, que estava escrevendo uma coletânea de poemas sob o título ‘Os Pacíficos’, fica desolado. O pai de Edith, Maria Lazare (Maxime Desjardins), um herói da guerra de 1870 contra a Alemanha, também fica animado com a nova guerra, embora seja velho demais para se alistar. François manda Edith ficar com a família dele, porque ele vai partir imediatamente para o fronte, e Jean ficará na vila por mais um mês antes de partir.

François is delighted by news. Jean, who had been writing a collection of poems under the title ‘The Pacific Ones’, is desolated. Edith’s father, Maria Lazare (Maxime Desjardins), a former hero from the 1870 war against Germany, is also excited with the new war, even though he is too old to enlist. François sends Edith to stay with his family, because he will leave immediately for the front, and Jean will stay for another month before leaving.

No entanto, quando Edith é sequestrada pelos inimigos, Jean se junta ao exército imediatamente e acaba se tornando tenente na companhia de François. Por causa do amor que sentem por Edith, os dois pouco a pouco se tornam camaradas. Em casa, o pai de Edith se aproxima da mãe de Jean.

However, when Edith is taken captive by the enemies, Jean joins the army immediately and ends up as the lieutenant in François’s company. Because of the love they have for Edith, they slowly become comrades. At home, Edith’s father bonds with Jean’s mother.


O filme é dividido em três partes. Por causa de seus 166 minutos no total, muitas pessoas podem considerar que a segunda parte - que se passa na vila, com Jean liberado por causa de doença e Edith de volta após fugir do cativeiro - é desnecessária, mas ela não é. Filmes de guerra raramente focam em personagens do gênero feminino porque as mulheres não vão para a batalha como soldados, mas elas sofrem tanto quanto qualquer soldado. Mulheres são sequestradas pelo inimigo, estupradas, espancadas. Mulheres sofrem porque seus amigos, maridos, pais e filhos estão no campo de batalha - e estes homens podem não voltar. Embora Edith seja uma donzela em perigo, ela é uma vítima comum da guerra.

The film is divided in three parts. Because it has, in total, 166 minutes, many people may consider the second part - set back home, with Jean on sick leave and Edith back from captivity - unnecessary, but it isn’t. War movies rarely focus on female characters because women don’t go to the front as soldiers, but they suffer just as much as any soldier. Even if they are not nurses or are not directly involved in the war, they suffer. Women are held captive by the enemy, raped, beaten. Women suffer because their friends, husbands, fathers and sons are at the front - and these men might not come back. As much as Edith is a damsel in distress, she is a common female victim of the war.


No começo, há muitos efeitos de “dissolver” que surpreendem o espectador. Ao longo do filme, o enquadramento chamado de “Iris shot” predomina - é o zoom-in, zoom-out ou close-up em forma de círculo. O close-up com Iris shot é particularmente poderoso para atrair nosso olhar para um único elemento da cena, destacando-o dos demais.

In the beginning, there are many “dissolving” effects that surprise the viewer. Throughout the movie, the Iris Shot predominates - the circle-shaped zoom-in, zoom-out or close-up. The Iris close-up is particularly powerful to make us look at only one element in the scene, making it stand out from the rest.


Um dos poemas de Jean - a Ode ao Sol - é particularmente importante para a narrativa. Entretanto, nós nunca chegamos a conhecer as palavras que compõem o poema. Abel Gance escolheu, em vez disso, usar motifs visuais do nascer do sol, pôr do sol e do sol espelhado nas águas enquanto o poema é recitado por Jean. Nós podemos inventar as palavras - ou não, porque elas não importam. As imagens foram suficientes para traduzir o que Jean quis dizer com seu poema.

One of Jean’s poems - the Ode to the Sun - is particularly important to the narrative. However, we never get to know the words that compose the poem. Abel Gance chose, instead, to use visual motifs of the sunrise, the sunset and the sun mirrored in the water when the poem was recited by Jean. We can make up the words - or maybe not, because they don’t matter. The images were enough to translate whatever Jean wanted to say with his poem.


E a verdadeira literatura surge, sem querer, como trechos de cartas de soldados. Eu imagino que, porque o filme foi feito logo depois da guerra, estas cartas não sejam reais, mas certamente são tocantes. E, desde então, tivemos acesso a cartas reais de soldados e vimos que elas são em geral emocionantes. É prova de que a beleza pode surgir de grandes doses de horror e dor.

And then the real, yet unpremeditated, literature appears as bits of letters from the soldiers. I imagine that, because the film was made so little after the war, those letters are not real ones, but they certainly are touching. And, since then, we got access to real soldiers’ letters and saw that they are usually very moving. It’s proof that beauty can appear from the utmost horror and pain.


A sequência mais impressionante, na qual os mortos retornam de seus túmulos para marchar para a vila e ver se o sacrifício foi em vão, foi filmado com 2000 figurantes que eram na verdade soldados de folga. Eles haviam acabado de sair de Verdun e tinham oito dias de folga antes da volta para a luta no campo de batalha. Mais tarde, o diretor Abel Gance calculou que 80% dos homens da cena da marcha morreram em batalha.

The most impressive sequence, in which the dead return from their graves to march to the village to see if their sacrifice was in vain, was shot with 2000 extras who were actual soldiers on leave. They had just come from Verdun and had eight days off until they came back to the front to fight again. Later, director Abel Gance calculated that 80% of the men in the march footage really died in battle.


“Eu Acuso” foi um filme antiguerra pioneiro. Mais do que isso, foi um filme com técnicas de edição e cinematografia tão ousadas e pede feitas que deixariam o suposto mestre D.W. Griffith com muita inveja. É longo, complexo e brinca com nossos sentimentos. Melodramático, talvez. Necessário, sem dúvida. É uma obra de arte maravilhosa. Afinal, a arte é sobre experiências universais, como o amor, a morte, e a mistura das duas: a guerra.

“J’Accuse” was a pioneering anti-war movie. More than that, it was a film with editing techniques and cinematography so daring and perfect that would make the so-called great master D.W. Griffith incredibly jealous. It’s long, complex and it plays with our emotions. Melodramatic, maybe. Necessary, without a doubt. It’s a wonderful work of art. After all, art is about universal experiences, like love, death and the mix of these two: war.

This is my contribution to the World War One on Film Blogathon, hosted by Maddy at Maddy Loves Her Classic Films.

3 comments:

Caftan Woman said...

A most engrossing article on an extraordinary film.

I believe melodrama is essential in the telling of J'Accuse. After all, there is nothing subtle about war.

Silver Screenings said...

Le, I must MUST see this. It looks (and sounds like) an unforgettable cinematic experience. Thanks so much for writing about it for the blogathon.

P.S. Just found it on YouTube. Yay!

Margot Shelby said...

Hi Le, great review. I just found it on youtube also. I'll definitively watch it at some time. I find the different colors throughout very interesting.

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