Eu confio em Martin Scorsese. Ele não é apenas
um excelente cineasta, mas também ama o cinema profundamente. Ele tem uma
fundação para restaurar e exibir filmes de todo o mundo que sejam culturalmente
significantes. E por causa disso ele tem um ótimo gosto para filmes. Foi
através de uma entrevista com Scorsese que eu pela primeira vez ouvi falar de “Os
Contos de Hoffmann” (1951), um filme escrito, produzido e dirigido pela dupla
dinâmica Michael Powell e Emeric Pressburger – o filme que é considerado o
último triunfo deles antes da separação em 1957.
In Martin Scorsese we trust. He’s not only a great filmmaker, but also loves cinema deeply. He has a foundation to restore and exhibit movies from all over the world that are culturally significant. And because of this he has a very good taste in movies. It was through an interview with Scorsese that I first heard about “The Tales of Hoffmann” (1951), a film written, produced and directed by the mighty duo of Michael Powell and Emeric Pressburger – a film that is considered to be their last hurrah before they split in 1957.
O filme consiste em três histórias contadas por
E.T.A. Hoffmann (Robert Rounseville) durante o intervalo de um espetáculo de
dança do qual sua amada Stella (Moira Shearer) é a estrela. Stella também é objeto
de desejo do rival de Hoffmann, Lindorf (Robert Helpmann).
The movie consists in three tales told by E.T.A. Hoffmann (Robert Rounseville) during the interval of a dance spectacle where his beloved Stella (Moira Shearer) is the star. Stella is also the object of desire of Hoffmann’s rival, Lindorf (Robert Helpmann).
Primeiro temos A História de Olympia. Em Paris,
um jovem Hoffmann se apaixona por Olympia (Moira Shearer), uma boneca.
First we have The Tale of Olympia. In Paris, a young Hoffmann falls in love with Olympia (Moira Shearer), an automaton.
Depois há A História de Giulietta. Em Veneza,
Hoffmann encontra a cortesã Giulietta (Ludmilla Tchérina) num baile de
máscaras. Giulietta rouba almas e reflexos e gosta de usar joias suntuosas.
Aqui podemos ouvir a Barcarolle, provavelmente a música mais famosa em “Os
Contos de Hoffmann”.
Next there is The Tale of Giulietta. In Venice, Hoffmann meets the courtesan Giulietta (Ludmilla Tchérina) in a masquerade. Giulietta steals souls and reflections and likes to wear lavish jewelry. Here we can hear the Barcarolle, probably the most famous song in “The Tales of Hoffmann”.
A última história é A História de Antonia. Numa
ilha grega, Antonia (Ann Ayars), uma cantora de ópera, vive com seu pai, um
maestro amargo que quer que ela pare de cantar por causa de uma doença
incurável.
The final tale is The Tale of Antonia. On a Greek island, Antonia (Ann Ayars), an opera singer, lives with her father, a bitter conductor who wants her to stop singing because of an incurable disease.
Além de Robert Rounseville, outros atores
aparecem em todas as histórias, como Robert Helpmann e Léonide Massine. Eu estava
esperando que todas as mulheres amadas por Hoffmann fossem interpretadas por
Moira Shearer, para repetir o que acontece em outro filme de Powell e
Pressburger, “Coronel Blimp: Vida e Morte” (1943), no qual todos os interesses
amorosos do protagonista são interpretados pela mesma atriz, no caso Deborah
Kerr. Eu vejo por que a mudança ocorreu em “Os Contos de Hoffmann”,
especialmente na última história, que pedia uma cantora de ópera.
Besides Robert Rounseville, other actors appear in all stories, such as Robert Helpmann and Léonide Massine. I was expecting all women loved by Hoffmann to be played by Moira Shearer, to repeat what happens in another Powell and Pressburger movie, “The Life and Death of Colonel Blimp” (1943), in which all the lead’s love interests are played by the same actress, in this case Deborah Kerr. I see why the change is present in “The Tales of Hofmann”, especially in the last story, that required a real opera singer.
Um personagem que chamou minha atenção foi
Nicklaus, fiel amigo de Hoffmann que está sempre ao seu lado em suas aventuras,
interpretado por Pamela Brown. É claramente um personagem andrógino, que na
ópera original também era interpretado por uma mulher. Nicklaus canta em alguns
momentos – nos quais a voz de Brown é dublada pela popular cantora Monica
Sinclair. Pamela Brown, apesar de ter artrite, o que limitava sua mobilidade,
foi uma atriz de sucesso e teve um relacionamento com Michael Powell entre 1962
e a morte dela em 1975.
One character who called my attention was Nicklaus, Hoffmann’s faithful friend who is always accompanying him in his adventures, played by Pamela Brown. It’s clearly an androgynous character, that in the original opera was also played by a woman. Nicklaus had a few singing moments – in which Brown’s voice was dubbed by the popular singer Monica Sinclair. Pamela Brown, despite having an arthritic condition that limited her mobility, was a successful actress and was in a relationship with Michael Powell from 1962 until her death in 1975.
“Os Contos de Hoffmann” é originalmente uma ópera
de 1881 de Jacques Offenbach, inspirada pelos contos de E.T.A. Hoffmann – sim,
ele foi uma pessoa real! Além de inspirar esta ópera, os escritos de Hoffmann
também serviram de inspiração para “O Quebra-Nozes” de Tchaikovsky e o balé “Coppelia”.
Nada mau, considerando que Hoffmann foi também compositor.
“The Tales of Hoffmann” is originally an opera by Jacques Offenbach from 1881, coming from three short stories by E.T.A. Hoffmann – yes, he was a real person! Besides inspiring this opera, Hoffmann’s writings also inspired Tchaikovsky’s “The Nutcracker” and the ballet “Coppelia”. Not bad, considering that Hoffmann was also a composer.
O processo de edição foi um pouco diferente
neste filme. A ópera completa foi pré-gravada, criando a trilha sonora, e mais
tarde o filme foi editado seguindo a música. “Os Contos de Hoffmann” realiza o
sonho de Powell de criar um filme que complementaria música já composta. Foi o
maestro Thomas Beecham que apresentou a ópera de Offenbach para Powell. Por
causa da trilha pré-gravada, toda a cantoria foi filmada através de lip-synch,
o que aproxima a produção dos filmes mudos, algo difícil de se imaginar no caso
de um musical.
The editing process was a bit different in this film. The whole opera was pre-recorded, creating the soundtrack, and later the film was edited following the music. “The Tales of Hoffmann” fulfils Powell’s dream to create a movie that would complement music already composed. It was the conductor Thomas Beecham who introduced Powell to the Offenbach opera. Because of the pre-recorded soundtrack, all singing was lip-synched, which makes the production closer to silent films than we could imagine it would be.
O diretor de fotografia do filme foi Christopher
Challis, o que significa que Powell e Pressburger escolheram não dar
continuidade à parceria com Jack Cardiff. Challis foi operador de câmera em
outros filmes da dupla e era um mestre na fotografia de filmes coloridos. Sobre
ele, Scorsese disse: “Chris Challis trouxe uma vibração à paleta de celuloide
que foi inteiramente sua, e que ajudou a fazer da Inglaterra liderança naquele
longo e glorioso período de cinema clássico mundial.”
The film was photographed by Christopher Challis, which means that Powell and Pressburger chose not to repeat their partnership with Jack Cardiff. Challis had been a camera operator in other films by the duo and was a master at shooting color films. About him, Scorsese said: “Chris Challis brought a vibrancy to the celluloid palette that was entirely his own, and which helped make Britain a leader in that long, glorious period of classic world cinema."
Quando “Hamilton” (2020) foi barrado no Oscar
por ser “teatro filmado”, um debate teve início. “Os Contos de Hofmann”, que poderiam
similarmente ser chamado de “ópera filmada”, foi indicado a dois Oscars em
1952: Melhor Direção de Arte – Cor e Melhor Design de Figurino – Cor – ambos os
prêmios foram para outro musical, “Sinfonia de Paris”. E não podemos dizer que
a produção de 1951 era simplesmente “ópera filmada”, pois tem edição – uma
técnica exclusiva do cinema – e usa composições e ângulos de câmera que não
representam a visão de um espectador num teatro.
When “Hamilton” (2020) was barred from the Oscars for being “filmed theater”, a debate ignited. “The Tales of Hoffmann”, that could similarly be called “filmed opera”, was nominated for two Oscars in 1952: Best Art Direction – Color and Best Costume Design – Color – both awards went to another musical, “An American in Paris”. And we can’t say that the 1951 production was simply “filmed opera”, as it has editing – a technique exclusive to cinema – and uses compositions and camera angles that don’t represent a viewer’s view in a theater.
Fico feliz por finalmente ter assistido a “Os
Contos de Hoffmann”, embora eu desejasse tê-lo visto na tela grande, para
aproveitar o espetáculo, e com legendas, para melhor entender o que estava
sendo cantado. Ele não entrou no meu Top 3 de Powell e Pressburger – que consiste
de “Coronel Blimp: Vida e Morte” (1943), “Os Sapatinhos Vermelhos” (1948) e meu
grande favorito “Neste Mundo e no Outro” (1946).
I’m happy I finally watched “The Tales of Hoffmann”,
although I wish it was on the big screen, to see the spectacle, and with
subtitles, to better understand what was being sung. It didn’t enter my Powell
and Pressburger Top 3 – that consists of “The Life and Death of Colonel Blimp”(1943), “The Red Shoes” (1948) and my big favorite “A Matter of Life and Death”(1946).
1 comment:
I enjoyed reading about this film, Le -- I'd never heard of it. I haven't jumped on the Powell and Pressburger bandwagon quite yet, although their films have such ardent fans that I always feel like I'm missing something.
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