A
história é tão velha quanto a humanidade: um grupo invade o espaço
de outro por considerar-se mais evoluído / civilizado. O discurso é
de boas intenções, de levar conhecimentos e religião para o povo
inferior, mas o choque de culturas é mais forte que qualquer ato de
bondade, e explode uma guerra. Vemos isto acontecendo à exaustão
nos westerns, em que os homens das carruagens chegam para conquistar
a terra dos índios selvagens. Mas este processo aconteceu em toda e
qualquer colonização, e não foi diferente com os ingleses e os
zulus.
Baseado
em fatos reais, “Zulu” mostra uma batalha da Guerra Anglo-Zulu de
1879, que aconteceu no território onde hoje é a África do Sul e
que na época era colonizado pelos ingleses. São quatro mil zulus
contra algumas centenas de soldados ingleses, comandados pelo tenente
John Chard (Stanley Baker) e pelo inexperiente tenente Gonville
Bromhead (Michael Caine). Juntam-se a eles o missionário Otto Witt
(Jack Hawkins) e sua filha Margareta (Ulla Jacobson), que querem
evitar qualquer tipo de violência.
É
um filme visualmente belo, que não precisa de efeitos especiais
computadorizados para impressionar: o vermelho do uniforme contrasta
com a paisagem árida, com a pele dos nativos e com as roupas de
algodão cru disponíveis naquele fim de mundo. Torcer pelos nativos
é como torcer pela baleia em Moby Dick: quase natural. Afinal, não
eram os ingleses os invasores? É provável que o filme tenha sido
feito com um grande discurso patriótico por trás, mas para uma
estrangeira como eu que o vê com olhos mais críticos, não há
motivos para os ingleses se orgulharem de seus antepassados. Embora
não haja glamour no massacre, não há também honra, e o personagem
mais interessante, embora com pouco tempo em cena, é de fato o
missionário de bom coração (observe-o durante as cenas no
hospital!).
E
se havia guerra nas telas, nos sets de filmagem a situação era
igualmente delicada: o filme foi gravado na África do Sul durante o
Apartheid, o que impedia os atores a se relacionarem com a população negra do local. Ao final, o Apartheid inclusive
impediu os muitos extras zulus de verem a estreia do filme nos
cinemas.
Enquanto
via “Zulu”, me lembrei de muitos outros filmes: “Uma Aventura
na África / The African Queen” (1951), com seus missionários
bem-intencionados que se encontram no meio de uma guerra; “A Ponte
do Rio Kwai / The Bridge Over the River Kwai” (1957), por ter uma
ponte em construção; “Lawrence da Arábia” (1962) pela atitude
muitas vezes prepotente do personagem de Michael Caine caçando um
leopardo; “E o Vento Levou / Gone with the Wind” (1939), pelo
caos em meio ao fogo...
E
todos estes filmes em um nos fazem chegar à conclusão: todas as
guerras são iguais. Sejam elas travadas com armas, flechas, escudos
ou baionetas, o sofrimento e a destruição é sempre igual,
ultrapassando fronteiras e barreiras de linguagem. Os rituais antes e
depois da batalha, os gritos e hinos de guerra, as perdas no campo de
batalha e nos hospitais improvisados são
cicatrizes que ficam para sempre na memória dos envolvidos
diretamente na guerra e também em seus descendentes. Pode haver
honra, admiração mútua entre os combatentes, mas uma coisa é
certa, mostrada pelo cinema e confirmada pela história: guerra é
sempre guerra.
This
is my contribution to the Second Annual British Invaders Blogathon, hosted
by my friend Terence at A Shroud of Thoughts. Yes, sir!
4 comments:
Toda a guerra é absurda e resulta em consequências terríveis.
O filme realmente é interessante, tanto pela história real, como pelas grandiosas cenas de batalha com dezenas de figurantes e o elenco.
Existe uma sequência produzida em 1979 chamada "Zulu Dawn" (Alvorada Sangrenta), que é uma espécie de prequel, por mostrar a batalha anterior, quando os guerreiros Zulus massacraram os soldados ingleses.
O diretor Cy Endfield era americano e se mudou para a Inglaterra fugindo da perseguição aos supostos comunistas durante o Machartismo.
Abraço e uma ótima semana.
Oi Lê!
Que vergonha! Não conhecia esse filme, nunca tinha ouvido falar! Preciso assistir!
Adorei a introdução, assim como toda a resenha, que como sempre, é rica em detalhes e em informações! Parabéns pelo post!
Grande Abraço!
Olá, muito boa a crítica. Gostaria de sua ajuda, onde posso encontrar mais informações sobre esse caso do membro da equipe que quase foi condenado a sete anos por se envolver sexualmente com mulheres negras?
Milca, na verdade esta história foi um erro de tradução que eu cometi quando escrevi o artigo. A pena no Apartheid era de sete anos de trabalhos forçados para o homem branco que se envolvesse com mulheres negras - isso não aconteceu nas gravações. Obrigada por apontar o detalhe.
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