Com mil
dólares, Nathan Detroit (Frank Sinatra) pode resolver todos os seus problemas,
que envolvem dívidas, jogos ilegais e um noivado que já dura 14 anos. Ele vê
sua grande oportunidade de conseguir o dinheiro na figura de Sky Masterson
(Marlon Brando), um homem que adora fazer apostas. Maliciosamente, Nathan induz
Sam a uma nova aposta: se Sky conseguir levar a missionária Sarah (Jean
Simmons) para um jantar em Havana, Nathan lhe dará mil dólares. Caso contrário,
Sky deverá mil dólares a Nathan.
Nathan
acredita que Sky tem uma missão impossível pela frente, e portanto a aposta já
está ganha. Mas Sky não desistirá com facilidade, apesar de Sarah se mostrar
pouco interessada. É a possibilidade de salvar a “alma alcoólatra” de Sky que
atrai Sarah: para ela Sky representa apenas negócios missionários. Para Sky,
Sarah representa apenas mais uma aposta. Mas por quanto tempo eles se verão
desta forma?
O nome
de Sinatra é apenas o terceiro a aparecer nos créditos, depois de Brando e
Simmons. Frank queria o papel principal, de Sky Masterson, e ficou muito
chateado com a escolha de Marlon Brando, com quem nunca se deu bem durante as
gravações. Contra a popularidade não se podia lutar: Sinatra era uma estrela
mas Brando era uma super-estrela. O auge de Sinatra parecia já ter acabado,
apesar de seu ressurgimento com “A Um Passo da Eternidade / From Here com
Eternity”(1953), que lhe rendeu um Oscar.
Amigos? |
O papel
de Sky era para ser de Gene Kelly, mas a MGM não aceitou “emprestar” o
ator-cantor-dançarino para o produtor Samuel Goldwyn. Outros atores
considerados para interpretar Sky foram Kirk Douglas, Robert Mitchum, Burt
Lancaster, Bing Crosby e Clark Gable (que queria muito o papel, caso a
Paramount comprasse os direitos da peça, o que não aconteceu). Robert Alda
originou o papel na Broadway, e ganhou um Tony por sua performance.
Para a
noiva de Nathan, Adelaide, o diretor Joseph L. Mankiewicz vetou Marilyn Monroe.
Goldwyn recusou Betty Grable. Judy Holiday foi cogitada, mas a ideia foi
abandonada. A solução foi voltar às origens e chamar a atriz que interpretava
Adelaide nos palcos, Vivian Blaine. O papel da missionária Sarah foi recusado
por Grace Kelly e Deborah Kerr, e Jean Simmons foi a escolhida.
As
canções não favorecem a voz de Sinatra. Perfeito para as big bands, o cantor de olhos azuis tem músicas pouco memoráveis no filme
(a melhor delas é “The Oldest Established Permanent Floating Crap Game in New
York”). Enquanto isso, somos obrigados a ouvir Marlon Brando cantando “Luck Be
a Lady" (porque é ele mesmo cantando, sem dublagem), canção que se tornou icônica ao ser regravada por... Frank Sinatra.
Compare as duas versões:
“Guys
and Dolls” teve sua origem na Broadway, e infelizmente não se adaptou bem ao
cinema. A própria sequência de dança inicial funcionaria apenas no palco, e
fica esquisita na tela, até por ser coreografada pelo teatral Michael Kidd. A
duração do filme também o compromete: duas horas e meia de projeção, com uma
história muito simples e previsível a ser contada.
“Guys
and Dolls” lembra muito outro musical longo sobre religião e ilegalidade
protagonizado por Frank Sinatra: “Robin Hood de Chicago / Robin and the Seven
Hoods” (1964) que, apesar de menos conhecido, é bem melhor que “Guys and
Dolls”. Agora no papel principal, Frank interpreta Robbo, um gângster envolvido
em várias atividades ilegais, incluindo o jogo de dados e a venda de bebidas
alcoólicas. Em uma cena divertidíssima, Robbo e sua gangue transformam o
cassino/bar em um local de pregação e oração para despistar os policiais, e
Bing Crosby canta em seu testemunho sobre os perigos do “Mr Booze”. Sim, Bing
Crosby, porque o Rat Pack todo está no filme: Peter Lawford, Sammy Davis Jr e
Dean Martin (que, entre nós, seria um Sky Masterson bem mais convincente que
Brando).
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Bem melhor |
“Guys
and Dolls” não chega a ser um filme ruim. É leve, despretensioso,
descompromissado, como um sonho. Deve funcionar melhor na tela grande, e melhor
ainda nos palcos. Veja “Guys and Dolls” sem esperar muito. E depois corra e
aprecie “Robin and the 7 Hoods”.
This is
my contribution to the Sinatra Centennial Blogathon, hosted by Movie Classics
and The Vintage Cameo.