Com seu cabelo preto repartido no meio, seu bigode impecável, seus olhos
claros cristalinos na película e seu charme inconfundível, William Powell
dominou a década de 1930. Ele foi um dos grandes abençoados com a chegada do
som, pois sua voz foi prontamente considerada “afrodisíaca” pelo público
feminino. Seu personagem mais famoso do período é o detetive movido a álcool
Nick Charles, mas foi outro detetive que solidificou a carreira de Powell.
Assim como muitos homens da lei que foram da literatura para o cinema (I’m looking at you, Sam Spade), Nick
Charles fez o mesmo caminho. O livro “A ceia dos acusados / The Thin Man”, de
Dashiell Hammett, foi publicado em 1934. Antes disso, entretanto, surgiram as
histórias do detetive Philo Vance, de autoria de S. S. Van Dine. Foram ao todo
doze livros, publicados de 1926 a 1939, todos com o título genérico “The ? Murder
Case”, em que a interrogação era sempre substituída por uma palavra de seis
letras. O sucesso dos livros foi tanto que logo eles foram adaptados para o
cinema.
Em “The Canary Murder Case”, Philo Vance aparece para investigar a morte
da showgirl apelidada de Canary (Louise Brooks), embora seu nome verdadeira
seja Margareth O’Doe. Ela havia anunciado seu noivado com o herdeiro de uma
fortuna, Jimmy Spottswoode (James Hall) o que desagradou ao pai dele, Charles
(Charles Lane) e aos vários amantes de Canary.
Este primeiro filme de Philo foi gravado como um filme mudo. Bill Powell
fez sua estreia no cinema mudo, em 1922, e foi conseguindo papéis cada vez
melhores, porém quase sempre como coadjuvante. Pouco antes do lançamento, os
executivos da Paramount decidiram transformar a obra em um filme falado, e todo
o elenco foi recrutado para dublar suas próprias falas. Louise Brooks não voltou
para a dublagem, pois havia se mudado para a Europa, e a atriz Margaret
Livingston foi contratada para o serviço. Embora seja difícil de notar que os
diálogos foram dublados, pois a sincronização é muito bem feita, é verdade que
a voz de Canary não combina muito com sua imagem de flapper interesseira (a
pronúncia “dahling” em especial).
O segundo filme, também de 1929, é “The Greene Murder Case”. Aqui, Vance
chega a uma casa que vê uma tragédia acontecer no ano novo: o patriarca é morto
e uma de suas filhas, baleada. Ele havia acabado de ler seu testamento para os
três filhos, a esposa inválida e o médico da família, disputado pelas duas
irmãs, Ada (Jean Arthur) e Sibella (Florence Eldridge). Há também os
excêntricos empregados, entre eles uma viúva alemã e uma mulher que anuncia o
apocalipse. Este filme se destaca pelos incríveis travellings e tomadas aéreas.
Jean Arthur, cujo sobrenome verdadeiro era, por coincidência, Greene,
esteve nestes dois primeiros filmes, tendo um papel de menor destaque em “The
Canary...”. Além de William Powell, outra presença constante na série de Philo
Vance é Eugene Pallette como o sargento Ernest Heath, um policial cheio de
teorias ruins para os crimes, mas que sempre busca levar o crédito quando o
mistério é solucionado. Isso não torna o personagem antipático, mas sim
divertido. Aliás, a adaptação dos livros de S. S. Van Dine foi bem generosa ao
tornar também Philo Vance mais simpático.
William Powell apareceu, em 1930, em um esquete de “Paramount on Parade”
como Philo.
O terceiro filme não foi feito pela Paramount, mas sim pela MGM, que
comprou os direitos de “The Bishop Murder Case” e transformou-o em filme em
1930, com Basil Rathbone como protagonista. Vale lembrar que Rathbone mais
tarde faria 15 filmes como Sherlock Holmes. O terceiro da série com William
Powell é “The Benson Murder Case”, que, infelizmente, só está disponível em um Box
de DVDs. Neste filme, o acaso faz com
que Philo esteja na cena do crime quando um homem que trabalhava na bolsa de
valores é assassinado.
A última vez que Powell encarnou Philo Vance foi em “The Kennel Murder
Case”, de 1933. Aqui, Philo desiste de uma viagem à Europa com seu cachorro de
estimação após saber que um colecionador de antiguidades, que ele vira na tarde
anterior em uma competição de cães, cometera suicídio. Sem acreditar em
suicídio, hipótese que o sargento Heath abraça de corpo e alma, Philo decide
investigar o caso, que envolve inimigos dentro da família e a venda de vasos
antigos. O filme conta com a excelente presença de Mary Astor e com a direção
do ótimo Michael Curtiz (Malcolm St. Clair dirigiu o primeiro filme da série e
Frank Tuttle, seu assistente, os outros dois). Este é considerado o melhor da
série de Philo Vance, embora eu também tenha gostado muito de “The Greene
Murder Case”.
“The Kennel Murder Case” marca também a tomada de território de William
Powell na Warner Brothers, estúdio para o qual havia se mudado em 1931 e que
continuaria a série de Philo Vance com Warren William e Eugene Pallette em uma
última participação. Powell mudaria de estúdio mais uma vez, e encontraria um
lugar ao sol na MGM, onde Nick Charles foi criado. Mas isso já é outra
história...
This is my contribution to the Sleuthathon, hosted by the adorable Fritzi
at Movies, Silently.
16 comments:
ih, tenho que confessar que não sei se vi. beijos, pedrita
I'm quite familiar with "The Kennel Murder Case", but I haven't seen any of the other William Powell-Philo Vance features. You have intrigued me, and now I must check out "The Greene Murder Case".
Pleased to see good old Philo making an appearance in the Sleuthathon. Well done!
Oh, wasn't he just the bees knees? He made a perfect Philo Vance. Actually, Mr. Powell made a perfect any man any time, didn't he? Great post, my friend!
Thanks for the wonderful rundown of Philo Vance's successful film adaptation and giving the historical background of the films. William Powell is just wonderful, isn't he?
Hi Lê. I love William Powell as Philo Vance. The first one I saw was Kennel and that inspired me to find some of the books that had been reprinted. I'm glad you chose to write about Philo Vance. Thank you for sharing with all of us.
Adoro um bom mistério e um bom filme vintage! Filmes de detetives são ótimos para assistir num sábado à tarde - ainda mais com William Powell no elenco. Adorei seu post, Lê! Super beijo <3
Nice job. I must confess I'm only familiar with Powell's work in the Thin Man series, but it just shows that there's so much more to discover.
William Powell is my favourite 1930s movie detective, too!
"The Kennel Murder Case" is the only Philo Vance film I've seen – it's so much fun. Thanks to your post, I realize it's time to see the others!
Thanks for writing about Philo Vance. The Sleuthathon would not have been complete without him.
Nice post on Philo Vance! I love William Powell in just about anything, and he does a fine job in the only Vance film of his I've seen, THE KENNEL MURDER CASE. His take on Vance is similar in many ways to his later Nick Charles, although of course missing the vital ingredient of Myrna Loy to bounce off of.
Great post Le! I love Mr Powell, what a dream boat he was! I've only really seen the Thin Man series, I'll certainly be making an effort to watch some more of his work!
I own the complete Philo Vance collection and have yet to see any of them! This post makes me want to delve into them this afternoon. Great write-up! I like how Charles Lane was playing fathers as far back as 1922. I think that man was born looking old!!
Muito bem Le! Interessante e instrutivo. Obrigada
Le, my husband and I both love William Powell, and your post about Philo Vance in THE KENNEL MURDER CASE is a delight! I'm especially pleased that you chose it, because it includes one of my favorite actresses, Mary Astor! :-) Great review, Le, and I'm about to comment on your review of my post about THE BIG CLOCK for the Sleuthathon; I look forward to it! :-D
Não o conhecia! Adorei a dica! Gosto muito de filmes de mistério!
Beijinhos!
Excellent post! I've only seen a few of these films, but now I'll be checking them out when I can (TCM here seems to show a few of these Powell films from time to time)...
Nice blog, by the way!
Great write up, Le! William Powell was so perfect as Philo Vance. This was the best era for detective stories, if you ask me. But I'm biased.
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