} Crítica Retrô: Bernard Herrmann: você já o ouviu em algum lugar

Tradutor / Translator / Traductor / Übersetzer / Traduttore / Traducteur / 翻訳者 / переводчик

Saturday, June 16, 2012

Bernard Herrmann: você já o ouviu em algum lugar

Às vezes, você está tão entretido com o enredo de um filme que acaba nem prestando muita atenção à trilha sonora. Se não for um musical, é provável que suas lembranças depois de acabada a sessão se refiram apenas à trama cinematográfica e não à percepção da música de fundo.

Essa foi uma breve descrição do que normalmente acontece quando eu assisto a algum filme. Devo confessar que perco um bocado ao não prestar muita atenção à trilha sonora. Uma das coisas que perco é sem dúvida a apreciação do talento de vários compositores, entre eles o brilhante Bernard Herrmann.   
Herrmann, descendente de russos, nasceu em Nova York em 1911. Aos treze anos ganhou um concurso de composição e aos 20 formou sua própria orquestra. Em 1934 passou a trabalhar na rádio CBS, onde pôde levar ao público composições quase desconhecidas de grandes músicos e também obras curiosas de personalidades como os reis Henrique VIII e Luis XIII. Foi também na CBS que conheceu Orson Welles e compôs para o Mercury Theatre, inclusive sendo de sua autoria a trilha sonora da avassaladora transmissão de “A Guerra dos Mundos”, feita em 1938 por Welles.
Se o programa de rádio levou Welles para o cinema, ele levou junto Bernard Herrmann, que estreou com chave de ouro, compondo para “Cidadão Kane / Citizen Kane” (1941) e “Soberba / The Magnificent Ambersons” (1942), trabalho pelo qual não foi creditado. Logo em seu primeiro ano no cinema ganhou o Oscar por “The Devil and Daniel Webster”. 
A parcela mais famosa de seu trabalho surgiu através da parceria com o diretor Alfred Hitchcock, que utilizava o talento musical de Bernard mesmo quando havia apenas silêncio: em “Os Pássaros / The Birds” (1963), filme sem trilha sonora, Herrmann foi consultor de efeitos sonoros. O compositor até deu uma de Hitch e fez uma breve aparição em “O homem que sabia demais / The man who knew too much” (1956), como o regente da orquestra. No entanto, nesse filme duas melodias importantes não foram compostas por Herrmann: a gahadora do Oscar “Que sera, sera“ e “Storm Clouds Cantata”, tocada pela orquestra, que foi composta para a primeira versão do filme, em 1934.
A colaboração com Hitch começou em 1955, com “O Terceiro Tiro / The Trouble with Harry” e se estendeu por oito produções, sendo as mais lembradas “Psicose / Psycho” (1960), em que ele inovou ao usar como base os instrumentos de corda, e “Um corpo que cai / Vertigo” (1958), uma obra-prima que voltou às manchetes este ano ao ser incluída na trilha sonora de “O Artista”. A parceria terminou quando Hitchcock se desentendeu com Herrmann ao não aceitar a música dele para “Cortina Rasgada / Torn Curtain”, pedindo “algo com mais ritmo de jazz”. Apesar de nunca mais terem trabalhado juntos, continuaram amistosos.   
Consagrado como compositor de filmes de suspense, Hermann foi chamado por François Truffaut, admirador de Hitchcock, para compor para “Fahrenheit 451” (1966) e “A noiva estava de preto / The Bride Wore Black” (1968). Para Brian de Palma, trabalhou em “Sisters” (1973) e “Obssession” (1974) e teria trabalhado em “Carrie, a estranha” se não tivesse falecido. Foi Brian que indicou Bernard para Martin Scorsese, que o contratou para “Taxi Driver” (1976), o último filme de Herrmann. 
Ele gostava de ter liberdade criativa para compor, algo raro entre os de sua classe, e assim influenciou gerações. A música que fez para Truffaut, por exemplo, serviu de base para os arranjos da canção “Eleanor Rigby”, dos Beatles. Vez ou outra surge uma homenagem na mídia, a exemplo da discografia lançada em 1996 que acabou ganhando um prêmio no Festival de Cannes. Talentoso e versátil, Herrmann também compôs para uma série de filmes de aventura e ficção, como “O dia em que a Terra parou / The Day the Earth Stood Still” (1951), e para a primeira temporada da série “The Twilight Zone”. Além disso, fez uma ópera baseada em “O morro dos ventos uivantes” em 1951. Surpreeendentemente, a composição de que mais gostava era a de um romance: “O Fantasma Apaixonado / The Ghost and Mrs.Muir” (1947). 

Clique nos títulos dos filmes para carregar a trilha sonora no YouTube e leia mais sobre "O Fantasma Apaixonado" aqui.

17 comments:

Regi said...

Eu também não presto muita atenção em trilha sonora, mas devo dizer que quando assisti Taxi Driver (o único que prestei atenção na trilha)fui imediatamente cativada pela música. É incrível como ajudou a construir a tensão do filme. Primeiramente 'entendiada' até atingir o clímax no final do filme.

Maxwell Soares said...

Excelente texto. Bernard Herrmann é, realmente, um dos grandes. Conhecê-lo,aqui, está sendo um deleite. Parabéns. Um abraço...

silentbeauties said...

Sinto muita saudade das trilhas sonoras bacanas dos filmes antigos. Elas davam todo um efeito melodramático nas cenas e ajudavam o público a sentir o clima do filme. Sou uma das poucas que presta atenção nas músicas, a ponto de prestar mais atenção na música que no filme em si (me disperso muito fácil).
Parabéns pelo texto. Os compositores acabam sendo muito negligenciados em comparação com os atores e essa foi uma rara chance de saber mais sobre um dos melhores compositores clássicos dos EUA.

J. BRUNO said...

Olá Lê, confesso que até então o nome de Bernard Herrmann me remetia tão somente à parceria dele com o Hitchcock e a assinatura da trilha de alguns outros filmes como "Cidadão Kane" e "Taxi Driver", eu não tinha noção do quanto a carreira dele tinha ido além destes pontos que eu já conhecia... Parabéns minha cara amiga, excelente post! Abração!

Ella said...

Ótimo post, não conhecia nada sobre ele e muito pouco sobre o trabalho. Adorei.
Bjus
Um ótimo início de semana!
Rafaelando

Nathalia Ruggiero said...

Nunca assisti a nenhum desses filmes, mas já ouvi falar bastante em Bernard Hermann. Preciso assistir Taxi Driver!

Gilberto Carlos said...

É verdade, Lê. As vezes ficamos tão envolvidos com o enredo do filme que não prestamos muita atenção à trilha sonora, nem conferimos nos créditos quem é seu autor, mas Bernard Hermann é maravilhoso e deve ser ouvido.

Iza said...

Realmente um baita compositor. Não sabia que era ele que havia feito a perfeita trilha sonora de Psicose. E melhor, umas das minhas músicas prediletas dos Beatles: Eleanor Rigby. Beijos <3

As Tertulías said...

Le, querida, o trabalho dele é mais do que magnífico... eu SEMPRE fico admirado com a música de vertigo (apesar de muito gostar de todos seus trabalhos!) pois para mim, nao existe NADA melhor em termos de trilha-sonora na hitória do cinema... lembra da música quando Novak finalmente se tranforma na mulher com que ele sonhava???? IT IS LARGER THAN LIFE!!!!!!!! Belíssima e justíssima homenagem!!!!! Voce, como sempre, uma "danadinha!" Beijos Ricardo

Unknown said...

Que grande músico, hein? Só compondo para filmões! Legal conhece-lo.

http://monteolimpoblog.blogspot.com.br/

Suzane Weck said...

Ola minha querida Le,teu texto hoje[e aliás como sempre]está bom demais.Eu já conhecia Bernard Hermann,pois como deves imaginar estou sempre ligada nas trilhas de qualquer tipo de filmes,e Ele considero fabuloso por seus trabalhos.Que bom ser lembrado aqui em teu excelente blog.Katryn Grayson,nossa,conheço demais,quantas canções belíssimas cantadas em antigos filmes musicais com sua magnífica voz.E como eu a achava linda....Adorei tua visitinha.Grande braço.

Rafa Amaral said...

Falar de qualquer parceria dele com o Hitch parece-me "lugar comum". Por isso, gosto de lembrar aquela bela trilha para Táxi Driver, que traz a exata atmosfera do filme. Grande lembrança. Abraços. cinemavelho.com

Mario Salazar said...

No suelo prestar mucha atención a la banda sonora, no es mi prioridad y es que soy medio sordo pero hay momentos y algunas muestras ineludibles, que aportan mucho y hasta se destacan casi independientemente. Hermman era uno de eso grandes nombres. Buen repaso por sus creaciones. Psyco es una muestra de su genio, un sonido estridente y que engrandece el pánico. Besos.

ANTONIO NAHUD said...

Magnífico sempre!

O Falcão Maltês

whistlingypsy said...

Olá Lê, obrigado por parar pelo meu blog e para o seu lindo comentario. Quem me dera Português meu foraminifères tão bons quanto o seu Inglés. You have written an excellent tribute to one of my favorite composers for film and television. You might be interested to know that Herrmann also composed the music that Laird Cregar plays in "Hanover Square". He also created a rather creepy but catchy tune for "Twisted Nerve", which is whistled by the lead character. The tune can also be heard in "Kill Bill" by Quentin Tarantino.

Rubi said...

Eu confesso que reparo bastante na trilha sonora, no entanto são raras as vezes que eu procuro saber quem esteve por trás deste trabalho. Já vi inúmeros filmes citados e jamais poderia imaginar que Bernard Herrmann estivesse envolvido. Excelente post!

Júlio Pereira said...

Um verdadeiro mestre das trilhas sonoras. Foi um dos responsáveis pelo brilhantismo de Psicose, por exemplo. Talvez sua trilha que mais me agrade é a arrebatadora de Taxi Driver - sua última, por sinal. Há uma história engraçada: o Scorsese ligou pra ele e disse que o título do filme era "Taxi Driver", ele retrucou que não fazia trilhas de filmes sobre táxi, o Scorsese teve que explicar que não era exatamente um filme de táxi. hahaha

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

.

https://compre.vc/v2/335dc4a0346