O ano é 64 d. C. Nero governa o império romano, que vive seus últimos suspiros de glória. Em meio ao luxo dos palácios, há a miséria e o regime de escravidão em que vivem aqueles que trabalham para sustentar Roma. Atraídos pelo conceito de igualdade, eles se convertem e se organizam na religião católica. Para controlar as massas, há um poderoso exército e leões famintos no porão do Coliseu.
Nesse contexto surge um amor proibido quase shakespeariano entre o general Marcus Vinicius (Robert Taylor) e a plebeia Lygia (Deborah Kerr), o que desagrada o desequilibrado Nero (Peter Ustinov, insuperável). Durante quase três horas de projeção, o casal frequenta cerimônias religiosas então banidas, conhecendo São Pedro (Finlay Currie), enfrentando o imperador, escapando de um incêndio e ficando muito perto de virar comida de leões.
O projeto foi concebido para ser estrelado por Elizabeth Taylor e Gregory Peck em 1949. Ele acabou sendo deixado de lado por dois anos até que fosse realizado. Com os dois astros indisponíveis, Clark Gable foi procurado para o papel principal. Aos 50 anos, Gable recusou-o por considerar ridícula a sainha do uniforme de soldado romano. Elizabeth Taylor foi chamada para fazer uma ponta como extra. Outra figurante famosa no filme é Sophia Loren, ainda no início da carreira. Por ser uma longa produção com cenários gigantescos e 30000 extras, é quase impossível identificar as duas mulheres em meio à multidão, o que causa controvérsia sobre quando e mesmo se elas realmente participaram do filme.
A recusa de Gable foi de extrema sorte para Robert Taylor, galã que viu sua carreira renascer das cinzas após “Quo Vadis” e hoje, infelizmente, está um pouco esquecido. Par romântico de mulheres talentosíssimas como Greta Garbo em “A Dama das Camélias / Camille” (1936) e Vivien Leigh em “A Ponte de Waterloo / Waterloo Bridge” (1940), ele normalmente era ofuscado por suas parceiras ou coadjuvantes. Aqui, quem rouba a cena é o polivalente Peter Ustinov, interpretando com perfeição o louco imperador megalomaníaco.
Nero entediado |
O título em latim vem da frase de São Pedro: “Quo Vadis, Domine?” (“Aonde vai, Senhor?”). Trata-se, acima de tudo, de um filme bíblico que mostra como os cristãos resistiram bravamente às perseguições durante o Império Romano. É de impressionante beleza a sequência de torturas mortais aos quais, sadicamente, os grupos de cristãos são submetidos e, inevitavelmente, a eles sucumbem: lutas com leões, crucificação, queima na fogueira. Ao mesmo tempo em que nos comovem, essas cenas fazem o espectador mais sagaz lembrar o que, séculos mais tarde, os próprios cristãos, aqui vítimas, fariam com os hereges durante a Inquisição.
Com direção de Mervin LeRoy, substituindo John Huston, e música de Miklós Rózsa, “Quo Vadis” é puro entretenimento em tons vibrantes de Technicolor, que deixam a cena do incêndio ainda mais grandiosa (sinceramente, não tem graça filmar um incêndio em preto-e-branco). O compositor assinou as trilhas de outros grandes épicos, a exemplo de “Rei dos Reis / King of Kings” (1963) e “Ben-Hur” (1959). Mais um grande nome é Walter Pidgeon, responsável pela narração. E é nisso que poderia dar uma reunião de tantas estrelas: um grande filme (em todos os sentidos).
2 comments:
Lê, que vitória de amantes do cinemão como eu, aos 55 anos, ver uma garota de 18 destrinchando Filmes Clássicos. Uma beleza seu blog.
Sou João de Deus Netto - designer gráfico, caricaturista e blogueiro do PICINEZ e do CINEMASCOPE Blogs.
Um abraço e vá em frente porque a tecnologia Cinemascope tem muito mais tela.. quááá!!!
Sucesso!
Lê, vc acredita que encontrei hoje num camelô o QUO VADIS de 1924, alemão, com o Emil Jannings? Quase pulei de alegria. Vou assistir hoje mesmo. Adoro Nero.
O Falcão Maltês
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