Alguns
dias atrás lembramos os 80 anos desde o começo da Segunda Guerra Mundial. O
filme de baixo orçamento “A Besta de Berlim” estreou um mês após o início da
guerra. Trata-se de um artefato histórico muito curioso, e é também
interessante por trazer Alan Ladd em um papel secundário. A história por trás
do filme também mostra como simpatizantes do nazismo agiam nos EUA – não no
sentido de colaboração total com o nazismo, mas, mesmo assim, como pessoas que
representavam algum perigo para a liberdade de expressão.
A few days
ago we remembered the 80 years since World War II began. The B-movie “Hitler –
Beast of Berlin” was released a month after the war started. It’s a very
curious historical artifact, and it’s also of interest because it brings Alan
Ladd in a secondary role. The film’s background also shows how Nazi
sympathizers have walked in America – not in the sense of full-on collaboration with Nazism, but as dangerous people nonetheless.
“A Besta
de Berlim” – por vezes exibido com o título “Hell’s Devils” – é a história de
um grupo da Resistência na Alemanha. O filme começa com imagens reais de
desfiles dos nazistas e corta para um desfile encenado, no qual o povo faz a
saudação nazista e, quando o desfile acaba, balança a cabeça, consternado – o
povo não concorda com a ideologia que está no poder, mas fingir obediência é a
única coisa que o povo pode fazer para sobreviver.
“Hitler –
Beast of Berlin” - sometimes also presented as “Hell's Devils” - is the story
of a Resistance group in Germany. The film starts with real footage of Nazi
parades and cuts to a staged parade, in which the people give the Nazi salute
and shake their heads in disbelief once the parade is over – they do not agree
with the ideology in power, but pretending to obey is what they can do to
survive.
Karl (Alan
Ladd) e dois amigos fazem a saudação nazista para dois oficiais da SS que
entram no restaurante em que eles estão. Um dos amigos inclusive fala alto
sobre “queimar museus”, o que agrada aos dois oficiais. Mas não se engane: os
três amigos são parte de um movimento pacifista de resistência.
Karl (Alan
Ladd) and his two fellows also give the Nazi salute when two SS officers enter
the restaurant they're in. One of the friends even talks out loud about
“burning museums”, which delights the two officers. But don't be mistaken: the
three friends are part of an underground pacifistic movement.
Karl é o
mais novo membro do movimento – e está com medo. Ele acredita que Hitler é
perigoso e um dia irá começar uma guerra, mas ele olha para o passado e percebe
que nenhum reinado de terror durou muito, então se pergunta: por que eles devem
arriscar suas vidas distribuindo propaganda antinazista? Hitler cairá um dia,
ele diz. Ele tem de ser lembrado de que seus amigos não estão sozinhos
combatendo o bom combate – há muitos núcleos de resistência que, juntos, podem
fazer a diferença.
Karl is the
newest member in the movement – and he's afraid. He believes that Hitler is
dangerous and will eventually initiate a war, but he looks at the past and sees
that no reign of horror lasted forever, so why risk their lives distributing
propaganda? Hitler will fall some day, he says. He has to be reminded that they
are not alone in this good fight – there are many underground groups that, together,
can make a difference.
Eles
imprimem um folheto dizendo que “o mundo inteiro está horrorizado com as
brutalidades que vêm acontecendo nessa nação que já foi civilizada”. Bem, a
palavra certa não é “horrorizado”: na verdade, os outros países eram ou
coniventes ou indiferentes com as atrocidades que já aconteciam na Alemanha,
com poucos grupos de pessoas preocupados de fato.
They print a
leaflet saying that “the entire world is horrified by the brutalities that have
been visited upon our once civilized nation.” Well, the word here is not
“horrified”: in fact, the other countries were either accomplice or indifferent
to the atrocities already going on in German, with few groups of people really
concerned.
A técnica
do grupo é usar o vento para distribuir o panfleto, mas dois oficiais da SS
percebem e confiscam os panfletos de todos os cidadãos que porventura os acham
no chão. Mas eles não podem censurar tudo: em lojas e ferrovias, as pessoas
estão reclamando da inflação e das condições de trabalho, no rádio e na igreja
as pessoas estão ouvindo mensagens pacifistas.
The group's
technique is to use the wind to distribute the leaflet, but two SS officers see
it and start confiscating the leaflet from all citizens that catch one from the
floor. But they can't censor everything: in shops and railroads, people are
complaining about the inflation and the work conditions, in the radio and in
church people are listening to pacifist messages.
Na
resistência há homens de todas as idades, uma mulher, Anna (Greta Granstedt) e
até mesmo um padre. Puxa, um dos membros do grupo está infiltrado na Gestapo! Anna
é uma mulher esperta: mesmo namorando Karl, ele se recusa a se casar porque “na
nova Alemanha, é para isso que as mulheres servem: para ter filhos”, e ela sabe
que pode muito mais que isso atuando na resistência. Hans (Roland Drew), o
líder do grupo, vive um dilema: ele está dividido entre o trabalho com a
resistência e a possibilidade de sair do país com a esposa grávida, Elsa
(Steffi Duna).
In the underground
there are men of all ages, one woman, Anna (Greta Granstedt) and even a priest.
Damn, one of the members of the group is infiltrated in the Gestapo! Anna is a
smart woman: even though she dates Karl, she refuses to marry because “in the
new Germany, that's what women are for: having children” and she knows she can
do much more working with the resistance. Hans (Roland Drew), the leader of the
group, lives a dilemma: he is torn between working with the resistance and
leaving the country with his pregnant wife, Elsa (Steffi Duna).
Schultz
(John Ellis), outro membro da resistência, diz: “campos de concentração estão
cheios de pessoas como nós”, e nós somos lembrados de que os primeiros campos de concentração foram construídos em 1933 para presos políticos. E, ao
contrário do que se acredita, o mundo já sabia dos campos de concentração antes
do final da guerra, porque aqui temos um filme norte-americano de 1939 falando
sobre eles e recriando o interior de um deles.
Schultz (John
Ellis), another resistance member, says: “concentration camps are full of
people like us”, and we're reminded that the first concentration camps were built in 1933 for political prisoners. And, contrary to popular belief, the
world did know about concentration camps before the end of the war, because
here it is a 1939 American film talking about them and recreating the interiors
of one.
Oficiais
da SS e da Gestapo são retratados como pessoas rudes, sádicas e depravadas –
como eram de fato. Eles torturam os presos para que eles confessem que são
“comunistas”, e riem dos homens que são largados quase sem vida nas prisões. Um
deles diz ao Padre Pommer (Friederick Giermann) que não há Deus, é Hitler quem
toma conta deles.
SS and
Gestapo officers are shown as rude, sadistic and depraved – as it should be.
They torture the people they arrest, in order to make them confess that they're
“communists”, and laugh at the men who are left nearly lifeless in prison
cells. One of them says to Father Pommer (Friederick Giermann) that there is no
God, Hitler is the one taking care of them.
Foram necessários
10 anos para que Alan Ladd estourasse em Hollywood: ele começou como figurante
em 1932, e conseguiu notoriedade apenas em 1942 com “Capitulou Sorrindo”. Antes disso, ele ficou muitos anos fazendo papéis sem receber créditos
e até interpretou um animador da Disney na parte em live-action de “O Dragão Relutante” (1941). Em “A Besta de Berlim”, Ladd tem um papel coadjuvante, mas
seu personagem é quem faz a coisa mais ousada.
It took 10
years for Alan Ladd to get his big break in Hollywood: he started as an extra
in films in 1932, and only got notoriety in 1942 with “The Glass Key”. Before
that, he spent many years playing uncredited roles and even acted as a Disney
animator in the live-action part of “The Reluctant Dragon” (1941). In “Hitler –
Beast of Berlin”, Ladd plays a supporting role, but his character is the one
who does the most daring act of them all.
Você deve
estar se perguntando: se este filme “A Besta de Berlim” é tão ousado, por que eu
nunca ouvi falar dele? Há muitas razões. A mais óbvia é que este não é um filme
feito por um grande estúdio, por isso foi facilmente esquecido com o tempo. O
filme foi feito por um produtor independente com objetivos de explorar o tema –
não com o objetivo mais humano de denunciar os nazistas. Há uma razão ainda
pior: quando o filme estreou, muitos cinemas que apoiavam a Alemanha nazista se
recusaram a exibir o filme. Muitos estados proibiram sua exibição e a
Associação dos Produtores e o escritório do Código Hays se recusaram a dar o
selo de aprovação para o filme. Foram os simpatizantes do nazismo que impediram
que o filme ficasse mais conhecido.
You must be
wondering: if this film “Hitler – Beast of Berlin” is so daring, why haven't I
heard of it yet? There are a few reasons. The most obvious one is that this is
not a movie made by a big studio, so it was easily forgotten with time. The
film was made by an independent producer for exploitation purposes – not the more
human purpose of denouncing Nazis. There is an even uglier reason: when the
film premiered, many movie theaters that supported Nazi German refuse to screen
the film. Many state boards prohibited the film and the MPPA and the Hays
office refused to give it a seal of approval. The Nazi sympathizers were the
ones that prevented the movie from getting a wide release.
Mesmo
tendo sido feito com um orçamento mínimo – o que se nota facilmente – “A Besta
de Berlim” consegue alertar, surpreender e inspirar. O filme mostra que ficar
de cabeça erguida ao enfrentar o mal é uma virtude, e que todos podem fazer a
diferença, onde quer que estejam, na luta do bem contra o mal.
Although made
with a minimum budget – and it shows – and not with the best intentions,
“Hitler – Beast of Berlin” manages to alert, surprise and inspire. It shows
that standing still when facing evil is a virtue and that everybody can make a
difference, wherever they are, in the fight of good versus evil.
"Hitler - Beast of Berlin" is avbailable on YouTube.
"Hitler - Beast of Berlin" is avbailable on YouTube.
This is my
contribution to The Man who Would Be Shane: The Alan Ladd Blogathon, hosted by
Gabriela at Pale Writer.
1 comment:
Very interesting. I'll be checking this out on YouTube this weekend. It is the B and independent features that can or could sneak material out to the public which the big studios and their A level projects could not.
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