The Gigantic Grande Otelo
Fernanda Montenegro é a única atriz brasileira a ganhar um Emmy Internacional e também a única brasileira indicada a um Oscar. Na verdade, ela é a única falante de português a ser indicada ao Oscar. Não há dúvidas de que ela é a maior atriz brasileira de todos os tempos. Em 2019, quando ela completou 90 anos, um usuário do Twitter perguntou: se Fernanda Montenegro é a melhor atriz brasileira, quem é o melhor ator brasileiro? Um debate acalorado se iniciou. Eu não participei do debate, mas no instante que eu li a pergunta, eu soube que minha resposta seria Grande Otelo. E eu não estou sozinha: Orson Welles também acreditava que Grande Otelo era o maior ator brasileiro - e Welles só conheceu Otelo no começo da carreira.
Fernanda Montenegro is the only Brazilian actress to win an Emmy International and also the only Brazilian to be nominated for an Oscar. In fact, she is the only Portuguese-speaking performer to be nominated for an Oscar. There is no doubt that she is the greatest Brazilian actress of all time. In 2019, when she turned 90, a Twitter user asked: if Fernanda Montenegro is the best Brazilian actress ever, who is the best Brazilian actor? A heated debate followed. I didn’t participate in the debate, but the moment I read the question I knew that my answer would be Grande Otelo. And I’m not the only one: Orson Welles also believed Grande Otelo was the greatest Brazilian actor - and Welles only met Otelo in the very beginning of the actor’s career.
Sebastião Bernardes de Souza Prata - batizado como Sebastião Bernardo da Costa - nasceu em Uberlândia, Minas Gerais (mesmo estado em que eu nasci!) em 18 d outubro de 1915. Aos sete anos, ele começou a se “apresentar” na frente de um hotel da cidade, cantando e dançando em troca de moedas. De acordo com algumas fontes, aos oito anos ele teria assistido a “O Garoto” (1921) de Chaplin e decidido se tornar ator. Em 1924 ele foi descoberto por uma companhia teatral e saiu em turnê com eles.
Sebastião Bernardes de Souza Prata – actually baptized as Sebastião Bernardo da Costa – was born in Uberlândia, Minas Gerais (my home state!) on October 18th, 1915. At age seven, he started “performing” in front of a local hotel, dancing and singing for a few bucks. According to some sources, at eight he'd have watched Chaplin's “The Kid” (1921) and decided to become an actor. In 1924 he was discovered by a theater company and joined them on tour.
At 11, in 1926 |
Em meados dos anos 1920, ele se juntou à revolucionária Companhia Negra de Revistas, uma companhia de teatro formada apenas por artistas negros. Pouco antes disso, um maestro havia testado a voz dele e profetizado que, quando ele crescesse, ele interpretaria Otelo na ópera de Verdi inspirada na obra de Shakespeare. Como o ator permaneceu baixinho na idade adulta - com 1,50m seria impossível interpretar o mouro de Veneza - ele adotou, como piada, o nome artístico Grande Otelo.
In the mid-1920s he joined the groundbreaking Companhia Negra de Revistas, a theater company made only of black performers. A little before that, a maestro had tested his singing skills and prophesized that he'd star in Othello, an opera by Verdi inspired by Shakespeare's work, when he grew up. As the actor remained very short – at only five feet tall it’d be impossible for him to play the character – he mockingly adopted the stage name of Grande Otelo, or Great Othello.
Grande Otelo fez seu primeiro filme em 1935 e na mesma época começou a se apresentar em cassinos luxuosos do Rio de Janeiro. Ele era a estrela do show, mas, por ser negro, tinha de entrar no cassino pela porta dos fundos. No final dos anos 1930 e começo dos anos 1940 ele também compôs algumas músicas, como a famosa “Praça Onze” com Herivelto Martins.
Grande Otelo made his first film in 1935 and at the same time started appearing in luxurious casinos in Rio de Janeiro. He might have been the star of the show, but, being black, he had to enter the casino by the back door. In the late 1930s and early 1940s he also composed some songs, like the famous “Praça Onze” with Herivelto Martins.
Grande Otelo foi apresentado a Orson Welles por Zacharias Yaconelli, que havia sido professor de inglês de Carmen Miranda. Quando Welles ia começar a filmar cenas de “É Tudo Verdade” no Cassino da Urca, ele exigiu a presença do homem que havia acabado de conhecer - e assim Grande Otelo s juntou ao documentário. Entretanto, após assistir ao show de Grande Otelo no cassino, Welles disse a ele que ele era “exagerado”. Isso, felizmente, não abalou a amizade deles.
Grande Otelo was introduced to Orson Welles by Zacharias Yaconelli, who worked as Carmen Miranda's English teacher. When Welles was about to start shooting scenes for “It's All True” at the Urca Casino, he requested the presence of the guy he had met earlier – and thus Grande Otelo joined the cast of the documentary. However, after seeing Grande Otelo's show at the casino, Welles told him he “overacted”. This, fortunately, didn't harm their friendship.
O estúdio RKO parou de financiar o filme de Welles depois de ver as primeiras imagens - eles se irritaram porque Welles estava filmando muitas pessoas negras no Carnaval! Para aumentar os problemas, um dos jangadeiros morreu durante as filmagens de uma sequência. O filme não foi concluído, mas Grande Otelo continuou trabalhando no cinema brasileiro. A maioria dos seus filmes dos anos 40 e 50 eram chanchadas, comédias com Oscarito - ator de origem espanhola - ou Ankito - um popular comediante e acrobata.
RKO Studios stopped financing Welles' picture after seeing the first rushes – they were displeased because Welles was filming too many black people on Carnaval! To add to the problems, a subject in a sequence about Brazilian navigators - called “jangadeiros” - died during the shoot. The film wasn’t completed, but Grande Otelo kept working in Brazilian movies. Most of his films of the 40s and 50s were “chanchadas”, comedies with either Oscarito – a Spanish-born comedian – or Ankito – a skilled acrobat and funnyman.
Oscarito e Grande Otelo como Romeu e Julieta / Oscarito and Grande Otelo as Romeo and Juliet |
Deste período, dois papéis dramáticos devem ser mencionados. Em “Também Somos Irmãos” (1949) e “Amei um Bicheiro” (1952). Nestes filmes trágicos, com elementos noir, Grande Otelo brilha: enquanto “Também Somos Irmãos” traz uma rara discussão madura sobre racismo no Brasil, em “Amei um Bicheiro” Grande Otelo rouba a cena - e a cena final de seu personagem, emocionante e sem diálogos, foi a cena favorita da carreira de Grande Otelo.
From this period, two dramatic roles must be mentioned. In “Também Somos Irmãos” (We're Also Brothers, 1949) and “Amei um Bicheiro” (1952). In those tragic movies, with noir undertones, Grande Otelo shines: while “Também Somos Irmãos” brings a rare mature discussion of racism in Brazil, in “Amei um Bicheiro” Grande Otelo steals the scene – and his character's final scene, a chilling one without dialogue, was Grande Otelo's favorite scene ever.
De 1960 em diante, Grande Otelo também participou de diversas telenovelas. Na esfera cinematográfica, ele trabalhou em diversos estúdios - como Cinédia, Atlântida e Herbert Richers - e fez comédias musicais e também produções do Cinema Novo.
From the 1960s onwards, Grande Otelo also appeared in several telenovelas. In the cinematographic sphere, he worked in several well-known Brazilian studios – such as Cinédia, Atlântida and Herbert Richers – and appeared in musical comedies and also in productions of the Cinema Novo, the Brazilian New Wave of the 1960s.
Um de seus filmes mais famosos é “Macunaíma” (1969). Baseado em um famoso livro de Mário de Andrade, este filme louco, quase surrealista, apresenta um retrato do povo brasileiro através do personagem Macunaíma, o preguiçoso. Grande Otelo divide o papel com Paulo José - porque no meio da história Macunaíma se torna branco! Difícil de resumir, “Macunaíma” é uma verdadeira experiência cinematográfica.
One of his most famous films is “Macunaíma” (1969). Based on the famous book by Mário de Andrade, this wacky, almost surrealist film presents a portrait of the Brazilian people through this character, Macunaíma, the lazy man. Grande Otelo shares the character with actor Paulo José – because in the middle of the story Macunaíma becomes white! Hard to summarize, “Macunaíma” is a film that must be experienced.
A experiência com Orson Welles não foi a única incursão de Grande Otelo no cinema internacional. Ele foi chamado para trabalhar nos EUA junto com Carmen Miranda, mas recusou porque o pagamento não valia a pena. Entretanto, em 1982 ele teve um pequeno papel em “Fitzcarraldo” de Werner Herzog, filmado na Amazônia. Herzog mandou a Grande Otelo duas páginas com falas em inglês. Grande Otelo preferiu falar tudo em espanhol... e a cena foi um grande sucesso!
The experience with Orson Welles wasn't Grande Otelo's only stint in international cinema. He was called to work in the US alongside Carmen Miranda, but refused because the payment was not worthwhile. However, in 1982 he had a bit part in Werner Herzog's “Fitzcarraldo”, shot in the Amazon. Herzog sent Grande Otelo two pages full of lines in English. Grande Otelo chose to deliver the lines in Spanish... and it was a great success!
Grande Otelo faleceu em 26 de novembro de 1993 em Paris, onde ele estava para receber um prêmio no Festival de Cinema de Nantes. Ele tinha 78 anos e sofreu um ataque cardíaco. No docudrama “Nem Tudo é Verdade”, de 1986, Grande Otelo termina o filme com uma carta a Orson Welles, dizendo que sente saudades dele e que ele gostaria d ver “É Tudo Verdade” terminado. A reconstrução do filme de Welles estreou no ano em que Grande Otelo morreu.
Grande Otelo passed away on November 26th, 1993 in Paris, where he was to receive an award at the Nantes Film Festival. He was 78 when he suffered a fatal heart attack. In the 1986 docudrama “Nem Tudo é Verdade”, Grande Otelo finishes the film with a letter to Orson Welles, telling him that he misses him – he uses the world “saudade”, that has no correspondence in English – and that he'd like to see “It's All True” finished. The reconstruction of Welles’ film premiered the same year Grande Otelo died.
Grande Otelo se casou três vezes e teve cinco filhos. Sua primeira esposa se matou após matar seu filho, enteado de Grande Otelo. O ator enfrentou o alcoolismo e o racismo com sabedoria e brilhou. Um homem extremamente inteligente, capaz e talentoso, Grande Otelo é um ícone do cinema que merece ser celebrado. Não é à toa que o troféu dado no Grande Prêmio de Cinema Brasileiro se chama Troféu Grande Otelo.
Grande Otelo got married three times and had five children. His first wife killed herself after also killing her son, Grande Otelo's stepson. The actor battled alcoholism and racism with his street-smartness and thrived. An extremely intelligent, capable and talented man, Grande Otelo is a cinema icon that deserves to be celebrated. No wonder the trophy given at the annual Great Prize of Brazilian Cinema is called Trophy Grande Otelo.
This is my contribution to the Second Luso World Cinema blogathon, hosted by Beth and me at Spellbound by Movies and here at Crítica Retrô.
2 comments:
Thank you for sharing this, Le. I admit I'd never heard of Grande Otelo, but his career – and his talent – sound thoroughly impressive. It's always amazing to hear about people who decide their life's goals as a child.
How interesting! I'm with Ruth--I've never heard of Otelo either. And that's so cool that he got to work with Orson Welles.
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