} Crítica Retrô: September 2014

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Saturday, September 20, 2014

Mickey Rooney: Andy Hardy cresceu!

Um dos grandes desafios dos atores mirins de sucesso é continuar em destaque ao passarem para papéis adultos. Às vezes a idade adulta chega e leva embora a fofura da infância. Às vezes o ator é estereotipado e não tem papéis que o desafiem. Às vezes eles cansam do show business e simplesmente se aposentam. Nada disso aconteceu com Mickey Rooney. Ele conseguiu ficar em evidência durante oito décadas, nos mais diversos papéis, na comédia e no drama, porque desde criança mostrou sua versatilidade em frente às câmeras.
Em meados dos anos 20, quando o futuro de Jackie Coogan era incerto e Shirley Temple ainda nem tinha nascido, surgiu Mickey Rooney, protagonizando vários curtas-metragens como Mickey McGuire por sete anos, e, com a chegada do som, dublando alguns episódios do desenho “Oswald, the lucky rabbit” (Oswald é o antecessor de Mickey Mouse no universo Disney). Mas o grande momento do pequeno Mickey chegou em 1937, quando ele protagonizou o primeiro dos 19 filmes de Andy Hardy.
Andrew ‘Andy’ Hardy é um garoto simpático que se apaixona facilmente. Ele é filho do juiz James Hardy (Lewis Stone) e de Emily Hardy (Fay Holden). Em “A Paixão de Andy Hardy / Love Laughs at Andy Hardy” (1946), o penúltimo filme da série, Andy volta do exército muito ansioso, pois retornar à faculdade significa rever seu grande amor, Kay Wilson (Bonita Granville), e tem mais: Andy quer pedi-la em casamento! O plano de Andy não dá muito certo, e tudo caminha para o clímax: o grande baile da faculdade, em que o pequeno Mickey Rooney (1,57m) dança com Dorothy Ford (1,88m):
Andy Hardy personificava a juventude americana dos anos 30 e 40: romântico, divertido, patriota e comportado. A ideia perfeita para um encontro romântico era tomar milk-shake na lanchonete mais próxima. A cada filme Andy tinha uma nova conquista (e que lista!): Ann Rutherford, Judy Garland, Lana Turner, Esther Williams, Donna Reed, Bonita Granville. Os flertes e as relações familiares eram cercados de inocência e respeito. Bons tempos aqueles!
Mickey estava acostumado a alternar trabalhos dramáticos e cômicos, por isso não foi problema se inserir no gênero noir. “Areia Movediça / Quicksand” (1950) é um noir estranho: Rooney é o protagonista masculino, vitimado pela femme fatale Vera (Jeanne Cagney). Mickey em nada tinha a ver com os atores que melhor personificaram o protagonista do filme noir, como Humphrey Bogart, Edward G. Robinson e Victor Mature. Podemos nos perguntar se ele foi escolhido apenas por ter o mesmo tamanho do antagonista, Peter Lorre, com quem tem uma boa cena de briga.
Em “Quicksand”, Dan (Rooney) rouba 20 dólares da oficina mecânica em que trabalha. Ele usa o dinheiro para sair com Vera, uma moça perigosa e caprichosa. Devolver o dinheiro ao caixa não será nada fácil, pois a situação de Dan vira uma bola de neve: ele tem se comprometer cada vez mais para agradar Vera e fugir das chantagens de Nick (Lorre).  
Sem dúvida “Quicksand” foi o ápice da carreira de Mickey nos anos 50. Sua baixa estatura, ao mesmo tempo em que permitiu que ele interpretasse adolescentes por muitos anos, poderia ser um empecilho quando ele chegou aos 30. Mas seu talento lhe garantiu bons papéis em westerns, dramas e comédias. Nenhum desses filmes tem o mesmo status de seus musicais com Judy Garland ou de clássicos absolutos como “Com os Braços Abertos / Boys Town” (1938) e “Marujo Intrépido / Captains Courageous” (1937).
O próprio Mickey prefere discordar de mim, pois em sua autobiografia “Life is too short”, ele “prefere não comentar” o filme “Quicksand”. Um fracasso de bilheteria na época e uma ovelha negra no gênero noir, o filme ficou melhor com o passar do tempo, e comprova o que nomes como Robert Osborne, Cary Grant, Lucille Ball, Robert Mitchum e Anthony Quinn disseram: o ator mais versátil e talentoso de Hollywood foi Mickey Rooney.
Para saber mais sobre a carreira de Rooney nos anos 50, leia ESTE excelente artigo.
This post is part of The getTV Mickey Rooney Blogathon hosted by Once Upon a Screen, Outspoken & Freckled and Paula’s Cinema Club taking place throughout the month of September. Please visit the getTV schedule for details on Rooney screenings throughout the month and any of the host sites for a complete list of entries.

Friday, September 12, 2014

40 motivos por que “O Nascimento de uma Nação” é importante

1- Lillian Gish
2- Griffith se preocupava com direitos autorais.
3- A intenção de Grififth era fazer um filme que criticasse as guerras.
4- Griffith já começou o filme na defensiva (intertítulo adicionado após 1915):
5- É um filme histórico, então podemos esperar cenários incríveis.
6- As roupas de época também são muito charmosas. Olhe este vestido da Mae Marsh (que depois ela doa para a causa sulista).
7- E o Vento Levou? Não, Grififth destruiu Atlanta com estilo 24 anos antes. Repare nas labaredas que botariam medo em Rhett e Scarlett.
8- Amigos lutam de lados opostos e morrem abraçados. Isto é lindo.
9- Efeitos especiais de guerra.
10- Donald Crisp interpreta o General Ulisses S. Grant.
11- Lillian Gish tocando banjo no hospital! Elsie Stoneman >>> Scarlett O'Hara
12- Griffith nos ensina que era muito fácil conseguir falar com o presidente em 1865.
13- E Abraham Lincoln era um presidente muito, muito legal.
14- A sequência do assassinato de Lincoln é estupenda.
15- Joseph Henabery, que interpreta Abraham Lincoln, tem 13 outros papéis no filme. Joseph dirigiu 200 filmes a partir de 1916.
16- Griffith afirma que o filme fala sobre a reconstrução após a Guerra de Secessão, e não tem nada a ver com qualquer situação atual.
17- A primeira hora e meia de filme não é racista. Ele poderia ter parado aí e ainda seria um clássico absoluto.
18- A segunda parte começa com o trecho de um livro escrito pelo então presidente Woodrow Wilson. Ou seja, o próprio presidente tinha ideias racistas.
19- A segunda parte tem como base a peça “The Clansman”, de Thomas Dixon Jr. O autor recebeu 25% da bilheteria do filme, ou seja, ficou milionário. Dixon tinha sido aluno de Woodrow Wilson e organizou a projeção VIP do filme na Casa Branca, feito inédito.
20- A rivalidade entre Norte e Sul se estende no campo amoroso, com as famílias Stoneman, do Norte, e Cameron, do Sul. Emocionante.
21- Griffith mostrou que era um mestre da arte cinematográfica. Veja, por exemplo, este enquadramento:
22- Griffith se preocupou em construir os cenários exatamente como eles eram na época em que se passa a ação.
23- Segundo o filme, a inspiração para fundar a Ku Klux Klan veio quando Ben Cameron (Henry B. Walthall) viu crianças negras serem assustadas por crianças brancas cobertas por um lençol. Mas foi a partir de “O Nascimento de uma Nação” que os membros do grupo passaram a usar este uniforme estilizado.
24- Esquilo!
25- Uma perseguição emocionante nas colinas envolvendo Flora (Mae Marsh) e Gus (Walter Long), com Ben logo atrás.
26- A trilha sonora da versão DVD / YouTube é muito boa.
27- John Ford foi um extra no filme. Ele interpretou o “cavaleiro da Ku Klux Klan com um pedaço de madeira na mão”. Obviamente, é impossível reconhecê-lo.
28- Nem todos os personagens negros são ruins. Os empregados dos Cameron são chamados de “almas fiéis” porque ainda se importam com seus patrões. Mas a gramática deles é péssima. E são atores brancos em blackface. (Menos um ponto para Griffith).
29- Se os negros ficaram fora de controle e tentaram dominar tudo no filme, a culpa foi de um líder maluco, Silas Lynch (George Siegmann).
30- Curiosidade histórica: as cenas de batalha foram filmadas onde hoje ficam os estúdios da Universal.
31- O final tem uma mensagem de paz.
32- Griffith desenvolveu aqui todos os estereótipos usados para personagens negros no cinema. Pensando bem, a dicotomia negros maus contra brancos bons é muito semelhante ao tratamento dos índios malvados no western.
33- Louis B. Mayer conseguiu o direito de exibir o filme na costa Leste e assim começou sua fortuna – sem pagar o que deveria a D. W. Griffith.
34- Este não é o melhor filme de Griffith. Ele ainda refinaria sua arte até chegar ao seu apogeu como diretor. Se você não quiser ficar decepcionado com Griffith, veja “Lírio Partido / Broken Blossoms” (1919).
35- Griffith fez um filme CONTRA a Ku Klux Klan em 1911: “The Rose of Kentucky”.
36- Austin Stoneman (Ralph Lewis) lhe pareceu familiar? Ele foi inspirado no congressista Thaddeus Stevens, interpretado por Tommy Lee Jones em “Lincoln” (2012).
37- O tom racista do filme incentivou cineastas negros a rodarem películas sobre seu povo com um tom mais verdadeiro. Um desses cineastas foi Oscar Micheaux.
38- “O Nascimento de uma Nação” inovou ao contar histórias paralelas, e não apenas uma trama central. Mas não se engane: muitas das técnicas “inovadoras” do filme já tinham sido usadas em “Cabiria” (1914). Elas eram novidade apenas no cinema americano!
39- O filme é produto da sociedade de sua época que, vista com os olhos de 2014, era, sim, retrógrada. Mas não devemos julgar nem mesmo censurar este retrato da história, mas sim aprender com ele.
40- Ninguém deve basear suas ideias e ações em um filme feito há quase cem anos. Sim, “O Nascimento de uma Nação” ajudou a ressuscitar a Ku Klux Klan. Mas se você seguir, nos dias de hoje, o que o filme diz, é melhor procurar um psiquiatra.
“O Nascimento de uma Nação” é um filme racista? Sim. Revolucionou o cinema? Talvez. Sem ele todos os outros filmes não existiriam? Aí já é falar demais. Mas é uma fonte histórica que não merece ser destruída ou esquecida. É uma parte fundamental da história do cinema que, apesar de seus defeitos, não pode ser ignorada.

Para quem tem tempo, coragem e paciência, “O Nascimento de uma Nação” pode ser visto em HD no YouTube.
This is my contribution to The Great Movie Debate Blogathon, hosted by Aurora and Tim at Citizen Screenings and The Cinematic Packrat. Let the debates begin!

Sunday, September 7, 2014

A Epopeia do Jazz / Alexander’s Ragtime Band (1938)

Há cem anos, o mundo passava por uma grande turbulência. Estou me referindo, claro, à Primeira Guerra Mundial, que trouxe imensas mudanças na geopolítica, tecnologia e no mundo das artes. O cinema usou o conflito como pano de fundo em muitos filmes, notadamente na década de 1930, quando outra guerra já estava se desenhando no horizonte. O filme “Alexander's Ragtime Band” tem um momento de guerra tão insignificante que poderia passar sem ele. Isto é, poderia se não fosse baseado na vida e obra do homem que personifica a música americana: Irving Berlin.
Roger Grant (Tyrone Power) é um músico clássico com uma carreira promissora pela frente. Ele usa também seu talento musical para ajudar a banda de seus dois melhores amigos, o pianista e compositor Charlie (Don Ameche) e o percussionista Davey (Jack Haley). Em uma noite em um bar, quando Charlie esqueceu as partituras, a banda acaba pegando emprestada a partitura de “Alexander’s Ragtime Band”, levada até o local pela aspirante a cantora Stella Kirby (Alice Faye). A banda toca, Stella canta, eles são um sucesso estrondoso e Roger passa a ser chamado de Alexander, the leader of the band.
Logo um triângulo amoroso é formado: Alexander, Stella e Charlie. Stella e Alexander têm problemas para admitir que se amam porque, como em outras boas histórias de amor, eles não param de discutir. Como o final feliz só pode ser alcançado depois de 106 minutos, há vários obstáculos para o sucesso da banda e do casal. Um desses obstáculos é a Primeira Guerra Mundial.
O filme começa em San Francisco em 1915. Dois anos depois os Estados Unidos entraram na guerra, e para o front foram Alexander e Davey. A guerra em si é mostrada em uma sequência rápida e ousada de menos de um minuto, porque, felizmente, ninguém volta (muito) ferido. Sim, foi por causa de guerra que muitos relacionamentos e carreiras foram interrompidos, mas a parte mais importante para Alexander foi a que veio antes da guerra: o show musical que ele cria com seus companheiros do exército.
Jack Haley em "Oh how I hate to get up in the morning!"
O compositor Irving Berlin, que assina todas as músicas do filme, também trabalhou em um desses shows formados com o regimento. Esta, aliás, é a única das experiências de Berlin que fazem parte do filme, que foi concebido como uma cinebiografia. A ideia não agradou ao biografado, e ficou decidido que a primeira canção de sucesso de Irving, “Alexander’s Ragtime Band”, seria o ponto de partida para um grande desfile de suas composições.
Ensaio com Irving Berlin ao piano
O ragtime foi um gênero musical que teve seu auge entre 1895 e 1918. O ragtime acabou quando terminou a guerra. Mas, no plano musical, a Primeira Guerra foi benéfica, pois foram os soldados americanos que popularizaram o ragtime na Europa. Na década de 1920, algumas características do ragtime ajudariam a criar o mais americano dos ritmos: o jazz.
E é sobre essa epopeia do jazz que o filme trata com mais afinco. O músico clássico Roger, ao preferir a música popular, é esnobado pelo velho professor Heinrich (Jean Hersholt) e pela tia rica Sophie (Helen Westley). Com o tempo (e o sucesso), Alexander e seu ragtime / jazz / swing começam a ser aceitos pela sociedade, convidados para espetáculos da Broadway e atingem o clímax de popularidade e elegância no Carnegie Hall.
Preste atenção nos dois protagonistas do filme! Não, não estou falando de Tyrone Power e Alice Faye, mas sim das músicas de Irving e dos ótimos coadjuvantes! São quase trinta canções adoráveis, e entre os coadjuvantes que roubam a cena estão Ethel Merman, Jack Haley e um importantíssimo John Carradine. Irving Berlin escreveria dois musicais exclusivamente para Ethel, por quem se encantou durante as filmagens. Jack Haley, às vésperas de viver o homem de lata de “O Mágico de Oz”, é o personagem mais alegre e simpático do filme, e ainda canta “Oh! How I get to get up in the morning”, cantada originalmente pelo próprio Irving Berlin no exército.
Ethel Merman
O filme foi o ápice da carreira de Alice Faye. Ela própria diria que “Alexander’s Ragtime Band” foi o melhor filme que fez (opinião compartilhada pelo diretor Henry King). A moça de beleza única e voz profunda arrancou elogios de Irving Berlin, passou a receber semanalmente centenas de cartas de fãs e seu salário subiu para 2500 dólares por semana. Alice brilharia até sua aposentadoria precoce, em 1945. Dois anos depois, “Alexander's Ragtime Band” voltou aos cinemas, conseguindo uma bilheteria ainda maior que a da estreia em 1938. Um sucesso merecido!

This is my contribution to the World War One in Classic Film Blogathon, hosted by the silent ladies Lea at Silent-ology and Fritzi at Movies,Silently.
My favorite movie about World War One <3 font="">
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