} Crítica Retrô: June 2019

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Sunday, June 30, 2019

O Estranho Caso do Conde (1959) / The Scapegoat (1959)


Sempre que ouvimos o nome Daphne du Maurier, instantaneamente pensamos em Hitchcock como o elo que a liga ao cinema. Hitchcock adaptou os trabalhos mais famosos de Daphne para as telas: “Rebecca – A Mulher Inesquecível” (1940) e “Os Pássaros” (1963) – e, antes deles, “Estalagem Maldita” (1939). Mas Daphne du Maurier escreveu outras obras que foram adaptadas para o cinema. Uma delas é o suspense “O Estranho Caso do Conde”, que se tornou um filme estrelado por Alec Guinness e Bette Davis em 1959.

Whenever we hear the name Daphne du Maurier, we instantly think about Hitchcock as her link with cinema. Indeed, Hitchcock adapted Du Maurier's most famous works to the screen: “Rebecca” (1940) and “The Birds” (1963) – and, before that, “Jamaica Inn” (1939). But Daphne Du Maurier wrote other works that were adapted to film. One of them was the thriller “The Scapegoat”, that became a 1959 movie starring Alec Guinness and Bette Davis.


Um homem chamado John Barratt (Alec Guinness) chega à Inglaterra. Ele está se sentindo vazio e sem esperança. Estranhamente, muitas pessoas parecem conhecê-lo, mas ele parece não conhecer ninguém. A explicação é bem simples: John tem um sósia – alguém que é fisicamente igual a ele. Eeste sósia é Jacque de Gue (também Alec Guinness), um nobre cuja vida é o oposto da vida de John. Uma noite, eles se encontram e Jacque põe um sonífero na bebida de John. Agora, John deve tomar o lugar de Jacque.

A man called John Barratt (Alec Guinness) arrives in England. He is feeling empty and hopeless. Strangely, many people seem to know him, but he seems to know no one. The explanation is quite simple: John has a doppelgänger – a person who looks exactly like another person. This doppelgänger is Jacque De Gue (also Alec Guinness), a nobleman whose life is the opposite of John's. One night, they two meet and Jacque puts sleeping powder in John's drink. Now John must be in Jacque's place.


Mesmo estando confuso e bravo, John trata a filha de Jacque de maneira amigável. O mesmo não pode ser dito da maneira como ele trata a mãe de Jacque, a Condessa (Bette Davis), uma mulher viciada em morfina e que não sai mais da cama. John se encanta com sua nova vida, uma vida que até inclui uma amante – e John se apaixona pela amante de Jacque!

Although he is confused and mad, John treats Jacque's daughter  in a friendly way. The same can't be said about the way he treats Jacque's mother, the Countess (Bette Davis), a woman addicted to morphine that can't get out of her bed anymore. John is amused to have this new life, one that even includes a lover – and John falls in love with Jacque’s lover!


Há narração em voiceover durante o filme todo, como em um filme noir. O confronto entre John e Jacque também tem tons noir, pois acontece em uma sala cheia de sombras e contrastes entre luz e escuridão, mostrando a dualidade dos sósias.

There is voiceover narration during the whole movie, just like a film noir. The confrontation between John and Jacque also has noir tones, as it happens in a room full of shadows and contrasts between light and darkness, showing the dual nature of the doppelgängers.


Alec Guinness foi escolhido por Daphne du Maurier para interpretar os protagonistas. Alec tinha experiência em interpretar múltiplos papéis no mesmo filme, pois ele interpretou oito papéis em “As Oito Vítimas” (1949), feito uma década antes de “O Estranho Caso do Conde”. Ele tem muito mais a fazer em “O Estranho Caso do Conde”, porque seu trabalho no filme anterior havia sido mais ao estilo de uma participação especial de luxo.

Alec Guinness was chosen by Daphne du Maurier herself to play the leads. Guinness was experienced in playing multiple roles in the same film, as he played eight roles in “Kind Hearts and Coronets” (1949), released a decade before “The Scapegoat”. He has much more to do in “The Scapegoat”, though, as his eight-turn in the earlier film was more of a very deluxe cameo.


Bette Davis era apenas seis anos mais velha que Alec Guinness, mas interpretou a mãe dele. Bette é basicamente desperdiçada em uma performance que é só um pouco mais longa que uma participação especial. Ela ficou muito insatisfeita com o tamanho do papel, e constantemente brigava com o diretor Robert Hamer. Isso mostra como o machismo sempre funcionou no mundo do cinema, pois Guinness estava no auge da carreira, enquanto Bette era considerada ultrapassada.

Bette Davis was only six years older than Alec Guinness, yet she was playing his mother. Davis is basically wasted in a performance that is just a little longer than a cameo. She was very unhappy with the size of her role, and she often clashed with director Robert Hamer. This shows how sexism has always worked in the film world, as Guinness was on the top of his career, while Davis was considered a has-been.


O livro foi adaptado por ninguém menos que Gore Vidal. Originalmente publicado com 368 páginas, o livro foi profundamente mudado para se tornar um filme de 90 minutos – e Daphne du Maurier ficou muito brava com o resultado, acreditando que o roteiro havia destruído a essência de sua história. Os finais, por exemplo, são completamente diferentes no livro e no filme. “O Estranho Caso do Conde” foi produzido por Michael Balcon, que também produziu os filmes mudos e os primeiros filmes falados de Hitchcock. Balcon também é avô do ator Daniel Day-Lewis.

The novel was adapted by no other than Gore Vidal. Originally published with 368 pages, the novel was deeply changed to fit in a 90-minute film – and Daphne du Maurier was mad at the result, thinking that the screenplay had destroyed the essence of her story. The endings, for instance, are completely different in the book and in the film. “The Scapegoat” was produced by Michael Balcon, who also produced Hitchcock’s silent films and early talkies. Balcon is also actor Daniel Day-Lewis’s grandfather.


Há um imenso problema com “O Estranho Caso do Conde”: sua duração. O filme não tem bom ritmo, apresentando um final apressado e uma conclusão insatisfatória para muitos personagens. De fato, o conflito principal – um assassinato – só acontece por volta de 15 minutos antes do final e temos pouco tempo para investigá-lo e solucioná-lo.

There is a huge problem with “The Scapegoat”: its running time. The film wasn’t well-paced, having a rushed ending and an unsatisfactory closing for many characters. Indeed, one main conflict – a murder – only happens about 15 minutes before the end and we have too little to investigate and solve it.


Iniciado como um projeto pessoal para Alec Guinness e Daphne du Maurier, “O Estranho Caso do Conde” acabou sendo um fracasso de bilheteria. Du Maurier culpou Guinness pelo fracasso. Eu culpo o roteiro – um roteiro que fez com que o que poderia ter sido um mistério interessante e intrigante se tornasse um confronto apressado.

Started as a pet project to both Daphne du Maurier and Alec Guinness, “The Scapegoat” ended as a commercial failure. Du Maurier blamed Guinness for the failure. I blame the screenplay – one that made what could have been an interesting and intriguing mystery into a rushed confrontation.

This is my contribution to the Calls of Cornwall – The Daphne du Maurier blogathon, hosted by Gabriela at Pale Writer.


Friday, June 28, 2019

On Approval (1944)


“On Approval” começa de maneira criativa com um narrador (E.V.H. Emmett) comparando os tempos modernos de 1939 – antes da guerra que estava então acontecendo – e a era Vitoriana. O narradora diz que a era Vitoriana foi muito melhor porque, entre outras coisas, as mulheres eram mulheres e não se esqueciam disso – embora os homens se esquecessem disso algumas vezes. Então nós e o narrador chagamos a um teatro, onde a peça “On Approval” está sendo encenada. Sim, este filme é uma peça dentro de um flashback dentro de um filme.

On Approval” starts in a creative way as a narrator (E.V.H. Emmett) compares the modern times of 1939 – before the then ongoing war – and the Victorian times. The narrator says the Victorian times were much better because, among other things, women were women and didn't forget that – even though men forgot it sometimes. Then we and the narrator arrive in a theater, were the play “On Approval” is being presented. Yes, this film is a play within a flashback within a film.


George (Clive Brook) é um mulherengo. Ele está em uma festa com seu amigo Richard (Roland Culver), que é apaixonado por Maria Wislack (Beatrice Lillie). Maria, que é viúva e tem 41 anos de idade, decide viajar com Richard durante um mês para fazer um teste: se ele foi aprovado, eles podem se casar. Enquanto isso, George zomba de Maria por causa da idade dela, tenta ajudar Richard e não percebe que Helen (Googie Withers) está apaixonada por ele.

George (Clive Brook) is a womanizer. He is attending a party with his friend Richard (Roland Culver), who is in love with Maria Wislack (Beatrice Lillie). Maria, who is widowed and 41, decides to take Richard out during a month “on approval”: if she approves of him, they can get married. Meanwhile, George mocks Maria for her age, tries to help Richard and doesn't see that Helen (Googie Withers) is in love with him.


Logo Richard e Maria partem para a Escócia para passar um mês fazendo o teste de casamento. Só há um problema: George decide acompanhá-los. Richard e George deveriam ficar em um hotel, mas eles mandam um telegrama falso para que o hotel aparente estar lotado e não haja lugar para eles. Helen descobre o plano e os segue até o hotel. Mas o hotel está realmente cheio, e os quatro têm como única opção se hospedar na propriedade de Maria.

Soon Richard and Maria leave for Scotland to spend a month in their marriage attempt. There is only one issue: George decides to go with them. Richard and George are supposed to stay in a hotel, but they send a fake telegram so the hotel will be apparently full and there won't be room for them. Helen discovers the plan and follow them to the hotel. But it happens that the hotel is indeed full, and all the four need to stay in Maria's property.


Durante o tempo em que estão juntos, com quase nenhuma ligação com o mundo lá fora, os quatro conhecem melhor uns aos outros. Eles também veem o pior e o melhor de cada um, e isso os faz mudar de opinião sobre suas paixões e sobre os relacionamentos de longa duração.

During this time they spend together, with almost no links to the outside world, the four get to know each other more. They also get to see the worst and the best of each other, and thus change their minds about passions and long-term relationships.


Um filme como “On Approval” só poderia ter sido feito na Inglaterra. Com o Código Hays a todo vapor nos anos 40, a maioria das frases com duplo sentido e as referências a sexo teriam de ser cortadas do filme se este fosse feito em Hollywood, e então o filme perderia boa parte de seu charme. De fato, a Legião da Decência Norte-Americana bem que poderia ser intepretada pelos criados de Maria, que deixam a casa quando suspeitam de que algo indecente está acontecendo apenas porque Richard tocou Maria e Helen tem uma camisola transparente.

A film like “On Approval” could only be made in England. With the Hays Code in full-on mode during the 1940s, most of the double entendres and the references to sex would have to be cut from the movie if it was made in Hollywood, and it would lose most of its charm. Indeed, the American Legion of Decency could well be portrayed by the servants of Maria's property, who leave the house as they suspect there is indecency going on among the guests only because Richard touches Maria and Helen has a transparent  nightgown.


O próprio Clive Brook adaptou a peça para o cinema e escolheu a década de 1890, e não a década original de 1920, como pano de fundo. Ele também produziu, dirigiu e protagonizou o filme. Seu George é egoísta e preguiçoso, e suas discussões com a Maria de Beatrice Lillie são deliciosamente ferinas. Beatrice Lillie, aliás, já foi considerada a mulher mais engraçada do mundo. Mesmo assim, ela fez apenas sete filmes, dedicando-se mais ao teatro, onde teve longa carreira.

Clive Brook himself adapted the play to the screen and chose the 1890s, and not the original 1920s, as the setting. He also produced, directed and starred in the film. His George is selfish and lazy and his banter with Beatrice Lillie's Maria is wonderfully catty. Beatrice Lillie, by the way, was once considered the funniest woman in the world. Nevertheless, she only appeared in seven feature films, spending the rest of her long career on stage.


Nos créditos, encontramos algo curioso: o responsável pela câmera é C. Friese-Greene, da família do quase esquecido pioneiro do cinema William Friese-Greene. O C é de Claude, que era filho do nosso pioneiro pouco conhecido. Infelizmente, Claude faleceu antes de “On Approval” estrear. Os figurinos são se Cecil Beaton, que fez um excelente trabalho: as roupas de Helen são lindas, em especial um vestido adornado com pérolas.

During the credits, something curious: the camera is C. Friese-Greene, from the family of almost forgotten film pioneer William Friese-Greene. The C stands for Claude, and he was the son of our little-known pioneer. Unfortunately, Claude passed away before “On Approval” was released. The costumes are by Cecil Beaton, and he did a wonderful job: Helen's gowns are gorgeous, in special one dress adorned with pearls.


O estúdio não gostou do filme, e “On Approval” ficou na prateleira por um ano e meio antes de estrear em 1944... e foi um imenso sucesso! Mesmo com o sucesso, Clive Brook nunca mais escreveu, dirigiu ou produxiu outro filme – e trabalhou apenas esporadicamente na TV dali em diante.

The studio didn’t like the film when it was finished, and “On Approval” was shelved for a year and a half until it finally premiered in 1944… and it was a huge hit! Even with the success, Clive Brook never wrote, directed or produced another film again – and worked only sporadically on TV from then on.


O site do TCM diz que “On Approval” “se parece com uma combinação maluca dos Irmãos Marx com Oscar Wilde” Eu não vejo muito dos Irmãos Marx no filme – um pouco de Groucho nos diálogos, um pouco mais de todos eles em uma estranha sequência de sonho que nos deixa em dúvida sobre o destino de nossos personagens por uns cinco minutos, pouco antes do final.

The TCM.com website says the “On Approval” “feels like a crazy combination of the Marx Brothers and Oscar Wilde”. I don’t see much of the Marx Brothers in it – a little Groucho in the dialogues, a bit more of them all in a strange dream sequence that leaves us guessing about the fate of our characters for about five minutes, until the ending.


“On Approval” apresenta uma ideia que mais tarde seria desenvolvida para dar origem a reality shows de sucesso. Agora, o mundo modern evoluiu tanto que mais pessoas podem ter seu período de teste com seus parceiros antes do casamento – com ou sem muitas câmeras e milhões de pessoas assistindo. E isso já mostra como “On Approval” é moderno e revolucionário.

“On Approval” presents one idea that would later be developed into successful reality shows. Now, the modern world has evolved so more people can have an “on approval” period with their partners before really tying the knot – with or without many cameras and millions of people watching. And this alone shows how modern and revolutionary “On Approval” is.

This is my contribution to the Made in 1944 blogathon, hosted by Robin at Pop Culture Reverie.


Sunday, June 23, 2019

In the Wake of the Bounty (1933): o primeiro filme the Errol Flynn

In the Wake of the Bounty (1933): Errol Flynn's first film


Muitos de nós devem ter conhecido a história do motim a bordo do navio HMS Bounty através de um filme. De farto, o famoso motim foi levado para as telas muitas vezes, sendo os filmes mais notáveis os de 1935, 1962 e 1984. Nestes filmes, o líder do motim, Fletcher Christian, foi interpretado por, respectivamente, Clark Gable, Marlon Brando e Mel Gibson. Mas estes não foram os únicos filmes sobre o ocorrido. Em um dos menos conhecidos filmes sobre o motim, um novato chamado Errol Flynn foi escalado como Fletcher Christian.

Many of us may have learned the story of the mutiny aboard the HMS Bounty through a film. Indeed, the infamous mutiny was translated to the screen several times, most notably in 1935, 1962 and 1984. In these films, the leader of the mutiny, Fletcher Christian, was portrayed by, respectively, Clark Gable, Marlon Brando and Mel Gibson. But those weren't the only films about the fact. In one of the lesser-known mutiny movies, a newcomer called Errol Flynn was cast as Fletcher Christian.


“In the Wake of the Bounty” começa com o aviso de que não se trata de um filme dramático qualquer. Na realidade, ele é o primeiro de uma série prevista de “grandes filmes de viagem”, filmados em locação pelo estúdio Expeditionary Films. Aparentemente, o plano nunca se concretizou, pois o IMDb mostra que apenas mais uma película foi feita pelo estúdio.

“In the Wake of the Bounty” begins with a warning that it was not a common drama film. In reality, it is the first of an intended series of “great travel films”, shot on location by Expeditionary Films. Apparently, this never happened, as IMDb lists only one more film made by the studio.


Um homem cego chamado Michael (Victor Gouriet) conta a história do HMS Bounty – história da qual ele foi testemunha – para seus amigos em um bar. Através de uma narração solene, ele fala sobre o terrível temperamento do capitão Bligh (Mayne Lynton). O contraste é óbvio quando vemos Bligh sozinho em uma sala grande e bem decorada, enquanto os marinheiros estão todos juntos, empilhados, no convés. Quem recebe ordens do capitão é Fletcher Christian (Errol Flynn). Uma surpresa é que a câmera balança um pouco nas cenas dentro do navio, criando uma sensação que é ao mesmo tempo verdadeira e nauseante.

A blind man named Michael (Victor Gouriet) tells the story of the HMS Bounty – one he witnessed – to his drinking peers. Through a solemn narration, he talks about Captain Bligh's (Mayne Lynton) terrible temper. The contrast is obvious when we see Bligh alone in a huge, well-furnished room, while the sailors are all together in the deck. Receiving orders from the captain is Fletcher Christian (Errol Flynn). Surprisingly, the camera rocks a little in these ship scenes, creating a feeling that is at the same time true and dizzying.


Depois de uma viagem extenuante na qual os marinheiros são explorados e punidos, o navio chega ao Taiti. Lá, eles encontram estereótipos e nudez. Eles ficam seis meses no Taiti, dançando e se divertindo com os nativos. Quando os marinheiros são chamados de volta para o navio, todos ficam desolados – incluindo Fletcher Christian, que se apaixonou por uma nativa. Amor e luxúria serão os combustíveis do motim.

After an extenuating trip in which the sailors are explored and punished, the ship arrives in Tahiti. There, they find stereotypes and nudity. They spend six months in Tahiti, dancing and enjoying their time with the natives. When the sailors are called back to the ship, they are all desolate – including Fletcher Christian, who fell in love with a native. Love and lust will be the fuels for the mutiny on the bounty.


Como o líder do motim menos sangrento da história, Errol Flynn se sai bem, mas está ridículo com uma peruca de rabo de cavalo. Sua voz é clara e ele demonstra alguma emoção, mas aí o filme se torna... um documentário sobre o Taiti! E volta para a ficção de novo! E depois para o documentário mais uma vez! É tudo uma bela e interessante bagunça.

As the leader of the least bloody mutiny in history, Errol Flynn is good, but looks quite ridiculous with a wig with a ponytail. His voice is clear and he shows some emotion but then the film changes... to a documentary about Tahiti! And then to fiction again! And then documentary once again! It's all a beautiful, interesting mess.


A história do cinema australiano é um tópico selvagem. Embora o primeiro longa-metragem seja australiano – “The Story of the Kelly Gang” (1906) – o país não teve grande tradição cinematográfica. Mais do que isso: as produções de Hollywood demoravam alguns anos para chegar à Oceania. A indústria do cinema australiana  estava em crescimento na década de 1910, mas sofreu um grande golpe com a guerra, e só se recuperou deste golpe nos anos 30.

Australian film history is a wild topic. Even though the first feature film was Australian – “The Story of the Kelly Gang” (1906) – the country didn’t have a big tradition in filmmaking. More than that: Hollywood movies took a couple of years to reach Oceania. The Australian film industry was thriving in the 1910s, but the war came and it suffered a big blow, from which the industry didn’t recover until the 1930s.

"The Story of the Kelly Gang"
Errol Flynn, nascido na Tasmânia em 1909, tinha 24 anos quando “In the Wake of the Bounty” foi feito. Há várias histórias sobre como ele foi escalado para o filme. Também foram criadas diversas histórias para vender o filme, e uma delas dizia que Flynn era descendente direto de Fletcher Christian – ele, obviamente, não era.

Errol Flynn, born in 1909 in Tasmania, was 24 when “In the Wake of the Bounty” was made. There are different stories about how he was cast in the picture. There were also created stories to sell the film, with one of them saying Flynn was a direct descendant of Fletcher Christian – which, of course, he wasn’t.


Na estranha cinebiografia “Flynn” – também conhecida pelo título “My Forgotten Man” – o jovem Errol Flynn é mostrado como um mentiroso que não conhecia limites quando se tratava de conseguir o que ele queria, e isso incluía roubar, dormir com homens e mulheres e entrar em brigas. O filme conta que Errol (interpretado por Guy Pearce) conseguiu o papel em “In the Wake of the Bounty” depois de embebedar outro ator e tomar o lugar dele, assinando um contrato. Não há outra evidência para comprovar essa história que não seja o filme. A película também termina com Flynn se tornando uma sensação do dia para a noite por causa de sua performance, o que não ocorreu, pois foi uma performance muito curta e amadora.

In the odd 1993 biopic “Flynn” – sometimes also called “My Forgotten Man” – young Errol Flynn is portrayed as a liar who saw no limits to get what he wanted, and this included stealing, sleeping with men and women and getting in fights. The film tells that Errol (played by Guy Pearce) got the part in “In the Wake of the Bounty” by getting an actor drunk and showing up in his place to sign the contract. There is no other evidence of this story but the film. The movie also ends with Flynn becoming an overnight sensation due to his performance, which didn’t happen, as it was a very short and incipient performance.   
 
Guy Pearce
Depois de “In the Wake of the Bounty”, Flynn foi para a Inglaterra, onde ele trabalhou no teatro e fez dois filmes. O produtor Irving Asher então recomendou Flynn para a Warner Brothers. Em Hollywood, ele foi primeiro testado em dois filmes B e finalmente se tornou uma estrela com “Capitão Blood” (1935).

After “In the Wake of the Bounty”, Flynn went to England, where he worked in the theater and made two movies. Producer Irving Asher then recommended Flynn to Warner Brothers. In Hollywood, he first was tested in two B-movies and finally became a star with “Captain Blood” (1935).
 
"Murder at Monte Carlo", 1935 (lost film)
Fletcher Christian e Errol Flynn têm algumas coisas em comum. Ambos eram aventureiros mulherengos que, mais de uma vez, tomaram decisões pensando em mulheres. Ambos eram rebeldes à sua maneira, e ambos escreveram seus nomes na história por seus atos.

Fletcher Christian and Errol Flynn have some things in common. Both were adventurous womanizers who, more than once, had women in mind when making decisions. Both were rebellious in their own way, and both wrote their names in history thanks to their devilish actions.


“In the Wake of the Bounty” desafia todos os limites entre ficção e documentário, e só por isso já merece ser visto. Ah, e também tem Errol Flynn, é claro.

“In the Wake of the Bounty” defies all limits between fiction and documentary, and for this alone it's a movie worth checking. Oh, and there is Errol Flynn, too.

“In the Wake of the Bounty” is available on YouTube and Internet Archive.

This is my contribution to the Blizzard of Oz blogathon, hosted by Quiggy at The Midnite Drive-In.



Saturday, June 15, 2019

Casar por Azar (1932) / No Man of Her Own (1932)


Todos nós conhecemos Clark Gable e Carole Lombard como um casal, casados desde 1939 até a morte prematura dela em 1942. Mas, anos antes de eles se apaixonarem na vida real, eles interpretaram um casal em um filme. Em “Casar por Azar” (1932), o nome de Gable apareceu acima do título – sinal de status –, ele não tinha bigode e Carole era uma loura platinada. As coisas eram, com certeza, muito diferentes.

We all know Clark Gable and Carole Lombard as a couple, married from 1939 until his untimely death in 1942. But, years before they fell in love for real, they played a couple in a film. In “No Man of Her Own” (1932), Gable's name was above the title, he had no mustache and Carole was a platinum blonde. Things were, for certain, very different.


Jerry ‘Babe’ Stewart (Gable) organiza jogos de cartas com três outras pessoas, incluindo sua ex Kay Everly (Dorothy Mackaill). A função de Kay é convencer homens ricos a participar dos jogos, tirando alguns milhares de dólares deles com um jogo manipulado. Quando ele se vê cercado de problemas – as causas destes problemas são Kay e um dos jogadores – Jerry foge e por acaso vai para a cidadezinha de Glendale, onde Connie Randall (Lombard) vive com sua família.

Jerry 'Babe' Stewart (Gable) puts up card games with three other people, including his former girl Kay Everly (Dorothy Mackaill). Kay's function is to lure rich men into playing cards with them, until the man has lost a few thousand dollars in the rigged game. Once in trouble – with both Kay and a player – Jerry runs away and by chance ends up in the small city of Glendale, where Connie Randall (Lombard) and her family live.


Connie vem de uma família simples e trabalha como bibliotecária. O primeiro encontro de Jerry e Connie é caliente, e eles instantaneamente sentem atração um pelo outro. Ele é mais direto, e ela não é uma garota simplória do interior. Ela quer aceitar as investidas dele, mas reluta em fazê-lo. A sequência labiríntica, qual jogo de gato e rato, na biblioteca filmada em plongée (de cima para baixo) é uma epítome do que é flertar.

Connie comes from a simple family and works as a librarian. Jerry's and Connie's first meeting is a steamy one, with both instantly attracted by each other. He is more straightforward, and she is no simpleton from a small town. She wants to say yes to him, but is reluctant. Their cat and mouse, labyrinthine sequence in the library filmed from above is an epitome of what flirting is.


Agora Jerry e Connie estão juntos, mas ele não pretende ficar muito tempo sem ela. Kay não é mais problema: ela está em um cruzeiro no Caribe. Connie será um grande problema, porque, para manter a farsa, Jerry precisará fingir que tem um emprego. Além disso, Connie começa a suspeitar das noites de jogo de Jerry.

Now Jerry and Connie are together, but he doesn't intend to be with her for long. Kay will be no problem: she is away in a cruise through the Caribbean. Connie will be a great trouble, because, to keep the farce, Jerry will need to pretend he has a job. Besides that, Connie starts to get suspicious of Jerry's game nights.


Há poucos filmes pre-Code mais ousados que “Casar por Azar”. Neste filme, temos tanto Dorothy Mackaill quanto Carole Lombard se despindo – e Lombard correndo de lingerie para atender ao telefone e depois colocando pijamas de seda quase transparente -, o peito nu de Gable no chuveiro, muita paquera e referências nem um pouco veladas ao ato de “fazer amor”. E é tudo deliciosamente libertador!

There are few pre-Codes naughtier than “No Man of Her Own”. In this film, we have gratuitous undressing scenes featuring both Mackaill and Lombard – and Lombard running in her underwear to answer a phone and then changing to almost transparent silk pajamas –, Gable's naked torso in the shower, a lot of flirting and unapologetic references to making love. And it's all a delight and so freeing!


O director Wesley Ruggles é um mestre do pre-Code. Além de “Casar por Azar”, ele dirigiu “Santa Não Sou” (1933), com Mae West, e trabalhou sem ser creditado em “Cimarron” (1931) - nos créditos ele não aparece como diretor, mas sim como "uma produção Wesley Ruggles". Ele também fez “Luar, Música e Amor” (1925), no qual tanto Gable quanto Lombard trabalharam como figurantes, sem fazerem cenas juntos. E se você está se perguntando: sim, Wesley é parente do conhecido ator coadjuvante Charles Ruggles – eles são irmãos.

Director Wesley Ruggles is a pre-Code master. Besides “No Man of Her Own”, he directed Mae West’s “I’m No Angel” (1933) and did uncredited work in “Cimarron” (1931) - he doesn't appear as the director in the credits, it's only "a Wesley Ruggles production". He also did “The Plastic Age” (1925), in which both Gable and Lombard appeared as extras, sharing no scenes. And if you’re wondering: yes, Wesley is related to beloved character actor Charles Ruggles – they are brothers.


Tanto Gable quanto Lombard estavam casados quando filmaram “Casar por Azar”. Gable era casado com Rhea Langham, sua segunda esposa. Lombard era casada com o ator William Powell, de quem ela continuou amiga após o divórcio. De acordo com o IMDb, Gable e Lombard se mostraram indiferentes em relação um ao outro durante as filmagens, embora seus personagens tenham muita química.

Both Gable and Lombard were married when they made “No Man of Her Own”. Gable was then married to Rhea Langham, his second wife. Lombard was married to fellow actor William Powell, with whom she remained friends after the divorce. According to IMDb, Gable and Lombard were indifferent at each other while shooting the film, although the two characters have immense chemistry.


Carole Lombard não foi a primeira opção para interpretar Connie – foi Miriam Hopkins. Curiosamente, aqui Carole se parece um pouco com Jean Harlow, que começou uma bem-sucedida parceria com Gable em 1932. Tanto a persona cinematográfica de Harlow quanto a personagem de Carole têm cabelo claro, grande elegância, otimismo e alegria contagiante.

Carole Lombard wasn't the first choice to play Connie – it was Miriam Hopkins. Curiously, here Carole looks a little like Jean Harlow, who started her successful partnership with Gable in 1932. Both Harlow's screen persona and Lombard's character have light hair, a great fashion sense and a contagious joy and optimism.


“Casar por Azar” não é uma screwball comedy. Ao misturar crime e romance, o filme se parece mais com outras produções estreladas por Clark Gable no período pre-Code – em especial “Possuída”, de 1931 – e ele desafia qualquer tipo de classificação em gêneros e subgêneros. Com 81 minutos, é um filme rápido e divertido – e que mostra tudo o que os cineastas podiam fazer antes de a censura chegar.

“No Man of Her Own” isn’t a screwball comedy. Mixing crime and romance, it looks more like other Clark Gable pre-Codes – 1931’s “Possessed” comes to my mind – and it defies all kinds of classification in genres and subgenres. Clocking in at 81 minutes, it’s a quick, enjoyable movie – and it shows the wonders filmmakers could accomplish before censorship came.

This is my contribution to the Second Clark Gable blogathon, hosted by Michaela at Love Letters to Old Hollywood.


Thursday, June 13, 2019

Dr Morelle: O Caso da Herdeira Desaparecida (1949)


Dr Morelle: The Case of the Missing Heiress (1949)


Poderia ter sido Agatha Christie e sua Miss Marple. Poderia ter sido Hitchcock e os protagonistas de “A Dama Oculta” (1938). E poderíamos ter sido nós. Este é o grande trunfo de histórias sobre pessoas normais que investigam crimes: poderíamos ser nós. São histórias emocionantes, cheias de suspense, e fáceis de criar identificação. O filme da Hammer de 1949, “Dr Morelle: O Caso da Herdeira Desaparecida” é um destes filmes sobre pessoas normais que se tornam investigadoras. No caso, essas pessoas são o Dr Morelle e em especial sua assistente, Miss Fraley.

It could have been Agatha Christie and her Miss Marple. It could have been Hithcock and the leads of “The Lady Vanishes” (1938). And it could have been us. This is the great thing about stories that involve normal people investigating crimes: they could have been us. They're chilling, thrilling, and incredibly relatable. The 1949 Hammer film “Dr Morelle: The Case of the Missing Heiress” is one of those films about normal people turned investigators. In this case, Dr Morelle and in special his assistant, Miss Fraley.


O filme começa com Dr Morelle (Valentine Dyall) ditando uma história para sua assistente, Miss Frayle (Julia Lang). O resto da história é contada em flashback. Em uma velha mansão, Cynthia Mason (Jean Lodge) discute com seu padrasto, Kimber (Philip Leaver), porque ela quer se casar com Peter Lorimer (Peter Drury). Ela está disposta a deixar todo seu dinheiro para o padrasto, mas Peter é contra essa ideia. Cynthia desaparece enquanto Peter está falando com o padrasto dela – e sendo hipnotizado por ele!

The film begins with Dr Morelle (Valentine Dyall) dictating a story to his assistant, Miss Frayle (Julia Lang). The rest of the story is told as a flashback. In an old mansion, Cynthia Mason (Jean Lodge) argues with her stepfather, Kimber (Philip Leaver), because she wants to marry Peter Lorimer (Peter Drury). She is willing to leave all her money to her stepfather, but Peter is against it. Cynthia disappears while Peter is talking to her stepfather – and being hypnotized by him!


A melhor amiga de Cynthia, Miss Frayle, decide investigar o desaparecimento. Ela vai até a mansão e diz que é a nova empregada. Lá ela recebe uma estranha ajuda do mordomo Bensall (Hugh Griffth), um homem peculiar e sinistro que passeia com um cachorro invisível – já que seu cachorro morreu há 15 anos.

Cynthia's best friend, Miss Frayle, decides to investigate the disappearance. She goes to the mansion and says she's the new housemaid. There she receives some weird kind of help from the butler Bensall (Hugh Griffth), a peculiar, sinister man who walks an invisible dog – since his dog has been dead for 15 years.


Infelizmente, Miss Frayle é um desastre enquanto empregada. Quando as coisas ficam muito perigosas na investigação, ela chama o Dr Morelle para ajudar. Para obter pistas, o Dr Morelle irá assumir outras identidades e também usar hipnose.

Unfortunately, Miss Frayle is a disaster as a housemaid. When things get too dangerous in her investigation, she calls Dr Morelle to help. To obtain clues, Dr Morelle will assume other identities and use hypnotism too.

Dr Morelle pode ser tão esperto quanto Sherlock Holmes, mas neste filme ele parece ser uma pessoa horrível. Sempre que pode, ele diminui e humilha Miss Frayle, sua inteligência e sua tentativa de investigação. E eu me surpreendi ao descobrir que a misoginia era um traço de personalidade da personagem desde o início.

Dr Morelle may be as smart as a Sherlock Holmes, but in this film he sounds like a horrible person. Whenever possible, he diminishes and humiliates Miss Frayle's intelligence and attempts to investigate. And I was surprised to find out his misogyny was a trait the character had since he was created.

Dr Morelle, assim como o Sherlock Holmes de Conan Doyle e a Miss Marple de Agatha Christie, é uma personagem que surgiu no mundo literário. Ernest Dudley, ator que virou escritor, conceber a personagem durante um bombardeio na Inglaterra da Segunda Guerra Mundial. Dudley baseou os traços do Dr Morelle em Erich von Stroheim, que ele havia conhecido brevemente, e Miss Frayle foi baseada na própria esposa de Dudley, a atriz Jane Grahame.

Dr Morelle, like Conan Doyle's Sherlock Holmes and Agatha Christie's Miss Marple, is a character the first appeared in literary form. Actor-turned-novelist Ernest Dudley conceived the character during an air raid in wartime England. Dudley based Dr Morelle's traits in Erich von Stroheim, whom he had briefly met, and Miss Frayle was based in Dudley's own wife, actress Jane Grahame.

As histórias do Dr Morelle se tornaram uma sensação do rádio dos anos 40 aos anos 60, com Jane Grahame interpretando Miss Frayle nos primeiros anos do programa. Dudley anunciava o protagonista como “O homem que vocês amam odiar” – e a audiência subai a cada semana. Fazer um filme era, naturalmente, o próximo passo.

Dr Morelle's stories became a radio sensation from the 1940s until the 1960s, with Jane Grahame playing Miss Frayle in the first years of the radio show. Dudley advertised the character as “The man you love to hate” - and the ratings only increased from week to week. Making a film was the natural next step.
 
Dr Morelle no rádio / Dr Morelle on the radio
Dudley teve pouco envolvimento com o filme. Para o papel principal, foi escolhido Valentine Dyall – um homem com uma voz icônica e uma presença sinistra que lhe renderam o apelido de “Vincent Price britânico”. Mais tarde, Dyal trabalharia em alguns filmes de terror dos estúdios Hammer e Amicus. Como Miss Frayle, temos Julia Lang, uma atriz competente, mas praticamente esquecida. É uma pena que ela seja mais como uma donzela em perigo no filme, embora tenha momentos de grande perspicácia.

Dudley had very little involvement with the film. For the lead role, Valentine Dyall was chosen – a man with such an iconic voice and such a sinister presence he was once called “the British Vincent Price”. Dyall would later work in some Hammer and Amicus horror films. As Miss Frayle, we have Julia Lang, a competent yet nearly forgotten actress. Too bad she is more of a damsel in distress in this film, although she has some moments of acumen.


Hugh Griffith foi o mais sortudo do elenco – embora seu personagem não tenha tido muita sorte no filme. Griffith pode ser lembrado como o Sheik Ilderim de “Bem-Hur” (1959), um papel que deu a ele o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. O site IMDb lista 103 créditos como ator para Griffith, em um intervalo de 40 anos, tanto em Hollywood quanto na Inglaterra, tanto no cinema quanto na TV.

Hugh Griffith had the best luck of all the cast – although his character wasn't lucky in the film. Griffith can be remembered as the Sheik Ilderim in “Ben-Hur” (1959), a role that gave him the Best Supporting Actor Oscar. IMDb lists 103 credits as an actor for him, spanning 40 years, in both Hollywood and England, and in both film and TV.


Há algumas características de filme noir em “Dr Morelle: O Caso da Herdeira Desaparecida”. Alguns ângulos de câmera são bastante ousados, como a câmera no teto que vê toda a sala de estar da mansão, assim como os ângulos de câmera que mostram os corredores da mansão. Há também uma excelente tomada de Julia Lang descendo as escadas, com a câmera baixa (contra-plongée). O diretor de fotografia Cedric Williams trabalhou pouco no cinema, mas aqui podemos ver o tamanho de seu talento.

There are some noir traits in “Dr. Morelle: The Case of the Missing Heiress”. Some camera angles are very bold, like the camera on the roof that oversees the whole living room of the mansion, as well as the camera angles that show the mansion aisle. There is also a great shot of Julia Lang going down the stairs, filmed from a low angle. Cinematographer Cedric Williams had few credits to his name, but here we can see how talented he was.


“O Caso da Herdeira Desaparecida” é o único filme do Dr Morelle. O estúdio Hammer e outros estúdios não mostraram interesse em fazer mais filmes com a personagem, e é fácil ver o porquê. Em um tempo em que mulheres eram porcentagem importante da plateia dos cinemas, uma personagem tão misógina não seria muito popular. Sim, eu sei que outros detetives / gênios da ficção são também figuras pouco simpáticas – Sherlock Holmes inclusive se define como um “sociopata altamente funcional” – mas Dr Morelle está à beira da ojeriza. Poderia haver mais filmes com ele? Talvez, se ele melhorasse muito – e aprendesse a tratar as mulheres como seres humanos.

“The Case of the Missing Heiress” is the only Dr Morelle film. Hammer and other film studios showed no interest in making more films with the character, and I can see why. In a time when female moviegoers were an important part of the audience, such a misogynistic character wouldn't be very popular. Yes, I know some other fictional detectives / geniuses are also unsympathetic figures – Sherlock even calls himself a “high-functioning sociopath” – but Dr Morelle is on the verge of disgusting. Could there be more films with him? Maybe, if he improved a lot – and learned to treat women like human beings.

"Dr Morelle: The Case of the Missing Heiress" is available on Internet Archive.

This is my contribution to the 2nd Great Hammer and Amicus blogathon, hosted by Gill and Barry at RealWeegieMidget Reviews and Cinematic Catharsis.



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