} Crítica Retrô: Coronel Blimp: Vida e Morte (1943) / The Life and Death of Colonel Blimp (1943)

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Friday, January 10, 2020

Coronel Blimp: Vida e Morte (1943) / The Life and Death of Colonel Blimp (1943)


ESTE ARTIGO TEM SPOILERS
THIS ARTICLE HAS SPOILERS

“A guerra começa à meia-noite!” Mesmo com esse protesto, o General Clive Candy é levado como prisioneiro de um grupo de soldados ingleses em treinamento. Assim que Candy cai numa piscina num banho turco, ele – e nós – revisitamos sua vida em uma série de flashbacks.

“War starts at midnight!” Even with this protest, Major-General Clive Candy is taken as prisoner of an English group of soldiers in training. As Candy falls in a pool in a Turkish bath, he – and we – revisits his life in a series of flashbacks.


Durante a Segunda Guerra dos Bôeres (1899-1902), Clive Candy (Roger Livesey) participou de um tipo diferente de ação. Como um tenente de folga, ele recebeu uma carta de uma mulher inglesa que trabalhava em Berlim, Edith Hunter (Deborah Kerr). Ela reclama que Kaunitz, um alemão, está espalhando propaganda contra a Inglaterra. Como os superiores de Clive não se importam com o assunto, ele decide parar Kaunitz sozinho.

During the Second Boer War (1899-1902), Clive Candy (Roger Livesey) saw a different kind of action. As a lieutenant on leave, he receives a letter from an English woman working in Berlin, Edith Hunter (Deborah Kerr). She complains that Kaunitz, a German, is spreading anti-British propaganda. As Candy's superiors don't care about the matter, he decides to stop Kaunitz himself.


Candy conhece Edith e, com ela, confronta Kaunitz (David Ward) e acaba causando um grande incidente diplomático. Ele é mandado para duelar com um oficial alemão, Theo Kretschmar-Schuldorff (Anton Walbrook). Ambos são feridos no duelo – e se tornam amigos.

Candy meets Edith and, with her, confronts Kaunitz (David Ward) and ends up causing a minor diplomatic incident. He is sent to duel with a German officer, Theo Kretschmar-Schuldorff (Anton Walbrook). Both are wounded in the duel – and they become friends.


Candy vai para a África. Uma montagem cheia de cabeças empalhadas de animais mortos por Candy mostra a passagem do tempo – uma sequência destas não seria aceita hoje. Agora a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) está em curso. O agora General Candy, com um bigode, está em Flandres com seu mordomo Murdoch (John Laurie) pouco antes da assinatura do Armistício. Numa base da Cruz Vermelha ele conhece a enfermeira Barbara Wynne (também Deborah Kerr), e se apaixona por ela por causa de sua semelhança com Edith. Mesmo sendo 20 anos mais nova que ele, ela aceita o pedido de casamento.

Candy leaves to Africa. A montage full of heads of animals shot by Candy show the passage of time – such a sequence wouldn’t be accepted today. Now World War I (1914-1918) is underway. The now General Candy, with a moustache, is in Flanders with his butler Murdoch (John Laurie) a while before the Armistice is signed. In a Red Cross base he meets nurse Barbara Wynne (also Deborah Kerr), and falls in love with her because of the resemblance she bears with Edith. Despite being 20 years younger than him, she accepts his proposal.


Quando a guerra acaba, Candy encontra Theo em um campo de prisioneiros de guerra. A relação deles é, à primeira vista, impactada, mas Theo é libertado e vai jantar com Candy. Theo é mandado de volta para a Alemanha, enquanto Candy e sua esposa Barbara viajam pelo mundo.

When the war is over, Candy tracks down Theo in a prisoner of war camp. Their relationship is at first shaken, but Theo is freed and they have dinner together. Theo is sent back to German, while Candy and his wife Barbara travel the world.


Barbara morre em 1926, sem deixar filhos. Candy volta a caçar animais selvagens e novamente enche as paredes de casa com as cabeças empalhadas. Logo é 1939, e Theo, agora um químico aposentado, está na Inglaterra após ter enviuvado e ter visto os dois filhos se tornarem nazistas.  Candy encontra Theo no escritório de imigração e o leva para sua casa, onde Theo conhece a motorista de Candy, Angela (adivinhe quem? Deborah Kerr) e se impressiona com a semelhança entre ela, Edith, e Barbara. O filme volta para o começo.

Barbara dies in 1926, leaving no children. Candy starts hunting wild animals again and filling his walls with their heads. Soon it’s 1939, and Theo, now a retired chemist, is in England after becoming a widower himself and seeing his two sons become Nazis. Candy meets Theo at the immigration office and takes him to his home, where Theo meets Candy’s driver, Angela (guess who? Deborah Kerr) and gets impressed with her resemblance with both Edith and Barbara. The film finally comes full circle.


A lógica diz que um filme como “Coronel Blimp: Vida e Morte” não poderia ser feito durante a guerra. É um filme colorido – portanto, mais caro – que tem um personagem alemão simpático e um oficial inglês não muito nobre, e que está ficando obsoleto. A lógica diz que um filme como “Lawrence da Arábia” poderia ser feito durante a guerra, para contar os feitos de um herói de guerra e inspirar os jovens soldados. Mas o mundo do cinema nem sempre segue a lógica.

Logic says that a film like “The Life and Death of Colonel Blimp” couldn't and shouldn’t be made in wartime England. This is a color film – therefore, more expensive – that has a sympathetic German character and a not so noble English officer, who is becoming obsolete. Logic says that a film like “Lawrence of Arabia” would be made in wartime England, to chronicle the deeds of a war hero and inspire the young soldiers. But the film world does not always follow logic.


Winston Churchill se recusou a dar um visto de exportação para o filme depois que ele ficou a par da história que seria contada – por causa disso, o filme só estreou nos EUA em 1945, e numa versão editada. Algumas teorias dizem que Churchill sentiu que Candy era uma sátira dele, mas não há prova disso. Mesmo assim, “Coronel Blimp: Vida e Morte” estreou na Inglaterra com sucesso.

Winston Churchill refused to give a visa for the film after he got to know the story that was being told – because of that, the film only premiered in the US in 1945, and in an edited version. Some theories say that Churchill felt that Candy was a character made to satirize him, but there is no proof of that. Nevertheless, “The Life and Death of Colonel Blimp” premiered in England and was a success.


Embora Clive Candy seja o protagonista do filme, creio que Theo é o personagem mais interessante. Primeiro, ele é um soldado alemão com um forte senso de dever e que fala apenas duas expressões em inglês. Isso não impede que uma amizade entre ele e Candy surja. Depois da Primeira Guerra Mundial, Theo está amargo e não é bem recebido entre os amigos de Candy. Além disso, ele não tem certeza sobre como a Alemanha será tratada no Tratado de Versalhes – alerta de spoiler: a Alemanha foi tratada injustamente. E é durante a Segunda Guerra Mundial que seu personagem brilha. Por ter perdido seus dois filhos para o nazismo, ele sabe que combater os nazistas não será como combater qualquer outro inimigo. Numa época em que todos os filmes de guerra retratavam os alemães como uma massa de inimigos, ter um personagem alemão não-judeu como a voz da razão é uma surpresa. E Anton Walbrook, ele próprio um refugiado, é talentoso e bonito.

Although Clive Candy is the lead of the film, I found Theo to be the most interesting character. First, he’s a German soldier with a strong sense of duty who just speaks two expressions in English. This doesn’t prevent a friendship between him and Candy to blossom. After World War I, Theo is bitter and is not well-received among Candy’s friends. Furthermore, he is uncertain about how German would be treated by the Treaty of Versailles – spoiler alert: Germany wasn’t treated fairly. And it’s during World War II that his character shines. Having lost his two sons to Nazism, he knows fighting Nazis won’t be like fighting any other enemy. In a time when all war movies portrayed German people as a mass of enemies, to have a non-Jewish German character as the voice of reason is a surprise. It also doesn’t hurt that Anton Walbrook, a refugee himself, is both talented and handsome.


Os três papéis de Deborah Kerr podem ser associados com a ideia de duplos ou doppelgangers. De acordo com um estudo de 2016 de uma universidade australiana, há apenas uma chance em 135 de você ter um doppelganger exato. Por isso, a chance de Candy conhecer três mulheres que são exatamente iguais, todas na Europa, em um período de 40 anos, é muito, muito pequena. Mas, de novo, os filmes seguem uma lógica diferente.

Deborah Kerr’s three roles can be associated with the idea of doppelgangers. According to a 2016 study from an Australian university, there is only a 1 in 135 chance that there is an exact pair of doppelgangers. So, the chance of Candy having met three women who look exactly the same, all in Europe, in a 40-year period is very, very small. But, again, movies follow a different logic.


Dito isto, é uma pena que nenhuma das personagens de Deborah Kerr seja bem desenvolvida. Eu entendo que o foco seja, primeiro, em Clive Candy e, segundo, em sua amizade com Theo. Angela é a única das personagens que mostra mais independência, pois ela tem um emprego e contradiz Candy para apoiar a opinião de Theo sobre a guerra. Deborah Kerr foi escalada para o filme depois que Wendy Hiller engravidou e teve de deixar o projeto. Michael Powell se apaixonou por Deborah e traduziu muito de sua obsessão para a obsessão de Candy por uma “mulher ideal”.

This being said, it’s a pity that none of Deborah Kerr’s characters is well developed. I understand the focus was, first, on Clive Candy and second on his friendship with Theo. Angela is the only Kerr character that shows more independence as she has a job and contradicts Candy in order to support Theo’s views about the war. Deborah Kerr was cast in the picture after Wendy Hiller got pregnant and had to drop out. Michael Powell fell in love with Deborah and translated a lot of his obsession to Candy’s obsession for an “ideal woman”.


O diretor, produtor e roteirista Emeric Pressburger disse que “Coronel Blimp: Vida e Morte” foi o seu filme favorito de sua parceria com Michael Powell. Eu teria escolhido “Os Sapatinhos Vermelhos” (1948) ou o brilhante “Neste Mundo e no Outro” (1946) como o melhor de Powell e Pressburger, mas não posso negar que Coronel Blimp é um filme luminoso, intrigante e surpreendente.

Director, producer and screenwriter Emeric Pressburger said that “The Life and Death of Colonel Blimp” was the favorite film of his partnership with Michael Powell. Although I’d choose “The Red Shoes” (1948) or the brilliant “A Matter of Life and Death” (1946) as Powell’s and Pressburger’s best, I can’t deny that Colonel Blimp is a luminous, intriguing and surprising film.

This is my contribution to the Second Deborah Kerr blogathon, hosted by Maddy from Maddy Loves Her Classic Films.


2 comments:

Maddy said...

Great piece, Le. She is so good in the three roles. I think it's a credit to her acting that you buy she is three different women and three separate personalities. I agree her characters are not as developed as others, but those characters aren't the main focus of the film so I forgive that. I would have liked to have seen a few more scenes between Candy and his wife though.

Carol said...

Loved this review!

Carol

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