} Crítica Retrô: Vento e Areia / The Wind (1928)

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Wednesday, August 15, 2012

Vento e Areia / The Wind (1928)

Lillian Gish estava no fim de sua carreira como queridinha do cinema mudo quando veio esta colaboração com o diretor sueco Victor Sjöström. Ainda há um quê de melodrama, talvez não à moda Griffith, mas ainda assim muito bem interpretado por Lillian. Na época estava na moda ser vamp ou ter it, mas uma das rainhas do cinema mudo mostrou que nunca perderia a majestade.
O filme conta a história da virginal Letty Mason (Gish), moça que vai morar com o primo em um local árido. O que ela não sabia era que ventava sem parar em seu novo lar, e o vento, como prediz o vilão, é capaz de deixá-la louca. Para piorar, a esposa do primo sente ciúmes dela e a obriga a se casar. Há dois pretendentes e, durante um animado baile, os dois a pedem em casamento. Depois de feita a escolha sem amor, ela se vê sozinha com o vento e, para piorar, reencontra o vendedor de gado com más intenções.
Só de olhar bem fundo em seus olhos já podemos sentir a loucura que vai tomando conta da personagem. Se nos colocarmos em seu lugar, veremos que provavelmente também enlouqueceríamos em situação semelhante. Lillian detestou trabalhar na produção, sofrendo com o calor escaldante, a areia que voava e o enxofre que era usado para criar as tempestades de areia. Além de queimaduras de sol, ela teve lesões nos olhos.
Gish no deserto
Apesar de ser relativamente curto, trata-se de uma grande produção. Obviamente, criar tempestades de areia não foi tarefa fácil. Some a isso as gravações no Deserto de Mojave e está feita mais uma história de bastidores tão interessante quanto o filme em si. Os oito grandes ventiladores eram capazes de fazer verdadeiros estragos no set de filmagem, e o calor escaldante não ajudava. A equipe precisava usar roupas compridas e lenços em frente à boca e ao nariz para não serem sufocados pela areia que voava, mas mesmo assim sofriam com o calor. Os rolos de filma eram congelados para não derreterem com o calor e depois descongelados para edição. A própria Lillian se queimou ao colocar a mão em uma maçaneta de metal.
O cinema mudo estava com os dias contados, Lillian já não fazia mais tanto sucesso e seu colaborador D. W. Griffith raramente trabalhava. Além disso, ela tinha já 35 anos, o que para uma estrela de cinema pode representar a idade de aposentadoria. Mas tinha talento, e as atrizes talentosas sabem envelhecer sem perder a qualidade dos papéis. Olhem que nesse filme ela é disputada por três homens!    
Embora o galã seja o longilíneo ator sueco Lars Hanson, o vento é o protagonista. Os perigosos ventos do norte são retratados como um cavalo branco selvagem que bem poderia puxar uma carruagem fantasma (desculpem, não pude resistir a uma piada sobre um dos filmes mais conhecidos de Victor Sjöström). Outra que merece reconhecimento é Dorothy Cumming, interpretando Cora, a esposa ciumenta do primo de Letty. Como curiosidade, após o fim da era muda Dorothy passou a desenhar papéis de parede.
Tudo na produção partiu da iniciativa de Lillian: a ideia de adaptar o livro de 1925 escrito por Dorothy Scarborough e publicado anonimamente; o pedido de autorização a Irving Thalberg e a escalação de Victor e Lars, pois ela já havia trabalhado com ambos em “A Letra Escarlate” (1926). Na época do lançamento o filme foi duramente criticado, mas com o passar dos anos teve sua importância reconhecida.  
O final do filme foi modificado para algo mais positivo, decepcionando o elenco. Em minha opinião, o final é belíssimo e também poderoso. Sendo o último filme mudo de Lillian e Sjöström e um dos últimos da MGM, “Vento e Areia” permanece como uma obra-prima do cinema mudo, lidando com a força da natureza, a situação da mulher, a loucura e o poder que não sabíamos ter.
Depois do fim do reinado dos filmes mudos, Lars Hanson fez mais alguns filmes e voltou para a Suécia. Victor Sjöström (creditado em filmes americanos como "Seastrom") teve seu momento de glória na atuação ao interpretar o professor Isak Borg na obra-prima de Ingmar Bergman, “Morangos Silvestres” (1957). Lillian Gish dedicou-se ao teatro, escreveu livros, deu palestras e atuou em outros filmes, como “Duelo ao Sol / Duel” (1946) e “Mensageiro do Diabo / Night of the Hunter” (1955). Ela ainda é considerada a melhor atriz do cinema mudo e com uma boa quantidade de filmes acessíveis a qualquer público. 

This post is part of both the Summer Under the Stars blogathon, hosted by Sittin’ on a Backyard Fence and ScribeHard on Film and the Speechless Blogathon hosted by Eternity of Dream.
 

17 comments:

Rubi said...

Ainda não assisti este filme, mas confesso que sou fã da Lilian Gish. E eu adorei a piada sobre o clássico de Sjöstöm HAHAHA (Carruagem Fantasma é um dos meus filmes preferidos). A propósito, quero lhe sugerir algo: sei que você escreve muito bem sobre cinema, por isso adoraria ver um especial sobre o cinema alemão por aqui.

Beijos!

Regi said...

Muito ansiosa para ver esta obra-prima. Lillian Gish foi a rainha absoluta nos dramas do cinema mudo. A delicadeza e feminilidade que colocava em seus papéis garante,para mim, uma das minhas atrizes preferidas de todos os tempos.

Jefferson C. Vendrame said...

Lê, como vai tudo bem?
Sensacional esse Post. Fiquei muito instigado para assistir esse filme. Sou muito curioso para conhecer melhor os filmes mudos, meu conhecimento nessa área é muito limitado devido a dificuldade que tenho em encontrar os títulos. Não sou muito fã de assistir filmes baixados da net e tbm não tenho tv fechada (muito menos tempo para uma) me restando assim a única opção que é comprar os filmes que desejo ver, se tratando das produções mudas são poucos os títulos disponíveis... :(
Me diga aonde conseguiu esse?

Ótimo Texto, como sempre....

Grande Abraço

Gilberto Carlos said...

Gosto muito do enredo de Sangue e areia, mas infelizmente ainda não assisti a essa versão com Lilian Gish, só uma com Sharon Stone dos anos 80 e com certeza inferior.

Gilberto Carlos said...

Coloquei Sangue e areia em vez de Vento e areia, foi mal... mas acho que as histórias são diferentes.

Unknown said...

I enjoyed reading you Lillian Gish, tribute, she is one of my favorite actress. I loved her in the films: "Duel in the Sun and "Night of the Hunter.

As Tertulías said...

Este filme, este filme... o assisti já há MUITOS anos no Museu de Cinema - sem acompanhamento musical. Experiencia impressionante, Le! Amo Gish e AMO este filme... Uma vez publiquei uma teoria sobre Gish vs. Garbo... será que voce já leu? Muito antiga, de 2008... mas de uma olhadinha... aqui vai o link dela para voce copiar


http://tertulhas.blogspot.co.at/2008/05/lillian-gish-vs-greta-garbo.html

Unknown said...

A Lilian era um cúmulo de expressiva... Tinha uma presença só dela... Com certeza a Rainha-mor do cinema mudo!
Linda sua participação nesta blogagem coletiva... bela homenagem!

;D

Blogs:
Nascida em Versos
Antes que Ordinárias

Unknown said...

Morrendo de vontade aqui de ver o filme :)

http://monteolimpoblog.blogspot.com.br/

J. BRUNO said...

Ainda não assisti e fiquei super curioso com sua resenha Lê. Achei interessante o aspecto da loucura provocada pelo vento, será que em "Volver" Almodóvar está fazendo alguma referência a este filme, já nele também está questão do vento está presente???

Vou procurá-lo para assistir!
Beijos Lê!

Iza said...

Ainda não assisti esse filme. Para ser sincera, não sei muito sobre o cinema da década de 20. Mas admiro muito Lillian Gish. Valeu pela dica, Lê. Boa semana pra você! Beijos <3

Rafa Amaral said...

A Lillian Gish é incrível. E pensar que me deparei com ela, recentemente, em Duelo ao Sol. Uma grande personagem de mãe. Belo post. Abraços. Rafael Amaral.

Danielle Crepaldi Carvalho said...

Lê, passei aqui pra te avisar que enfim respondi ao seu comentário no meu blog - estava viajando e parcialmente offline nos últimos tempos. E aí encontro esse texto lindamente escrito, que me fez ter vontade de dar outra chance a esse filme tão elogiado pela crítica. Vi-o numa edição péssima e não gostei muito dele. Mas gostei de Lillian Gish, como sempre genial (disse pra vc que vi-a recentemente em La Bohéme e ela quase me matou de chorar, a malvada?).

Agora, que brincadeira cult é essa com "Carruagem Fantasma"? Você é uma danada, menina! E, a propósito, na semana passada vi esse filme na telona da Cinemateca, com trilha sonora tocada ao vivo, e descobri naquele momento um dos melhores filmes de todos os tempos. Absolutamente genial (como eu não o havia visto antes era o que eu me perguntava...).

Bjs e keep up the good work! E como foi na Bienal?
Dani

Murtaza Ali Khan said...

Great review! Unfortunately, I haven't watched the movie yet, but your review has inspired me to watch it at the earliest possible. I will surely get back to you once I am through with it :-)

Unknown said...

I enjoyed reading your post and it has made me want to seek it out. The production backstory also sounds very interesting.

I also like that you have a google translator on your page, allowing people who don't speak Portugese the oppertunity to read your work.

Anonymous said...

It's posts like these that make me realize how much more I have to learn about film, and silent film especially. Well done, I need to check this film out very soon.

Barry P. said...

Although I might have missed a bit in the translated version, your enthusiasm for The Wind shines through. Nice post. Now I need to check this movie out.

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